MIA > Biblioteca > Castro > Novidades
Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Parece que esta concentração bateu todos os recordes (Aplausos e exclamações).
Entranháveis convidados;
Caros compatriotas:
Esta é a 45ª comemoração do glorioso Dia dos Trabalhadores que celebramos desde o triunfo da Revolução.
Coisas de grande importância estão ocorrendo, tanto no exterior como em nosso país.
A Revolução segue vitoriosa, com mais força política e êxitos que nunca. Tivemos provas recentes: as reuniões de Genebra em 15 e 22 de abril entrarão para a história da diplomacia revolucionária. Marcam o instante de um contundente golpe dado à grande hipocrisia, à permanente mentira e ao cinismo com que os donos do mundo pretendem preservar seu podre sistema de dominação política e econômica imposto à humanidade.
Nosso país estava novamente sentado no banco dos réus. A atual administração dos Estados Unidos – se é que isso é uma administração (Risos) – junto com os Estados da União Européia cometeram o erro de esquecer que no extremo oriental de Cuba, num espaço de 117,6 quilômetros quadrados ocupado à força, onde está instalada a base naval de Guantânamo – o que por si só já constitui um grosseiro ultraje aos direitos soberanos de um pequeno país e às leis internacionais – existia naquele mesmo instante um dos mais grotescos casos de violação dos direitos humanos que já ocorreram no mundo. Nunca fomos consultados, previamente. Simplesmente nos informaram a decisão tomada pelo governo dos Estados Unidos de transferir os prisioneiros àquela base.
No dia 11 de janeiro de 2002, o governo de Cuba publicou uma declaração em que se expunha com toda a clareza a posição de nosso país.
A opinião pública mundial sabe que, depois do horrível crime cometido contra as Torres Gêmeas de Nova York, o fato foi condenado de forma unânime por todas as pessoas conscientes do planeta.
Entretanto o governo da nação mais poderosa da Terra, desprezando todas as normas relativas ao que o mundo conhece como princípios elementares dos direitos humanos, criou essa prisão horrorosa, onde são mantidos seqüestrados centos de cidadãos de numerosos países do mundo, inclusive de aliados dos Estados Unidos, sem julgamento, sem comunicação, sem identificação, sem defesa legal, sem nenhuma garantia de integridade física, sem lei processual ou penal, e sem limite de tempo. Podia ter utilizado território próprio para tão estranha contribuição à civilização, mas o fez no pedaço de terra que ocupa ilegalmente e à força em outro país, Cuba, a que acusa, todos os anos, em Genebra, de violar os direitos humanos.
Apesar disso, acontecem coisas admiráveis na Comissão de Direitos Humanos.
Nas atuais condições do mundo, predomina o temor generalizado ao feroz império, e a suas ameaças, pressões e represálias de todo tipo, principalmente contra os países mais vulneráveis do Terceiro Mundo. Votar em Genebra contra uma resolução elaborada e imposta pelos Estados Unidos, especialmente se está dirigida contra Cuba, o país que há quase meio século desafia sua arrogância e prepotência, converte-se num ato quase suicida. Até mesmo os Estados mais fortes e independentes se vêem obrigados a levar em consideração as conseqüências políticas e econômicas de sua decisão.
Apesar desses fatores, como se pôde apreciar há poucos dias em Genebra, além de Cuba, 20 países, alguns baseados em sólidos princípios e outros num ato de singular valentia, se opuseram à resolução, e 10 se abstiveram, com dignidade e respeito por si mesmos. De 53 membros da Comissão, apenas 22 se submeteram à infâmia, incluídos os Estados Unidos.
Da América Latina, sete; dentre eles, quatro que sofrem grande pobreza social e econômica, sumamente dependentes e com governos obrigados à total abjeção. Ninguém os considera Estados independentes. São, até agora, uma simples ficção.
Peru, o quinto governo latino-americano que votou com o dos Estados Unidos contra Cuba, constitui um exemplo do grau de abjeção e dependência a que o imperialismo e sua globalização neoliberal levaram a muitos Estados da América Latina, os quais arruínam politicamente num abrir e fechar de olhos, quando os obrigam a coisas assim, que são como o beijo do diabo.
O Chefe de Estado peruano, em apenas alguns meses, viu sua popularidade cair a apenas oito por cento. Eu acho que os que o apóiam cabem num pedaço desta concentração. É absolutamente impossível enfrentar os colossais problemas econômicos e sociais que afetam esse país com tão insignificante apoio. Na realidade, não dirige nem pode dirigir nada. Disso se encarregam as transnacionais e os oligarcas, até que a sociedade estala, como está começando a acontecer em mais de um país.
Ao chegar a este ponto, recordando as palavras de nosso irmão venezuelano, sinto vontade de exclamar: Viva a Venezuela! (Aplausos e exclamações de "Viva!") Viva o processo revolucionário bolivariano (Aplausos e exclamações de "Viva!") Viva Chávez, brilhante e valente condutor do povo de Bolívar (Aplausos e exclamações de "Viva!")
Prossigo:
Restam os governos do Chile e do México.
Não vou julgar o primeiro. Prefiro que Salvador Allende (Aplausos), que caiu em combate com uma arma na mão e já ocupa um lugar de honra e glória na história deste continente, e os milhares de chilenos desaparecidos, torturados e assassinados, por desígnio de quem elaborou e propôs a resolução para condenar a Cuba – onde jamais ocorreu um desses feitos ou outros similares – e, em nome deles, os que no Chile levam as nobres idéias e a aspiração de construir uma sociedade verdadeiramente humana, julguem a conduta do presidente do Chile em Genebra.
