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Tradução: Igor Dias, publicada no site novacultura.info e na primeira edição do livro “Sobre as correntes filosóficas dentro do movimento feminista” (2016).
HTML: Lucas Schweppenstette.
O 8 de março de 2001 é o 91º aniversário do Dia Internacional da Mulher, que foi declarado pela primeira vez em 1910. Neste ano, Clara Zetkin, inspirada pelo movimento das mulheres operárias na América, propôs na Segunda Conferência Internacional da Mulher Operária Socialista que se celebrasse anualmente aquela data. A reunião da Internacional Socialista em Copenhague, Dinamarca, estabeleceu o Dia da Mulher, de caráter internacional, em homenagem ao movimento de luta pelos direitos da mulher e contribuir para a luta pelo sufrágio feminino. A proposta foi aprovada por unanimidade pela conferência com 100 mulheres de 17 países. Nenhuma data foi selecionada oficialmente.
Como resultado desta decisão, o primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 19 de março de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, onde mais de um milhão de mulheres e homens participaram das manifestações. Juntamente ao direito de voto, reivindicaram o direito ao trabalho, à formação profissional e o fim da discriminação no trabalho. A data de 19 de março foi escolhida pelas mulheres alemãs porque, neste dia em 1848, o rei prussiano, diante de um levante armado, teve que prometer algumas reformas, incluso a não cumprida do direito de voto para as mulheres.
Em 1913, a data para o Dia Internacional da Mulher alterado para 8 de março. Isto foi para comemorar dois importantes eventos que ocorreram neste dia. Em 8 de março de 1857, vendedoras de roupas e operárias do setor têxtil da cidade de Nova Iorque organizaram, pela primeira vez, um protesto contra condições desumanas de trabalho, contra as 12 horas de trabalho e os salários baixíssimos. As manifestantes foram atacadas e dispersadas pela polícia. Dois anos depois, em março, estas mulheres formaram seu primeiro sindicato. Novamente, em 8 de março de 1908, 15 mil mulheres marcharam sobre a cidade Nova Iorque reivindicando uma diminuição nas horas de trabalho, melhores salários, direito ao voto e fim do trabalho infantil.
Adotaram o slogan “Pão e Rosas”, com o pão simbolizando a segurança econômica e as rosas melhor qualidade de vida. Em maio daquele ano, o Partido Socialista da América, designou o último domingo de fevereiro em observância do Dia Nacional das Mulheres.
O primeiro Dia Nacional das Mulheres ocorreu por todo os Estados Unidos em 28 de fevereiro de 1909. Em seguida, mulheres da Europa passaram a celebrar o dia das mulheres também no último domingo de fevereiro. Isto ocorreu no cenário em que Clara Zetkin levou adiante a proposta de um Dia Internacional das Mulheres em 1910, na Conferência da Internacional Socialista das Mulheres. Dentro de uma semana das primeiras comemorações em 1911, em 25 de março deste ano, mais de 140 operárias foram mortas no trágico “Triângulo de Fogo” (Triangle Fire) nos Estados Unidos. Esse evento teve um efeito de longo alcance sobre a legislação do trabalho nos EUA e deu para a ideia do Dia Internacional da Mulher um novo impulso.
Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, mulheres russas observaram seu primeiro Dia Internacional da Mulher em 1913. No resto da Europa, em ou por volta do 8 de março do ano seguinte, mulheres realizaram manifestações, tanto para protestar contra a guerra, como para expressar solidariedade com as mulheres oprimidas. O mais famoso Dia Internacional da Mulher Trabalhadora foi em 8 de março de 1917 (24 de fevereiro no antigo calendário russo), com uma greve por “paz e pão” liderada pelas mulheres russas de São Petersburgo. Clara Zetkin e Alexandra Kollontai tomaram parte neste evento. A greve do Dia Internacional da Mulher se fundiu com os distúrbios espalhados por toda a cidade entre 8 e 12 de março. A Revolução de Fevereiro, como passou a ser conhecida, forçou o czar a abdicar.
