Nosso Enver


X. Parti—Enver! Jemi Gati Kurdohere!


Parti—Enver! Jemi Gati Kurdohere! [Partido—Enver! Prontos Agora e Sempre!]

Com esta palavra de ordem em nossas bocas, prestamos nossa última homenagem ao camarada Enver Hoxha, o nosso eterno comandante da guerra, herói do trabalho e pensador marxista-leninista. Foram precisamente os jovens pioneiros, os herdeiros do futuro, de quem surgiram aquelas palavras monumentais na Praça Skanderbeg.

Nesses momentos, parecia que estávamos em uma reunião ordinária e não em uma cerimônia fúnebre. Esta palavra de ordem, que sempre foi uma expressão de unidade e entusiasmo, deu força a todos nós. Ela afastou a ideia de sua morte. Ali nos despedimos apenas fisicamente de Enver, pois ali o mantivemos vivo entre nós.

Muitas vezes gritamos e agitamos ao ritmo desta histórica palavra de ordem. Quando a ouvimos pela primeira vez? Quem foi o primeiro a proferi-la e onde? É difícil responder com precisão a estas perguntas. Várias gerações gritaram e agitaram Partido-Enver! Prontos Agora e Sempre! Ela, na verdade, explodiu direto do coração das massas. É uma síntese de amor pelo nosso partido, pelo nosso líder histórico, uma expressão de gratidão por tudo o que fizeram pelo bem do nosso povo e do nosso país, uma promessa solene de seguir em frente sem parar no curso que indicaram.

Nas conversas e reuniões que tenho tido com as massas desde 11 de abril de 1985, sublinhei em várias ocasiões que quando falamos no partido implicamos automaticamente no camarada Enver e vice versa. Independentemente da semelhança dos meios de expressão, eu não adaptei simplesmente as famosas linhas de Vladimir Mayakovsky sobre Vladimir Lênin. Mas é um fato que entre nós o partido e Enver entraram juntos para a história, avançaram e cresceram juntos e sempre estarão juntos. Enver Hoxha vive no partido que ele fundou no calor da guerra; ele vive na vanguarda revolucionária de nossa classe operária, assim como vive nas mentes e corações de todo o nosso povo.

Nosso povo expressou esta verdadeira união do partido com seu líder de forma bela em muitas de suas criações. Vejam como eles a expressaram claramente em apenas duas linhas:

Que o Partido do Trabalho viva em você
com o camarada Enver Hoxha à Frente.

Sempre que o povo, ou os nossos dirigentes, expressaram palavras calorosas de respeito e amor por ele, o camarada Enver imediatamente as dirigia ao partido. Repetidas vezes, ele dizia, quaisquer bons atributos pessoais que temos são graças ao partido.

É claro que a insistência de Enver de que todo valor de seu trabalho deve ser atribuído ao partido reflete sua modéstia exemplar, mas também reflete sua consciência do papel do partido como uma escola de comunistas, de todos os seus membros, incluindo a própria liderança.

“As pessoas que me escrevem sobre esta ou aquela questão dizendo: quero discutir isso somente com você, pois a água corre pura em cima, mas se torna lamacenta em baixo, me deixam realmente tristes” — disse ele com evidente desagrado quando se deparava com tais expressões nas cartas dos cidadãos.

E ele raciocinava:

“Sem dúvida, erros são cometidos, mas a maioria absoluta dos comunistas e dos quadros trabalha honestamente. Eles, juntamente com as massas trabalhadoras, cumprem com devoção as diretrizes do partido e alcançam as vitórias socialistas. Aqueles que falam dessa forma, que consideram que qualquer erro ou falha são apenas responsabilidades da base e não da direção, de fato subestimam o papel e o trabalho coletivo do partido e das massas.”

Qualquer bobagem jornalística também o incomodava e o perturbava, como ocorreu no caso quando, em uma reportagem após um discurso seu, um correspondente escreveu mais ou menos que “mesmo sob as pressões do bloqueio, a Albânia de Enver Hoxha está de pé como uma rocha de granito”. Enver escreveu, em resposta, uma nota furiosa nas margens do artigo: “A Albânia não é minha, ela pertence somente ao povo, a todos os albaneses.”

Haviam momentos em que ele corria ao meu escritório, trazendo um jornal, geralmente sublinhado, onde quer que seu nome fosse mencionado e, muito justamente, chamava a atenção até mesmo para os mais pequenos excessos que às vezes poderiam ocorrer. Ele exclamava com muita convicção: “Não sou eu, esses méritos são unicamente do partido!” — ele era muito insistente nestas ocasiões.

Enver jamais esperou, ele sempre aproveitava qualquer oportunidade para deixar destacado, em qualquer momento que fosse, que ele era um aluno do partido.

Uma das reuniões ordinárias dos secretários do Comitê Central, em meados dos anos 70, na qual ao falar sobre a preparação de vários documentos do partido, ele se debruçou longamente sobre os critérios para o uso de citações. Ele levantou a questão a princípio, entretanto, seu objetivo era de fato eliminar o uso inadequado de citações de suas obras, algo que acontecia corriqueiramente, especialmente na imprensa, em discursos e brochuras.

Nesta reunião ele disse que “pode parecer a alguns que o uso de muitas citações mostra o alto nível intelectual do autor do artigo, pois isso prova que o escritor ou repórter se baseia na teoria marxista-leninista. Se tivermos uma visão do que escrevemos no passado, veremos que a princípio nós também colocamos muitas citações”.

“Sim, isso realmente acontece — eu concordei — Isso se deu especialmente porque sentimos a necessidade de provar que estávamos certos. Em vez de usar argumentos da vida, da ciência, usamos alguma citação para colocar o selo em nossa opinião. Desta forma, nos sentimos mais seguros de nós mesmos.”

“A falta de experiência nos obrigava a fazer uso de citações, com o tempo, nosso horizonte se ampliou e começamos a usar citações mais corretamente. Mas olhe para a imprensa — ele colocou o dedo onde dói — Há pessoas que preenchem seus artigos com citações, usando dizeres meus várias vezes em um artigo. Na verdade, isto não serve para nada. Elas devem se referir à sabedoria do partido, que, sendo a sabedoria coletiva, é inquestionável.”

Para usar suas próprias palavras, para Enver Hoxha, o povo e o partido eram os maiores tesouros. Para ele, como para todo verdadeiro comunista, eles estavam acima de tudo. Ele dedicou toda sua vida a eles. Diante deles, ele sempre se sentiu um soldado e um servo.

De 8 de novembro de 1941 até a última batida de seu coração, Enver Hoxha pensou, trabalhou e lutou por um partido forte e monolítico, com as melhores qualidades e aspirações de todo o nosso povo; por um partido revolucionário, internacionalista e marxista-leninista; por um partido que seria sempre jovem, desde a idade de seus membros até pela sua agilidade; por um partido cujos membros são pessoas com valores morais elevados.

O camarada Enver criou o partido com o cuidado de um professor exemplar. Seu pensamento sobre o partido, seu lugar e papel na revolução e na construção socialista, sobre as questões de sua organização interna, sobre sua educação comunista, sobre a militância e o espírito revolucionário dos comunistas e dos quadros é intensamente extensa.

Os conceitos ideológicos de Enver sobre o partido se refletem em toda sua atividade revolucionária, desde durante a Guerra de Libertação Nacional até a construção do socialismo, desde a posições relativas à nossa política interna ou externa, desde sua linha relativa aos problemas da economia e da cultura, da defesa ou da educação, em todos os demais campos da vida.

Ele via o partido como um organismo vivo, em permanente desenvolvimento, capaz de responder às situações que são criadas e às tarefas que se apresentam a qualquer momento e em todos os campos da atividade social. Ele concebeu o fortalecimento político, ideológico e organizacional ininterrupto do partido, de forma dialética.

No 5º Congresso do Partido, realizado em novembro de 1966, no capítulo do relatório dedicado às questões organizacionais, entre outros assuntos, ele insistia especialmente em duas questões: o fortalecimento do papel de liderança das organizações do partido e as qualidades que devem caracterizar os comunistas.

Por que ele levantou essas questões precisamente naquele Congresso?

Isto tem a ver com as conclusões e lições que o Comitê Central do partido e o camarada Enver tiraram da contrarrevolução revisionista que havia tomado o poder na União Soviética e da chamada Revolução Cultural que havia começado e estava se desenvolvendo na China. Naquela época, o camarada Enver trocava opiniões continuamente com todos os camaradas da liderança do partido sobre estas questões. É claro que, em relação à União Soviética, ao aparecimento do revisionismo e à degeneração do partido lá, o quadro era mais claro. As lições que tiveram que ser tiradas dessa amarga experiência foram mais do que evidentes. Enquanto isso, o que estava acontecendo na China era muito mais espantosa, e de certa forma mais enigmática, como dizia o camarada Enver.

