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Primeira edição: Discurso pronunciado no funeral dos internacionalistas mortos durante o cumprimento de honrosas missões militares e civis, realizado no Mausoléu de Cacahual.
Fonte: Na Trincheira da Revolução, Fidel Castro. 1990, Editora José Martí.
Transcrição: União da Juventude Rebelião e Márcio Leite Brito.
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Companheiro presidente José Eduardo dos Santos e demais convidados,
Familiares dos tombados,
Combatentes,
Compatriotas:
Foi sempre de profunda significação para todos os cubanos a data memorável em que tombou, junto a seu jovem ajudante, o mais ilustre de nossos soldados, Antonio Maceo. Seus restos mortais repousam aqui neste sagrado espaço da Pátria.
Ao escolher a data para sepultar os restos de nossos heroicos combatentes internacionalistas que tombaram em diversas partes do mundo, principalmente na África, lugar de onde vieram os antepassados de Maceo e uma grande parte de nosso sangue, o dia 7 de dezembro se converterá em um dia de lembrança para todos os cubanos que deram a vida não somente em defesa de sua Pátria, mas também da humanidade. Assim, o patriotismo e o internacionalismo, dois dos mais nobres valores que o homem foi capaz de criar, se unirão para sempre na história de Cuba.
Talvez, não muito distante deste mesmo lugar se levante um dia um monumento em honra de todos.
Neste momento, simultaneamente em todos os lugares de Cuba de onde procediam, se sepultam os restos dos internacionalistas que tombaram no cumprimento de sua nobre e gloriosa missão.
O inimigo imperialista acreditava que esconderíamos as baixas em Angola, a missão mais longa e complexa que já cumpriu 14 anos, como se fosse uma desonra ou uma mancha para a Revolução. Durante muito tempo, sonharam que seria inútil o sangue derramado, como se pudesse morrer em vão aquele que morre por uma causa justa. Mas se apenas a vitória fosse a vulgar medida para o valor do sacrifício dos homens em suas lutas justas, eles regressaram também com a vitória.
Os espartanos diziam: Com o escudo ou sobre o escudo. Nossas tropas vitoriosas regressaram com o escudo.
Neste momento solene, não é nossa intenção vangloriar-nos de nossos êxitos nem humilhar ninguém, nem sequer aos que foram nossos adversários. Nosso país não buscava glórias nem prestígios militares. Sempre se perseguiu rigorosamente o principio de alcançar os objetivos com o menor sacrifício possível de vidas. Para isso era necessário ser forte, agir com o máximo de sangue frio e estar sempre, como sempre estivemos, dispostos a tudo.
Cada combatente sabia que por trás dele estava o país inteiro; sabia também que a vida e a saúde de cada um deles era nossa constante preocupação.
Quando a política e a diplomacia foram fatores acessíveis para alcançar os objetivos finais, não se duvidou em usá-las. E ainda que sempre se tenha agido com toda a firmeza necessária, em nenhum momento durante o processo negociador se nos ouviu uma palavra de arrogância, prepotência ou alarde. Soubemos ser flexíveis quando a flexibilidade era conveniente e justa.
A última etapa da guerra de Angola foi a mais difícil. Ela necessitou de toda determinação, tenacidade e o espírito de luta de nosso país em apoio aos nossos irmãos angolanos.
No cumprimento desse dever de solidariedade não somente com Angola, mas também com nossos combatentes que ali lutavam em difíceis condições, a Revolução não vacilou em arriscar tudo. Quando as ameaças imperialistas contra nossa Pátria eram muito grandes, não vacilamos em enviar para a Frente Sul da República Popular de Angola nossos mais modernos e melhores meios de combate. Mais de 50.600 combatentes cubanos se reuniram então naquela nação irmã, cifra verdadeiramente impressionante se se toma em conta a distância a percorrer, o tamanho e recursos de nosso país. Foi uma verdadeira façanha de nossas gloriosas Forças Armadas Revolucionárias e de nosso povo. Poucas vezes se escreveu igual página de altruísmo e solidariedade internacional. Por isso apreciamos muito a presença de José Eduardo dos Santos nesse ato. Foi um gesto absolutamente espontâneo. “Quero estar com vocês neste momento”, nos disse. Da mesma maneira espontânea, a Etiópia, a SWAPO e outros países e organizações revolucionárias quiseram estar conosco tão logo tiveram notícias, há apenas alguns dias, de que hoje sepultaríamos em nossa Pátria os internacionalistas tombados na Africa e em outras terras do mundo.