Na União Soviética, o 8 de março foi declarado feriado nacional e passou a ser acompanhado por celebrações das “heroicas mulheres trabalhadoras”. Desde então, o 8 e março cresceu em sua significância, e suas celebrações ao redor do mundo marcaram uma crescente consciência dos direitos das mulheres. Os grandes avanços alcançados nos direitos das mulheres na URSS, após a revolução socialista, serviram de inspiração para as mulheres de todo o mundo. A Revolução Chinesa mostrou como, mesmo em um dos países mais atrasados do mundo, afundado em valores feudais e pensamentos patriarcais, as mulheres podem ser despertadas para a mudança. Os passos gigantescos feitos pelas mulheres na China socialista foram exemplos vivos para as mulheres do Terceiro Mundo. Particularmente, a Revolução Cultural, e seu consistente ataque no pensamento feudal confucionista, atuou como uma grande fonte para a ulterior emancipação das mulheres na China. A camarada Jiang Qing foi símbolo vivo.
Nos anos 1960 e em meados dos anos 1970, onde se viu um forte aumento democrático nos países capitalistas e poderosos movimentos de libertação nacional no Terceiro Mundo, também testemunhou um rejuvenescimento do movimento de libertação das mulheres. O movimento teve impacto tão grande sobre o mundo que os imperialistas procuram destruí-lo por meio da cooptação e da divisão em vias aceitáveis. Isto obteve um grande resultado, corporações e ONGs financiadas pelo Estado, veementemente atacaram o socialismo e desenvolveram uma forma burguesa de feminismo. O processo de cooptação culminou no reconhecimento oficial pelas Nações Unidas do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, no ano de 1977. Desde então, a maioria das organizações burguesas e reacionárias também aparecem para “celebrar” o 8 de março, castrando seu conteúdo revolucionário e sua grande história de luta, através do qual se originou.
No entanto, o Dia Internacional da Mulher continua a viver entre as mulheres oprimidas do mundo. O revés temporário do movimento comunista e socialista, e a reafirmação do capitalismo/imperialismo, assestou um duro golpe sobre as mulheres. A globalização, e do consumismo desenfreado associado a ela, tem testemunhado a mercantilização em massa de mulheres, em uma escala inédita. A indústria de cosméticos, turismo e a mídia burguesa têm degradado o corpo da mulher como nunca antes na história, sem qualquer respeito por sua individualidade. Isto, juntamente com a pobreza em massa, levou populações inteiras a se voltar para a prostituição como é testemunhado na Europa Oriental, no leste asiático, no Nepal, etc. Em conjunto com isso, a ascensão do fundamentalismo religioso e inúmeras seitas em todo o mundo está empurrando mais uma parte das mulheres de volta para uma situação semelhante à da idade das trevas. Espremidas entre os dois extremos, as mulheres hoje, mais do que nunca, sentem a necessidade de afirmação, de respeito próprio e igualdade com os seus homólogos masculinos. O 8 de março, portanto, tem um significado ainda maior nos dias atuais.
Os revisionistas e os liberais burgueses buscam corroer o espírito de liberdade das mulheres, exibindo “preocupação” dissimulada, agindo como salvadores condescendentes, confinando as mulheres no interior de suas casas. Estes têm compromisso com valores patriarcais, tradições feudais e temem a afirmação e a emancipação da mulher. Estes, é claro, também “comemoram” o dia das mulheres, como rotina, emitindo suas declarações hipócritas regulares. São as forças revolucionárias espalhadas pelo mundo e, mais particularmente, os maoístas, que devem trazer de volta uma vibração viva para o Dia Internacional das Mulher, fazendo deste, mais uma vez, um dia que simbolize a luta das mulheres pela liberdade, respeito próprio, igualdade e emancipação de todos os valores patriarcais e práticas exploradoras. É este o espírito revolucionário que acende uma nova esperança no futuro para as mulheres oprimidas da Índia e de todo o mundo.