Ouvimos falar de uma quadrilha e de líderes que optaram pelo caminho capitalista. A Revolução Cultural seguia sob palavras de ordens perturbadoras como a de Ataque às Sedes. Os Guardas Vermelhos e o exército estavam na vanguarda de tudo, enquanto isso, o culto a Mao Tsé-Tung o elevava aos céus, assim como um deus. Nós só tivemos ciência dessas políticas através das agências de notícias, porque o Partido Comunista da China (PCCh) se recusava a nos fornecer informações e posições mais concretas.

No verão de 1966, o camarada Hysni Kapo e eu fomos à Montanha Dajti por algum tempo, para trabalhar na preparação dos materiais do Congresso do Partido, nesses momentos mantivemos um contato permanente com o camarada Enver, que naquela época estava em Durrës. Mesmo distantes, nossas preocupações eram as mesmas: Será se ainda existe partido na China? Por que os Guardas Vermelhos surgiram na atual conjuntura e por que não há nenhuma menção aos membros do partido, à juventude comunista ou até mesmo à classe operária? A lógica nos levou à conclusão de que poderiam haver revisionistas na China, e até mesmo na liderança. Mais precisamente: quem seriam eles e quem os combateria? Seria o partido, a classe operária junto com todo o povo, os guardas vermelhos, o exército ou os cultistas de Mao Tsé-Tung?

Em nossas conversas com o camarada Enver, especialmente quando nós três nos reunimos em Tirana, chegamos à conclusão de que os eventos na China não estavam se desenvolvendo no caminho correto. O camarada Enver achava que eram erradas as linhas de “ignorar o partido e de ridiculariza-lo”, achava ainda mais errado acionar e colocar o exército acima do partido, ele afirmava que “não se pode pensar em uma revolução cultural sem a participação da classe operária e do campesinato”. Ele ficou ainda mais enojado com o culto a Mao Tsé-Tung que, como ele dizia, “se transformou em um culto quase religioso”.

Ficou decidido, em nosso congresso, que era necessário dar ênfase precisamente nas questões que os chineses estavam subestimando ou ignorando, pois tinham importância de princípios para o partido na luta pela revolução. Que os chineses as interpretem como sugestões críticas, se assim o desejarem.

Assim, o camarada Enver dedicou um lugar especial em seu relatório ao papel principal e hegemônico do partido. Assim como a vitória do proletariado sobre a burguesia, ele destacou no congresso que a construção do socialismo também não pode ser alcançada sem um partido revolucionário da classe operária na vanguarda, sem um partido fiel ao marxismo-leninismo, um partido organizado, capaz de liderar e orientar as massas trabalhadoras na luta e no trabalho. Qualquer enfraquecimento, por menor que seja, do papel de liderança do partido — nesse momento o relatório enfatiza deliberadamente ao desvio revisionista na China — cria o grande perigo para a classe trabalhadora de que ela seja deixada desorganizada e desarmada diante dos inimigos de classe. Isto constitui a fonte da degeneração ideológica e organizacional da transformação do partido marxista-leninista em um partido revisionista-burguês.

São de especial importância as exigências apresentadas no congresso sobre o temperamento e a educação dos comunistas e as qualidades que os devem caracterizar. O partido é forte quando seus membros são ativos, o partido é revolucionário quando os comunistas são temperados, o partido desempenha seu papel principal na sociedade quando seus membros estão na vanguarda — este espírito permeou o relatório do início ao fim. Sabe-se que as dez qualidades de um comunista, tão claras e excelentemente definidas pelo camarada Enver no 5º Congresso, foram incluídas nos Estatutos do nosso partido como requisitos fundamentais para seus membros e aspirantes.

Os ensinamentos de Enver Hoxha sobre as qualidades dos comunistas têm valor permanente e universal, pois assim garantem as condições essenciais para proteger e manter a firmeza nas fileiras do partido, para que ele se fortaleça integralmente.

A história sempre coloca pesadas cargas sobre os ombros do partido e dos comunistas. Para eles nunca há tempo para a inatividade. Assim que uma tarefa é realizada, surge a necessidade de mobilizar forças para realizar outra tarefa. Esta é a dialética da vida, a exigência número um do desenvolvimento. Somente um partido de vanguarda, um partido militante como o nosso Partido do Trabalho, fundado e educado por Enver Hoxha, pode liderar este processo com sucesso. A fim de proteger e manter estas qualidades do partido, seus membros devem, a todo momento, ser lutadores pela causa do povo, do marxismo-leninismo e da revolução; devem ser exemplares no trabalho, criativos e com iniciativa; devem ser progressistas, inimigos resolutos de tudo o que é atrasado, do obscurantismo, dos dogmas religiosos e das concepções atrasadas, assim como devem estar ligados às massas do povo e destacar-se por seu comportamento culto, devem ser uma pura figura moral entre os trabalhadores, devem ser a personificação da justiça e de uma atitude social exemplar.

As qualidades dos comunistas são julgadas por seu valor na luta para implementar e defender a linha do partido e não a partir de suas palavras. Os revolucionários consistentes são formados e reconhecidos em seu trabalho diário junto às massas, no trabalho e nas ações concretas; os mais atrasados e aqueles que se vangloriam de seu passado, que buscam privilégios, estes são aqueles que não têm o direito de estar no partido, estes devem ser duramente criticados no decorrer do nosso trabalho. Como nos ensinou o camarada Enver, o partido deve dar a cada um deles o que se merece: aos do primeiro grupo devemos apoiar, encorajar e educar para que avancem mais; aos do segundo grupo devemos ajudar, abrir os olhos para que abandonem imediatamente o pântano que se afundaram, devemos buscar dar-lhes um impulso revolucionário crítico; ao terceiro grupo, devemos definitivamente expulsá-los de nossas fileiras, devemos marca-lo como uma pessoa indigna do título de comunista.

Enver via a educação dos comunistas também como intimamente ligada ao seu trabalho prático, ao seu nível de consciencia e ao cumprimento de suas tarefas. Ele sempre insistia que o formalismo e o oficialismo na propaganda partidária deveriam ser combatidos, que a atividade nas formas de educação deveria ser vivificada, que eles não deveriam funcionar como as escolas públicas, mas que deveriam ser transformadas em centros de discussão onde as questões de todo tipo são debatidas livremente pelos comunistas.

Durante uma conversa que tive com os camaradas Hysni Kapo e Haki Toska, em novembro de 1972, o camarada Enver disse em parte:

“São necessários maiores esforços para juntar nossa prática com a teoria marxista-leninista, ou seja, para generalizar a experiência do partido a partir do ponto de partida teórico. Existem e existirão defeitos em nosso trabalho, mas é importante entender o que está errado também do ponto de vista ideológico.”

“Acontece com frequência — eu intervi — as organizações do partido tomam certas medidas práticas para eliminar diversos defeitos, mas se elas se contentam apenas com as medidas paliativas, não haverá nenhuma garantia de que o mesmo problema não volte a surgir. Assim como você disse, os problemas que surgem também devem ser encarados do ponto de vista ideológico.”

“Exatamente — continuou ele — Falamos de unidade no partido, de disciplina consciente comunista, de luta contra a burocracia e o liberalismo, etc., mas se estas questões não forem explicadas teoricamente, se os comunistas não formarem as convicções ideológicas necessárias sobre o perigo destes fenômenos sempre haverá violações da unidade, violações da disciplina e manifestações de burocratismo e de liberalismo.”

“Isto também é verdade para a nossa linha de massas — disse o camarada Hysni Kapo — Para obter resultados, todo quadro e todo comunista deve entender ideologicamente e politicamente as razões da necessidade de a democracia ser aprofundada, a razão das vozes das massas sempre serem ouvidas e a razão de sempre aumentarmos nosso contato com a classe operária, com os camponeses sem nenhuma espécie de formalismo.”

“Não apenas isso — continuou o camarada Enver — mas os comunistas também devem saber teoricamente como o partido pode perder sua autoridade, se não ouvir e não levar em conta a opinião das massas. O estudo ideológico destas questões, o permanente estudo do conteúdo dos estatutos do partido, também assegura sua correta implementação. Caso contrário, quando as normas são entendidas de maneira formalista, erros graves são cometidos. Há alguns comunistas que, ao implementarem as diretrizes do partido de forma sectária, quando são criticados, justificam suas ações com o raciocínio de que é melhor ser sectário do que liberal. Surpreendentemente, ignoram que a questão que estamos tratando é não ser nem liberal e nem sectário.”

