MIA> Biblioteca> Imprensa Proletária > Novidades
Há duas nações em cada nação contemporânea, diremos a todos os nacionais-socialistas. Há duas culturas nacionais em cada cultura nacional. Há a cultura grão-russa dos Pourichkevitch , dos Goutchkov e dos Trouvé — mas há também uma cultura grão-russa caracterizada pelos nomes de Tchernychevski e de Plekhanov. Há também duas culturas na Ucrânia, como na Alemanha, na Inglaterra, entre os judeus, etc. Se a maioria dos operários ucranianos se acha sob a influência da cultura grão-russa, sabemos que, ao lado das ideias da cultura dos popes e dos burgueses grão-russos, agem também as ideias da democracia e da social-democracia grão-russas. Lutando contra a primeira espécie de “cultura”, o marxista ucraniano distinguirá sempre a segunda e dirá aos operários: “É indispensável agarrar com todas as forças, utilizar, consolidar, cada possibilidade de contacto com o operário grão-russo consciente, com sua literatura, com seu mundo de ideias; assim o exigem interesses fundamentais do movimento operário ucraniano e grão-russo”.
Se o marxista ucraniano se deixa arrastar pelo ódio bem fundamentado e natural contra os opressores grão-russos até aplicá-lo — mesmo que seja apenas uma parcela desse ódio; mesmo que seja apenas a indiferença — à cultura proletária e à causa proletária dos operários grão-russos, esse marxista, por isso mesmo, se atolará no pântano do nacionalismo burguês. Do mesmo modo, o marxista grão-russo se atolará no pântano do nacionalismo não somente burguês mas do nacionalismo o mais reacionário, se esquecer, mesmo por um minuto de reivindicar a completa igualdade de direito para os ucranianos ou o seu direito de formar um Estado independente.
(LENINE, Observações Criticas Sobre a Questão Nacional, “in” Prosvechtchenie (1), outubro de 1913. Obras, t. XVII pgs. 143-144, ed. russa).
Em cada cultura nacional há elementos — por menos desenvolvidos que sejam — de cultura democrática e socialista, porque em cada nação há a massa trabalhadora e explorada, cujas condições de vida fazem inevitavelmente nascer uma ideologia democrática e socialista. Mas em cada nação há também uma cultura burguesa (e o mais das vezes, uma cultura reacionaria e clerical) — e isso não somente sob a forma de ‘'elementos” mas sob a forma de cultura dominante. Eis porque a “cultura nacional” em geral é cultura dos latifundiários, dos popes, da burguesia. Esta verdade fundamental, elementar para um marxista, é esquecida pelo bundista (1) que se põe a falar a seu modo, isto é, em lugar de revelar e mostrar c abismo que separa as classes, esconde-o ao leitor. Na realidade, o bundista comportou-se como um burguês; cujo interesse total exige que seja difundida a crença numa cultura fora das classes.
Proclamando a palavra de ordem de “cultura internacional da democracia e do movimento operário mundial”, nós tomamos de cada cultura nacional apenas os elementos democráticos e socialistas, tomamo-los apenas e sem restrição contrapeso à cultura burguesa, ao nacionalismo burguês de cada nação. Nenhum democrata, — e naturalmente com maiores razões nenhum marxista — negará a igualdade das línguas ou a necessidade de travar polêmica em sua língua materna contra sua burguesia nacional, de difundir ideias anticlericais ou antiburguesas entre os camponeses e a pequeno-burguesia nacionais, — é inútil de dizer, com o auxílio dessas verdades indiscutíveis, o bundista esconde aquilo que pode ser contestado, isto é, o essencial da questão.
Trata-se de saber se os marxistas podem formular, direta ou indiretamente, a palavra de ordem de cultura nacional, ou se lhes é necessário contrapor, em todas as línguas, “adaptando-se” a todas as particularidades locais e nacionais, a palavra de ordem de internacionalismo operário.
A significação da palavra de ordem de “cultura nacional” não é determinada pela promessa ou a boa vontade de algum pequeno intelectual de “interpretar” essa palavra de ordem de maneira a fazê-la passar como cultura internacional”. Isso seria um subjetivismo pueril. A significação da palavra de ordem de cultura nacional é determinada pelas relações objetivas de todas as classes de um dado país e de todos os países do mundo. A cultura nacional da burguesia é um fato (e a burguesia, eu o repito, faz todos os conchavos com os latifundiários e os popes). O nacionalismo burguês militante, embrutecendo, aparvalhando, dividindo os operários, para colocá-los à reboque da burguesia, eis o fato da época contemporânea.
