A verdade e as diatribes

Fidel Castro

21 de junho de 2008


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo


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Sabe-se que nos países industrializados e ricos as pessoas investem em alimentos, como média, ao redor de 25 por cento das suas rendas. Os que pertencem aos povos que foram mantidos por esses países no desenvolvimento económico, precisam para esse fim de até 80 por cento das suas rendas. Muitos passam fome física e sofrem enormes diferenças sociais. As taxas de desemprego são, como norma, duas ou três vezes maiores; a mortalidade infantil se expressa em proporções ainda mais altas, e a perspectiva de vida se reduz até dois terços da que desfrutam aqueles. O sistema é simplesmente um genocídio.

Na reflexão que escrevi há três dias, eu disse: “ O nosso país demonstrou que pode resistir todas as pressões e ajudar outros povos.” Pode a Europa afirmar o mesmo?

No relatório publicado pela UNESCO ontem, dia 20 de Junho, afirma-se que Cuba, entre todos os países da América Latina, ocupa o primeiro lugar tanto em matemáticas e leitura da terceira série, quanto em matemáticas e ciências da sexta série, entre mais de 20 mil crianças de 16 países examinados durante dois anos, com mais de 100 pontos por em cima da média regional. É a segunda vez que a UNESCO outorga esse reconhecimento à nossa pátria.

Compreender-se-á que nenhum país onde os direitos humanos sejam violados sistematicamente alcançaria tão elevados níveis de conhecimento.

Por que se bloqueia a Cuba durante 50 anos?

Por que é caluniada?

Por que se lhe obstaculiza todo acesso à informação técnica e científica?

Por que se lhe quer conduzir a um sistema económico e social insustentável, que não oferece nenhuma solução aos problemas da humanidade?

Por alguma coisa milhões de cidadãos bolivianos, equatorianos, uruguaios, argentinos, brasileiros, centro-americanos e outros da América Latina emigraram para a Europa, de onde agora poderiam ser devolvidos para os seus países de origem, se não cumprirem todos os requisitos que a nova lei anti-imigrante exige.

E o que é ainda pior: uma cifra várias vezes maior de cidadãos do México, da América Central e do Sul emigraram para os Estados Unidos da América cruzando fronteiras, muros e mares, sem documentação alguma, nem Lei de Ajuste que os privilegie e incentive a emigrar, e dos quais morrem mais de 500 cada ano. Adicionalmente, milhares perecem cada ano no México e na América Central, vítimas do crime organizado, na disputa pelo mercado de drogas dos Estados Unidos, cujo consumo as mais altas autoridades desse país não são capazes nem querem combater.

O subprocurador José Luis Santiago Vasconcelos declarou que o tráfego de pessoas é o segundo item ilegal mais lucrativo. Quando de cubanos se tratar, os lucros são comparáveis aos do narcotráfico: “Cobram até 10 000 dólares por indivíduo.”

O dinheiro procede dos Estados Unidos. Acho que o México não pode se tornar o paraíso do tráfego de imigrantes, quando até os próprios guarda-costas norte-americanos interceptam e devolvem os que são apanhados no mar.

O México não está obrigado a permitir que lhe imponham uma versão da política de pés secos e pés molhados.

Em Cuba não existe o crime organizado nem a impunidade para o tráfego de drogas. Combatera-o com eficácia, sem ensanguentar a nação. Só por cinismo, o governo dos Estados Unidos não o reconhece.

Não escrevi nenhuma diatribe contra a Europa, disse simplesmente a verdade. Se ela ofende, não é a minha culpa.

Por poupar espaço, na reflexão de ontem não mencionei sequer a exportação de armas, as despesas militares e as aventuras bélicas da NATO, às quais se acrescentam os voos secretos e a cumplicidade da Europa com as torturas do governo dos Estados Unidos.

Ignoro se alguém foi arrestado em qualquer ponto do país por violar alguma lei. Nada tem a ver com a reflexão que solicitei fosse divulgada apenas por Cubadebate. Relacionar ambas as coisas resulta arbitrário. Utilizarei esse site da Internet ao ritmo que considerar necessário. Não abusarei da paciência de ninguém. Não cobro um cêntimo; o meu trabalho é gratuito.

Não sou, nem nunca serei, chefe de fracção ou grupo. Portanto, não pode ser deduzido que existam pugnas dentro do Partido. Escrevo porque continuo a lutar, e o faço em nome das convicções que defendi no decurso da minha vida.


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Inclusão: 11/01/2020