Nesta reunião, o companheiro Haki mencionou vários fatos que mostraram que as normas do partido são muitas vezes entendidas de forma restrita, como artigos de algum livro de regras secas. Ouvindo, o camarada Enver disse:

“A tarefa do partido é explicar melhor, mais profundamente e a partir do aspecto teórico quais são suas normas; mostrar claramente em teoria o que são dogmatismo e sectarismo, e não apenas o que é dogmático e sectário, o que é liberalismo como forma de pensar e não apenas o que é liberalismo na prática. Não precisamos do registro de fatos e eventos com apenas as interpretações e conclusões, precisamos entrar profundamente no caráter dos conceitos. Nossos camaradas do partido que estão em contato com a vida cotidiana — concluiu — devem fazer generalizações, deduzir as causas dos fenômenos e com base em nossa teoria marxista-leninista fazer recomendações sobre como trabalhar melhor. Desta forma, eles ajudarão o crescimento do partido.”

Mais de uma vez o camarada Enver Hoxha exigiu que as organizações do partido, os quadros e demais militantes, sempre vissem a realidade em seu constante desenvolvimento, não canonizassem nada, mas que ousassem deixar o que era ultrapassado para trás: desde conceitos, métodos, até as formas de trabalho e organização.

Aqui está uma nota que fiz em 22 de junho de 1982, após uma conversa habitual com ele, para ilustrar seu pensamento sobre a necessidade de inovação no trabalho do partido:

“Hoje o camarada Enver falou longamente sobre a necessidade de compreensão dialética do trabalho do partido. A essência do que ele disse foi que não devemos nos ater a esquemas, mas nos adaptar à vida, e responder às mudanças que acontecem.

“O trabalho do partido — disse ele — é extraordinariamente interessante e belo, mas é complicado também. A linha do partido não pode tolerar restrições rígidas. Ela tem que ser adaptada ao desenvolvimento, que deve orientar e dirigir. Os membros do partido devem compreender a linha em toda a sua amplitude, seus pontos positivos e possíveis fraquezas em sua implementação, devem reconhecer os aspectos objetivos e subjetivos do desenvolvimento, onde a intransigência e a flexibilidade são necessárias. Isto torna o trabalho do partido tão belo e atraente, quanto difícil e delicado”.

O camarada Simon Stefani e a camarada Lenka Çuko falaram sobre sua experiência nos distritos em que trabalharam, apontando que há quadros que, em muitos casos, não têm iniciativa, mas agem somente sob instruções que recebem de cima.

“Se a linha do partido não for bem compreendida ideologicamente — disse o camarada Enver — se for aplicada sem criatividade, então o desenvolvimento se encontrará numa fase de estagnação. E onde for impedido, haverá burocracia e manifestações que não têm nada a ver com as normas e a linha do partido. O trabalho do partido não é fácil, pois tem a ver com pessoas de diferentes níveis e mentalidades, que têm opiniões que não são e não podem ser claramente definidas e, de fato, podem até ser sectárias ou liberais. Os comunistas e o partido devem ser capazes de se adaptar a esta situação e trabalhar para incentivar os bons aspectos e combater as fraquezas. O partido não viola sua linha — concluiu — quando em determinados momentos políticos, sejam nacionais ou internacionais, ele adota posições táticas que os interesses da pátria exigem. As circunstâncias podem exigir indulgência em uma situação, assim como podem exigir uma postura severa em outra situação. Em suma, os princípios devem ser aplicados em conformidade com as condições concretas. Isto é Marxismo-Leninismo.”

O partido e o povo permaneceram como as duas maiores preocupações de Enver Hoxha durante toda sua vida, até a última batida de seu coração. Todos nós lembramos de sua saudação por ocasião do 40º aniversário da libertação da pátria. Ela está impregnada do início ao fim por seu profundo amor e devoção ao povo e ao partido, por seu otimismo revolucionário, em sua fé no futuro feliz de nossa pátria socialista. A leitura do famoso versículo de Naim mostram uma verdadeira obra-prima do jornalismo albanês e da cultura albanesa em geral:

Quando você nota a minha ausência,
Por favor, não pense que eu morri.
Eu estou vivo, ainda caminho sobre a vida,
Eu estou presente em cada foco de luz.

Ela evoca memórias de todos os homens de nossa Renascença, de todos os destacados lutadores albaneses do passado e do presente, todos eles juntos e reunidos ao mesmo tempo.

O nosso povo e o camarada Enver estavam ligados por puro afeto, eles eram um em suas aspirações e pensamentos. Enver não poupou nada para o povo, mas o povo também não poupou nada para Enver, para o partido.

Nosso povo é e será grato a Enver Hoxha por seu ato histórico de fundação do partido. Somos gratos, também, pela valiosíssima contribuição que ele deu à sua formação revolucionária, à coesão de suas fileiras. Enver Hoxha nos deixou um partido livre de contaminações, um partido que política e ideologicamente se encontra totalmente maduro, um partido que se caracteriza por seu espírito militante e seu sentimento de responsabilidade para com o povo; ele nos deixou um partido com uma liderança compacta e indivisível, com quadros militantes em completa unidade de pensamento e ação.

Os momentos vividos por nosso partido e pelo nosso povo em abril de 1985 foram de grande importância. Na época, seu amadurecimento político, sua força e a durabilidade da unidade do partido e do povo ao seu redor, foram colocadas à prova. No final, o povo e o partido passaram neste teste porque foram guiados pelos ensinamentos do camarada Enver Hoxha. O partido ficou ao lado do povo e o povo deu apoio sem reservas ao partido.

Nunca havia passado pela cabeça de ninguém que perderíamos o camarada Enver tão cedo. Não que acreditássemos na imortalidade, mas porque mesmo cem anos teriam sido poucos para Enver Hoxha. Ele era daqueles que jamais reclamava da saúde, ou que anunciava suas doenças.

Em seus últimos anos, o estado de saúde do camarada Enver se deteriorou enormemente, especialmente após o 8º Congresso do partido e a descoberta da traição de Mehmet Shehu e de sua quadrilha.

O camarada Enver sofria de diabetes já há muitos anos, em 1973 se recuperou de um grave ataque cardíaco, mas ao manter o regime, ao manter uma disciplina exemplar, o camarada Enver conseguiu manter sua diabete sob controle e conseguiu também evitar um novo ataque cardíaco. Segundo os médicos, seria natural acontecer novamente a uma pessoa que mantinha a carga emocional e intelectual que Enver tinha de suportar. É claro que indicamos cuidados médicos, buscamos tratamentos dos mais qualificados, tanto para os diagnósticos, quanto para a firmeza da terapia. Tudo isso exerceu um impacto positivo na vida do camarada Enver.

No verão de 1982, começaram a surgir alguns problemas graves. Nos primeiros dias de setembro, os médicos Fejzi Hoxha e Isuf Kalo, pediram para conversar comigo. Eles estavam preocupados com o fato de que sua insuficiência cardíaca havia se tornado mais pronunciada, as irregularidades de seu ritmo cardíaco haviam se tornado mais acentuadas, enquanto o edema pulmonar apresentava mais sintomas recorrentes e em maior frequência. Eles levantaram a questão de que agora havia se tornado necessário montar uma equipe organizada para supervisionar o estado de saúde do camarada Enver e que esta supervisão deveria ser contínua, dia e noite.

Eu compartilhava das mesmas opiniões. Falei imediatamente com a camarada Nexhmije sobre a organização do trabalho e a nomeação da equipe de médicos. Decidimos que o membro do Comitê Central do partido, o professor Petrit Gaçe, deveria ser o responsável pelo trabalho e que, além do professor Fejzi Hoxha e seu médico pessoal, Isuf Kalo, os camaradas Ylli Popa e Ahmet Kamberi, também deveriam ser membros da equipe.

Tivemos que informar o camarada Enver sobre isso. Fui ao seu escritório e, sem entrar em detalhes, disse a ele que era necessário tomar algumas medidas para fortalecer seu atendimento médico.

“Estou de acordo — disse ele — porque não ando muito bem ultimamente, embora não tão mal quanto os médicos dizem. Não dê muita importância ao que eles dizem porque exageram um pouco as coisas.”

Enver não subestimou sua doença, mas ele não queria alarmar os camaradas. Em particular, ele não queria causar qualquer preocupação entre o povo. Portanto, ele me instruiu: “Quanto menos alarde sobre isso, melhor. Por esta razão, Isuf, como médico, deve continuar cuidando de mim. As consultas devem ser realizadas com pouca frequência, somente quando forem absolutamente necessárias.”

Disse a ele que “procederíamos com cautela, atendendo a seus desejos”, mas por outro lado, acrescentei que “iriamos fortalecer o tratamento médico para você, porque temos responsabilidades com o povo e o partido”.

