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Primeira Edição: L’Ordine Nuovo, 11-18 de Dezembro de 1920;
Tradução: Elita de Medeiros - da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/gramsci/1920/12/split-disorder.htm
HTML: Fernando Araújo.
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As Unidades Social-Comunistas, dos chamados unitaristas, não querem uma divisão no partido porque não desejam arruinar a revolução proletária italiana. Reconhecemos que as Unidades Social-Comunistas representam e personificam todas as tradições mais gloriosas do grande e glorioso Partido Socialista Italiano (que se tornará o Partido Social-Comunista Unitário): gloriosa ignorância, gloriosa e generosa ausência de qualquer escrúpulo na polêmica e de qualquer senso de responsabilidade na política nacional; gloriosa baixa demagogia, gloriosa vaidade e glorioso charlatanismo. Este é o corpus de gloriosas tradições italianas que são incorporadas e representadas pelas Unidades Social-Comunistas.
O Congresso da Internacional Comunista propôs ao Partido Socialista Italiano o problema de se organizar com base na aceitação das deliberações aprovadas pela sua assembleia. Trata-se de romper com os reformistas, o que significa romper com uma pequena parte do próprio corpo, com uma parte que não tem função vital no organismo, que está distante das massas proletárias, que se pode dizer que representa as massas somente quando elas foram desmoralizadas pelos erros, pela incerteza e pelo absenteísmo dos líderes revolucionários.
As Unidades Social-Comunistas não quiseram aceitar as deliberações do II Congresso para não separar os reformistas do partido, e afirmam que não querem separar os reformistas do partido para não separar as massas. Eles mergulharam as massas, tanto do partido quanto das fábricas, no mais escuro caos; puseram em dúvida a justeza do Congresso Internacional, repudiaram a adesão do partido ao congresso (Serrati voltou para a Itália de Moscou da mesma forma que Orlando um dia voltou de Versalhes, para protestar, para dividir a responsabilidade, para salvar a honra e a glória dos italianos); desacreditaram (ou buscaram desacreditar) a mais alta autoridade da classe operária Internacional; espalharam, em um ambiente tão propício para ela quanto o nosso, uma maré pútrida de boatos e insinuações, de covardia e de ceticismo.
E o que conseguiram? Eles dividiram o partido em três, quatro, cinco tendências; nas grandes cidades, dividiram as massas trabalhadoras que tinham se uniram contra o reformismo e os reformistas; eles espalharam muito longe a semente da desordem e decomposição nas fileiras do partido.
Então, o que é essa Unidade, esse unitarismo? Que mal oculto está escondido por esta palavra, que causa discórdia e cisões maiores e mais difundidas, ao mesmo tempo que afirma que quer evitar uma cisão limitada e precisa? É o que tinha que acontecer. Se essa Unidade, esse unitarismo provocou a desordem atual, a verdade deve ser encontrada no fato de que a desordem já existia; essa Unidade ou esse unitarismo não tem outra culpa além de ter aberto violentamente a represa de uma massa cloacal. A verdade é que o Partido Socialista não é uma urbe, é uma horda. Não era um organismo, era uma aglomeração de indivíduos que tinham a quantidade de consciência de classe necessária para se organizar em um sindicato profissional, mas não teve a capacidade e preparação política necessárias para se organizar em um partido revolucionário como é imprescindível ao período da história atual.
A vaidade italiana sempre nos levou a ver que tínhamos um partido socialista único, que não podia e não iria sofrer as mesmas crises que os outros partidos socialistas. O que aconteceu é que, na Itália, a crise foi artificialmente atrasada, estourou precisamente no momento em que teria sido melhor evitá-la, e irrompeu de forma ainda mais violenta e devastadora pela vontade e teimosia daqueles que sempre a negaram e que ainda hoje o negam (Nós somos Unitaristas! Unitaristas que se danem!).
Seria ridículo choramingar sobre o que ocorreu e sobre o que é irremediável. Os comunistas devem raciocinar com frieza e seriedade: se tudo está em desordem, temos que refazer o partido. A partir de hoje é necessário considerar e amar a fração comunista como um partido verdadeiro e atual, como a sólida estrutura do Partido Comunista Italiano, que vai adquirindo seguidores, que os organiza solidamente, educa, forma células ativas da nova organização que se desenvolve e se desenvolverá até que se torne toda a classe operária, até que se torne a alma e a vontade de todos os trabalhadores.
A crise que vivemos hoje é, talvez, a maior crise revolucionária do povo italiano. Para compreender essa verdade, os camaradas devem apresentar esta hipótese: o que teria acontecido se o Partido Socialista tivesse sofrido essa crise no meio da revolução, tendo toda a responsabilidade por um Estado? O que teria acontecido se o governo de um Estado revolucionário tivesse nas mãos homens que lutassem por suas tendências, e que na paixão dessa luta colocaram em dúvida o mais sagrado patrimônio de um trabalhador: a fé na Internacional e na capacidade e lealdade dos homens que ocupavam seus mais altos cargos? Teria acontecido o que houve na Hungria: as massas o abandonariam, a energia revolucionária relaxaria, e a contrarrevolução venceria rapidamente.
A mania do charlatão unitarista, hoje, só causou desordem em um partido. Para o amanhã, eles causarão a queda da revolução. Por esta razão, eles prejudicaram a classe trabalhadora e reforçaram a reação. O mal não é decisivo; homens de boa vontade ainda têm um campo ilimitado para colher e tornar frutífero.