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Primeira edição: Discurso pronunciado em Bajram Curri (Região de Tropoja)
Fonte: Revista Princípios nº 7, dez/1983, pag: 9-14.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
A situação econômica, política e moral de nosso país é bastante sadia. Durante o ano de 1982 e também no ano em curso, aplicando-se as decisões do 89 Congresso do Partido, foram alcançados em nosso país importantes êxitos em todos os setores da produção social, na renda nacional, na realização dos planos de desenvolvimento econômico.
Esses êxitos ganham destaque, se levamos em conta que foram alcançados com base unicamente nas nossas próprias forças, sem nenhum tipo de crédito ou ajuda do exterior, e ultrapassando uma série de dificuldades com que nos defrontamos nos últimos anos.
Refiro-me em particular à extraordinária seca ocorrida nos dois últimos anos. Enquanto em certos países a seca tem acarretado uma verdadeira catástrofe para o povo, em nosso país ela foi vencida com sucesso. Esta vitória se deve à justa e clarividente política que o nosso Partido tem levado à prática durante longos anos, para construir passo a passo um amplo sistema de irrigação a serviço de nossa agricultura socialista. E, como recomendou o camarada Enver Hoxha no ano passado em Drilon, nós devemos levar mais adiante esta grande obra, estendendo o sistema de irrigação às zonas de colinas e montanhosas.
Outrossim, os êxitos do período posterior ao 8º Congresso do Partido cobram uma importância especial pelo fato de que foram obtidos num período em que em todo o mundo capitalista-revisionista prosseguiu a crise econômica, que, embora não tenha sido sentida nem um pouco pelo nosso povo, criou-nos determinadas dificuldades no domínio da importação-exportação. Somente na Albânia não há a estagnação e a queda da produção, como ocorre nos países capitalistas e revisionistas, mas, ao contrário, em nosso país verifica-se um constante e rápido crescimento. Na Albânia não há desemprego, mas, ao contrário, anualmente são criados mais de 40 mil novos empregos, em lugar de 20 mil que eram criados há duas décadas. Em nosso país não há inflação nem aumentos de preços, mas apenas rebaixas de preços, como aconteceu no ano passado e neste ano.
A situação saudável e a estabilidade de nossa economia socialista vêm a tona com mais clareza se temos em conta a grave situação vigente nos países capitalistas e sobretudo nos países revisionistas, como a Iugoslávia, a Polônia e outros, que se encontram à beira do abismo, cada qual devedor de mais de 20 bilhões de dólares.
Os resultados econômicos obtidos tornaram ainda mais sólida do que nunca a situação política em nosso país, que se caracteriza por uma unidade de aço de todo o povo em torno do Partido, tendo à sua frente o camarada Enver Hoxha.
Esta unidade se expressa no elevado espírito de mobilização de todo o povo para colocar em prática a linha e as orientações do Partido, para realizar as tarefas da construção socialista e da defesa do país.
As eleições para a Assembleia Popular, assim como as eleições para os conselhos e tribunais populares, que têm sido sempre uma expressão da confiança do povo na linha do Partido, com os seus brilhantes resultados, demonstraram mais uma vez a inquebrantável unidade de todo o povo em torno do Partido, sua inabalável vontade de marchar no caminho por ele indicado. Estas eleições reforçaram ainda mais o nosso poder popular, arma poderosa para a defesa das vitórias alcançadas e para a construção da sociedade socialista, e tornaram ainda mais sólidos e estreitos os seus laços com o povo.
Esta grande unidade do povo em torno do Partido foi testemunhada com uma especial vivacidade pelos congressos das Uniões Profissionais, da Juventude e das Mulheres.
A brilhante unidade do nosso povo em torno do Partido foi e é forjada sempre mais na luta de classe incessante contra os inimigos internos e externos, que se esforçam por derrocar o socialismo, nossa pátria e o povo albanês. Esta unidade monolítica é a rocha granítica em que quebraram a cabeça todos os inimigos e que levou todos os seus planos ao fracasso. Diante da unidade de nosso Partido e nosso povo, também transformou-se em pó e cinza o perigoso complô do agente secreto dos titistas, dos imperialistas americanos e ingleses e dos revisionistas soviéticos, Mehmet Shehu e seu bando.