“Mais uma coisa — disse ele quando eu estava saindo — Se você está pensando em trazer alguns especialistas estrangeiros, eu lhe digo agora mesmo, eu não concordo e nunca concordarei. Nossos médicos são muito capazes e eu estou muito satisfeito com eles.”

Eu parei de procurar médicos estrangeiros imediatamente. O fato é que os médicos levantaram a necessidade de consultas com especialistas estrangeiros, mas não como algo indispensável. Abandonamos a ideia de trazer algum médico estrangeiro para a Albânia, mas mais tarde, quando sua condição se tornou mais complicada, fomos obrigados a enviar médicos da equipe ao exterior para consultas especiais.

Gostaria de ressaltar que a equipe de médicos e todo o serviço de saúde pública trabalhou de forma muito consciente, com grande devoção, amor e com competência científica. Tudo o que a ciência podia fazer, nossos médicos fizeram até o fim. Por sua vez, o camarada Enver pessoalmente, enquanto continuava seu trabalho de guiar o partido e o Estado como sempre, lutou corajosamente e nunca cedeu à sua doença.

Durante 1983, seu estado de saúde era bom em geral. Ele teve alguns episódios, mas não muito graves. No entanto, 1984 começou mal. Inclusive, peço ao leitor que me permita dedicar mais espaço do que de costume às anotações que fiz durante aqueles dias cheios de angústia.

Primeira Nota: 16 de fevereiro de 1984
Foi logo depois das seis da noite quando a camarada Nexhmije me telefonou: “Venha para casa o mais rápido que puder”, disse ela. Nada mais. Ela estava extremamente preocupada. Eu imaginei que algo ruim tivesse acontecido. Alguns minutos depois, fui à casa do camarada Enver. Lá, os médicos, e depois Nexhmije, me disseram que ele havia sofrido um derrame cerebral, acompanhado de paralisia do lado direito, além de ter desenvolvido dificuldade para falar. A ajuda médica tinha sido dada imediatamente. Por volta das oito ou nove horas, a deterioração de seu estado havia sido retardada, começaram a aparecer sinais de melhoria. Alguns leves movimentos da mão e da perna; podíamos ouvir respostas como “sim” ou “não” quando falávamos com ele. Isso nos encheu de esperança. Com ansiedade em nossos corações, esperávamos qualquer sinal de vida em seus olhos. Não estávamos acostumados a vê-lo nessa situação. Enver, de cuja boca havia pronunciado por toda a vida as mais fortes palavras de esperança, agora dificilmente conseguia pronunciar uma palavra.

 

Segunda Nota: 18 de fevereiro de 1984
Hoje o estado de saúde do camarada Enver é satisfatório. Ele está com uma temperatura normal e todos os parâmetros estão normais. Os movimentos de sua mão direita e de sua perna estão mais evidentes. Sua capacidade de falar também melhorou. Todo o seu organismo está mais dinâmico. Esperamos que isto não seja uma ilusão, uma remissão temporária, como dizem os médicos em tais casos. É o desejo do nosso coração de deixar para trás todas as preocupações que sofremos. Nosso povo tem um ditado muito bonito e muito apropriado para tais ocasiões: “Të Mbarojë Gjithçka!” [Que tudo isso acabe!]

Hoje tivemos a reunião do Secretariado do Comitê Central. Eu a presidi. “O camarada Enver não havia planejado vir”, disse aos camaradas. É claro que informei os secretários camaradas do Comitê Central sobre o que aconteceu. Mas, como sempre, na reunião também houve convidados que não sabiam o que pensar.

Após a reunião, fui à casa do camarada Enver. Ele soube da minha chegada e me chamou para seu quarto. Fiquei muito entristecido quando o vi assim, em seu estado de “paciente médico”, com tubos de soro, com conexões de vários aparelhos presos a suas mãos e pernas. Mas eu mantive meus sentimentos sob controle porque vi que ele também estava chateado: “Tudo vai passar”, eu lhe disse e lhe desejei uma rápida recuperação e transmiti a ele os cumprimentos dos camaradas.

Durante minha estada ele me olhou diretamente nos olhos, com aqueles olhos que refletem tanto amor e calor. Eu o beijei quando tive de me despedir, ele também me beijou. Ele levantou o braço direito como se quisesse dizer “olha, tudo está indo bem, eu posso mover meu braço”. Ao invés de um aperto de mãos, este foi um sinal da recuperação que esperávamos ansiosamente. Quando voltei ao meu escritório, os camaradas do Birô Político se reuniram imediatamente ao meu redor. Eu os informei sobre o estado de Enver e as medidas tomadas para sua recuperação. Eles ficaram felizes por as coisas estarem melhorando.

 

Terceira Nota: 24 de fevereiro de 1984.
Atualmente, o estado do camarada Enver é ótimo. Todos os médicos e nós, seus camaradas, pensamos que ele está melhorando rapidamente. Acredito que isto não é uma ilusão. Ontem à noite eu fui vê-lo e fiquei bastante tempo por lá. Com a permissão do médico, até conversamos sobre o trabalho por alguns momentos. Eu o informei “em termos telegráficos” sobre a situação econômica e os problemas que ele estava interessado, especialmente sobre a indústria petrolífera e a agricultura. Trocamos opiniões sobre a campanha antialbanesa nacionalista grega, que se intensificou recentemente.

Concordamos que, por enquanto, não devemos responder. É claro que, assim como a reação, a CIA e a UDBA também querem nos colocar entre dois focos de incêndio, tanto na Grécia quanto na Iugoslávia. Portanto, não devemos cair como vítimas de suas provocações. É mais sensato exercer contenção. Vamos ver o que eles farão a seguir. Saberemos como responder a eles, se necessário.

Esperamos ansiosamente que a saúde do camarada Enver tenha tomado um rumo melhor. É a sua extraordinária energia espiritual e não apenas o tratamento médico que o está fazendo melhorar. Ele está vencendo sua doença com seu otimismo, confiança e lucidez. Também neste caso, ele nos deu uma valiosa lição com esta postura. Não devemos desistir mesmo diante do maior infortúnio, mas devemos enfrentar o perigo com coragem. Se perdermos a força, o mal levará a melhor sobre nós. É assim que o camarada Enver nos ensina a triunfar.

Depois de algum tempo, ele melhorou mais rapidamente. Sua perna e seu braço estavam funcionando novamente. O camarada Enver começou a circular livremente pela casa. Ele havia recuperado, também, sua fala, que agora estava normal. Ele começou a trabalhar novamente. No início, apenas fazendo estudos em casa e, mais tarde, em abril, já em seu escritório. Na celebração do primeiro de maio, quando ele apareceu na tribuna, ninguém notou que ele tinha acabado de se recuperar de uma grave doença.

No entanto, o derrame cerebral deixou sua marca em seu estado geral e em sua capacidade física. Ela enfraqueceu consideravelmente sua resistência, o que criou condições para o agravamento da insuficiência cardíaca.

O camarada Enver tinha grandes esperanças de se recuperar durante as férias de verão. O clima de Pogradec era agradável a ele. De fato, ele trabalhou lá com grande produtividade. Lá, ele completou quase todos os seus últimos livros. Apesar de algumas melhorias no verão de 1984, no entanto, ele não recuperou sua condição física anterior. Fui a Pogradec, com Semiramis e as crianças para ver o camarada Enver e a camarada Nexhmije.

Conversamos sobre várias questões. Eu o informei sobre a situação interna, os resultados da colheita do trigo, a situação da energia elétrica e das exportações, etc. Ele já havia recebido um relatório do camarada Adil Çarçani, por isso não nos demoramos muito sobre estes assuntos. Depois trocamos opiniões sobre vários eventos internacionais, especialmente sobre a situação ao nosso redor. Eu notei que ele estava ficando cansado, então para encurtar a conversa eu disse brincando: “Parece que Nexhmije e Semiramis ficaram entediadas com a gente, não consigo vê-las em lugar nenhum”.

“Não se preocupe com isso — disse ele — Nexhmije providenciou um almoço para a gente em Drilon, então suponho que elas já tenham ido para lá.”

Nós também nos levantamos, entramos no carro e fomos para Drilon. No caminho, ele mencionou de passagem que tinha tido alguns problemas, mas não se alargou sobre isso.

Após o nosso almoço e, com o fim de minha licença, voltei para Durrës. Encontrei os camaradas que estavam lá e os informei sobre o camarada Enver, transmitindo-lhes suas saudações.

Embora sua saúde não fosse boa, o camarada Enver continuou seu trabalho sem interrupção. Até março de 1985, ele não esteve ausente de nenhuma reunião do Comitê Central, ou do Birô Político, ou mesmo do Secretariado. Sempre que se encontrava com os camaradas, nunca dizia nada sobre si mesmo ou sobre o estado de sua saúde, mas falava sobre o desenvolvimento econômico e cultural do país, sobre as tarefas que enfrentamos, sobre as perspectivas da construção do socialismo, reforçando a defesa da pátria e salvaguardando sua liberdade e independência.

