(1904-1981): nasceu na Alemanha, em 1904, numa família proletária de tradição socialista. Militante das Juventudes Espartaquistas desde os 14 anos, foi eleito, durante o período revolucionário, delegado ao Conselho operário das fábricas Siemens, em Berlim, onde era ferramenteiro aprendiz. Participou em numerosas acções, revoltas de fábricas, motins de rua, foi preso e a sua vida por diversas vezes ameaçada. Em 1920 abandona o partido comunista, que se tornara parlamentarista, e junta-se às tendências comunistas de conselhos que formam o KAPD (Partido Comunista Operário da Alemanha). Aos 17 anos já escreve nas publicações da juventude comunista e instala-se em Colónia, onde encontra trabalho, prosseguindo simultaneamente a actividade de agitação no seio das Organizações Unitárias Operárias, de que Otto Rühle era um dos fundadores. É neste meio que estabelece laços de amizade com um núcleo de artistas radicais, os Progressistas de Colónia, críticos acerbos dos diversos avatares da arte e da cultura ditas proletárias. Como tantos outros comunistas extremistas anti-bolchviques, e ainda graças à sua infatigável actividade subversiva, o seu nome rapidamente se encontra nas listas vermelhas do patronato. Reduzido ao desemprego, perseguido pela polícia e pelos nazistas, marginalizado pelos comunistas ortodoxos, consciente do declínio do movimento revolucionário, face à escalada do nazismo e à bolchevização dos comunistas, Paul decide, em 1926, emigrar com outros camaradas para os Estados Unidos.
Instala-se em Chicago, onde trabalha como ferramenteiro na metalurgia. Entra em contacto com os IWW (Industrial Workers of the World), sindicalistas revolucionários activos no movimento dos desempregados que então se desenvolvia. Participa activamente neste movimento, no seio dos grupos de desempregados radicais da região de Chicago (Workers League), que preconizavam, contra a opinião das organizações ligadas ao PC USA, a acção directa para obter os meios de subsistência. Junta-se de seguida a um pequeno partido de orientação comunista de conselhos. Foi deste meio que sairam as revistas Living Marxism (1938-41) e New Essays (1942-43), de que Paul era o redactor. Foi igualmente nesta época que entrou em relação com Karl Korsch, feito seu amigo, colaborador destas publicações, tal como Pannekoek e outros comunistas anti-bolchviques europeus e norte-americanos. O grupo dedicava-se particularmente a analisar as formas da contrarevolução capitalista e de integração da classe operária no Estado: os diversos fascismos e o New-Deal americano.
Durante a guerra, Mattick continuou a trabalhar como metalúrgico. A burocracia sindical, então sob controlo dos comunistas americanos, impunha a paz social nas fábricas, em nome da defesa da democracia e da aliança com a Rússia de Stalin. Nas reuniões sindicais, Paul atacava regularmente a cláusula anti-greve lembrando que: "Agora é que os patrões têm necessidade de nós, agora é que devemos bater-lhes!" Depressa os gorilas sindicais lhe fizeram ver que tais propósitos não eram nada convenientes, que afinal estávamos em Chicago e que a sua saúde ficaria melhor se evitasse as reuniões sindicais…No fim da guerra Paul foi para Nova Iorque, onde viveu com muitas dificuldades materiais. Retirar-se-á em seguida para uma aldeia do Vermont, onde viverá com a mulher e o filho em quase auto-subsistência, num pequeno pedaço de terra. Nos anos sessenta instalou-se em Cambridge (Boston), onde trabalhava a sua mulher Ilse. Em 1969 publicará Marx e Keynes, Os Limites da Economia Mista, uma das obras maiores do pensamento marxista antibolchevique do pós-guerra. Mattick mostra que, partindo duma repetição burguesa da análise crítica de Marx, Keynes não pôde propor mais que uma solução provisória dos problemas económicos do capitalismo moderno e que as condições que tornavam eficazes as medidas keynesianas desapareciam com a aplicação das mesmas. Donde a sua oposição a todas as correntes burguesas e stalinistas que viam na intervenção do estado um factor de estabilização e de equilíbrio da vida económica. Neste sentido, a sua análise dos limites desta intervenção anunciava a emergência da reacção burguesa neoliberal e, doutro ponto de vista, incitava ao necessário regresso à crítica da economia política de Marx, única via para a compreensão do novo período capitalista. Até à sua morte, a 7 de Fevereiro de 1981, defenderá a ideia que a transformação do mundo e a abolição do capitalismo não poderão ser levadas a bom termo senão pelos próprios interessados e que ninguém poderá cumprir esta enorme tarefa em seu lugar. Mais, sublinhava ele, o esforço de compreensão do mundo não tem sentido, senão se tiver por objectivo mudá-lo. (Charles Reeve, in Paul Mattick, De la Pauvreté et de la Nature Fetichiste de l’Economie, Ed. Ab Irato, Paris, 1998).