(LENINE, Observações Criticas Sobre a Questão Nacional, “in” Prosvechtchenie, outubro de 1913. Obras, t. XVII, t. 136-137, ed. russa).
Da parte dos operários pertencentes às nações que desempenharam sob o capitalismo um papel de opressores, é preciso uma atenção particular no que concerne ao sentimento nacional das nações oprimidas (por exemplo, da parte dos grão-russos e dos ucranianos, dos poloneses para com os judeus, da parte dos tártaros para com os bachkirs, etc.) é preciso que eles deem seu concurso não apenas ao estabelecimento da igualdade de fato, mas ao desenvolvimento da língua e da literatura das massas trabalhadoras das nações outrora oprimidas a fim de suprimir todos os traços de desconfiança e de indiferentismo, herdados da época do capitalismo.
(LENINE, Projeto de Programa do Partido Comunista Russo. Obras, t. XXIV, pagina 96, ed. russa).
Já disse que é preciso elevar a cultura nacional das republicas soviéticas do Oriente. Mas que é cultura nacional? Como conciliá-la com a cultura proletária? Lenine não dissera antes da guerra que há duas culturas, uma cultura burguesa e uma cultura socialista, que a palavra de ordem de cultura nacional era uma palavra de ordem reacionária da burguesia, que se esforçava para intoxicar de nacionalismo a consciência dos trabalhadores? Como conciliar o desenvolvimento da cultura nacional, o desenvolvimento de escolas e de cursos em língua materna e a elaboração de quadros recrutá-los entre a população local, com a realização do socialismo, a edificação da cultura proletária? Não há aí uma contradição irredutível? De modo nenhum! Esforçamo-nos para realizar lima cultura proletária. Isso é um fato incontestável. Mas é Igualmente incontestável que a cultura proletária, socialista pelo conteúdo, reveste formas e meios de expressão diferentes segundo os povos participantes da construção socialista, segundo sua língua, seus hábitos, etc. Proletária pelo conteúdo, nacional pela forma, tal é a cultura geral à qual tende o socialismo. A cultura proletária, longe de impedir a cultura nacional, dá-lhe, pelo contrário, um conteúdo. E, inversamente, a cultura nacional, longe de impedir a cultura proletária, dá-lhe uma forma. A palavra de ordem de cultura nacional foi uma palavra de ordem burguesa enquanto a burguesia deteve o poder, enquanto a consolidação das nações se efetuou sob a égide do regime burguês. Essa palavra de ordem tornou-se uma palavra de ordem proletária desde quando o proletariado tomou o poder e quando a consolidação das nações começou a se efetuar sob a égide do poder soviético. Aquele que não compreendeu essa diferença essencial das duas situações, não compreenderá nunca o leninismo nem a essência da questão nacional tal como se apresenta sob o ângulo do leninismo.
Alguns (Kautski, por exemplo) falam da criação, no período do socialismo, de uma língua única para toda a humanidade, língua que substituiria, pouco a pouco, todas as outras. Essa teoria de uma língua universal única deixa-me bastante cético. Em todo caso, longe de confirmá-la, a experiência a desmente. Até agora, a revolução socialista não diminuiu mas aumentou a quantidade de línguas, porque, despertando as massas profundas da humanidade e atraindo-as à politica, ela desperta para uma nova vida uma série de nacionalidades desconhecidas ou quase desconhecidas anteriormente. Quem acreditaria que a antiga Rússia tsarista abrangeria pelo menos cincoenta nacionalidades e grupos étnicos? Ora, a revolução de outubro quebrou as velhas cadeias e fez surgir uma série de povos e de nacionalidades até certo ponto esquecidos, deu-lhes uma vida nova e novas possibilidades de desenvolvimento. Fala-se agora da Índia como um todo único. Mas não é de duvidar-se que, se a revolução se processar nesse país ela fará surgir numerosas nacionalidades antes desconhecidas, cada uma com suas línguas e sua cultura particular. Quanto à comunhão de diferentes nacionalidades na cultura proletária é quase certo que ela se efetuará sob formas correspondentes à língua e aos costumes dessas nacionalidades.