Há acontecimentos históricos que nada nem ninguém poderá apagar. Há exemplos revolucionários que os melhores homens e mulheres das gerações futuras dentro e fora da nossa Pátria, não poderão esquecer. Este é um deles, mas não corresponde a nós avaliá-lo, disso encarregar-se-á a história.
Não podemos esquecer nem por um instante que nossos camaradas de armas foram os heroicos combatentes das Forças Armadas Angolanas. Eles ofereceram a vida de milhares dos melhores filhos desse extraordinário povo. A unidade e a cooperação mais estreita entre nós tornaram possível a vitória.
Tivemos, também, a honra de combater junto aos valiosos filhos da Namíbia, dos patriotas da Guiné Bissau e os insuperáveis soldados etíopes. Anos antes, nos difíceis dias da Argélia, que recentemente havia conquistado a independência, nossos combatentes internacionalistas estiveram a seu lado, como estiveram também mais tarde junto à Síria, outro irmão país árabe vítima da agressão exterior, que solicitou nossa cooperação.
Não houve na Africa causa justa que não contasse com o apoio do nosso povo. Che Guevara, acompanhado de um grupo numeroso de revolucionários cubanos, combateu contra mercenários brancos ao leste do atual Zaire, e hoje, na República Saarauí, médicos e professores prestam seus generosos e desinteressados serviços a esse povo em combate por sua liberdade.
Todos os países mencionados já eram ou são hoje independentes, e os que ainda não são, serão mais cedo ou mais tarde. Em poucos anos se escreveu uma página brilhante de solidariedade e da qual nosso povo sente-se orgulhoso. Homens de diferentes países também combateram junto a nós em nossas lutas pela independência. Máximo Gómez, o mais ilustre de todos, nascido em Santo Domingo, chegou por seus extraordinários méritos a ser chefe do nosso Exército Libertador.
Nos anos que antecederam a nossa Revolução, mil cubanos organizados pelo primeiro Partido Comunista combateram na Espanha defendendo a República. Eles escreveram páginas inesquecíveis de heroísmo, que a caneta de Pablo de la Torriente Brau selecionou para a história, até que a morte em combate tirou a vida do brilhante jornalista revolucionário. Desta maneira se forjou nosso galhardo espírito internacionalista que com a Revolução Socialista atingiu seus mais elevados cumes. Em todos os lugares por onde estiveram os internacionalistas cubanos, foram exemplo de respeito à dignidade e à soberania do país. A confiança conquistada no coração destes povos não é casual, foi fruto de sua conduta exemplar. Em consequência disto, em todos os lugares ficou a lembrança de nosso exemplar desinteresse e altruísmo.
Um destacado dirigente africano manifestou uma vez em uma das reuniões de líderes da área:
“Os combatentes cubanos estão dispostos a sacrificar suas vidas pela libertação de nossos países e, em troca dessa ajuda à nossa liberdade e ao progresso da nossa população, o único que nos levarão são os combatentes que tombaram lutando pela liberdade.”
Um continente que conheceu séculos de exploração e saques, soube admirar em toda sua grandeza o desinteresse do nosso gesto internacionalista.