No México, cujo povo é estimado e considerado irmão por todos os cubanos, o Congresso Nacional solicitou em vão a seu Presidente que se abstivesse de apoiar a resolução como lhe exigiu o presidente Bush. Dói profundamente que tanto prestígio e influência conquistados pelo México na América Latina e no mundo por sua inatacável política internacional, emanada de uma revolução verdadeira e profunda, tenham se transformado em cinzas. A solidariedade e o apoio da América Latina para o México, e do México para a América Latina, são vitais. Mais da metade do território do México foi arrebatada por seu vizinho do Norte, e enormes riscos ameaçam o que sobrou. A fronteira dos Estados Unidos com o México praticamente já não está no rio Bravo, de que falava Martí. Os Estados Unidos estão muito mais dentro do México. Aquela fronteira é hoje a linha da morte, onde cerca de 500 mexicanos perdem a vida a cada ano, tentando cruzá-la. Tudo em virtude de um brutal e impiedoso princípio: livre trânsito para os capitais e as mercadorias; perseguição, exclusão e morte para os seres humanos. Apesar disso, milhões de mexicanos correram o risco. Hoje o país recebe mais receitas por suas remessas que pelas exportações de petróleo, apesar de seu elevado preço atual.
Por acaso uma situação tão desigual e injusta será resolvida votando contra Cuba em Genebra e acusando-a de violar os direitos humanos?
O pior e mais humilhante para o México foi que as notícias relativas a seu voto em Genebra, tanto no dia 15 como no 22, eram anunciadas de Washington.
A União Européia, como sempre, votou em bloco, como máfia aliada e subordinada a Washington.
Essas sujas e imorais manifestações de sempre contra a Revolução Cubana nunca tiveram nenhum êxito, até a derrubada do campo socialista. Uma praga de renegados, ansiosos por créditos e mercadorias da sociedade de consumo, somou-se à máfia da Comunidade Européia. Conseguiram então esses mesquinhos partos na Comissão de Direitos Humanos: resoluções extraídas a fórceps, na renhida batalha que Cuba nunca deixou de travar contra a comédia infame que o império, seus aliados, sequazes e vassalos impõem, para obter um ou dois votos de vantagem frente à oposição e abstenção de 60 por cento dos membros da Comissão. Uma vez se descuidaram e perderam. Desde então, triplicam os esforços e centuplicam as pressões e ameaças contra países que têm uma total dependência de créditos, de fundos, de recursos determinados pelos organismos internacionais, todos sob o controle dos Estados Unidos.
Algum dia será preciso erguer uma estátua aos países que em condições tão duras arriscaram tudo e votaram contra os projetos ianques (Aplausos). A história dessa batalha constituirá uma página digna de ser lembrada. Vejam vocês, neste ano, de 63 membros da Comissão, 60% não os apoiaram. O império chama de êxitos a essas vitórias de Pirro e condena a Cuba, mesmo sendo maiores, a cada ano, os esforços e o custo político.
Posso dizer aqui, entre nós, que um profundo exame do que ocorre no mundo, do que ocorre na sociedade humana, sem excluir nenhuma – principalmente a européia – mostra que nem as mais puras e sacrossantas sociedades de algumas áreas da Europa têm a folha limpa de consideração e respeito aos seres humanos que possui a gloriosa Revolução Cubana (Aplausos).
O próprio sistema que reduz a zero uma parte da sociedade, enquanto outros vivem numa opulência extrema, já é em si mesmo, do ponto de vista ético, indigno de se chamar sociedade humana.
Essas campanhas dirigidas pela superpotência dominante e apoiadas pelos aliados, que junto com o império exploram o mundo, constituem verdadeiras farsas e mentiras, expressões políticas impudicas que surgem da necessidade de justificar enormes desigualdades que não poderão ser superadas, enquanto o sistema econômico imposto ao mundo não desapareça. Nós, sim, sabemos de direitos humanos reais.
Não posso entender como uma sociedade opulenta como aquela, vizinha de nosso território, onde 44 milhões de pessoas não têm direito à assistência médica, onde milhões de cidadãos vivem em guetos, onde inúmeros mendigos vivem embaixo das pontes, onde existem milhões de analfabetos e semi-analfabetos, onde os desempregados são muitos milhões de homens e mulheres sem trabalho, e cujas prisões estão cheias dos filhos dos setores mais pobres e excluídos da sociedade, pode falar de direitos humanos.
Em outro terreno, ninguém pode entender os brutais bombardeios que levam a cabo contra qualquer país, ou como um cabecilha do império, que proclama o direito a atacar de surpresa e preventivamente a 60 ou mais países, sem considerar as pessoas inocentes que irão morrer, pode falar de direitos humanos neste planeta.
O ódio contra Cuba nasce da inesperada resistência com que um pequeno país enfrentou essa potência e às potências aliadas, saqueadoras do mundo. A presença de Cuba é um dedo acusador e uma prova de que os povos podem lutar, resistir e vencer. A simples presença de Cuba é uma humilhação para os que impuseram o mais repugnante sistema de exploração que já existiu sobre a Terra.
Há muitas formas de explicá-lo. Aqui, nosso irmão venezuelano nos recordou algo de que não costumamos falar, da cooperação médica de nosso povo com outros países. Nada disso jamais teria sido possível, sem a Revolução. Como se sabe, nós encontramos 30% de analfabetos, e 90% entre analfabetos e semi-analfabetos, porque uma pessoa que, neste mundo, não disponha de um mínimo de seis anos de escolaridade – e hoje seria preciso falar de nove anos – é semi-analfabeta.
Eles querem esconder que Cuba ocupa o primeiro lugar do mundo em matéria de educação; que suas crianças da escola primária ocupam os primeiros lugares em provas de conhecimentos, acima, inclusive, de países desenvolvidos (Aplausos); que o mínimo de escolaridade, salvo raras exceções, é de nove séries, e não há nenhum outro país do mundo que tenha alcançado de modo generalizado esses níveis mínimos.
Eles sabem que, apesar de seu bloqueio criminoso e dos obstáculos que nos impuseram para obter medicamentos, equipamentos e tecnologias médicas, em nosso país a mortalidade infantil é inferior à dos Estados Unidos (Aplausos); talvez ignorem que vamos reduzir essa mortalidade infantil , inclusive, a menos de seis por mil nascidos vivos, e talvez num período não distante no tempo, a menos de cinco. Temos a convicção – de que nunca falo – de que num período não superior a cinco ou seis anos, a perspectiva de vida de nosso país alcançará pelo menos 80 anos (Aplausos), e que o país se converterá no mais avançado centro de serviços médicos do mundo.
