Resposta a uma Estudante Americana

Yuri Andropov

19 de abril de 1983


Observação: Este texto, traduzido para o inglês pela Embaixada Soviética em Washington, D.C., da carta de Andropov enviada em resposta a uma carta recebida de uma garota americana de 10 anos, Samantha Smith, de Manchester, no estado de Maine, EUA. Depois de ler um artigo sobre a Guerra Fria, Samantha havia escrito uma carta para Andropov perguntando se ele pretendia "votar para fazer uma guerra, ou não" e, caso não fosse, pelo menos dizer a ela que trabalharia para evitar uma. Sua carta foi publicada no Pravda, mas ela não recebeu uma resposta direta. Depois de enviar uma segunda carta, desta vez para a embaixada soviética, solicitando uma resposta, Samantha recebeu a seguinte carta - em russo e inglês - em 26 de abril de 1983.

Tradução: Igor A. Torres Ribeiro a partir da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/andropov/1983/april-19.htm e https://www.samanthasmith.info/index.php/history/letter

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Querida Samantha,

Recebi sua carta, que é como muitas outras que chegaram a mim recentemente de seu país e de outros países ao redor do mundo.

Parece-me - posso dizer por sua carta - que você é uma garota corajosa e honesta, semelhante a Becky, a amiga de Tom Sawyer no famoso livro de seu compatriota Mark Twain. Esse livro é bastante conhecido e amado em nosso país por todos os meninos e meninas.

Você escreve que está ansiosa com a possibilidade de haver uma guerra nuclear entre nossos dois países. E você pergunta se estamos fazendo qualquer coisa para que a guerra não aconteça.

Sua pergunta é a mais importante que qualquer homem pensante pode propor. Vou responder a você com seriedade e honestidade.

Sim, Samantha, nós na União Soviética estamos tentando fazer de tudo para que não haja guerra na Terra. É isso o que todo homem Soviético deseja. Foi isso o que nos ensinou o grande fundador do nosso estado, Vladimir Lenin.

O povo soviético sabe muito bem como a guerra é terrível. Quarenta e dois anos atrás, a Alemanha Nazista, que ambicionou por supremacia sobre todo o mundo, atacou nosso país, queimou e destruiu muitos milhares de nossas cidades e vilas, matou milhões de homens, mulheres e crianças Soviéticas.

Nessa guerra, que terminou com a nossa vitória, estávamos em aliança com os Estados Unidos: juntos lutamos pela libertação de muitas pessoas dos invasores Nazistas. Espero que você saiba sobre isso pelas suas aulas de história na escola. E hoje nós queremos muito viver em paz, negociar e cooperar com todos os nossos vizinhos nesta terra - com os que estão longe e com os que estão próximos. E certamente com um país tão grande como os Estados Unidos da América.

Na América e em nosso país, existem armas nucleares - armas terríveis que podem matar milhões de pessoas em um instante. Mas não queremos que sejam usadas. É precisamente por isso que a União Soviética declarou solenemente em todo o mundo que nunca - nunca - irá usar armas nucleares primeiro contra qualquer país. Em geral, propomos interromper a maior produção delas e proceder à abolição de todos os estoques na terra.

Parece-me que esta é uma resposta suficiente à sua segunda pergunta: "por que você quer promover guerra contra o mundo ou pelo menos aos EUA?" Não queremos nada desse tipo. Ninguém em nosso país - nem trabalhadores, camponeses, escritores ou médicos, nem adultos, nem crianças, nem membros do governo - quer uma guerra, grande ou "pequena".

Nós queremos paz - existe algo com que estamos ocupados: cultivar trigo, construir e inventar, escrever livros e voar em direção ao espaço. Nós queremos paz para nós mesmos e para todos os povos do planeta. Para nossas crianças e para você, Samantha.

Convido você, se seus pais permitirem, a vir ao nosso país, a melhor época sendo este verão. Você descobrirá sobre nosso país, encontrará seus contemporâneos, visitará um acampamento internacional para crianças - "Artek" – junto ao mar. E verá por si mesma: na União Soviética, todos são pela paz e pela amizade entre os povos.

Obrigado por sua carta. Desejo a você tudo de melhor em sua juventude.

Y. Andropov


Carta de Samantha Smith:

Caro Sr. Andropov,

Meu nome é Samantha Smith. Eu tenho dez anos de idade. Parabéns pelo seu novo trabalho. Tenho me preocupado com a possibilidade da Rússia e dos Estados Unidos entrarem em uma guerra nuclear. Você vai votar para fazer uma guerra, ou não? Se você não for, por favor, me diga como você vai ajudar a não ter uma guerra. Essa pergunta você não precisa responder, mas eu gostaria de saber por que você quer conquistar o mundo ou pelo menos nosso país. Deus fez o mundo para vivermos juntos em paz e não para lutarmos.

Sinceramente,

Samantha Smith (retornar ao texto)

Inclusão: 28/10/2021