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Primeira Edição: Socialističeskij Vestnik"
Fonte: Passa Palavra - https://passapalavra.info/2017/07/114182/
Tradução: do original em inglês no Libcom - https://libcom.org/library/democratic-centralism-eduard-dune - por Breno Modesto e Gabriel Valentim e revisado pelo Passa Palavra
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
O fim da Guerra Civil e o começo da NEP, não por acaso, coincidiram com o surgimento de diferentes tipos de oposições internas ao Partido Comunista Russo. A Verdade Operária, a Oposição Operária, o Centralismo Democrático e a Oposição Militar(1) são exemplos de correntes internas do Partido que tinham em comum a luta por liberdade. O surgimento dessas oposições representou uma reação à quebra dos princípios democráticos na fase do comunismo de guerra, e, durante o 10° Congresso, tais correntes, mesmo tendo sido severamente criticadas, tiveram algumas de suas demandas aprovadas.
Mas claro que o Congresso teve seu termo e o Politburo(2) prosseguiu.
A estrutura burocrática do Partido era tamanha que o poder dos burocratas intensificou-se. Nesse processo, conselhos e sindicatos tornaram-se meros apêndices, reles departamentos no interior da organização partidária. Como reação à burocratização, a agitação interna no partido também cresceu, resultando nas oposições.
Em 1923, a Declaração dos 46 [disponível em inglês em https://www.marxists.org/history/etol/document/ilo/1923-lo/ch02.htm] não foi muito além da reivindicação por alguns princípios democráticos já adotados nas Resoluções do 10º Congresso. Penso que Lênin foi mais corajoso que a crescente oposição ao colocar a questão da necessidade de criação de um controle supra-partidário (na forma do CCC(3) e do RKI(4)) para o aparato soviético, a fim de lutar contra a degeneração burocrática. Neste projeto, o CCC e o RKI teriam poderes maiores que o Comitê Central do Partido Comunista e o Comitê Executivo Central da URSS(5). Todavia, na prática, suas atividades limitaram-se a controlar pequenas ineficiências dentro da grande máquina administrativa. O CCC permaneceu natimorto à medida que não detinha poder sobre os membros do Politburo. Tudo permaneceu como antes: o Politburo dava as ordens.
No segundo dia do 2º Congresso dos Sovietes veio a notícia da morte de Lênin(6). Krupskaya, no palanque do Congresso, lamentou a perda do tão querido dirigente. Todos os oradores discursaram e lamentaram a perda. Trótski, como nunca, reluziu com talento e eloquência na tribuna em meio a lágrimas de tristeza. Todos prantearam a morte do mestre e amigo. Era difícil ver centenas de adultos segurando lenços para secar as lágrimas que corriam. O Congresso inteiro chorava silenciosamente.
Apenas um homem – Stálin – manteve sua frieza enquanto falava a respeito do que fazer sem Lênin. Diferentemente de Trótski, suas observações não eram fruto do impulso, eram antes espelho de um discurso pré-fabricado. Pouquíssimos levavam a sério, naquela hora, a figura de Stálin. Se, por ventura, alguém qualificasse Stálin como sucessor de Lênin seria considerado um imbecil. A figura de Stálin era desprezível diante de pessoas como Trótski, Kámenev, Preobrazhensky, Pyatakov, Ryazanov, Skvortsov-Stepanov etc. Até mesmo Stálin tomaria tal qualificação como uma piada. Stálin havia estudado com os jesuítas, depois estudara Marx, e nos últimos anos havia lido Maquiavel. Na função de Secretário do PC, deu-se conta de ter em suas mãos todos os fios de comando do partido. Como Lênin não havia deixado um sucessor reconhecido por todos, Stalin, em seu discurso, propôs uma liderança colegiada para dar continuidade ao legado de Lênin. Ora, uma liderança coletiva sob o comando de alguém tão desprezível quanto Stálin poderia ser fator de reconciliação entre todos. Sob essa fórmula seria possível também lutar contra aqueles que pretendiam a herança de Lênin. A velha guarda, anos após a morte de Lênin, ainda considerava Stálin uma figura centrista, um peão no tabuleiro. Trótski, ao contrário, não era um reles peão, mas um quadro com o qual seria mais difícil lutar e por isso era considerado como uma espécie de Bonaparte russo.