Hoje, nossas aguerridas tropas regressam vitoriosas. Caras alegres, felizes, de mães, esposas, irmãos, filhos e de todo o povo, os recebem com calor e emoção. A paz foi conquistada com honra e se alcançaram amplamente os frutos do sacrifício e do esforço. Hoje nossos sonhos não são perturbados pela constante inquietude pela sorte de nossos homens em combate a milhares de quilômetros de sua terra.
O inimigo acreditava que o regresso dos combatentes constituiria um problema social pela impossibilidade de oferecer-lhes um emprego. Muitos desses homens, além dos quadros militares, tinham em sua Pátria um emprego e a eles regressam ou a outros melhores. Nenhum foi esquecido. Muitas vezes, antes mesmo de voltar à Pátria, já sabiam qual seria seu trabalho.
Daqueles jovens do Serviço Militar que acabavam de sair das escolas de ensino médio e solicitaram, voluntariamente, a honra de cumprir missão internacionalista em Angola, nenhum deles teve que esperar para ocupar um lugar digno nas salas de aula ou nas fileiras do nosso povo trabalhador.
Nossa Pátria trabalha intensamente em ambiciosos programas de desenvolvimento econômico e social, não se orienta pelas leis irracionais do capitalismo e tem um lugar no ensino, na produção ou nos serviços para cada filho do país. Nenhum parente próximo dos que tombaram em cumprimento da missão, ou sofreram lesões graves, foi esquecido. Eles receberam, recebem e receberão toda a atenção e a consideração a que os fez merecedores o nobre sacrifício de seus seres queridos e seu próprio comportamento abnegado, desinteressado e generoso até o heroísmo.
Os milhares de cubanos que cumpriram missões internacionalistas militares ou civis contarão sempre com o respeito das atuais e futuras gerações. Eles multiplicaram muitas vezes as gloriosas tradições combativas e internacionalistas de nosso povo.
A Pátria que eles encontram no retorno está envolvida numa luta titânica pelo desenvolvimento, ao mesmo tempo que continua enfrentando com exemplar dignidade o bloqueio criminal do imperialismo, e ao que se soma agora a crise surgida no campo socialista e da qual podemos esperar apenas consequências negativas no terreno econômico para nosso país.
Não é precisamente sobre a luta anti-imperialista nem sobre os princípios do internacionalismo que se fala hoje na maioria desses países. Essas palavras, nem sequer são mencionadas em sua imprensa. Estes conceitos, ali, estão virtualmente apagados do dicionário político. Em troca, os valores do capitalismo estão ganhando força inusitada nessas sociedades.
Capitalismo significa intercâmbio desigual com os povos do Terceiro Mundo, exacerbação do egoísmo individual e do chovinismo nacional, o império da irracionalidade e da anarquia no investimento e produção, sacrifício cruel dos povos a leis cegas na economia, o império do mais forte, a exploração do homem pelo homem, o salve-se quem puder. O capitalismo na ordem social implica muitas coisas mais: prostituição, droga, jogo, mendicância, desemprego, desigualdades monstruosas entre os cidadãos, esgotamento dos recursos naturais, contaminação da atmosfera, dos mares, dos rios, dos bosques e de modo especial o saque das nações subdesenvolvidas pelos países capitalistas industrializados. No passado significou colonialismo e no presente a neocolonização de milhões de seres humanos através de métodos econômicos e políticos mais sofisticados, mas por outro lado de menos custo, mais eficazes e desumanos.
O capitalismo, sua economia de mercado, seus valores, suas categorias e seus métodos não podem ser jamais os instrumentos para tirar o socialismo de suas atuais dificuldades e retificar os erros que foram cometidos. Boa parte dessas dificuldades surgiram não somente dos erros, mas também do bloqueio rigoroso e do isolamento a que foram submetidos os países socialistas pelo imperialismo e as grandes potências capitalistas que monopolizaram quase todos os recursos e tecnologias mais avançadas do mundo, produto do saque das colonias, a exploração de sua classe trabalhadora e o roubo massivo de intelectuais dos países que estavam por desenvolver-se.
