(1713-1784): O mais eminente pensador entre os materialistas do século francês das luzes; o chefe e a alma dos enciclopedistas. Publicou, com D’Alembert, durante um quarto de século, (a partir de 1751), a celebre Enciclopédia, qualificada de "a Santa Aliança contra o fanatismo e a tirania”. A publicação dessa obra, brutalmente perseguida pelo Estado e pelos jesuítas, exigiu a mais extrema tensão de suas forças morais, uma vontade tenaz, a maior obstinação e um devotamento absoluto. “Se houve alguém — escrevia Engels — que tivesse consagrado toda sua vida, com entusiasmo, à verdade e ao direito — essa frase tomada no seu bom sentido —, esse alguém foi Diderot”. Escreveu sobre os mais diferentes assuntos, sobre as ciências naturais e sobre matemática, a história e a sociedade, a economia e o Estado, o direito e os costumes, a arte e a literatura. Criado num catolicismo rigoroso, Diderot desenvolveu-se com admirável lógica, passando do deísmo para o materialismo e do ateísmo militantes, terminando por encarnar os mais elevados objetivos da filosofia revolucionária burguesa da França do “século das luzes”. Exerceu sobre a sociedade de seu tempo a mais profunda e a mais duradoura influência. Mas seu pensamento não se contém nos limites estreitos de um materialismo vulgar. Já existem nele muitos germes de um pensamento dialético e monista. Em seus Pensamentos filosóficos, (Haia, 1746), queimados por ordem do Parlamento, e em Promenade du sceptique, 1747, obra apreendida antes da impressão, empreende vigorosos ataques contra a Igreja. Sua obra ateísta Lettre sur les aveugles (Londres, 1749), valeu-lhe um ano de prisão. Diderot passa, com razão, como precursor de Lamarck e Darwin, porque já sustenta, de maneira clara e resoluta, a ideia de uma evolução dos organismos e da existência inicial de um ser primitivo”, do qual procedeu, por transformação progressiva, a diversidade posterior do reino animal e do reino vegetal. Do mesmo modo que há uma evolução individual, existe, segundo Diderot, uma evolução das especies. Desenvolvendo logicamente a ideia da evolução, Diderot exige, finalmente, o reconhecimento da evolução de toda a matéria inanimada. Em sua obra Pensées sur l'interprétation de la nature, 1754, para explicar os fenômenos psíquicos, imagina a hipótese de átomos dotados de sensação, que já existiriam nos animais e determinariam, no homem, o pensamento. Todos os atos da natureza são manifestações de uma substância que domina inteiramente o ser, substância em que se manifesta a unidade das forças em perpetua transformação e em perpetua reação reciproca Entre seus mais ousados e brilhantes escritos materialistas, citemos Entiens entre D’Alembert et Diderot, 1769, e Le Rêve de D’Alemhert, 1769, que constituem, ao mesmo tempo, acabadas obras primas literárias Diderot foi, ademais, eminente autor dramático e notável prosador Em sua luta pela reforma da arte e do teatro, inclina-se para o naturalismo, para a representação não fantasiada da realidade viva, concreta. Diderot escreveu ainda — seja dito de passagem que era o escritor favorito de Marx —, numerosos romances e novelas engenhosos, cuja importância ressalta do fato de que homens como Lessing, Schiller e Goethe não somente foram seus admiradores, mas traduziram para o alemão varias de suas obras. Seu romance mais célebre, Le neveu de Rameau, 1762, que Engels qualifica de “uma obra prima de dialética", foi traduzido para o alemão por Goethe Além das obras já citadas, mencionemos ainda: Oeuvres Completes de Diderot, 1875, e Mémoires, correspondance et ouvrages inédits, 1830.