Após a morte de Lênin, o problema da partilha do legado do antigo mestre somou-se a todas as outras questões internas do partido. Stálin lutou tão severamente contra Trótski, Kámenev, Bukhárin, entre outros, porque todos eles pretendiam a liderança do partido, não por qualquer questão relacionada às tarefas na construção de uma sociedade sem classes.
Na acalorada luta após a morte de Lênin, trotskistas, zinovievistas, rykovistas e bukharinistas reconheceram que o partido estava a caminho do Termidor(7) e que havia a necessidade de reformas urgentes – de outra forma, o partido da classe trabalhadora morreria. Em oposição a eles, o pequeno e pouco influente Grupo dos 15 – os decistas declararam: a luta pela ditadura do proletariado em 1917 foi justificada pela expectativa de uma revolução internacional. A ditadura do proletariado é a primeira etapa, o primeiro passo em direção à revolução socialista. Enquanto isso, passados 10 anos da revolução, ficou claro que o tempo da revolução mundial foi postergado para um futuro desconhecido. Consequentemente, a construção do socialismo em um só país é equivalente à construção do socialismo em um distrito. Alcançando o poder em um pedaço de terra isolado, o Partido Bolchevique está em vias de transformar-se, de um partido da classe trabalhadora, em um partido de oficiais, burocratas. Seja Trótski, seja Stálin no poder, a luta interna por reformas não pode resultar em nada substancial. Atualmente, o Partido Comunista Russo (1926) não é um partido da classe trabalhadora, nem representa seus interesses. O proletariado revolucionário foi derrotado e o PC, quanto à composição de classe, é um partido não proletário, absorveu todos os elementos hostis ao interesse da classe trabalhadora. Esse processo vai se fortalecer e crescer. A vala que separa os interesses da classe trabalhadora e a numerosa elite continuará a crescer. O Termidor, seja qual for a sua forma, é inevitável. A luta interna por democracia não é um fim em si mesmo, mas apenas uma forma de ativar e mobilizar as massas proletárias. A tarefa urgente de organização não é a substituição de Stálin por Trótski, ou qualquer outro, mas o incansável trabalho para a organização de um Partido real do proletariado em oposição ao PC. A cisão do Partido Comunista é bastante real. Esse ponto de vista extremo e pouco popular assustou muitos. Do mesmo modo, provocou uma cisão no Grupo dos 15, e alguns aderiram à corrente trotskista (como Drobnis(8)), enquanto outros preferiram permanecer no grupo. De fato, entender que décadas da vida deviam ser reconhecidas como puro e simples erro é uma ruptura moralmente dolorosa com o passado. Isso não provém do mundo dos fatos, mas do campo das ideias, e mesmo assim sabemos que nem sempre nossa mente permite enxergar as coisas como são.
A questão do “Termidor” do Partido Comunista Russo foi a pedra em que toda a oposição tropeçou. Como antes na prisão e no exílio, e agora nos isoladores políticos(9) e nos campos de trabalhos forçados, por mais de dez anos esta questão foi exaustivamente debatida. Grupos de decistas debateram esse ponto tal qual foi formulado pela “plataforma dos 15”, e, já no exílio, complementaram: o Termidor deveria ser considerado um fato consumado, a ditadura do proletariado converteu-se em ditadura da pequena burguesia, cuja base econômica é o capitalismo de estado da URSS. Até mesmo a maioria dos trotskistas havia se convertido a essa posição em 1936.
Consequentemente, concluiu-se que havia a necessidade de organizar um partido dos trabalhadores independente em oposição ao Partido Comunista Russo. O Grupo dos 15 pôs a questão desta forma antes do início das perseguições, mas, ao fazê-lo, isolou-se não apenas do Partido Comunista como também das demais correntes internas.