Guerras devastadoras, que custaram milhares de vidas e a destruição da imensa maioria dos meios produtivos acumulados, foram desencadeadas contra o primeiro Estado socialista. Como a ave Fênix, este teve que surgir mais de uma vez de suas cinzas e prestou serviços à humanidade como derrotar o fascismo e impulsionar decisivamente o movimento de libertação dos países ainda colonizados. Tudo isso querem esquecer hoje.
É repugnante que muitos agora se dediquem, na própria URSS, a negar e destruir a façanha histórica e os méritos extraordinários desse heroico povo. Essa não é uma forma de retificar e superar os inquestionáveis erros cometidos numa revolução que nasceu das entranhas do autoritarismo czarista, num país imenso, atrasado e pobre. Agora não é possível cobrar a Lenin o preço por haver feito a maior revolução da história na velha Rússia dos czares.
Por isso nós não vacilamos em impedir a circulação de certas publicações que estão carregadas de veneno contra a própria URSS e o socialismo. Percebe-se que por trás delas está a mão do imperialismo, a reação e a contrarrevolução. Algumas dessas publicações já começaram a pedir o fim do tipo de relações comerciais equitativas e justas que foram criadas entre a URSS e Cuba no transcurso do processo revolucionário cubano. Em duas palavras: que a URSS comece a praticar com Cuba o intercâmbio desigual, vendendo cada vez mais caro e comprando cada vez mais barato nossos produtos agrícolas e matérias-primas, o mesmo que os Estados Unidos faz com os países do Terceiro Mundo ou, em último caso, que a URSS se junte ao bloqueio ianque contra Cuba.
A destruição sistemática dos valores do socialismo, o trabalho de desgaste realizado pelo imperialismo, somados aos erros cometidos, aceleraram o processo de desestabilização dos países socialistas na Europa oriental. A política diferenciada com cada país e a ideia de minar o socialismo no seu interior, foi a estratégia elaborada durante longo tempo e aplicada pelos Estados Unidos.
O imperialismo e as potências capitalistas não podem dissimular sua euforia diante dos acontecimentos. Estão convencidos, não sem fundamento, de que nesse momento o campo socialista virtualmente já não existe. Em alguns desses países de Europa oriental há atualmente equipes completas de norte-americanos, incluindo assessores do Presidente dos Estados Unidos, programando o desenvolvimento capitalista. Recentemente, recebemos um telex com a notícia de que estavam fascinados pela excitante experiência. Um deles, aliás funcionário do governo norte-americano, mostrava-se partidário de aplicar na Polônia um plano semelhante ao do “New Deal”, com o qual Roosevelt tentou mitigar a grande crise do capitalismo, para socorrer aos 600.000 trabalhadores poloneses que ficarão desempregados em 1990, e a metade dos 17,8 milhões de trabalhadores com que conta o país e que deverá reciclar-se e mudar de emprego em consequência do desenvolvimento de uma economia de mercado.
O imperialismo e as potências capitalistas da OTAN estão persuadidos, e com razão, de que a estas horas o Pacto de Varsóvia já não existe e é apenas uma ficção; que sociedades corroídas e minadas em sua estrutura, seriam incapazes de resistir.
Se tem proclamado que o socialismo deveria aperfeiçoar-se. Ninguém pode se opor a este princípio que é inerente e de constante aplicação a toda obra humana. Mas, seria por acaso, abandonando os princípios mais elementares do marxismo-leninismo que o socialismo poderia aperfeiçoar-se? Por que as chamadas reformas devem marchar num sentido capitalista? Se essas ideias tivessem um caráter revolucionário como alguns pretendem, por que recebem o apoio unânime e exaltado dos dirigentes imperialistas?
Em insólita declaração, e presidente dos Estados Unidos se rotulou como defensor número um das doutrinas que atualmente se aplicam em muitos países do campo socialista.