Mesmo quando, devido a sua doença, ele era obrigado a não ir ao seu escritório regularmente, ele trabalhava em casa, lia relatórios, fazia estudos de materiais informativos e emitia instruções para os órgãos do partido e do Estado. De tempos em tempos, ele convocava o camarada Adil Çarçani e outros camaradas dirigentes para encontrá-lo, ouvia-os e dava-lhes valiosas instruções. Eu estava em contato diário com ele: falávamos ao telefone, mas a maioria das vezes nos encontrávamos em sua casa. Quase sempre ele enfatizava: o trabalho com os quadros, com os comitês do partido, com as organizações de base, isto tudo deve ser fortalecido; a situação moral-política de todos devem estar saudáveis, a unidade do partido e das massas ao seu redor devem ser reforçadas.

Enver trabalhava desta forma, com esta força de vontade e perseverança, até os últimos dias de sua vida, dias que foram graves, muito graves para todo nosso povo, para sua família e para nós, seus camaradas e colaboradores.

Estas notas que fiz na época, podem ajudar o leitor a compreender melhor a atmosfera daqueles dias.

Quarta Nota: 2 de março de 1985
O camarada Enver está doente há alguns dias. Fui até sua casa, porque ele tinha me chamado. Depois que o cumprimentei, ele agarrou minha mão com força e disse: “Lamento que você esteja sobrecarregado de tanto trabalho, desculpe-me por não poder ajudá-lo. Trabalhe em conjunto com os camaradas. Unidos, sempre em união com o povo, com o partido”.

As palavras do camarada Enver, sua ansiedade por nos sobrecarregar de trabalho, sua preocupação de que sua doença o tinha impedido de alguma forma de participar das tarefas diárias me comoveu profundamente.

“Fique bom o mais rápido que puder, camarada Enver — eu disse com tristeza — Não se preocupe com o trabalho, faremos o melhor que pudermos. Temos um partido de aço e com uma unidade inquebrável. Trabalharemos mais, enquanto você continuará nos ajudando, instruindo-nos, encorajando-nos e ensinando-nos”.

O camarada Enver me ouviu com atenção e sorriu.

“O partido é maduro e tem quadros qualificados em todos os campos para levar a construção do socialismo adiante” — colocou a camarada Nexhmije.

O estado de saúde do camarada Enver piorou nestas duas últimas semanas. Isto o impedia de se mover. Ele mal conseguia andar, não mais que alguns passos, dentro de casa, com alguém o ajudando.

Tenho mantido os camaradas do Birô continuamente informados sobre seu estado de saúde. Ele participou da reunião do Birô Político em 12 de fevereiro. Ele estava muito fraco fisicamente, mas estava tão sábio, claro e firme como sempre.

 

Quinta Nota: 13 de março de 1985.

Hoje eu fui visitar o camarada Enver, assim como tenho feito todos estes dias. Ele ainda está doente. Ele sente uma canseira.

Ontem ele estava melhor, hoje está mais ou menos. Entretanto, particularmente hoje ele não pode se locomover pela casa, por conta do cansaço. Nossos médicos o vigiam de perto e têm a situação sob controle. Conversei com Nexhmije e concordamos em enviar um de nossos médicos ao exterior para outra conferencia a respeito do plano de tratamento.

Encontrei o camarada Enver estudando, como sempre. Quando apertamos as mãos, ele ficou emocionado, e eu não menos. Ele perguntou sobre os camaradas. Eu o informei brevemente sobre a situação no país e relatei sobre os resultados alcançados no distrito de Fier, cujos dirigentes tínhamos convocado ontem para a reunião do Secretariado do Comitê Central. Falei-lhe também do grupo de camaradas que estão indo a Paris para negociações com os britânicos sobre a questão do ouro, etc.

Ele me escutou atentamente, perguntou sobre a situação nas usinas hidrelétricas, depois passamos à política externa. Falamos sobre os acontecimentos do dia.

“As questões internacionais devem ser sempre acompanhadas cuidadosamente — disse ele — Vivemos em tempos perigosos, portanto devemos estar vigilantes. Temos estado e estamos em luta incessante contra o imperialismo americano e contra o imperialismo social-imperialista soviético. Os Estados ao nosso redor não são amigos e admiradores. Os capitalistas estão nos oferecendo benesses, mas devemos manter os olhos sempre abertos para que não sejamos enganados. Ao mesmo tempo, devemos aplicar sabiamente a linha do partido, colocando os interesses da pátria, sua liberdade e independência, os interesses do socialismo, acima de tudo.”

 

Sexta Nota: 8 de abril de 1985

Ontem eu estava na casa do camarada Enver, ele estava bem. Ele tinha descido pelas escadas da varanda que olhava na direção da montanha Dajti. Estava um belo dia de sol. Ficamos sentados lá no quintal, junto com Nexhmije.

Não conversamos muito. Eu lhe disse que tivemos a reunião do Birô Político no dia 9 de abril. Rindo, eu disse a ele: “Dessa vez toleramos sua ausência, mas só dessa vez... Olhe, hoje você desceu das escadas, amanhã você vai caminhar um pouco mais. Ali estão os escritórios do Comitê Central” — eu lhe disse enquanto apontava para as salas dos escritórios e conclui dizendo: “Estamos esperando você”. Ele riu e mandou seus cumprimentos a todos os camaradas.

Nunca me passou pela cabeça que este seria meu último encontro com ele.

 

Sétima Nota: 10 de abril de 1985.

Ontem, em 9 de abril, realizamos a reunião ordinária do Birô Político. O camarada Enver não iria para a reunião. Antes do início da reunião eu telefonei para perguntar sobre sua saúde, assim como estava fazendo todos os dias.

Eles me disseram que ele estava bem. Na verdade, ele estava se preparando para descer as escadas, para tomar um pouco de ar livre.

Fiquei satisfeito e fui para a reunião me sentindo calmo e mais enérgico. Mas esta alegria foi de curta duração. Às nove e meia, a camarada Nexhmije, muito chateada, me ligou ao telefone. Achei que algo muito ruim tinha acontecido, caso contrário ela teria esperado que a reunião terminasse.

“Venha rápido — disse ela assim que peguei o telefone — a situação é muito grave.”

Pedi permissão aos camaradas para sair da reunião, dizendo-lhes que o camarada Enver queria me ver, mas, para não os aborrecer, eu lhes disse para continuarem com o que estava programado. Eu não sabia mais o que dizer. Trouxe o camarada Adil pro lado e disse a ele: “Acho que algo muito ruim aconteceu com o camarada Enver, mas não sei o quê”. Dois ou três minutos depois, entrei em sua casa. Vi imediatamente que a situação era crítica. Em seu quarto os médicos estavam fazendo tudo o que podiam para restaurar o funcionamento do coração de Enver. Ele havia parado de bater. Eles explicaram que, inesperadamente, enquanto o camarada Enver se preparava para sair ao ar livre, ele havia sofrido um bloqueio cardíaco como resultado de uma súbita fibrilação ventricular.

Seus esforços para restaurar sua função cardíaca continuaram por várias horas, para mim pareciam anos. Às vezes seu coração desistia e nós mergulhávamos numa dor indescritível, às vezes ele lutava e dava sinais de vida e nós ficávamos cheios de esperança.

Nossa preocupação era constante e de fato crescente, porque mesmo quando seu coração batia, ele estava em coma profundo, ou seja, estava inconsciente, não sentia nada. Isto deixava a situação ainda mais grave. Tanto mais que, justamente quando parecia que a situação estava se estabilizando, precisamente quando seu pulso e sua pressão sanguínea voltavam ao normal, seu coração parava de repente. Isto aconteceu durante a tarde, por volta das duas horas do dia 9 de abril e, segundo os médicos, marcou a fatalidade.

Pouco antes da fatalidade das duas horas do dia 9 de abril, fui ao Comitê Central para me encontrar com os camaradas do Birô Político e informei sobre a gravidade da condição do camarada Enver. Quando voltei, encontrei os médicos lutando com todos os seus meios. Por volta das três horas, os camaradas Petrit Gaçe e Isuf Kalo se aproximaram de mim com lágrimas nos olhos e me contaram:

“A situação é extremamente crítica, parece que tudo está chegando ao fim. Nossos esforços para manter seu coração funcionando não estão tendo nenhum efeito.”

Naqueles momentos, não queríamos acreditar nas palavras dos médicos ou de qualquer outra pessoa. Eu disse aos médicos que continuassem seus esforços e fizessem o impossível. Em meu coração, eu temia o pior. Às três e meia, vieram o camarada Adil e Hekuran. Tanto eu quanto a camarada Nexhmije dissemos a eles que a situação era quase sem esperança.