Stálin assustou seu partido com o risco de cisão e da morte da ditadura do proletariado – do poder soviético. O mesmo assustou os trotskistas, mas eles não notaram que era necessário romper com Stálin, com o poder soviético liquidado sob Stalin. E agora? Agora, como antes, a oposição formal dentro do partido fragmentou-se e foi incapaz de criar uma organização unificada entre pessoas com a mesma plataforma política. Incapaz de criar um partido dos trabalhadores unificado.
Seria mais lógico, em vez de organizar um novo partido dos trabalhadores, ir ao já existente Partido Operário Social Democrata Russo(10), mas isso estava fora de cogitação. E por quê? Parece-me que em função do estigma carregado pelo termo “menchevique”, que beirava um insulto. Por essa via a organização poderia perder até mesmo os poucos quadros que possuía e, àquela altura, conseguir novos quadros parecia impossível.
A organização dos decistas não possuía nomes importantes ou populares no Partido e no país. Não possuíamos nosso Lênin, nosso Trótski ou nosso Plekhanov. Mas havia confiança de que o tempo ajudaria a encontrá-los e validaria as nossas previsões a respeito do Partido. No intervalo entre 1924 e 1927 a organização recrutou ao redor de 2 mil pessoas(11).
Nossas células organizativas locais contavam com não mais do que 5 pessoas, em quantidade crescente – e mais de uma célula em uma mesma empresa. Os representantes das células elegiam representantes nos centros. Estes eram os centros que conheci: na Ucrânia (Carcóvia), na bacia do Don (Luhansk), nos Urais (Sverdlovsk) e em Moscou. Em Moscou, além dos centros locais havia espaços literários. Em Leningrado, não havia centros em função do pequeno número de apoiadores (eu sei, pois era eu quem levava a mala com literatura).
Membros da organização eram obrigados a respeitar as regras e a não agir em nome do Grupo dos 15. Só podia falar e discursar em nome do grupo nas reuniões cujas atas fossem feitas por si próprios. Em casos de disputas partidárias inevitáveis podia-se falar em nome dos trotskistas. Tal comportamento conspiratório não satisfazia os jovens de sangue quente. Eles buscavam aparições ativas. A juventude era fervente, agitada. Para Trótski, a juventude era o barômetro do partido. Na verdade, os trotskistas absorveram ótimos quadros da juventude, entre aqueles que no processo de luta tornaram-se figuras talentosas, cujas palavras foram ouvidas pela velha guarda que de vez em quando ia na esteira desses jovens(12). Enquanto os apoiadores dos trotskistas tornaram-se conhecidos e foram exilados, os apoiadores dos decistas sofreram menos. No exílio não havia ninguém de Sverdlovsk, nem de Luhansk(13). Aparentemente as células locais sobreviveram, mas se desorganizaram ao longo dos anos 30. Informações confiáveis de que nossa organização continuou seus trabalhos ‘à vontade’, eu não tenho, mas é sabido que alguns membros viveram até 1941 e que não foram presos uma única vez(14).
O grupo dos decistas aceitava membros do Partido Comunista e também os não-filiados. O Programa do grupo até 1927 era a Plataforma dos 15. O Programa depois de 1927 não foi condensado em uma plataforma escrita.
Como é possível sedimentar um programa quando se está preso e politicamente isolado? Conversas eram permitidas apenas na casa de parentes próximos, e mesmo assim havia o risco de que todos fossem enviados a campos de trabalho por 8, 10 anos.
A utilização de máquinas e técnicas mais avançadas deixava bastante a desejar. Havia uma grande dificuldade com o manejo de novas “técnicas”. Por exemplo, ainda durante a frente com os trotskistas, uma rotativa foi adquirida no estrangeiro, mas com a dissolução da frente, os trotskistas não nos devolveram o bem, apesar de ter sido adquirido com contribuições pessoais dos decistas. Conseguimos de volta a rotativa mais pela influência dos punhos de Sapronov do que por qualquer outro motivo. (Para os trotskistas, após a saída da frente, havíamos nos tornado um grupo contra-revolucionário). Além da rotativa tínhamos um colótipo, um shapirógrafo(15), além de máquinas de escrever. Nunca sequer sonhamos com impressoras tipográficas, por exemplo – ambas as organizações eram bastante modestas. E o trabalho de massas era possível apenas a longo prazo. Após nossa derrota, nem o rotor, nem a fototipia, nem as demais máquinas foram detectados pela GPU(16). Elas permaneceram escondidas em uma fazenda próxima a Moscou.