Na História, uma ideia verdadeiramente revolucionária, jamais havia recebido o apoio entusiasta do chefe do império mais poderoso, agressivo e voraz que a humanidade conheceu.
Por ocasião da visita do companheiro Gorbachev a Cuba, em abril deste ano, nós realizamos profundos e sinceros intercâmbios. Manifestamos publicamente perante a Assembleia Nacional nosso critério de que se deveria respeitar o direito de qualquer país socialista construir o capitalismo se assim o desejasse, do mesmo modo que exigimos o mais estrito respeito ao direito de qualquer país capitalista construir o socialismo.
Consideramos que a revolução não se pode importar nem exportar. Um Estado socialista não se pode fundar por inseminação artificial ou simples transplante de embriões. A revolução necessita as condições propícias para isso no interior da própria sociedade, e somente cada povo pode ser seu próprio criador. Estas ideias não estão contra a solidariedade que os revolucionários podem e devem trocar entre si. A revolução é, igualmente, um processo no qual se pode avançar ou retroceder e inclusive se pode frustrar. Porém, um comunista, antes de tudo, deve ser corajoso e revolucionário. O dever dos comunistas é lutar em qualquer circunstância, por mais adversa que seja. Os membros da Comuna de Paris souberam lutar e morrer defendendo suas ideias. Não se entregam as bandeiras da revolução e do socialismo sem antes combater. Render-se é próprio dos covardes e de pessoas desmoralizadas, não de comunistas, nem de revolucionários.
Atualmente, o imperialismo convida os países socialistas da Europa a converter-se em receptores de seus excedentes de capital, desenvolver o capitalismo e participar no saque dos países do Terceiro Mundo.
É conhecido de todos que uma grande parte dos recursos do mundo capitalista desenvolvido provém do intercâmbio desigual com esses países. Durante séculos foram saqueados como simples colônias, escravizaram milhões de seus filhos, e em muitas ocasiões esgotaram suas reservas de ouro, prata e outros minerais. Foram explorados brutalmente e lhes impuseram o subdesenvolvimento. Esta foi a consequência mais direta e patente do colonialismo.
Hoje, os aniquilam através de juros de uma dívida infinita e impagável. Retiram seus produtos básicos a preços miseráveis, exportam seus produtos industriais cada vez a preços mais altos. Constantemente subtraem os recursos financeiros e humanos através da fuga de capitais e pessoal especializado. Usam o dumping para bloquear-lhes o comércio, tarifas alfandegárias, quotas de importação, produtos sintéticos substitutivos saídos de sua alta tecnologia e subsidiam as próprias produções quando não são competitivas.
O imperialismo quer que os países socialistas da Europa se unam a esse grandioso saque, o que parece não desagradar em absoluto os teóricos das reformas capitalistas. Razão pela qual em muitos desses países ninguém fale da tragédia do Terceiro Mundo e as multidões insatisfeitas sejam orientadas ao capitalismo e ao anticomunismo, e num deles ao pangermanismo. Esta evolução dos acontecimentos pode conduzir, inclusive, a correntes fascistas. O prêmio que o imperialismo lhes promete é uma quota no saque aos nossos povos, única forma de fundar sociedades capitalistas de consumo.
Atualmente, interessa muito mais aos Estados Unidos e às potências capitalistas investir na Europa oriental que em qualquer outra parte do planeta. Que recursos poderá esperar o Terceiro Mundo com essa evolução dos acontecimentos, onde milhões de pessoas vivem em condições infra-humanas?