A nossa vida social caracteriza-se pelo otimismo e pela pureza moral de nossa gente. A nova geração da Albânia socialista cresce sadia sob os cuidados do Partido, inspirada e imbuída por elevados ideais revolucionários. Para o nosso país são estranhos os fenômenos da degeneração moral, da falta de perspectiva e do pessimismo, da criminalidade crescente e outras manifestações, que envenenam a atmosfera social nos países burgueses e revisionistas e que refletem a putrefação e a desagregação da ordem capitalista. Em todos os sentidos manifesta-se a superioridade de nossa ordem socialista, a superioridade do marxismo-leninismo, a justeza da linha do Partido e dos ensinamentos do camarada Enver.
As nossas conquistas em todos os terrenos, que são alcançadas com nosso trabalho e nossa luta, segundo o grande princípio de apoiar-se nas próprias forças, fazem com que miremos com pleno otimismo nosso presente e nosso futuro. O atual nível de desenvolvimento permite que nos coloquemos tarefas ainda mais arrojadas. Nós não nos mantemos imóveis. Nem muito menos fechamos os olhos face aos problemas, às dificuldades e aos obstáculos com que nos defrontamos no nosso caminho, nem aos erros que cometemos no trabalho, mas lutamos com decisão revolucionária para vencê-los.
Para que alcancemos os objetivos colocados pelo Partido é indispensável concentrarmos toda a atenção e mobilizarmos todas as forças para cumprir o plano em todos os sentidos, é mister encontrarmos os caminhos e explorarmos todas as possibilidades e reservas para inclusive superarmos o plano. Acima de tudo, devemos aumentar os esforços para realizar as tarefas na agricultura, que é a base vital de nossa economia socialista. Apesar dos progressos verificados nesta região na produção de cereais panificá- veis, os rendimentos, principalmente do milho, ainda estão abaixo das possibilidades e longe das conquistas de algumas regiões que possuem condições semelhantes, como as regiões de Mirdita e Librazhd, entre outras. É preciso lutar para que, com um trabalho poderosamente baseado na ciência, sejam exploradas ao máximo todas as possibilidades existentes.
O abastecimento regular e constante da população da cidade e do campo com produtos agrícolas e sobretudo pecuários, continua sendo uma das principais tarefas. Vocês, trabalhadores de Tropoja, alcançaram bons resultados na produção de leite do gado menor, mas estão atrasados no que se refere à criação do gado vacum, do qual extraem pouco leite. Isto ocorre porque, ao passo que se faz um bom trabalho nos pastos naturais, não se dedica a atenção necessária às culturas forrageiras. O quanto antes deve-se operar uma viragem nesse domínio.
Como têm acentuado constantemente o Partido e o camarada Enver, para a realização dos planos no estágio atual de desenvolvimento intensivo de nossa economia socialista, assume importância especial o crescimento incessante da produtividade do trabalho, de onde se deve assegurar cerca da metade do aumento da produção. Por isso devemos dedicar a maior atenção a este fator, na indústria e na agricultura, na construção e em todos os outros setores da produção, tornando-o uma questão de honra para todos os trabalhadores. Isto exige também que a produção, a direção da economia e qualquer outro trabalho sejam melhor assentados sobre bases científicas.
O objetivo da construção do socialismo é o atendimento cada vez melhor das necessidades materiais e espirituais dos trabalhadores, a incessante melhoria das suas condições de vida. O Partido exige que isto esteja sempre no centro da atenção dos órgãos dirigentes do poder e da economia. Mas, isto depende, em primeiro lugar, de vocês, operários e camponeses, porque são vocês que produzem os bens materiais e somente sobre esta base, somente quando os planos são realizados e ultrapassados, torna-se possível atender as necessidades como se deve e elevar o bem-estar do povo com os ritmos desejados.
Paralelamente ao cumprimento das tarefas econômicas, não esqueçamos por um momento sequer a indispensabilidade de fortalecermos diuturnamente a defesa do país, que, como nos ensinam o Partido e o camarada Enver, é uma questão de todo o povo e uma tarefa acima de todas as demais. E algo muito bom que os habitantes de Tropoja transmitam, geração após geração, as brilhantes tradições de patriotismo e coragem, de disposição para colocar-se sempre de pé e com armas nas mãos para defender a pátria.