Após o aniversário da revolução em Novembro de 1927, quando os troskistas começaram a apelar aos não-filiados (durante uma demonstração pública, os trotskistas lançaram o slogan de volta a Lênin!, que, além de ingênuo, não havia sido aprovado pelo Comitê Central), a descoberta e consequente prisão dos tipógrafos trotskistas era inevitável. O risco de detenções era alto. Surgiu a questão de encontrar esconderijos para algumas de nossas lideranças. Mas isso exigia os passaportes conseguidos anteriormente. E já era muito tarde. Pude esconder em um instituto científico uma grande pilha de cédulas de identidade e passaportes (no período ainda não havia passaportes globais(17)) que não podiam ser usados com segurança porque apenas eu e Sapronov sabíamos a seu respeito. As detenções ocorreram mais rapidamente do que imaginávamos. Sobre os documentos o GPU não sabia absolutamente nada – eu escrevi a esse respeito para uma visão completa da organização de nosso grupo(18).
Para oferecer assistência material às famílias daqueles que foram detidos formou-se uma espécie de Cruz Vermelha na organização. Consistia de 3 pessoas, que não compunham o grupo dos 15. Eles foram capazes de realizar algumas poucas ações. A organização cessou seus trabalhos seguindo a desorientação geral após a derrota do grupo.
Dessas 3 pessoas da Cruz Vermelha, duas foram detidas, mas não pela questão do trabalho assistencial. Uma delas foi detida e assassinada pela GPU em 1937, a outra pela Gestapo em 1941.
O Grupo Centralismo Democrático atuou ainda no tempo de Lênin, que os chamava de “os mais barulhentos”. Após a morte de Lênin estiveram uma vez em uma frente com trotskistas e zinovievistas. O fim da frente ocorreu por formulações inaceitáveis a respeito da avaliação do papel do Partido Comunista na contra-revolução.
Após esse episódio, os decistas passaram a atuar como “grupo dos 15”. Nem todos os decistas assinaram a plataforma do grupo em função do sigilo e da necessidade de segurança, mas as assinaturas de Smirnov e Sapronov constam na plataforma e ajudaram em sua consolidação.
Sapronov trabalhou na construção civil e como pintor. Juntou-se ao Partido Social-Democrata na Revolução de 1905. Foi detido e exilado como liderança do sindicato dos trabalhadores da construção em Moscou. Durante a guerra, entre 1914-1916, retornou clandestinamente com o nome falso de Alexandrov e trabalhou em uma fábrica, em Tushino, nas proximidades de Moscou. Até fevereiro de 1917, organizou nessa fábrica um pequeno agrupamento social-democrata bem como uma organização sindical sob o disfarce de uma caixa de assistência de saúde. Apesar de não ter instrução formal, era detentor de uma mente firme e brilhante e de uma enorme força de vontade. De um pequeno grupo em Fevereiro sua célula cresceu para 1.500 pessoas em Outubro de 1917 (na fábrica havia em torno de 5 mil trabalhadores evacuados desde o Báltico(19)). Em outubro de 1917, cerca de 300 deles lutaram nas ruas de Moscou como guardas vermelhos.
Após a Revolução de Fevereiro, o objeto de seu trabalho expandiu-se, englobando quase todos os distritos da província de Moscou. Sapronov tornou-se presidente da província soviética de Moscou, Presidente do Comitê de Concessões, Presidente do Sovnarkom e Secretário do VtsIK após a organização do CEC da União Soviética. Com isso teve termo sua carreira de funcionário, como alguns gostam de dizer.