(STALIN, Questões do Leninismo, 3ª. ed., pgs. 257-258, ed. russa; E.S.I., t 1, pgs. 238-239).
Não é evidente que Lenine se pronuncia, sem reservas em favor da palavra de ordem de desenvolvimento da cultura nacional sob a ditadura do proletariado?
Não é evidente que a negação dessa palavra de ordem significa a negação da necessidade de um florescimento conjuntural dos povos não grão-russos da U.R.S.S., a negação da necessidade de instrução geral para esses povos, 0 abandono desses povos ao domínio espiritual das nacionalidades reacionárias?
Lenine qualifica realmente de reacionaria a palavra ordem de cultura nacional sob a dominação da burguesia. Mas poderia ser de outra maneira? Que é a cultura nacional sob a dominação da burguesia nacional? É uma cultura burguesa pelo seu conteúdo e nacional em sua forma, cujo objetivo é dar às massas o veneno nacionalista e fortalecer a dominação da burguesia. Que é a cultura nacional sob a ditadura do proletariado? É uma cultura socialista pelo seu conteúdo e nacional em sua forma, cujo objetivo é educar as massas no espírito do internacionalismo e fortalecer a ditadura do proletariado. Como se poderá confundir esses dois fenômenos, diferentes em princípio, sem romper com o marxismo? Não é evidente que, combatendo a palavra de ordem de cultura nacional no regime burguês, Lenine visava o conteúdo burguês da cultura nacional e não sua forma nacional? Seria tolice supor que Lenine considerava a cultura socialista como uma cultura desprovida de formas nacionais. Os membros do Bund atribuíram-lhe, é verdade, durante certo tempo, esse absurdo. Mas as obras de Lenine demonstram que ele protestou vigorosamente contra essa calúnia e repeliu resolutamente esse absurdo. Nossos estimáveis fazedores de desvios teriam seguido, coxeando, as pegadas do Bund?
Que resta da argumentação deles depois de tudo o que se acaba de dizer?
Nada mais que palhaçadas com a bandeira do internacionalismo e a calúnia contra Lenine.
Aqueles que se desviam para o chauvinismo grão-russo enganam-se profundamente quando pensam que o período da edificação do socialismo na U.R.S.S. é um período de declínio e de liquidação das culturas nacionais. A verdade é o contrario disso. Na verdade, o período da ditadura do proletariado e da edificação do socialismo na U.R.S.S. é a do florescimento das culturas nacionais, socialistas pelo conteúdo e nacionais pela forma. Eles não compreendem evidentemente que o desenvolvimento das culturas nacionais deve tomar um novo surto com o estabelecimento e a implantação da instrução primaria obrigatória e geral em língua materna. Não compreendem que é somente sob a condição do desenvolvimento das culturas nacionais que se poderá fazer entrar realmente as nacionalidades atrasadas na edificação socialista. Não compreendem que isso é justamente a base política leninista de apoio o sustentáculo às culturas nacionais dos povos da U.R.S.S.
Pode parecer estranho que, partidário da fusão no futuro, das culturas nacionais numa só cultura comum (na forma e no conteúdo) e de uma só língua, sejamos ao mesmo tempo partidários do desenvolvimento das culturas nacionais na hora presente, no período da ditadura do proletariado. Mas não há nada de estranho nisso. É preciso deixar as culturas nacionais se desenvolverem e se desdobrarem, exprimirem todas as suas possibilidades, a fim de criarem as condições de sua fusão numa só cultura, possuindo uma só língua. O desenvolvimento das culturas, nacionais pela sua forma e socialistas pelo conteúdo, sob a ditadura do proletariado instituído num país para sua fusão numa cultura comum socialista (pela forma e pelo conteúdo), empregando uma língua comum, quando o proletariado tiver vencido no mundo inteiro e quando o socialismo tiver entrado nos costumes, tal é precisamente a maneira leninista de colocar dialeticamente a questão da cultura nacional.
(STALIN, Questões do Leninismo, 10.ª ed., pgs. .426-428, ed. russa; Dois Balanços, pgs. 75-76, Bureau de Edições, 1930).
Inclusão | 03/07/2019 |