Quando consideramos os milhões de crianças que morrem, a cada ano, e que poderiam salvar-se, nos países do Terceiro Mundo, entre os quais muitos têm uma mortalidade superior a 150 por mil nascidos vivos, e os que morrem na população da maioria desses mesmos países que em Genebra votaram contra Cuba, veremos que, a cada ano, comete-se um genocídio na Terra; que na Terra morrem, a cada ano, mais milhões de pessoas, crianças ou adultos, que poderiam salvar-se, que as que morreram na Primeira Guerra Mundial, e quase tantas quantas morreram na Segunda, que poderiam salvar-se e não sobrevivem por falta de recursos médicos.
O arsenal de argumentos que poderíamos apresentar para demonstrar que esse sistema é o mais atrozmente cruel que jamais existiu é enorme. Basta usar simples cálculos matemáticos, para demonstrar o genocídio que, a cada ano, os Estados Unidos e seus aliados europeus cometem contra o mundo.
Eles sabem que isso é verdade, não se atreveriam a discuti-lo; eles foram os que criaram o subdesenvolvimento, eles foram os que mantiveram o atraso, através da colonização, o saqueio de recursos naturais e, inclusive, a escravização de milhões e milhões de seres humanos, dando lugar a este mundo de miséria, com problemas muito sérios ainda por resolver – não tento mencioná-los aqui –, problemas quase insolúveis que, unidos a outros, ameaçam a existência da espécie.
Em nome da concisão que se exige nesses atos e tendo em conta o esforço que o povo faz para vir aqui e permanecer no mesmo lugar durante muitas horas, limitamo-nos a citar apenas alguns fatos isolados; mas eu lhes digo assim, com estas palavras: o sistema capitalista, que durante um período exerceu determinado papel progressista frente ao feudalismo, e que depois se transformou no sistema imperialista e as formas atuais com que hoje saqueia os povos, desbarata e destroça os recursos naturais do planeta, é o mais inconcebível e o mais irreconciliável com uma noção honesta, sincera, objetiva dos direitos humanos.
Lá em Genebra se reúnem em quadrilha os donos da economia mundial. Valeria a pena perguntar-lhes com quantos países do Terceiro Mundo colaboraram, que fizeram contra a apartheid na África do Sul, quantos professores e quantos médicos enviaram ao Terceiro Mundo. Já disse que não nos agrada mencionar essas coisas, talvez eu o faça hoje porque neste Primeiro de Maio se fala exatamente do que ocorreu em Genebra há alguns dias.
É preciso perguntar a cada um daqueles senhores quantos médicos têm num país de Terceiro Mundo. Porque existem algumas organizações – Médicos sem Fronteiras, algumas fundações que oferecem alguma ajuda –, mas eu lhes digo uma coisa, como uma referência: tenho certeza de que os Estados Unidos e a Europa, juntos, não dispõem do número de médicos que Cuba tem no Haiti, prestando atendimento, em condições muito duras, a mais de sete milhões de habitantes (Aplausos).
Pode-se perguntar a um por um, porque aquelas sociedades não foram desenhadas para a justiça, para a solidariedade; educadas no egoísmo, são incapazes de fazer qualquer sacrifício pelos outros seres humanos.
Mencionei um país, Haiti, a que constantemente praticam intervenções e invasões, mas a que nunca enviam um médico. Não sei o que diriam se, por exemplo, eu lhes dissesse hoje que, neste momento, Cuba desenvolve numerosos programas médicos na África e na América Latina, e que, no total, o número de médicos, dentistas e técnicos de saúde cubanos que prestam serviços a outros povos chegam a não menos de dezessete mil (Aplausos), que salvam, todos os anos, centenas de milhares de vidas e asseguram a saúde a muitas dezenas de milhões de seres humanos. E ninguém imagine que ficaremos sem médicos, porque esse esforço vai junto com uma verdadeira revolução nos serviços médicos de nosso país.
Há alguns minutos estava falando com Sáez sobre o ritmo das reformas gerais das policlínicas e sobre os novos serviços, e eles se propõem a ter, antes do fim do ano, praticamente concluídas – e algumas recém construídas –, com serviços que nunca tiveram, as 82 policlínicas da capital do país. E menciono apenas um detalhe, apenas um detalhe, porque estamos fazendo muitas outras coisas, e não apenas em Havana, mas em todo o território nacional.
Pensávamos em quantos milhões ou dezenas de milhões de viagens pouparemos aos cidadãos, que, em meio às dificuldades de transporte, têm de ir visitar a familiares nos hospitais, já que muitos serviços que antes eram prestados nos hospitais, logo estarão sendo oferecidos, muitos deles, nas policlínicas.
Nosso país terá, sem dúvida – sem dúvida, repito! –, o melhor sistema de serviços médicos do mundo. E se, há alguns anos, falávamos de dezenas de milhares de especialistas em medicina geral integral, não está distante o dia em que nosso país poderá falar de dezenas de milhares de doutores em ciências da saúde, e para isso, e junto com isso, estão os programas que estamos realizando na educação, na cultura, no esporte e em outras esferas, que serão sustentados por uma base econômica muito mais sólida que aquela que originou o desenvolvimento de nosso país, dedicado a produzir cana-de-açúcar e outros produtos similares, que somente uma população analfabeta e faminta poderia realizar como única forma de sobrevivência.
Os bandidos que nos acusam de violar os direitos humanos não se atreveriam a dizer ali que Cuba é o único país do mundo – vejam se não é grande a proeza deste povo – em que não existe um só desaparecido, não existe um só torturado ao longo de 45 anos de Revolução (Aplausos).