Despendeu todos os dias de liberdade em velhas fábricas e usinas. Não houve um só dia, mesmo quando esteve no poder, em que não pensasse a respeito do destino da Revolução. Teria sido Sapronov um bom orador? Quando se lê, as transcrições de seus discursos parecem confusas e pouco convincentes, mas quando os tinha de falar antes de uma reunião de trabalhadores seus discursos tornavam-se fecundos, vivos. Todos o ouviam com a respiração suspensa. Assim foi antes de Outubro, assim foi depois de Outubro.
Mas, para proteger o mito da ditadura do proletariado, Sapronov emudeceu: faltavam-lhe as palavras e, mais importante, a vontade. Ele era suficientemente corajoso para abandonar o partido pelo qual devotou décadas de sua vida; estava convencido de que o Partido conduzia a classe trabalhadora para um futuro temeroso.
Vladimir Smirnov, por seu turno, era o oposto de Sapronov. Era um homem estudado, economista, detentor de largo vocabulário que utilizava em discursos dirigidos a amplas plateias. Se Sapronov era um organizador das massas, Smirnov era um estudioso, recluso nos gabinetes. Em sua vida pública e privada era bastante modesto. Vastas leituras, erudição, sensibilidade e modéstia nas relações atraíam a atenção dos demais, permitindo que o conhecessem de perto. Nele havia muito de idealismo niilista e narodnik.
Notas de rodapé:
(1) NE: Note-se que Dune, por alguma razão, esqueceu ou evitou falar do Grupo Operário do PCR(b), que veio a se tornar o Partido Comunista Operário da Rússia.(retornar ao texto)
(2) NE: Politburo: palavra originada do russo Политбюро (Politbyuro), uma contração do verdadeiro nome do órgão, Политическое бюро (Politicheskoye Byuro , “Escritório Político”). Trata-se do nome, na maioria dos partidos comunistas, do comitê executivo, órgão responsável pela tomada de decisões cotidianas. (retornar ao texto)
(3) NE: CCC: trata-se da sigla do órgão conhecido como Comitê Central de Controle Partidário do PCUS (Комитет партийного контроля – Komitet Partiynogo Kontrolya). O CCC foi criado em 1920 como órgão de controle interno do partido, sendo já em 1921 dividido numa Comissão de Auditoria Financeira (Центральная ревизионная комиссия – Tsentral’naya revizionnaya komissiya) e numa Comissão de Controle Central (Центральная контрольная комиссия – Tsentral’naya kontrol’naya komissiya), responsável pela disciplina partidária). Os comissários integrantes eram eleitos pelo Congresso do partido, e seus membros não poderiam ser também membros do Comitê Central. Os comitês de controle também foram criados em escala regional, distrital e municipal. O CCC foi substituído em 1934 por outro órgão de nome semelhante, desta vez submetido à autoridade do Comitê Central. Seus comissários (cargo equivalente ao de presidente ou chefe) na Rússia foram Valerian Vladímirovich Kúibyshev (1923-1926), Grigory Konstantínovich Ordzhônikidze (1926-1930), Andrêi Andrêievich Andrêiev (1930-1931) e Jānis Rudzutaks (1931-1934). (retornar ao texto)
(4) NE: RKI: trata-se da sigla do órgão conhecido como Inspeção Operária e Camponesa (Рабо́че-крестья́нская инспе́кция – Rabóche-Krestyánskaya Inspéktsiya), também abreviado como como Rabkrin (Рабкри́н). A RKI foi criada em 7 de fevereiro de 1920 como substituta ao Comissariado do Povo para o Controle do Estado, e tinha como atribuição supervisionar todos os ramos da administração tendo em vista o combate à ineficiência e à corrupção. Por meio dela, qualquer cidadão poderia apresentar uma queixa contra qualquer funcionário público junto ao Escritório Central de Reclamações (Бюро Жалоб – Biuro Jalob, órgão interno da RKI), e ela era repassada a equipes de operários e camponeses integrantes daRKI com amplos poderes para adentrar quaisquer órgãos públicos e