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Primeira Edição: Uma conversa com a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher
Tradução: Swen Zettler - da versão disponível em The Selected Works of Deng Xiaoping - https://dengxiaopingworks.wordpress.com/2013/03/08/our-basic-position-on-the-question-of-hong-kong/
HTML: Fernando Araújo.
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Nossa posição sobre a questão de Hong Kong é clara, existem três problemas principais envolvidos: Um é soberania, o outro é a forma que a China irá administrar Hong Kong para manter sua prosperidade depois de 1997 e ainda uma última é a necessidade dos governos Chinês e Britânico de terem discussões apropriadas sobre formas de evitar grandes distúrbios em Hong Kong durante os 15 anos entre agora e 1997.
Sobre a questão da soberania, a China não tem margem de manobra. Para ser sincero a questão não está aberta para discussão, chegou o tempo de deixar inequivocamente claro que a China recuperará Hong Kong em 1997. Isso quer dizer que a China não só recuperará os novos territórios, mas também a Ilha de Hong Kong e Kowloon, deve ser com esse pressuposto que China e Reino Unido devem conversar sobre as formas de resolver a questão de Hong Kong.
Se a China fracassasse em recuperar Hong Kong até 1997, quando a República Popular (da China) estivesse com 48 anos de sua fundação, nenhum líder ou governo chinês conseguiria justificar a si mesmo por esse fracasso diante do povo chinês e do mundo. Significaria que o governo chinês atual é igual ao governo da Dinastia Qing,(1) e os líderes atuais iguais a Li Hongzhang!
Nós esperamos por 33 anos, se adicionarmos mais 15 completam-se 48. Podemos esperar por um tempo tão longo pois temos a confiança total do povo, mas se falharmos em recuperar Hong Kong em 15 anos, o povo não teria mais razão para confiar em nós e qualquer governo chinês não teria alternativa se não voluntariamente abandonar o palco político. Então nessa hora — não quero dizer hoje claro, mas em nada mais que um ou dois anos — a China irá oficialmente anunciar sua decisão de recuperar Hong Kong, podemos esperar um ou dois anos, mas definitivamente nada mais.
Em um sentido geral, o anúncio pela China dessa decisão política também será benéfico para o Reino Unido, porque significará que 1997 marcará o fim da era de domínio colonial britânico, isso será bem-visto pela opinião pública mundial. Então o Governo Britânico deveria apoiar a decisão política, o governo chinês e britânico deveriam trabalhar em conjunto para resolver a questão de Hong Kong de forma satisfatória.
Esperamos ter a cooperação britânica para manter a prosperidade em Hong Kong, mas isso não significa que a prosperidade contínua só pode ser alcançada sob administração britânica, depende fundamentalmente de aplicarmos políticas adequadas a Hong Kong sob administração chinesa depois da recuperação. O sistema político e econômico de Hong Kong, e até a maioria de suas leis podem permanecer vigentes, claro que algumas delas serão modificadas; Hong Kong continuará sob o capitalismo, e muitos sistemas atualmente em uso que são adequados serão mantidos. Antes de formularmos os princípios e políticas para os próximos 15 anos e além, devemos fazer um extenso intercâmbio de pontos de vista com pessoas de todos os tipos de vida de Hong Kong, estes princípios e políticas devem ser aceitáveis não só para a população de Hong Kong, mas também para investidores estrangeiros, e primeiramente para Bretanha, porque irão beneficiá-los também. Esperamos que os governos chinês e britânico tenham consultas amistosas sobre esta questão e seremos gratos em ouvir as sugestões apresentadas pelo governo britânico. Tudo isso levará tempo, por que devemos esperar um ou dois anos antes de anunciar nossa decisão de recuperar Hong Kong? Porque durante esse período esperamos consultar todo tipo de pessoa.
A maior preocupação das pessoas hoje é que se a prosperidade não for mantida em Hong Kong, isso poderá retardar a modernização chinesa. Na minha opinião, enquanto não posso dizer que isso não teria efeito nenhum na modernização da China, seria um erro dizer que o efeito seria muito grande; se a China tivesse decidido basear o sucesso da sua modernização na prosperidade de Hong Kong, teria sido uma decisão política errada. As pessoas também estão preocupadas com a possível fuga de capital estrangeiro de Hong Kong, mas enquanto nossas políticas forem adequadas, o capital que sair de Hong Kong retornará. Portanto, quando anunciarmos a decisão de recuperar Hong Kong em 1997 devemos ao mesmo tempo anunciar os sistemas e políticas que serão aplicados depois desta data.
Sobre a afirmação de que quando a China declarar sua decisão de recuperar Hong Kong haverá conflitos lá, acredito que conflitos menores são inevitáveis, mas conflitos maiores podem ser evitados se China e Bretanha tratarem a questão com espírito cooperativo. Também gostaria de dizer à Madame que quando o governo chinês tomou essa decisão política, contou com todas as eventualidades, até contamos com algo que odiaríamos ver acontecer, isto é, consideramos o que deveríamos fazer se grandes conflitos ocorressem em Hong Kong durante o período de 15 anos de transição, o governo chinês seria forçado a reconsiderar o tempo e a forma da recuperação. Se o anúncio da recuperação de Hong Kong tiver, como disse a Senhora, “um efeito desastroso”, enfrentaremos esse desastre de frente e tomaremos uma nova decisão política. Espero que a partir da visita atual da senhora, funcionários do governo dos dois países conduzam consultas sérias por meio dos canais diplomáticos para encontrar maneiras de evitar quaisquer desastres.
Estou convencido de que podemos elaborar políticas que devem ser aplicadas depois da recuperação de Hong Kong e que serão de benefício para todas as partes, eu não tenho preocupações sobre isso. O que me preocupa é como fazer uma transição suave nos próximos 15 anos, estou preocupado com a possibilidade de grandes conflitos nesse período, conflitos fabricados; estes podem ser criados não somente por estrangeiros, mas por chineses — mas principalmente por Bretões. É muito fácil criar conflitos, esse é precisamente o problema que nossas consultas serão projetadas para resolver; Os governos dos dois países devem não só evitar fazer qualquer coisa que impeça a prosperidade de Hong Kong, mas também se certificar de que empresários e pessoas de todas as linhas de trabalho também o evitem. Não deve haver grandes conflitos em Hong Kong durante o período de 15 anos de transição e os assuntos devem ser ainda melhor administrados após a recuperação chinesa em 1997.
Sugerimos que se chegue a um acordo em que as duas partes iniciem consultas sobre a questão de Hong Kong por via diplomática. O pré-requisito é o entendimento de que a China recuperará Hong Kong em 1997. Com base nisso, devemos discutir como fazer a transição com sucesso nos próximos 15 anos e o que fazer em Hong Kong após o fim desse período.
Notas de rodapé:
(1) A dinastia Qing, também Império do Grande Qing ou Grande Qing foi a última dinastia imperial da China, governando por 268 anos com uma breve restauração fracassada em 1917. Foi precedida pela dinastia Ming e sucedida pela República da China. [...]Puyi o 12º imperador (1908 -1912) da dinastia Qing e último imperador da China, foi forçado a abdicar, após movimento revolucionário dirigido por Sun Yat-sen, a República da China foi criada em 12 de fevereiro de 1912.. (fonte: Wikipedia) (retornar ao texto)