Fizemos uma Revolução tão limpa, como aquela guerra travada na Serra Maestra, em que nunca se fuzilou um prisioneiro, nem nunca se golpeou para obter uma informação. É quase o único país da América Latina onde jamais existiram esquadrões da morte, nem execuções extrajudiciais, e já passaram 45 anos. Busquem um único caso – as línguas viperinas do império e seus sequazes – e lhes poderíamos entregar a República de Cuba, se encontram um único caso (Aplausos).
Eu estou falando de realidades, não estou dizendo exageros, nem nada assim. Ao longo de 45 anos, sabemos o que fizemos, e a linha reta inflexível com que mantivemos total lealdade aos princípios que tornaram possível a vitória na guerra, e a realização de uma Revolução a que soubemos defender durante 45 anos. E o que é hoje? Que nível de consciência, de cultura, de idéias, de unidade alcançou? Não existe, e posso afirmá-lo, um povo com maior nível de cultura e consciência política que o de nosso país. E acrescento apenas uma coisa: só estamos começando (Aplausos).
Eu estava vendo isso, esta manhã, enquanto esperava o dia, através de nossa televisão, e era visível. Eles entrevistaram não se sabe a quantas pessoas, e tem de ver o que diziam, e via-se um mundo novo, estudantes por toda parte e de todas as partes, estudantes universitários, estudantes da UCI, estudantes da escola de instrutores de arte (Exclamações), estudantes das escolas de trabalhadores sociais, estudantes das escolas emergentes de formação de professores, professores, enfermeiras, escolas que compartilhamos com milhares de jovens, não vou dizer estrangeiros, jovens irmãos, procedentes de países da América Latina, e também de outras partes (Aplausos).
É impossível deixar de ter uma sensação de orgulho, quando se pensa que não apenas enviamos médicos aos milhares, mas também que convidamos a milhares e milhares de jovens latino-americanos e de outras regiões, para estudar medicina em Cuba.
Estivemos realmente desenvolvendo métodos de transmissão de conhecimentos cada vez mais eficientes, e quem sabe quanto tempo os demais povos do mundo levarão para alcançar essa eficiência e esses métodos, e especialmente aplicá-los.
Entretanto não tenho a menor dúvida de que, num breve período de tempo, a Venezuela, que está aplicando e aplicará cada vez mais excelentes programas de educação, levará esse povo lutador e heróico, de onde começou a luta de independência da América, a níveis similares aos que Cuba possui hoje.
Dizia que o custo político da brincadeira lá em Genebra é cada vez maior. Mas neste ano o disparo, ou, como se diz vulgarmente, o tiro lhes saiu pela culatra e quase os mata.
Neste ano, quando Cuba propôs o envio de um representante da Comissão para ver o que sucedia na base naval de Guantânamo, o pânico se alastrou na manada de hipócritas, particularmente nos da Comunidade Européia. A moral caiu por terra. Alguns governos europeus estavam realmente envergonhados, tinham de confessar sua inconseqüência e hipocrisia, ou algo impossível: desacatar o império. Isso seria muito para tão augustos defensores dos direitos humanos, cujos dardos se dirigem somente aos que durante séculos foram suas colônias, onde exterminaram dezenas de milhões de índios, e para onde levaram da África incontáveis seres humanos que foram transformados em escravos, com menos liberdade que os animais de trabalho. Assim tratam a bilhões de habitantes do Terceiro Mundo, vítimas do saqueio, do intercâmbio desigual e da extração de suas riquezas naturais e de todas as divisas convertíveis das reservas de seus bancos centrais, que são depositadas nos bancos dos Estados Unidos principalmente, ou da Europa, com as quais estes financiam investimentos, os déficits comerciais e orçamentários e as aventuras militares do império e seus aliados.
Diante da proposta cubana em Genebra, novamente Bush em pessoas e seus hierarcas mais importantes tiveram de se mover freneticamente, chamando pessoalmente a Presidentes e Chefes de Estado. Ninguém sabe onde arrumou tanto tempo, especialmente se temos em conta o que dizem, que ele gosta muitíssimo de dormir (Risas), nem como pôde se ocupar do Iraque, dos banquetes para a arrecadação de fundos e dos atos da campanha eleitoral. Talvez não seja justo chamá-lo Führer. Talvez seja um gênio.
Por que Bush pode falar de um déficit orçamentário de 512 bilhões de dólares e outro déficit comercial similar, num total de um trilhão de dólares em apenas um ano? Porque manipula e gasta as divisas da imensa maioria do mundo para defender esses e outros privilégios.
Todo o dinheiro da reserva dos bancos centrais dos países do Terceiro Mundo é guardado em bancos do exterior, principalmente nos dos Estados Unidos, e todo o dinheiro de quem tem algum dinheiro, bem ganho ou mal ganho, ante o temor das constantes desvalorizações, das débeis moedas de seus próprios países, é cambiado por dólares e depositado em bancos dos Estados Unidos, ou de algum outro país desenvolvido. Por disposição do Fundo Monetário Internacional, nenhum banco central desses países do Terceiro Mundo pode proibir o câmbio de dinheiro por dólares ou outras divisas convertíveis.
Os donos desse dinheiro buscam a segurança do que economizaram, ou do que roubaram; tiram todo o dinheiro do país, não para comprar algo, nem mesmo para esbanjá-lo, levam-no para sempre. Esse dinheiro depositado nos bancos do Estados Unidos ou da Europa é emprestado a empresários ou a quem o necessite, e entre os que mais necessitam estão os governos. Esse dinheiro sai desses bancos para cobrir um orçamento deficitário de mais de 500 bilhões de dólares.
Dessa maneira, o sistema econômico imposto obriga os povos do Terceiro Mundo a transferir seu dinheiro aos países mais desenvolvidos, o que é diferente do fato, igualmente detestável, de que estes cobram cada vez mais caro por seus produtos, pagam cada vez menos pelos produtos básicos e, além disso, a existência de uma dívida que na América Latina chega a mais de 750 bilhões, e que, unida à dos demais países do Terceiro Mundo, eleva-se a 2,5 trilhões de dólares.