supervisionar o trabalho, para que investigassem o problema. A RKI foi um dos centros de introdução na Rússia e na URSS da organização científica do trabalho a partir da criação do seu Departamento de Normalização (Отдел Нормализации – Otdel Normalizatsii) em março de 1922. O próprio Lênin, entretanto, que propusera sua criação, descobriu que os controladores da burocracia haviam se tornado, eles próprios, burocratas, e em 1923 a RKI foi fundida ao Comitê Central de Controle Partidário do PCUS (Комитет партийного контроля – Komitet Partiynogo Kontrolya), que passaram a trabalhar juntos. A RKI foi dissolvida em 1934. Seus comissários (cargo equivalente ao de presidente ou chefe) na Rússia foram Josef Stalin (1920-1922), Alexander Dmítrievich Tsyurúpa (1922-1923), Valerian Vladímirovich Kúibyshev (abril-julho de 1923), Alexey Semiônovich Kiselióv (1923-1924), Nikolái Mikháilovich Shvérnik (1924-1925) e Nikifór Ilích Ilín (1925-1934), e na URSS foram Valerian Vladimirovich Kúibyshev (1923-1926), Grigory Konstantínovich Ordzhônikidze (1926-1930), Andrêi Andrêievich Andrêiev (1930-1931) e Jānis Rudzutaks (1931-1934). (retornar ao texto)
(5) NE: Trata-se do Comitê Executivo Central (Центральный исполнительный комитет – Tsentral’nyy ispolnitel’nyy komitet) da URSS, órgão executivo supremo da URSS entre 1922 e 1938 no intervalo entre uma e outra sessão do Congresso dos Sovietes da URSS, órgão supremo do Estado soviético que funcionou entre 1922 e 1936. Foram ambos substituídos em 1938 pelo Soviete Supremo (Верхо́вный Сове́т – Verkhóvnyy Sovét) da URSS. (retornar ao texto)
(6) O Segundo Congresso dos Sovietes da União Soviética teve lugar em Moscou de 26 de Janeiro a 2 de Fevereiro de 1924. (retornar ao texto)
(7) NE: Termidor: no calendário instituído durante a Revolução Francesa, era o décimo-primeiro mês, começava em 19 ou 20 de julho e ia até 17 ou 18 de agosto; seu nome vem do grego thermos (“calor”). Na política, o termo tem sido usado por referir-se à chamada reação termidoriana, ou seja, à derrubada de Maximilien Robespierre e seus partidários em 27 de julho de 1794 por membros da Convenção Nacional, marco de uma guinada conservadora no processo revolucionário francês; por isto, é empregue para referir-se a qualquer guinada conservadora em processos revolucionários, especialmente quando há substituição (geralmente violenta) das lideranças originais. (retornar ao texto)
(8) NE: Yakov Naumovich Drobnis (1890-1937): revolucionário ucraniano, integrante desde 1904 do Bund, organização comunista judaica integrante do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), e sapateiro por profissão. Preso e libertado várias vezes até 1917, foi um dos fundadores do Partido Bolchevique Ucraniano em 1918 e participou da luta armada contra os exércitos do nacionalista Petliura e do general branco Denikin. Eleito prefeito de Odessa em 1921, elegeu-se posteriomente em 1923 para o Conselho de Comissários do Povo da URSS. Desde este ano integrou a Oposição de Esquerda, e assinou a Declaração dos 46, documento que tornou públicas as posições políticas deste grupo, sendo, na sequência, um dos 75 opositores a serem expulsos do partido e exilado para Astrakhan. Assinou um documento em 1930 arrependendo-se de suas posições e retornou à sua carreira no Partido Comunista da URSS, sendo indicado para o Comissariado do Povo para as Ferrovias. Foi preso em 1936 pela NKVD e julgado no segundo dos Julgamentos de Moscou por “atividades antissoviéticas e trotskistas”. Declarado culpado, foi morto por fuzilamento em 1937. (retornar ao texto)
(9) NE: Isolador político era o nome dado às prisões políticas nos primeiros anos do regime soviético. (retornar ao texto)