As tarefas que temos diante de nós e a situação interna e externa do país, exigem que fortaleçamos ainda mais o poder popular em todos os elos, que o transformemos numa arma cada vez mais eficaz da construção e da defesa do socialismo e da pátria, que ampliemos e intensifiquemos ainda mais os seus laços com as massas do povo. Sobretudo, exigem que desenvolvamos e aprofundemos cada dia mais a democracia socialista, através de uma participação ainda maior e mais ativa das amplas massas trabalhadoras no governo do país. Em nosso país, é o povo quem está no poder, o socialismo é construído pelas próprias massas, sob a direção do Partido, por isso a elas cabe o direito de fazerem ouvir sua palavra em tudo, na produção, na direção da economia, nas questões atinentes á defesa do país em todos os domínios de nossa vida social e estatal.
A democracia proletária, a participação do povo no governo, ensina-nos o Partido, não é apenas um direito, mas também uma indispensabilidade para manter sempre forte e inquebrantável a ditadura do proletariado, uma grande força motriz para levar adiante sem se deter a revolução e a construção do socialismo. Agora vocês estão discutindo o projeto de plano para 1984, o 4º ano do quinquênio. Deem toda a sua contribuição para elaborar um plano o mais realista, mobilizador e revolucionário que for possível.
Acima de tudo, hoje mais do que nunca, impõe-se que mantenhamos sempre elevado o patriotismo e o espírito revolucionário de nosso maravilhoso povo, para o florescimento e a defesa da pátria socialista, que reforcemos ainda mais a unidade do povo em torno do Partido, com o camarada Enver Hoxha à frente. Nisto encontra-se a garantia segura da liberdade, da independência e do futuro socialista de nosso país.
Nós construimos o ocialismo, realizamos os planos do Estado, cumprimos as tarefas que o Partido nos delega no quadro de condições determinadas da situação e das relações internacionais. De uma ou de outra forma, num ou noutro grau, essas condições exercem uma influência direta sobre nós. Por isso, extraímos as conclusões necessárias e tomamos as medidas adequadas para enfrentá-las.
Como resultado da intensificação do curso agressivo dos Estados Unidos e da União Soviética, a situação internacional continua deteriorando-se e carregando-se com novos conflitos e tensões. A característica do agravamento atual da situação é que ele ocorre no período de uma das mais amplas e mais profundas crises que o mundo capitalista já atravessou. Isto conduziu ao aumento da violência burguesa, não apenas no plano interno a fim de conter e reprimir a insatisfação e as revoltas dos operários, mas também no plano externo, a fim de intensificar o saqueio neocolonialista e ocupar melhores posições na luta pela expansão e a hegemonia entre os países imperialistas. Exemplos desse curso agressivo e desses planos escravizantes são a ocupação do Afeganistão pelos social imperialistas soviéticos, o ataque israelense ao Líbano, com o incitamento e o apoio de Washington, a intervenção dos Estados Unidos na Nicarágua ou o respaldo que dão ao regime fascista de El Salvador para sufocar a insurreição popular, assim como a desenfreada corrida armamentista.
Para nós é muito próxima e compreensível a luta cotidiana de milhões e milhões de operários e camponeses nos países capitalistas contra as sequelas da crise, pelos direitos econômicos e sociais, pelas liberdades democráticas e pela defesa das vitórias alcançadas na legislação trabalhista. A luta que as massas trabalhadoras de vários países capitalistas desenvolvem contra as tentativas de instalação de sistemas ditatoriais fascistas, assim como a oposição que movem à corrida armamentista e aos preparativos para a guerra por parte das superpotências, gozam do nosso sincero e pleno apoio. Unimo-nos a esses esforços porque estamos convencidos de que somente os povos, somente sua possante luta, poderão destroçar os planos belicistas dos imperialistas e assegurar uma paz estável.
Ao mesmo tempo, o nosso país está aberto ao desenvolvimento de relações normais e à colaboração com todos os países que se atenham ao princípio da igualdade, da não intervenção nos assuntos internos, do respeito à soberania e ao direito de cada um a ter o sistema social que deseja. O fato é que temos relações diplomáticas com cerca de 100 países e desenvolvemos um crescente comércio com dezenas de outros. Os nossos intercâmbios culturais com o exterior ampliam-se continuamente, assim como tem aumentado a nossa participação nas diversas atividades internacionais que apresentam interesse.