Falam-nos de paz. Que paz é esta? A paz entre as grandes potências, enquanto o capitalismo se reserva o direito de interferir e agredir abertamente aos países do Terceiro Mundo? Temos exemplos de sobra. O governo imperialista dos Estados Unidos exige que ninguém preste ajuda aos revolucionários salvadorenhos e tenta chantagear a URSS solicitando-lhe que interrompa o fornecimento da ajuda econômica e militar a Nicarágua e Cuba porque somos solidários com os revolucionários salvadorenhos, ainda que cumpramos estritamente com as obrigações em relação ao armamento que a URSS nos fornece de acordo com os convênios estabelecidos entre nações soberanas. Por outro lado, este mesmo governo imperialista que exige o cessar de toda solidariedade com os revolucionários salvadorenhos, ajuda o governo genocida e envia unidades especiais de combate a El Salvador, mantém a contrarrevolução na Nicarágua, organiza golpes de Estado no Panamá e o assassinato de dirigentes desse país, ajuda militarmente a UNITA em Angola, apesar dos sucessos nos acordos de paz no Sudoeste africano e continua fornecendo grandes quantidades de armas aos rebeldes do Afeganistão, sem considerar a retirada das tropas soviéticas e os Acordos de Genebra.
Há poucos dias, aviões de guerra dos Estados Unidos interferiram descaradamente no conflito das Filipinas. Independentemente das causas justas ou injustas dos amotinados e que não nos cabe julgar, a intervenção dos Estados Unidos nesse país assume extrema gravidade e é o reflexo fiel da situação atual no mundo. Esse é o papel de gendarme que os Estados Unidos se reserva, já não só para a América Latina, a qual sempre considerou como seu quintal, mas também para qualquer país do Terceiro Mundo.
A consagração do princípio de intervenção universal por uma grande potência é o fim da independência e da soberania no mundo. Que paz e seguridade podem esperar nossos povos que não seja a que nós mesmos sejamos capazes de conquistar com nosso heroísmo?
Seria magnífico que desaparecessem as armas nucleares. Se isso não fosse mais do que uma utopia e se conseguisse conquistar um dia, seria de um benefício inquestionável e proporcionaria a segurança, mas somente para uma parte da humanidade. Isso não daria a paz, nem segurança, nem esperança aos países do Terceiro Mundo.
O imperialismo não precisa armas nucleares para agredir a nossos povos. Suas poderosas frotas espalhadas pelo mundo, suas bases militares em todos os lugares e suas armas convencionais cada vez mais sofisticadas e mortíferas são suficientes para cumprir seu papel de dono e guardião do mundo.
Em nosso mundo, a cada dia morrem 40.000 crianças que poderiam se salvar e não se salvam devido ao subdesenvolvimento e à pobreza. Como dissemos muitas vezes, e nunca é demais repetir, é como se a cada três dias estourasse entre as crianças pobres do mundo, uma bomba igual à de Hiroshima e Nagasaki.
Se os acontecimentos seguem seu curso atual, se não se exige dos Estados Unidos a renúncia a estas concepções, de que novo pensamento se pode falar? Dessa maneira, o mundo bipolar que conhecemos no pós-guerra transformar-se-á, inexoravelmente, num mundo unipolar sob a hegemonia dos Estados Unidos.
Em Cuba estamos desenvolvendo nosso processo de retificação. Sem um Partido forte, disciplinado e respeitado é impossível desenvolver uma revolução ou uma retificação verdadeiramente socialista. Não se pode conseguir um processo como esse caluniando o socialismo, destruindo seus valores, desprestigiando o Partido, desmoralizando a vanguarda, renunciando ao seu papel dirigente, liquidando com a disciplina social, semeando o caos e a anarquia por toda parte. Assim se pode promover uma contrarrevolução, mas não mudanças revolucionárias.
O imperialismo ianque acredita que Cuba não poderá resistir e que a nova situação surgida no campo socialista possibilitará submeter inexoravelmente nossa Revolução.
Cuba não é um pais onde o socialismo chegou depois das divisões vitoriosas do Exército Vermelho. Em Cuba, o socialismo foi forjado pelos cubanos em autêntica e heroica luta. Trinta anos de resistência ao mais poderoso império da Terra, que quis destruir nossa Revolução, dão testemunho da nossa fortaleza política e moral.