Isso levará o mundo, já está levando, a uma catástrofe, a um beco sem saída, a problemas insolúveis. De maneira que a humanidade terá de lutar por algo mais que uma justiça econômica ou uma justa distribuição das riquezas, terá de lutar pela sobrevivência da espécie. Digo isso neste Primeiro de Maio, a esta hora em que já devia haver terminado o ato (Risos).
Os Estados Unidos têm, neste ano, um déficit orçamentário de 512 bilhões de dólares, e adicionalmente um déficit comercial de mais de 500 bilhões de dólares. Isso é pago pelo mundo com o dinheiro que fugiu e não volta mais. Com esse dinheiro, armam-se até os dentes com os mais sofisticados equipamentos bélicos e levam a cabo guerras de conquista em busca de matérias-primas.
A ordem estabelecida no mundo, especialmente configurada no final da Segunda Guerra Mundial, nos acordos de Bretton Woods – vocês já devem ter ouvido falar nisso – concedia aos Estados Unidos enormes privilégios, porque naquele momento dispunha de 80% do ouro mundial. Aquele país não foi destruído pela guerra, exportou muito, muito, muito – a Europa destruída, a Ásia destruída – e acumulou trinta milhões de dólares em ouro. Foi por isso que lhe concederam o direito a emitir as divisas para o comércio mundial, ainda que devesse respaldá-la com uma quantidade de ouro por cada dólar que imprimisse.
Desde 1971, quando gastaram fabulosas somas na guerra do Vietnã, e suas reservas em ouro diminuíram a um terço, o senhor Nixon – bem conhecido – suspendeu a conversão em ouro daquelas moedas, e desde então o que circula são papéis.
Tomaria tempo explicar isso mais e melhor, mas temos as mesas-redondas, temos dois novos canais de televisão. Nossos técnicos, nossos professores poderiam explicar à população esses temas, que são de grande interesse e ajudam a compreender o que é realmente o mundo.
A situação internacional é complexa. A política aventureira – aventureira! – da atual administração conduziu o mundo a problemas cada vez mais insolúveis. A ordem econômica imposta é cada vez mais insustentável.
Por isso, ninguém estranhe se estalarem movimentos sociais incontroláveis, ou estalarem revoluções em qualquer lugar, qualquer dia. Já vem acontecendo.
No âmbito europeu, na Espanha ocorreu um fato grandioso e estimulante. Foi uma obra extraordinária e quase exclusiva do povo espanhol, particularmente de seus jovens. Prestem atenção no que eu disse: "obra extraordinária e quase exclusiva do povo espanhol, particularmente de seus jovens"; que ninguém queira agora se apropriar dessa glória. Nós sabíamos bem como estava naquele momento a situação na Espanha. A heróica batalha política do povo espanhol em apenas 48 horas, depois da tragédia e às vésperas das eleições, acertou um golpe demolidor na pérfida manobra do governo anterior da Espanha para manipular a seu favor e no dos interesses belicistas dos Estados Unidos a horrível ação terrorista de 11 de março.
Todo o mundo sabia como estava a questão eleitoral. O partido conservador do senhor Aznar, em virtude de fatores econômicos conjunturais favoráveis e do monopólio dos principais meios de comunicação de massa, de acordo com pesquisa e estudos, obteria talvez a maioria absoluta no parlamento; mas ocorre uma grande tragédia na Espanha, o ato terrorista mencionado, que custa a vida de mais de mil pessoas entre mortos e feridos. Fomos testemunhas da evolução dos acontecimentos.
O senhor "Anzar" – é como Bush chama a Aznar, ele não aprendeu a pronunciar bem esse nome (Risos) – imediatamente se pôs a manipular a notícia e a culpar ao ETA, quando na realidade o ETA não tinha absolutamente nada a ver com o fato.
Qualquer um pode observar a forma de atuar de distintas organizações, de um tipo ou de outro, era muito evidente que aquele atentado não correspondia com o estilo daquela organização.
Aznar imediatamente lança a acusação de que era obra do ETA, e a mantinha a todo custo, porque o fato sucede na quinta-feira, 11. Lembro-me de que na sexta-feira, 12, às 20 horas, ocorreu a condecoração de Gladys Marin, a quem se outorgou a Ordem José Martí. Nesse mesmo dia, às seis da tarde, no programa da mesa-redonda da Televisão Cubana, nossos jornalistas denunciaram aquela cínica e grosseira manobra. As mesas-redondas através da Internet e de satélite são escutadas em muitos lugares, entre eles, a Espanha. Expressava o desejo de nossos jornalistas de fazer chegar aos amigos espanhóis, com toda a urgência, importantes informações que tinham podido recolher no Ocidente, sobre os acontecimentos e as opiniões de importantes analistas internacionais. Na Espanha, os grandes meios não falavam disso. Ignoramos se a transmissão cubana pôde ser de alguma utilidade para os quadros jovens espanhóis que desataram a épica batalha política. Na realidade, faltavam apenas 36 horas para o início das eleições.
No sábado 13, Aznar ainda insistia e persistia em sua denúncia, parecia furioso defendendo a tese de que tinha sido o ETA, enquanto os de Al Qaeda declaravam-se autores do feito.
A Aznar e aos Estados Unidos era muito conveniente que fosse o ETA, porque na Europa houve muita oposição à guerra do Iraque, e o povo espanhol foi o que mais se opôs a essa guerra (Aplausos). Se o ETA tivesse cometido aquele ato, em pleno coração da Europa, o capital político do senhor "Anzar" e a linha belicista teriam sido consideravelmente beneficiados.