“De acordo com os médicos — eu lhes disse — estamos diante do estado de morte.”

Embora os camaradas não estivessem totalmente despreparados, esta era uma grave notícia para eles. Sua tristeza era imensa. Até Nexhmije e eu, que tínhamos conseguido conter nossas emoções através de todos os altos e baixos da luta contra a morte que o camarada Enver vinha travando desde a manhã, não conseguíamos mais fazê-lo.

Juntos, decidimos convocar uma reunião urgente do Comitê Central do partido. A reunião foi realizada, tarde da noite, por volta das dez horas do dia 9 de abril. Naquele momento, a condição de Enver continuava desesperada. Informei os membros da reunião em detalhes sobre sua condição, a história de suas doenças, enfatizando os eventos daquele dia.

“O prognóstico é muito grave e tudo pode acontecer — disse eu aos camaradas — Devemos estar preparados para qualquer eventualidade. Por enquanto, devemos apenas estar preparados para o que pode acontecer. Este ainda não é o momento de informar nada ao partido ou ao povo, mas devemos considerar o que iremos fazer e como iremos agir em qualquer eventualidade. Nós iremos manter todos continuamente informados. Não podemos nos desanimar” — Concluí, lembrando aos camaradas a palavra de ordem: “Partido-Enver! Prontos Agora e Sempre!”, sempre usado pelo nosso povo.

Os camaradas, cuja maioria só estava se inteirando sobre as doenças e o estado de saúde do camarada Enver pela primeira vez, ficaram sentados em silêncio com rostos congelados. A reunião não durou mais do que 40 minutos. Não houve perguntas, mas parecia que todos imploravam com seus olhos, suas mãos, com todo o seu ser: “Faça o impossível para salvar o camarada Enver!”. Eles partiram imediatamente para seus respectivos distritos.

Após a reunião, voltei à casa do camarada Enver. A situação permaneceu inalterada. Às duas e meia da meia-noite de 10 de abril, por insistência de Nexhmije e dos camaradas, voltei para casa “para dormir”. Mas eu não consegui dormir ou descansar. Levantei-me e, às seis e meia, estava de volta à casa de Enver.

Encontrei-o da mesma forma, de fato um pouco pior. Durante a noite, ele tinha novamente tido irregularidades no funcionamento do coração, mas pior ainda, estava sofrendo já de insuficiência renal. O perigo tinha aumentado, as esperanças de salvá-lo estavam desvanecendo-se. Agora seu organismo estava ameaçado com o perigo de uremia, de autointoxicação. Os médicos fizeram esforços incessantes para restaurar sua função renal, mas em vão.

Toda quarta-feira, 10 de abril, passou assim, tensa, cheia de preocupações, sem nenhum sinal de esperança. Agora seus rins haviam deixado de funcionar, sua temperatura começava a subir, seu pulso estava acelerando. O camarada Enver lutava, seu coração resistia, mas... era difícil, muito difícil vencer a batalha, como queríamos.

Nessas condições, nós, camaradas do Birô Político, decidimos informar os membros do Comitê Central e os primeiros secretários dos distritos que a situação era desesperadora. Enviei um radiograma instruindo todos eles a começarem a informar gradualmente aos nossos quadros e as massas sobre o estado de saúde de Enver.

 

Oitava Nova: 12 de abril de 1985

Minha caneta nunca se sentiu tão pesada como agora. Minha mente, também, parece estar se esvaziando. Nosso professor, nosso amigo, nosso irmão mais velho, o camarada Enver Hoxha, morrera ontem à noite. Esta é uma perda irreparável para a nação albanesa. Eu, pessoalmente, perdi não só meu glorioso líder, mas também meu querido amigo, meu paciente professor. Não exagero quando digo que devo tudo da minha formação, tudo de bom que existe em mim, toda a minha educação a ele, ao seu cuidado e encorajamento.

No dia 10 de abril fiquei na casa do camarada Enver até a meia-noite. Fui aconselhado a descansar um pouco para me recuperar do cansaço físico e da exaustão espiritual dos últimos dias. Pouco tempo depois, às duas e quinze da meia-noite de 11 de abril, meu telefone tocou. Era o médico do camarada Enver, que me disse de forma concisa:

“Ele morreu. Acabamos de informar à camarada Nexhmije.”

Levantei-me com uma grande dor no coração. Cinco minutos depois eu estava ao seu lado, mas ele estava morto. Ele não abria os olhos, não falava, nem sorria para mim, como costumava fazer sempre que eu ia visitá-lo. O coração de Enver Hoxha havia parado para sempre.

Nexhmije, Ilir, Sokol, Pranvera, Haxho, Sano, Teuta, Liliana e Klemi estavam lá. Todos nós choramos juntos por nosso amado Enver, o homem mais próximo e querido de nós, que sempre estava conosco, falando conosco, nos fazendo felizes.

Os médicos, os enfermeiros e outros que haviam trabalhado até a exaustão durante aqueles dias pareciam paralisados pelo luto. Não gosto de lembrar aqueles momentos de luto infinitos.

Informei imediatamente os camaradas do Birô Político e eles chegaram rapidamente, um após o outro. Cada um de nós foi vencido pela tristeza. Faltou-nos força para nos confortarmos uns aos outros, mas o tempo não nos esperava. Nós nos unimos, rangemos os dentes e guardamos para nós a dor de nossa tristeza.

Após expressar nossas condolências à Nexhmije, realizamos uma breve reunião do Birô Político, na qual debatemos sobre o anúncio que deveríamos fazer ao povo e ao partido, as medidas a serem tomadas para a criação da comissão funerária, a proclamação dos dias de luto nacional, etc. Fomos unânimes na decisão de que seu corpo deveria ficar na sala da Assembleia Popular para a prestação de homenagens a ele por três dias sucessivos, no qual o funeral seria realizado em 15 de abril, enquanto o período de luto nacional duraria até 18 de abril de 1985. Também decidimos que o corpo de Enver deveria ficar no Cemitério dos Mártires da Nação, como ele mesmo havia desejado, junto a seus eternos camaradas de guerra.

 

Nona Nota: 15 de abril de 1985

A dor do nosso povo, a nossa dor, chegou hoje ao seu auge. Despedimo-nos de Enver.

De 12 de abril até hoje, 15 de abril, o corpo do camarada Enver esteve deitado no salão da Assembleia Popular, onde uma procissão interminável de pessoas o homenageou. Centenas de milhares de pessoas passaram por seu corpo. Passaram cheias de honra e respeito por sua gloriosa obra, com grande amor pelo fundador da Nova Albânia, com lágrimas nos olhos e até chorando abertamente pelo camarada e amigo do povo. Delegações de representantes, cada uma com 50-100 pessoas, vieram de todos os distritos para honrar Enver e reafirmar ao partido a lealdade do povo.

A homenagem prestada a Enver foi majestosa, foi simples e sincera, combinando tristeza e orgulho. O povo expressou seus sentimentos com a maior sinceridade. Entraram no salão com os punhos cerrados levantados em saudação, pararam diante do caixão, choraram e se agarraram uns aos outros e falaram de seu pesar, até mesmo a estranhos.

Em todos os lugares o grande pesar se transformou em força. Houve inúmeras cartas, mensagens e telegramas de condolências dos trabalhadores, dos camponeses, dos intelectuais, dos comunistas, da juventude, dos veteranos de nosso país, dos albaneses que vivem no exterior e de muitos amigos estrangeiros. Elas refletiam uma poderosa explosão de sentimentos intensos pelo camarada Enver, refletiam também seu grande patriotismo e determinação. Todas as mensagens e telegramas refletem sua lealdade sem limites ao partido, sua prontidão e determinação em seguir o caminho e os ensinamentos do camarada Enver Hoxha.

Este mesmo espírito permeou a Reunião Extraordinária do Comitê Central, realizada em 13 de abril. Esta foi a primeira reunião que realizamos sem Enver Hoxha. Um silêncio profundo reinava no salão. No rosto dos camaradas, junto com sua dor, podia-se ver a força da convicção em seus corações sobre o brilhante futuro que o partido planejou sob a liderança do camarada Enver. Seus olhos expressaram sua determinação em aplicar seus ensinamentos sem interrupção e em qualquer circunstância.

Nesta atmosfera de tristeza geral, agindo sob as instruções do Birô Político, abri a reunião, e depois de termos ficado em silêncio por vários minutos para honrar a memória do camarada Enver, comecei a falar:

“Caros camaradas, sobre nossos ombros, os ombros do Comitê Central do Partido, caiu um fardo muito pesado. Temos que levar o socialismo adiante, para fortalecer e defender nossa pátria, agora sem o camarada Enver Hoxha, sem seus valiosos conselhos diários, mas com a mesma persistência que demonstramos sob sua liderança.”