Aqueles que estamos na direção do pais não somos um grupo de intrusos inexperientes, recém-chegados a cargos de responsabilidade. Saímos das fileiras de velhos lutadores anti-imperialistas, da escola de Melia e de Guiteras, das fileiras do Moncada e do Granma, da Sierra Maestra e da luta clandestina, de Girón, da Crise de Outubro, de 30 anos de resistência heroica à agressão imperialista, de grandes façanhas trabalhistas e de gloriosas missões internacionalistas. Homens e mulheres de três gerações cubanas que se unem e assumem responsabilidades em nosso aguerrido Partido, na organização da nessa maravilhosa vanguarda juvenil, nas poderosas organizações de massas, em nossas gloriosas Forças Armadas Revolucionárias e em nosso Ministério do Interior.
Em Cuba, Revolução, socialismo e independência nacional estão indissoluvelmente unidos.
À Revolução e ao socialismo, devemos hoje tudo o que somos. Se alguma vez em Cuba voltasse o capitalismo, nossa independência e soberania desapareceriam para sempre. Seríamos um prolongamento de Miami, um simples apêndice do império ianque, o cumprimento daquela repugnante profecia de um presidente dos Estados Unidos no século passado quando pensava anexar nossa ilha e disse que esta cairia em mãos desse país como uma fruta madura. E para impedir isso hoje, amanhã e sempre, haverá um povo disposto a morrer. Cabe repetir aqui, novamente, perante sua própria tumba, a frase imortal de Maceo:
“Quem tentar apropriar-se de Cuba recolherá o pó do seu chão inundado em sangue, se não perecer na luta.”
Os comunistas cubanos e os milhões de combatentes revolucionários que integram as filas do nosso heroico e combativo povo, saberemos cumprir o papel que nos reserve a história, não somente como primeiro Estado socialista no hemisfério ocidental, mas também como intransigentes defensores na primeira linha da nobre causa dos humildes e explorados deste mundo.
Nunca aspiramos a que nos entreguem a custódia das gloriosas bandeiras e os princípios que o movimento revolucionário soube defender ao longo de sua heroica e memorável história. Mas se o destino nos confere o papel de um dia ficar entre os últimos defensores do socialismo, num mundo em que o império ianque conseguisse encarnar os sonhos de Hitler de dominar o mundo, saberíamos defender até a última gota de sangue este baluarte.
Estes homens e mulheres a quem hoje sepultamos na fervorosa terra que os viu nascer, morreram pelos mais sagrados valores da nossa história e da nossa Revolução.
Eles morreram lutando contra o colonialismo e o neocolonialismo.
Eles morreram lutando contra o racismo e o apartheid.
Eles morreram lutando contra o saque e a exploração dos povos do Terceiro Mundo.
Eles morreram lutando pela independência e soberania desses povos.
Eles morreram lutando pelo direito ao bem-estar e o desenvolvimento de todos os povos da Terra.
Eles morreram lutando para que não existam famintos, mendigos, doentes sem médicos, crianças sem escolas, seres humanos sem trabalho, sem teto, sem alimento.
Eles morreram para que não existam opressores e oprimidos; exploradores e explorados.
Eles morreram lutando pela dignidade e a liberdade de todos os homens.
Eles morreram lutando pela verdadeira paz e segurança para todos os povos.
Eles morreram pelas ideias de Céspedes e Máximo Gómez.
Eles morreram pelas ideias de Martí e Maceo.
Eles morreram pelas ideias de Marx, Engels e Lenin.
Eles morreram pelas ideias e exemplos que a Revolução de Outubro expandiu pelo mundo.
Eles morreram pelo socialismo.
Eles morreram pelo internacionalismo.
Eles morreram pela Pátria revolucionária e digna que hoje é Cuba.
Saberemos ser capazes de seguir seu exemplo!
Para eles: Glória eterna!
Socialismo ou morte!
Pátria ou morte!
Venceremos!
Colaboração |
Inclusão | 15/08/2016 |