Essa foi a causa do enorme interesse em levar a cabo aquela manobra suja, 48 horas antes das eleições, em que esperavam obter muito mais votos ainda; mas o povo espanhol descobriu o logro. No próprio sábado, na véspera das eleições, reuniu-se em massa frente aos escritórios do partido governante, principalmente os jovens, protestando e denunciando o atroz engano. O que àquela hora ninguém podia imaginar – eu confesso que me parecia impossível – é que ocorresse uma reação, o insólito aconteceu e foi que toda aquela gente, comunicando-se por diferentes vias, transmitiu a denúncia por toda Espanha, e não precisamente através dos órgãos fundamentais de imprensa. Afirma-se que durante toda a noite, utilizaram todas as vias para se comunicar, e no outro dia mais cidadãos que nunca foram às urnas, e a grande notícia: o povo espanhol tinha castigado duramente aquele farsante, aquela alcoviteira espanhola – como dizemos – que recrutou em Santo Domingo, Honduras, El Salvador, e – quem diria, quem diria! – até a uma pequena tropa do Exército Sandinista, que foi enviada ao Iraque, junto com jovens soldados dos países mencionados, como bucha de canhão, todos induzidos por ele, que foi quem se encarregou de fazer os trâmites e gestões pertinentes. Quem poderia imaginar que, algum dia, jovens latino-americanos seriam enviados como bucha de canhão àquela injusta e genocida guerra!
Na Espanha, viram como, apesar de a imensa maioria dos meios de comunicação de massa apoiar uma causa injusta, o povo é capaz de sobrepujar e dar uma surra na alcoviteira, da mesma forma que, em circunstâncias iguais, o povo venezuelano deu mais de uma surra à oligarquia traidora de seu país (Aplausos).
É preciso acreditar nos povos, e quanto mais aprendam, mais conhecimentos, mais cultura geral e cultura política tenham, muito mais difícil será tratá-los como manadas de analfabetos incultos.
E, se me permitem, prossigo, não falta muito; mas depende de vocês (Aplausos).
O governo atual cumpriu sua promessa de retirar as tropas espanholas do Iraque. É, sem dúvida, uma ação louvável. Mas o Estado espanhol, sob o governo anterior, assumiu a responsabilidade de recrutar um considerável número de jovens dominicanos, hondurenhos, salvadorenhos e nicaragüenses, para serem enviados ao Iraque como bucha de canhão, sob o comando da Legião Espanhola, caso único na história deste hemisfério. A Espanha, que, como antiga metrópole dos povos latino-americanos, aspira a granjear respeito e consideração e inclusive a desempenhar um papel relevante na América Latina e no Caribe, tem a responsabilidade e o dever moral de lutar pelo regresso definitivo à pátria, dos jovens latino-americanos que foram enviados ao Iraque por negociações do governo anterior.
Há um governo novo, mas o Estado tem de assumir a responsabilidade do que fez o anterior, e lá estão, é uma responsabilidade e um dever moral da Espanha promover e apoiar a retirada daqueles jovens que estão no Iraque.
Vocês já sabem, as metrópoles são as metrópoles, e sempre tendem a pensar que seus antigos súditos são como tataranetos recém-nascidos, que necessitam a ajuda da sábia metrópole. Às vezes falam de ajudar, ou como na Europa, diziam que nos davam uma ajuda humanitária, e um dia resolveram, ah!, tomar medidas de represália.
Aqueles que não se lembraram da monstruosa prisão de Guantânamo; não se lembraram da monstruosa injustiça, a forma cruel e impiedosa com que os Estados Unidos mantêm a cinco heróis deste país, que defendiam sua pátria contra o terrorismo, buscando informação; terrorismo inventado e aplicado pelos governos dos Estados Unidos durante 45 anos contra Cuba (Exclamações).
Para que repetir a história, milhares de compatriotas perderam a vida; para que recordar o que aconteceu em Barbados? O fato é que os da comunidade européia não se lembravam de nada, e que lá em Miami se organizavam livremente os planos de atentados e os atos de terrorismo contra Cuba, apoiados pela máfia, uma máfia que está associada ao governo dos Estados Unidos, sempre com absoluta impunidade. Aí em Miami goza de liberdade o senhor Bosch, que, junto com Posada Carriles, organizou a explosão em pleno vôo do avião da Cubana. Não, disso não se lembram, nem podem se lembrar.
O imperialismo organiza e durante 45 anos vem organizando conspirações, desestabilização contra nosso país, paga mercenários, e agora andam dizendo que é preciso investir muito mais para esses fins. Depois não gritem, nem se queixem, se Cuba adota as medidas pertinentes para sancionar a mercenários a serviço de uma potência estrangeira (Aplausos).
Se Cuba se defende, se prende e sanciona a mercenários, para que ninguém se imagine imune, vêm as grandes campanhas contra nosso país. Querem proibir que se defenda, e este país, sem violar as normas que sempre aplicou em suas lutas, continuará se defendendo com as leis, e se defenderá com as armas, quando seja necessário, até a última gota de sangue (Aplausos e exclamações).
De modo que não se iludam, para depois vir como carpideiras apresentar-nos como violadores dos direitos humanos.
Isso que fazem com Cuba é o mesmo que estão fazendo com a Venezuela: criam provocações, provocam incidentes, matam e depois culpam ao governo da Venezuela. É realmente um caso interessantíssimo, como é possível, apesar disso, e mesmo quando aquele povo venezuelano não tem hoje os níveis de conhecimento que nosso povo tem em massa; é preciso ver o que é o instinto do povo, e como se mantém firme, e como é difícil enganá-lo.
Em Cuba, todo mundo sabe a verdade, mas o império realiza essas campanhas para desacreditar Cuba no exterior. Isso não nos tira o sono. Que importa o que pensem hoje; importa o que pensarão amanhã. Esta Revolução deixará marcas indeléveis na história do mundo (Aplausos), e não tem absolutamente nada de que se envergonhar, porque sua moral está tão alta como as estrelas, e sua conduta tem sido inatacável, independentemente de erros individuais de outro tipo que sejam cometidos, que nada têm a ver com os direitos humanos. Seria ingênuo pensar que não se cometem erros, econômicos, políticos, administrativos, legais; mas nas coisas fundamentais ligadas aos princípios mais sagrados da Revolução, relativas aos seres humanos, ninguém se equivoca, ninguém se engana, nem se permitem equívocos ou enganos desse tipo.