Estas palavras me deram força, despertaram meu espírito e me permitiram acelerar um pouco meu ritmo. O breve discurso que fiz sobre a vida do camarada Enver, sobre o papel que ele desempenhou na história da Nova Albânia e a contribuição decisiva que ele deu em cada grande evento e em cada etapa de nossa revolução, soou como um chamado para mobilizar nossas forças, para avançar com confiança e otimismo no caminho traçado por Enver.

O Comitê Central tomou várias decisões para imortalizar o trabalho e o nome de Enver Hoxha. Aprovou por unanimidade a proposta do Birô Político do Comitê Central do Partido de que a Universidade de Tirana, a Organização Pioneira, o Porto de Durrës e a Cooperativa de Plasë no distrito de Korçë, fosse homenageada com seu nome. Da mesma forma, foi decidido que monumentos a Enver Hoxha deveriam ser erguidos em Tirana, Gjirokastër e Korçë.

O camarada Adil Çarçani, falando em nome do Birô Político, me propôs como Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido e o conjunto do Plenário me elegeu para esse cargo. É claro que isto é uma grande honra, uma grande confiança e uma grande responsabilidade para mim. Isso foi o que eu disse aos camaradas do Plenário.

“Enver Hoxha — eu lhes disse — é insubstituível. Ninguém pode realizar esta tarefa nestas dimensões e com aquela sabedoria com a qual ele a realizou. Entretanto, a força unida do partido, o pensamento e a ação conjunta do Comitê Central e do Birô Político podem compensar, em certa medida, a grande perda que sofremos. Portanto — eu disse em conclusão — com a sinceridade de um comunista, peço a ajuda e cooperação de todos e todas. Fortaleçamos nossa unidade, apoiemos uns aos outros, combinemos nossas forças e ideias e, com confiança no partido e no povo, sigamos o rumo que o camarada Enver traçou para nós.”

Depois passei a enfatizar: “A perda do camarada Enver é grande, mas os comunistas albaneses podem e vão enfrentá-la. Devemos encontrar a força para transformar nossa tristeza em combustível, e o próprio Enver Hoxha tornou isso possível para nós. Ele nos deixou um partido depurado de quaisquer males; ele nos deixou uma Albânia com uma poderosa economia sem dívidas, ele nos deixou seus ensinamentos, instruções e tarefas para cada esfera da vida e do desenvolvimento. Os momentos atuais exigem que fortaleçamos o partido e que não deixemos de amadurecer sua unidade; fortaleçamos os laços com o povo, pois é lá onde se encontra nossa maior força; guardemos a liberdade e a independência do nosso país de todos os nossos inimigos. Mais uma vez — disse eu ao encerrar meu discurso — prometo a todos que me esforçarei para justificar sua confiança permanecendo leal à linha do partido, aprendendo com Enver Hoxha, confiando no partido, no povo e em sua ajuda, caros camaradas. Viva o Partido! Partido-Enver! Prontos Agora e Sempre!

Com esta palavra de ordem revolucionária, terminei meu discurso.

Após a reunião do Comitê Central, propus aos camaradas que todos nós fossemos juntos prestar homenagem ao Fundador do Partido, ao Líder da Guerra de Libertação Nacional, ao Arquiteto da Construção do Socialismo e da Nova Albânia.

Sobre o corpo do camarada Enver, fiz este juramento solene em nome dos camaradas:

“Nós, seus camaradas e combatentes — disse-lhe eu — tivemos o costume de informar-lhe sobre cada tarefa realizada, mas hoje viemos para jurar diante de você, que nós, os camaradas do Comitê Central, que todo o partido, que todo o nosso povo, prosseguiremos em seu caminho e de acordo com seus ensinamentos, que levaremos adiante o grande trabalho que você realizou, amado e inesquecível Camarada Enver!”

Depois disso, todos os camaradas levantaram os punhos cerrados e declararam em uníssono: Juramos!

 

Décima Nota: 16 de abril de 1985

O camarada Enver desfrutou do amor sincero e sem limites de todo albanês, desde os velhos até as crianças; dos veteranos e combatentes da primeira geração; dos camponeses que conquistaram a terra; dos operários que se tornaram donos das fábricas; das mulheres, de nossas nobres mães e irmãs albanesas, e de toda nossa juventude heroica.

O camarada Enver estava no coração de cada albanês, porque o socialismo trouxe bênçãos, alegria e felicidade a todas as famílias. E nosso povo identifica o socialismo com o partido, com Enver. É por isso que jovens e idosos estavam tão profundamente entristecidos, tão tristes, porque haviam perdido a pessoa mais querida de seus corações. Eles choraram, choraram copiosamente. “Tem havido mais lágrimas do que chuva nestes dias”, disse uma mulher de Myzeqe. “Estamos enchendo de lágrimas a barragem da usina hidrelétrica de Koman”, disse um dos construtores. E estas expressões contundentes não foram meramente poéticas.

O povo chorou pelo camarada Enver assim como chorava por um membro querido da família. Quando o coletivo de trabalhadoras da fábrica têxtil em Krujë foram informadas da triste notícia, foi-nos dito que todas as mulheres disseram: “deixe-nos chorar por dez minutos, e então consideraremos o que fazer de agora em diante”, assim como as famílias fazem quando algum ente querido morre, de acordo com o costume popular.

O povo, os homens e as mulheres, os jovens, demonstraram seu alto nível político. Nós, do Comitê Central, sentimos imediatamente sua solidariedade, seu apoio, sua coragem e determinação para seguir o caminho do partido. Estes dias de luto nacional estão sendo observados em todos os lares albaneses, e são observados com dignidade. É um luto excepcionalmente grande, mas um luto que aproximou as pessoas, um luto que fortaleceu sua unidade e aumentou seu amor pelo partido e pelo socialismo. É um pesar profundo, mas silencioso, apenas os jovens e os velhos são capazes de controlar. Para além disso, tudo foi transformado em um impulso de convicção para o bem comum.

O funeral foi realizado ontem, 15 de abril. Caminhamos atrás do carro funerário desde o prédio do Comitê Central até a Praça Skanderbeg, onde seria realizada a reunião memorial. Uma garoa suave caiu calmamente. Também parecia que a natureza estava chorando. Milhares e milhares de pessoas se alinharam de ambos os lados da estrada. Infelizmente, eles se despediram de Enver. Mas como estas pessoas eram majestosas! Elas se despediram de seu grande líder com o mesmo amor com que o aplaudiram ardentemente, com olhos brilhando de alegria, quando ele sorria para elas da tribuna, mas agora com profundo pesar em seus corações, rostos e olhos. Sempre com profundo respeito e dignidade. Toda a cerimônia foi simples, humana, familiar. Familiar, porque as pessoas se separavam de seu melhor filho.

Camaradas de vários partidos marxista-leninistas vieram de sua própria vontade, queriam homenagear o camarada Enver e participar de seu funeral. O notável combatente do movimento de resistência antifascista grego, Manolis Glezos, também veio. Eu os conheci ontem junto com a camarada Nexhmije, com o camarada Adil e outros, antes de partir para a Praça Skanderbeg.

O discurso que proferi na reunião fúnebre foi escutado com grande atenção. O povo estava triste, mas sério, contido; lágrimas podiam ser vistas em seus rostos, mas sua confiança e determinação em marchar para frente e seu amor pelo partido também se mostrou com muita clareza. Tentei controlar minhas emoções durante o discurso e tive mais ou menos sucesso. No final, porém, eu estava quase engasgado de emoção e minha voz começou a tremer.

Quando o discurso terminou, um grupo de pioneiros cantou a palavra de ordem “Partido-Enver! Prontos Agora e Sempre!”. Esta palavra de ordem é imortal! Ela expressa a vontade do povo de seguir o caminho do partido, é um grande apoio político e moral. Vimos este apoio também nos punhos levantados dos cidadãos. “Estamos com vocês, com o partido, independente da situação”, nos disseram. Agradecemos ao povo!

Outro momento do funeral ficou fixado em minha mente. Estávamos apenas cruzando a Estrada Labinot, a um ritmo lento e em silêncio solene. Os olhos do povo estavam cheios de lágrimas e tristeza. Ali, em cima deles, estava o monumento do Partisan Desconhecido, pingando pela chuva, como se fossem lágrimas para o Comandante do qual nos separávamos. Mesmo em sua dor, o Partisan não desistia. Pelo contrário, parecia que estava como se todo o seu ser emitisse o chamado ao povo e ao partido: “Avante, camaradas! Nossa luta continua!” Naqueles momentos, este monumento me pareceu mais significativo do que nunca.

