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A rejeição da emenda Dante de Oliveira pela maioria da Câmara dos Deputados não resolve o problema do governo e — certamente — não fará esmorecer a imensa energia que existe e se amplia em lodo o país, pela mudança, por um Brasil democrático, soberano e de seu povo.
A inédita mobilização cívica, que levantou os brasileiros de norte a sul, fez abortar os planos continuístas do regime. Mesmo sem a aprovação da Dante, a Convenção Nacional do PDS não é mais a instância decisiva para a escolha do futuro Presidente da República, já que significativa parcela do partido adotou um caminho mais próximo do povo e de seus anseios, claramente expostos em praça pública. A realidade é que o PDS se divide, enquanto que — contra muitas previsões — cresce a unidade da Frente Democrática.
A votação no Congresso Nacional demonstrou também que a ampla maioria dos parlamentares brasileiros não mais aceita servir de sustentáculo para o continuísmo, rejeitado pelos trabalhadores e pela nação nas ruas e praças do Brasil. Por isto mesmo, seria um erro estimular posturas de descrédito em relação ao Poder Legislativo, já que por ele, certamente, terá de passar a solução para a mudança que o povo quer.
É hora de persistir na luta. É hora de investir corajosamente na negociação. As condições estão dadas para que as forças interessadas na democracia e no progresso do pais, em conjunto, convirjam para uma solução da questão sucessória que vá ao encontro dos profundos anseios nacionais. O povo, o Brasil nas ruas disse o que quer. Quer eleições diretas para Presidente da República, uma Assembleia Constituinte — eleita em condições de ampla liberdade partidária — que elabore de forma livre e soberana uma nova Constituição, que seja reflexo do Brasil novo que nasce da luta de seu povo. E quer uma radical mudança na política econômica, medidas que levem à retomada do crescimento e à queda das brutais taxas de desemprego e carestia. O Brasil clama pelo fim da subserviência aos agiotas internacionais e da vergonhosa submissão aos ditames do Fundo Monetário Internacional.
É falsa a contraposição entre luta e negociação. O que está obrigando o regime discricionário a colocar na mesa uma proposta de negociação é a luta da rua, a unidade dos democratas. E quem tem a consciência tranquila, compromissos assumidos com o povo, com a história da resistência democrática, não deve temê-la. Pelo contrário, deve lutar para que ela não seja um mero pacto das elites, mas que contemple os anseios populares.
Pois, reafirmamos, a luta continuará. Evitando o desespero que só serve aos inimigos das diretas e da democracia —, com mais organização, mobilização e diálogo às claras, o povo vencerá, verá instalado proximamente em Brasília um governo que conte com amplo respaldo nacional.
E o que pensamos, é pelo que lutamos.