O que estamos fazendo hoje, eu digo neste Primeiro de Maio, é realmente como uma nova grande revolução (Aplausos), apoiados na experiência de tantos anos de luta, além do que fizemos até hoje, pelo bem-estar de cada um de nossos compatriotas e sem exclusão social nenhuma, segue essa linha extraordinariamente humana.
Sabemos o que se fez e vocês estão demonstrando, mas sabemos quantas coisas mais se poderiam fazer, e não fazíamos porque não tínhamos conhecimentos suficientes, não tínhamos experiência suficiente. Como se faz uma revolução, e o que é uma revolução não aparece nos livros; nem aparecia nos livros que este pequeno país tivesse de enfrentar durante 45 anos a mais poderosa potência que jamais existiu no mundo, e que não pôde derrotar-nos com suas armas. Sabia o preço.
Em Girón, onde subestimaram nosso povo, não estiveram nem 70 horas, e na Crise de Outubro, o mundo esteve a ponto de explodir, como conseqüência dos planos de agressão imperialista e a firmeza de nosso povo. E resistimos durante todos esses anos de bloqueio e de período especial. Este é um povo veterano e aguerrido, com uma enorme força jovem preparada, culta e revolucionária, que ninguém poderá jamais vencer (Aplausos e exclamações).
De modo que o que estamos fazendo, sabemos bem, vai transformar mais uma vez este país, já o está transformando de maneira impressionante.
Já falei das antigas metrópoles, essas que pensam que podem nos dar aulas de caráter político e social. Se as metrópoles querem, nós podemos ensinar-lhes algumas coisas; mas nenhuma deve sentir-se impaciente ou capaz de ensinar-nos.
Já mandamos ao diabo a famosa ajuda humanitária da Comunidade Econômica Européia, e avisamos que não temos nenhuma pressa de que voltem a enviar-nos suas esmolas.
Vejam bem: se compramos deles 1,5 bilhões anualmente, e lhes vendemos apenas 500 milhões, muitos deles em forma de matérias-primas, quem lhes dá uma ajuda humanitária somos nós, porque, nesses 1,5 bilhões que nos vendem, devem ganhar cerca de 500 milhões de dólares líquidos. Depois aparecem com muitas maletas, a oferecer uma ajudinha da qual gastam mais nos hotéis cinco estrelas em que se hospedam e nos aviões em que viajam, que o que dão. Assim que não nos venha com essas bobagens, a Comunidade Européia.
Nem ninguém pense que virá a nos dar conselhinhos sobre como devemos desenvolver nossa democracia, porque este país tem experiência suficiente, lutou muito e obteve êxitos suficientes à custa de sacrifício e sangue, para que um país europeu venha oferecer-nos liçõezinhas de democracia; porque nenhum país da Europa, e alguns menos que outros, desfruta, em meio a colossais desigualdades, a democracia verdadeira, igualitária e plenamente participativa que Cuba desfruta hoje, em todos os sentidos (Aplausos e exclamações), desde o dia em que o povo se tornou poder, e a riqueza foi distribuída com justiça. E não só o povo se fez poder, mas o povo é que defende esse poder, sem OTAN nem pactos militares com o diabo.
Seria questão de discutir cada coisa que se faz neste país, com cada uma das coisas que se fazem nos países ricos do mundo, para ver se há o nível de igualdade, de humanidade, de atenção para todos, sem exceção, algo que nunca existiu em nenhuma outra parte.
Estamos muito conscientes do que somos, do que fizemos e do que temos. Mas parece que alguns tôlos ainda não entendem isso e insistem em imiscuir-se em nossos assuntos internos, ensinando-nos como se estabelece a democracia. Em todo caso, nós podemos responder a esse gesto tão generoso, ensinando-lhes como se constrói a igualdade, como se erradicam os privilégios e como Estados Unidos estabelece uma democracia revolucionária.
Conto essas coisas assim, de passagem, porque não tive muito tempo para escrever.
Lembrem que falei do que estava acontecendo com os jovens latino-americanos mandados ao Iraque e a necessidade de que regressem a seus países, porque agora o imperialismo busca bucha de canhão e bem pode acontecer que qualquer dia até os polonêses, que andam de mercenários por lá, resolvam retirar-se também. Teriam de ser conseqüentes com a história de um país que foi muitas vezes invadido, muitas vezes ocupado, repartido, para que agora seus jovens sejam alugados como mercenários numa guerra de conquista.
Não tenho dúvida de que não demorará muito para que os que hoje fazem o ridículo e vergonhoso papel da mandar tropas para lá para apoiar essa repugnante guerra, comecem a pensar de outra maneira.
Como disse tudo isso, creio que é meu dever expressar qual é nossa posição com o povo dos Estados Unidos.
Os povos do mundo, entre eles o de Cuba, não odeiam o povo dos Estados Unidos nem desejam a morte de jovens soldados norte-americanos, muitos deles negros, mestiços e latino-americanos, os quais a pobreza e o desemprego levaram ao ofício das armas, e hoje são vítimas de uma guerra desnecessária e estúpida; não apoiamos a nenhum governo no Iraque nem a determinados sistemas políticos, o que é prerrogativa exclusiva dos iraquianos; fomos solidários com os que morreram nos atentados em Nova York e em Madri, e condenamos esses métodos. A enorme e crescente simpatia mundial pelo povo do Iraque foi gerada pelos brutais bombardeios a Bagdá e outras cidades, que causaram terror e morte entre civis inocentes, sem considerar em nenhum momento o terrível trauma que acompanhará por toda a vida a milhões de crianças, adolescentes, mulheres grávidas, mães e anciãos, sem justificativa possível e à base de grosseiras mentiras. Essas simpatias se multiplicam, porque bilhões de pessoas tomaram consciência de que se tratava de uma guerra de conquista, para apoderar-se dos recursos e das matérias-primas que o país possui, porque não havia nenhuma justificativa ou legalidade, porque as normas internacionais foram violadas, porque a autoridade e as prerrogativas das Nações Unidas foram desacatadas.