(10) NE: Como o partido bolchevique já havia, a esta altura, mudado seu nome para Partido Comunista Russo (bolchevique) – PCR(b), quando Dune se refere ao Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) ele se refere aos mencheviques, que haviam mantido o nome original do partido que antes dividiam com os bolcheviques. (retornar ao texto)
(11) Membro do ‘Grupo dos 15’, Mark Minkov deu, durante sua detenção, um sincero testemunho, em que contava apenas 200 membros, mas ele, pela própria estrutura da organização, não podia saber de tudo, visto que era apenas um membro do centro de Moscou. (retornar ao texto)
(12) Por exemplo, Solntsev – que morreu de uma inflamação purulenta no ouvido médio, ou K. Melnays (pseudônimo), assassinado em Vorkuta, em Março de 1937, como o líder de uma greve de fome. (retornar ao texto)
(13) No exílio de 1927 a 1930 havia vigorosa correspondência: envio do rascunho da Plataforma política, a lista dos deportados e seus endereços, a troca de pontos de vista por meio de letras a um “caro amigo” e muito mais. NE: Parte desta correspondência foi traduzida para o inglês:
http://libcom.org/library/several-considerations-%E2%80%93-democratic-centralist
http://libcom.org/library/letter-sapronov-isaak-dashkovskij
http://libcom.org/library/letter-decists-vladimir-smirnov
http://libcom.org/library/letters-smirnov-timofei-sapronov
http://libcom.org/library/critique-comintern-program-vladimir-smirnov
http://libcom.org/library/new-forgery-decists (retornar ao texto)
(14) Professor M., um membro de nosso centro literário e agora liberto, trabalha em um instituto de Filosofia (Instituto dos Professores Vermelhos). O outro, o trabalhador de tecnologia D., trabalha no Instituto Mundial de Economia em Moscou. (retornar ao texto)
(15) Tipo russo de hectógrafo. (retornar ao texto)
(16) NE: GPU: sigla da Administração Política do Estado (Государственное политическое управление – Gosudarstvennoye polititcheskoye upravlenie), serviço de inteligência e polícia secreta da Rússia e depois da URSS entre 1922 e 1923. (retornar ao texto)
(17) O sistema soviético de passaportes vigente entre 1932 e 1991 servia não apenas para identificar os cidadãos soviéticos no exterior, mas também no interior do país, havendo passaportes externos e passaportes internos. Servia, igualmente, para registrar todos os dados possíveis dos cidadãos (idade, estado civil, profissão, etnia etc.) e para monitorar o local de residência de cada cidadão (sistema conhecido como propiska). (retornar ao texto)
(18) Após a minha detenção, o pacote de documentos foi queimado em um fogão utilizado para incinerar animais mortos em experimentos científicos. A queima foi realizada por um amigo, membro do Partido Comunista, pesquisador do Instituto e ardente estalinista, sempre discursando contra a oposição, junto a um professor não filiado que recentemente filiou-se. Isto demonstra que nem todos os membros do partido são tão irremediáveis como aparentam. Isso é verdade, ocorreu há 20 anos. (retornar ao texto)
(19) NE: Trata-se de trabalhadores trazidos da Estônia, da Letônia e da Lituânia, países integrados ao Império Russo antes da revolução e tornados independentes por força do tratado de Brest-Litovsk, em 1918. No entreguerras as chamadas repúblicas bálticastornaram-se palco de vários movimentos nacionalistas e fascistas, além de serem governadas por ditadores como Konstantin Päts (Estônia, 1934), Kārlis Ulmanis (Letônia, 1934) e Antanas Smetona (Lituânia, 1926). Durante a Segunda Guerra Mundial as repúblicas bálticas foram ocupadas pela URSS (1940), depois pela Alemanha (1941) e por último, novamente, pela URSS (1944), que incorporou-as a seu território. Sua independência só veio a ser reconhecida novamente em 1991 com o fim do regime soviético. (retornar ao texto)