A cerimônia no cemitério também foi simples, assim como Enver havia desejado que fosse. Ele foi enterrado com a terra de sua cidade-natal, a terra de Gjirokastër. Sobre ele, colocamos uma coroa de flores típicas da Albânia em seu túmulo. Derramamos ainda mais lágrimas, para expressar nosso amor infinito pelo homem mais amado, pelo qual comemoraremos apenas uma data para sempre, a de seu nascimento.

Na história de nosso povo, não há outra figura a quem tantas canções tenham sido dedicadas como a de Enver Hoxha. E como é sabido, o povo não dedica canções a qualquer um, você tem que merecê-las, porque as canções incorporam o espírito e o amor do povo, expressam sua máxima honra.

Não apenas no figurativo, mas no significado direto da palavra, o canto do povo é o primeiro e mais perfeito monumento dedicado à figura de Enver. Não foi necessário tomar decisões sobre a ereção deste monumento. Os grandes acontecimentos, as grandes realizações revolucionárias da época do socialismo, os desafios corajosos do partido e de Enver diante das traições, os corações enlutados do povo em abril de 1985, deram a ordem para a ereção deste monumento.

O povo escolheu a quintessência de sua arte para Enver Hoxha, porque seu amor por ele era o amor mais sincero, ardente, o maior amor de todos. Podemos dizer com plena convicção que a canção mais popular, a mais difundida entre as massas em nosso país é Enver Hoxha Tungjatjeta [Vida Longa a Enver Hoxha!]

Em casamentos, festas familiares e outras celebrações, há sempre alguém que naturalmente começa a cantar as primeiras linhas:

Enver Hoxha e mprehi shpaten [Enver Hoxha começou a luta]
Edhe nje here o per situaten. [Novamente para consertar as coisas]

Imediatamente, todos os outros começam a cantar esta canção monumental, assim como fazem as marchas partisans.

As canções populares sobre Enver são cantadas não apenas nas regiões onde foram criadas, mas também em outras zonas. Aqueles que não têm a tradição de canções polifônicas podem não cantar as canções de Labëria, mas conhecem a canção Dê a ordem, Camarada Enver, ou pelo menos as cantam em partes. Aqueles que não conhecem o estilo homofônico podem não ser capazes de cantar muitas dessas canções, mas gostam daquelas dedicadas ao camarada Enver e as cantam sem sair do tom. As canções sobre Enver são canções que unem as pessoas.

Vários festivais nacionais de folclore poderiam ser realizados simultaneamente com os versos escritos pelo povo sobre Enver Hoxha nos dias de luto nacional. Os autores destas obras eram milhares. A maioria deles escrevia pela primeira vez, mas isso não os impediu de verter uma arte maravilhosa, usando figuras com as quais os poetas mais ilustres puderam aprender.

Onze de abril, por que amanheceu este dia?
Trazendo tanta tristeza e desânimo.
O mar em ondas frenéticas
bate contra as rochas e se dissolve em lágrimas.

Muitos dos versos populares daqueles dias foram escritos em momentos de dor igual àquelas causadas por todos os terremotos e calamidades juntos, como um poeta colocou em sua carta ao Comitê Central. Eles não são versos de desespero. O objetivo desta arte não é entristecer as pessoas, o povo tinha outra coisa em mente naqueles dias em que escrevia seus versos. Eles estavam bem cientes de que a perda física do camarada Enver era irreparável, mas eles sabiam também que a canção era uma das melhores maneiras de manter sua memória viva. Quanto mais canções existirem sobre Enver Hoxha, mais ultrapassada se tornava a ideia de sua morte. Não é acidental que a maioria dos poemas daqueles dias não tenham sido escritos como lamentações ou epitáfios. Eles foram escritos como canções. Uma rapsódista de Mirditë acompanhou seu poema com uma carta na qual ele escreveu: “Quando terminar a dor do luto, estarei afinando as cordas do meu alaúde”.

Gostamos de ouvir as canções sobre Enver em dias comuns e especialmente em celebrações e eventos especiais, no trabalho ou em casa, onde quer que estejamos, porque parece que ele ainda está entre nós. Não vou esquecer o telegrama de um cidadão de Tepelenë, que, tendo em mente a força da arte, daquelas que tornam os heróis imortais, disse: “O povo fez algo a Enver Hoxha que a medicina não podia fazer, nós o tornamos imortal”.

É uma tradição excepcional de nosso povo honrar seus heróis, seus homens sábios e seus líderes com canções. Nenhuma crônica ou biografia inicial escrita em albanês sobre Skanderbeg foi preservada, mas as canções populares sobre ele têm sido transmitidas de geração em geração.

Em suas canções sobre Enver, o povo retrata a figura de um novo tipo de líder. Nessas canções Enver Hoxha é um líder e um filho comum do povo, um pensador e inspirador de grandes mudanças, um homem que dedicou toda sua vida ao povo albanês.

Enver Hoxha nos mostrou o caminho que devemos seguir. Nosso povo se mobilizou rapidamente para assumir as grandes e difíceis tarefas que o partido e sua liderança tiveram que realizar após a perda do 11 de abril de 1985. O povo acredita na continuidade da construção do socialismo.

Há um momento durante a minha visita ao distrito de Mirditë, em fevereiro de 1986, que ficou preso a minha mente. Após a reunião do Comitê do Partido do distrito, fui para a fábrica metalúrgica de cobre em Rubik. Lá, conheci os mineiros e os fundidores que falaram sobre muitas questões de seu trabalho. Quando eu estava prestes a tomar a palavra, um jovem se levantou e disse:

“Com licença, camarada Ramiz, deixe-me dizer algo primeiro. Agradeço ao partido por ter erigido o camarada Enver Hoxha tão alto, aquece nossos corações ouvir que tudo o que a liderança faz começa e termina com Enver. Estamos todos com você!”

O conselho que este jovem nos deu foi claro. A continuidade da política de Enver é a pedra angular. Ele se regozijou com a consistência marxista-leninista de nosso partido. O povo inteiro se regozija com isso. Em todos os contatos que tivemos com as massas no período após a perda que tivemos do camarada Enver, vimos a grande força que o amor e o apoio do povo representam. Justamente naqueles momentos em que nós, camaradas dirigentes, fomos ao encontro do povo trabalhador para nos consolarmos uns aos outros, enquanto os inimigos borbulhavam para saber qual o rumo que a Albânia tomaria, o povo enterrou sua dor e explodiu em um entusiasmo indescritível.

O 9º Congresso do partido foi descrito como o Congresso da continuidade. Na verdade, todos os nossos congressos têm sido congressos de continuidade. Mas enfatizamos isto mais uma vez precisamente para deter as insinuações e ilusões dos vários círculos hostis do mundo que desejavam e previam “o desvio dos albaneses da linha de Enver Hoxha”. Quando juramos diante de Enver que seguiríamos seu caminho, juramos seguir o caminho que empreendemos em 8 de novembro de 1941, o caminho que nos trouxe a libertação da pátria, que garantiu a construção do socialismo, o caminho para um futuro melhor, próspero, no qual nosso partido Marxista-Leninista nos conduz.

A continuidade no caminho socialista e a continuidade no caminho do camarada Enver são a mesma coisa. Sabemos que não é fácil seguir este caminho, estamos bem cientes de que para ser um portador da bandeira da implementação dos ensinamentos de Enver Hoxha é preciso ser revolucionário em cada ação, ser inovador, corajoso, criativo e um lutador destemido. Nosso povo e o nosso partido marcharão com determinação para alcançar vitória após vitória.

As épocas dão origem a líderes como o Enver Hoxha, alguns líderes têm dimensões que marcam época. Assim como as épocas históricas nunca são esquecidas, assim também seus heróis sobrevivem, são honrados e respeitados para sempre.

Durante quinhentos anos a fio, nosso povo manteve viva a figura lendária de Skanderbeg. Assim como as batalhas de Skanderbeg inspiraram o patriotismo e o espírito de resistência dos albaneses mesmo nos momentos mais dramáticos da vida do país, assim será com o nome e a obra de Enver Hoxha: ela permanecerá viva através dos séculos como uma grande bandeira das lutas do nosso povo pelo socialismo e pela prosperidade da pátria.

Com sua majestosa obra, Enver Hoxha sempre inspirará os comunistas e o povo a grandes feitos, a um progresso incessante. Ele estará sempre presente nas alegrias e preocupações de nossa sociedade. As gerações atuais e futuras serão guiadas por seus ensinamentos, por maior que pareçam os problemas, enfrentando qualquer dificuldade ou obstáculo, eles buscarão o conselho de Enver, e Enver vai ajudá-los. Ele lhes dará as respostas através de sua obra.


Jornal A Verdade
Inclusão: 10/08/2022