O povo do Iraque luta hoje por sua independência, sua vida, a vida de seus filhos e seus legítimos direitos e recursos.
O governo dos Estados Unidos enfrenta por isso uma complicada situação, porque quis seguir a linha da violência, da guerra e do terror. Tenho autoridade moral para sustentar esse ponto de vista, porque muito antes de se desatar a política belicista, em 11 de setembro de 2001, no exato dia do horrendo ataque às Torres Gêmeas, num ato de início de curso de 4.500 jovens professores de ensino primário, eu disse textualmente:
"É muito importante saber qual será a reação do governo dos Estados Unidos. Possivelmente virão dias perigosos para o mundo. Não estou falando de Cuba. Cuba é o país que está mais tranqüilo, por diversas razões: por nossa política, por nossas formas de luta, por nossa doutrina, nossa ética e, além disso, companheiras e companheiros, pela total ausência de temor."
[...]
"Os próximos dias serão tensos dentro dos Estados Unidos e fora dos Estados Unidos, não se sabe quanta gente começará a dar opiniões.
"Sempre que acontece uma tragédia dessas, por difíceis que às vezes possam ser de evitar, não vejo outro caminho, e, se em alguma ocasião é permitido fazer uma sugestão ao adversário – adversário que durante muitos anos vem sendo duro conosco –, se em alguma circunstância fosse correto sugerir algo ao adversário, com vistas ao bem-estar do povo norte-americano e baseando-me nos argumentos que expus, sugeriríamos aos que dirigem o poderoso império, que sejam serenos, que atuem com moderação, que não se deixem arrastar por impulsos de ira ou de ódio, nem se lancem a caçar gente atirando bombas a torto e a direito.
"Reitero que nenhum dos problemas do mundo, nem do terrorismo, pode ser resolvido pela força, e cada ação de força, cada ação disparatada de uso da força, em qualquer parte, agravaria seriamente os problemas do mundo.
"O caminho não é a força nem a guerra. Eu o digo aqui com toda a autoridade de haver falado sempre com honradez e de possuir convicções sólidas e a experiência de ter vivido os anos de luta que Cuba viveu. Somente a razão, a política inteligente de buscar a força do consenso e da opinião pública internacional pode extirpar o problema pela raiz. Creio que esse fato tão insólito deveria servir para criar a luta internacional contra o terrorismo; mas a luta internacional contra o terrorismo não se resolve eliminando um terrorista aqui e outro ali; matando aqui e ali, usando métodos similares e sacrificando vidas inocentes. Resolve-se pondo fim, entre outras coisas, ao terrorismo de Estado e outras formas repulsivas de matar, pondo fim aos genocídios, seguindo lealmente uma política de paz e respeito a normas morais e legais que são iniludíveis. O mundo não tem salvação, se não segue uma linha de paz e de cooperação internacional."
A guerra do Iraque lembra a muitos a do Vietnã. A mim, ela traz a lembrança da guerra de liberação argelina, quando a potência militar francesa se chocou com a resistência de um povo de cultura, idioma e religião muito diferentes, que, em lugares tão desérticos como muitas regiões do Iraque, conseguiu derrotar as tropas francesas e toda sua tecnologia, bastante avançada naquele momento. Antes, tinham sofrido a derrota de Dien Bien Phu, onde os antecessores de Bush estiveram prestes a usar a arma nuclear. Nesse tipo de guerra, todo o arsenal de uma superpotência hegemônica não resolve. Esta pode, com seu imenso poder, conquistar um país, mas não é possível administrá-lo e governá-lo, se sua população luta resolutamente contra os ocupantes.
Jamais imaginei que um dia o Sr. Bush, escreveria humildemente uma atenta carta ao Presidente da Síria e pediria às autoridades do governo Irão, países até agora considerados terroristas, que o ajudassem a resolver o conflito do Iraque. E muito mais surpreendente é que há dois dias, segundo notícias cabográficas, a infantaria de marinha norte-americana fosse retirada de Fallujab, e em seu lugar fossem colocados militares iraquianos chefiados por um ex-general do excército de Saddam Hussein. Não critico nenhum esforço de paz ou iniciativa que a atual administração dos Estados Unidos decida tomar, mas duvido muito que possa haver outra solução que a retirada das tropas norte-americanas daquele país, a que nunca deveriam ter sido enviadas, e devolver ao povo do Iraque sua plena independência (Aplausos). Isso teria o apoio da comunidade internacional, que sem dúvida encontrará a forma de resolver a complexa situação ali criada.
Enquanto isso, nós, cubanos, continuaremos observando os acontecimentos, e continuaremos travando nossa luta mais decidida contra os que se dão ao luxo de preconizar trânsitos políticos baseados no desaparecimento físico de alguns de nós. O pior é que os que falam de acelerar esses trânsitos políticos são personagens cujas idéias assassinas de sempre conhecemos bem.
Agora novamente se esganiçam ameaçando com medidas próximas para afetar a economia e desestabilizar o país. Melhor seria que nos devolvessem nossos cinco Heróis Prisioneiros do Império (Aplausos), que suportam com insuperável dignidade o mais vergonhoso e cruel caso de violação dos direitos humanos. Sua sorte nas prisões do governo federal, onde estão totalmente separados, não causa muita inveja à dos seqüestrados na base naval de Guantânamo. E apesar de tudo isso, não vacilamos em sugerir aos governantes dos Estados Unidos – já tentei sugerir algo da outra vez – que sejam mais serenos, mais sensatos, mais prudentes e mais inteligentes.
Aos que insistam em destruir a Revolução, em nome da imensa multidão que se reúne aqui, neste Primeiro de Maio, digo simplesmente, como em Girón e em outros momentos decisivos de nossas lutas:
Viva o socialismo!
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(Ovação)