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A delegação argelina, composta de cinco membros, teve em Accra uma recepção entusiástica. Essa recepção calorosa era o testemunho da importância concedida pelos povos africanos há vários anos.
Em Accra apercebemo-nos de que as grandes figuras da Revolução Argelina, Ben Bella, Ben M’Hidi, Djamila Bouhired, entraram já na epopeia africana.
Deram-se lugares de preferência a vários membros da nossa delegação. Foi assim que um de nós ocupou um lugar no Comité-Diretor do Congresso e que todos os outros foram eleitos por aclamação para a presidência ou para a vice-presidência das diferentes comissões.
Esta unanimidade em relação à Argélia combatente desagradou manifestamente aos colonialistas que julgavam que a luta do povo argelino não encontrava eco nos homens e nas mulheres da África Negra. Na verdade, a Revolução Argelina nunca esteve presente com tanta acuidade nem com tanto peso como nesta região da África; tratasse-se dos Senegaleses, ou dos Camaroneses, ou dos Sul-Africanos, era fácil verificar a existência de uma solidariedade fundamental destes povos para com a luta do povo argelino, para com os seus métodos e seus objetivos.
A delegação argelina formulou de maneira muito precisa perante os congressistas o problema da luta armada. Certos observadores, certos jornalistas, julgaram-se autorizados logo nas primeiras horas do Congresso a telegrafar aos seus jornais que a Argélia tinha decidido conduzir a luta anticolonialista por métodos pacíficos.
Aliás, alguns não hesitavam em dar a entender que se estava a assistir oficialmente a uma condenação do movimento revolucionário argelino.
Ora, logo no primeiro dia, o Congresso era colocado na sua órbita autêntica e a luta argelina tornava-se simultaneamente o ponto fraco do sistema colonial e a fortaleza dos povos africanos.
É que os congressistas convenceram-se rapidamente de que o interesse dos colonialistas pela África e os inícios de descolonização que apareciam aqui e ali não eram obra da generosidade ou da súbita inteligência dos opressores.
A guerra da Argélia teve um peso decisivo neste Congresso, pois pela primeira vez se revela incapaz de sair vitorioso um colonialismo que faz a guerra em África. Foi por não terem analisado este fenómeno que os colonialistas se admiraram mais uma vez com o sucesso dos representantes argelinos.
Cada delegado argelino foi recebido como alguém que está em vias de expulsar da carne do colonizado o medo, o tremor, o complexo de inferioridade.
A luta do povo argelino não é saudada como um ato de heroísmo, mas como uma ação contínua, apoiada, em constante reforço e que contém no seu desenvolvimento o desmoronar e a morte do colonialismo francês em África.
A Guiné também foi aplaudida, mas era como que a primeira consequência importante do conflito franco-argelino.
Aliás, os camaradas ministros da Guiné presentes na Conferência pediram-nos que déssemos a conhecer ao nosso governo o reconhecimento profundo do povo guineense para com a Argélia combatente.
Por outro lado, o primeiro-ministro do Ghana, o Dr. N’Krumah, insistiu em receber os nossos delegados entre os primeiros. Durante mais de uma hora estudou-se o problema argelino nas suas relações com a libertação do continente africano. Uma vez mais o chefe do Estado do Ghana renovou ao povo argelino em luta o apoio e a solidariedade ativos do povo do Ghana e do seu Governo.
O Dr. N’Krumah pôs-nos ao corrente da intenção do seu governo de reconhecer dentro em breve o Governo Provisório da República Argelina.
Notas de rodapé:
(1) El Moudjahid, n.º 34, de dezembro de 1958 (retornar ao texto)
Inclusão | 17/07/2018 |