Nós estabelecemos relações de boa vizinhança com a Itália, a Turquia e a Grécia. Nosso povo alegra-se com o fato de que os nossos esforços pela amizade, o bom entendimento e a colaboração em proveito mútuo, tenham encontrado nesses países um eco positivo. Constatamos com satisfação que a opinião progressista da Itália, da Turquia e da Grécia deseja que a boa vizinhança entre os nossos países se estabilize e se torne mais durável, convencida de que isto serve ao fortalecimento da paz e da segurança, não apenas nos Bálcãs e adjacências, mas também em toda a Europa.
Nós desejamos estabelecer relações de boa vizinhança também com a Iugoslávia. Nós consideramos a Iugoslávia um país capitalista revisionista e estabelecemos as relações, assim como temos feito sempre, partindo dessa realidade. Nós nos atemos ao princípio e à prática hoje conhecidos e aceitos por todos, de que uma coisa são as relações entre Estados e outra coisa é a luta ideológica. De nossa parte a polêmica continuará, não apenas porque se reveste de enorme importância e por ser uma questão de princípios, mas também porque da parte dos iugoslavos esta polêmica nunca cessou. A Iugoslávia tem atacado constantemente a política e a ideologia da Albânia socialista, a estrutura e a superestrutura de sua sociedade, denominando-a país estatista, burocrático, stalinista e assim por diante. Na polêmica os direitos são recíprocos. Cada qual aporta seus argumentos ideológicos, políticos, econômicos. Mas é a vida, a realidade, que comprova quem tem a razão. E a vida comprova que a Iugoslávia é um país capitalista em todos os sentidos; a Iugoslávia é uma sociedade submetida às leis do mercado, irremediavelmente enredada nas engrenagens do capital mundial, não apenas pelas grandes dívidas contraídas junto a este capital e sem as quais não pode passar, mas também por todo o mecanismo do mercado capitalista mundial que condiciona e dirige toda a vida iugoslava.
A autogestão, proclamada como uma "forma específica" de socialismo, é uma máscara para encobrir a natureza capitalista da sociedade iugoslava. A realidade, como verificamos diariamente, arrancou esta máscara e à luz do dia apareceu a completa putrefação dessa teoria e dessa prática antissocialistas. O sistema antimarxista da autogestão envolveu a Iugoslávia numa profunda crise econômica, política e social, crise que é mais grave e mais dolorosa do que nos países capitalistas industrializados.
O sistema antissocialista na Iugoslávia é caracterizado por uma áspera luta entre clãs, pela rivalidade entre as Repúblicas, cada qual possuidora de formação e personalidade históricas específicas. Trata-se de uma rivalidade política para ter na mão o poder, rivalidade pelo domínio econômico sobre os outros, rivalidade nacional para estabelecer o domínio de uma nação sobre as outras.
Nesta situação e no rumo que as coisas tomam na Iugoslávia, os albaneses de Kosovo, da Macedônia e de Montenegro, que têm destacadas tradições revolucionárias, encontram-se numa situação pior que as demais nacionalidades. Eles têm carregado nas costas todos os males acarretados pelo sistema de autogestão e da luta entre os clãs, e suas justas reivindicações foram afogadas em sangue.
Em nosso país constrói-se uma sociedade nova, uma sociedade de pessoas livres de todo tipo de opressão e exploração, irmanadas e unidas pelos ideais comunistas. Pouco nos importa se nossa sociedade agrada ou não aos iugoslavos, se eles a aceitam ou ironizam a seu respeito. A própria vida cotidiana nos convenceu, a nós albaneses, que a sociedade que construímos é o verdadeiro socialismo. Isto não nos impede de colaborarmos com Estados diferentes e não nos proíbe de afirmarmos nossa política interna e internacional de criticarmos a sociedade capitalista e revisionista assim como as suas chagas.
Ninguém pode obrigar-nos a afastarmo-nos de nosso caminho. Entre os Estados há diferenças de pontos de vista políticos, ideológicos, econômicos, sociais etc. Nós não escondemos isso, aliás afirmamo-lo abertamente e o colocamos em evidência. A isto os iugoslavos chamam ingerência nos assuntos internos. Mas eles se esquecem de que fazem o mesmo contra nós e contra outros. A diferença é que quando eles falam dos outros é com um objetivo burguês e chauvinista, ao passo que nós não o fazemos com esse espírito.