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Escrito em: 1921
1ª Edição: “L’Ordine Nuovo” de 05 de outubro de 1921.
Origem da presente transcrição: Aritz, setembro de 2000, MIA em Espanhol.
O Partido Socialista se apresenta no congresso de Milão com 80.000 inscritos. Pode ser útil um pequeno raciocínio sobre os números, mas que qualquer raciocínio teórico, para se ter uma exata compreensão da natureza e das atuais funções do Partido Socialista Italiano.
Desde o congresso de Liorna, o partido socialista se acha integrado por 98.000 comunistas unitários e 14.000 reformistas, quer dizer, 112.000 inscritos.
Depois de Liorna entraram no partido pelo menos 15.000 novos membros; sim hoje os inscritos são 80.000 quer dizer que dos 112.000 que votaram em Liorna, 47.000 deixaram o partido; os 65.000 restantes com os 15.000 novos constituem os atuais efetivos 80.000.
No congresso de Liorna os comunistas unitários eram 98.000; a atual fração maximalista unitária continuadora daquela comunista unitária terá no Conselho de Milão de 45 a 50.000 votos; está claro que dos 47.000 que saíram do Partido Socialistas depois de Liorna são em quase sua totalidade comunistas unitários.
A qualidade dos atuais 80.000 inscritos pode ser compreendida através deste pequeno raciocínio.O partido socialista administra atualmente cerca de 2.000 comunas e 10.000 entre ligas, câmaras de trabalho, cooperativas e mutualidades.
Se se leva em conta as minorias que vivem em comunas e dos conselhos provincianos, é lícito calcular uma média de 16 conselheiros para 2.000 comunas administradas em maioria.
Isto é, resulta que num partido de 80.000 inscritos conta com 32.000 conselheiros comunais.
Para as 10.000 organizações econômicas não é exagerado calcular (também levando em conta os cargos múltiplos) três funcionários inscritos para cada uma; teremos assim um partido de 80.000 inscritos, que além dos 32.000 conselheiros, terá bem 30.000 funcionários de ligas, cooperativas e mutualidades.
Desse modo, de 80.000 inscritos, 62.000 são membros estritamente ligados a uma posição econômica ou política, sobrando somente 18.000 membros desinteressados.
Está composição explica suficientemente o que ocorre com o Partido Socialista, ainda que não represente as aspirações e os sentimentos das massas trabalhadoras, que continua aparentemente sendo um partido de massas. A história está repleta de fenômenos similares.
O reino dos Borbones em Nápoles era o “negócio dos deuses” até 1848; não distante resistiu até 1860 por que teria um corpo de funcionários entre os melhores da Itália;
De 1848 a 1860, o estado bodbonico foi uma pura e simples organização de funcionários, sem consenso em nenhuma classe da população, sem vida interior, sem histórico que justificasse sua existência.
O Império do Zar havia demonstrado em 1905 estar morto e podre historicamente; teria contra si o proletário industrial, os camponeses, a pequena burguesia intelectual, os comerciantes, a enorme maioria da população.
De 1905 a 1917, o Império de Zar viveu somente porque tinha uma burocracia formidável, vivia somente com organização de funcionários estatais, sem conteúdo ético, sem uma missão de progresso civil que justificara a existência.
O estado da Austria-Hungria é o terceiro exemplo, e possivelmente é o mais educativo, que a história oferece. Estava dividido em raças inimigas entre si, como hoje são inimigas entre si as diversas tendências do Partido Socialista, porém continuava vivendo, alicerçado unitariamente por uma só classe de cidadãos, a casta dos funcionários.
Na política, internacional, o estado dos Borbones, o Império de Zar, o Império dos Habsburgo representavam, todavia toda a população e pretendiam expressar sua vontade e sentimentos.
Também hoje o Partido Socialista, organização de 62.000 funcionários na classe trabalhadora, pretende expressar sua vontade e seus sentimentos.
Está composição do partido Socialista justifica nosso ceticismo sobre o resultado do Congresso de Milão. Somente entre 18.000 membros desinteressados é possível que haja surgido uma discussão política; os outros 62.000 falavam só do ponto de vista de seu emprego ou seu cargo.
Uma cisão à direita porá em perigo a maioria dos conselheiros municipais, uma cisão entre os funcionários sindicais, de cooperativas ou de mutualidades porá em perigo a situação de cada um; os 62.000 são, por tanto, unitários até o fundo, até na extrema vergonha.
Por tanto, acreditávamos estar destinado ao fracasso à intenção de Masffi, Lazzari, Riboldi para uma aproximação com a internacional comunista; Os três podem influenciar somente em 18.000 dos 82.000 inscritos no partido Socialista; na melhor das hipóteses poderiam arrancar deste partido 10.000 membros, já a nova cisão não teria nenhuma importância política.
A verdade é que o partido socialista está morto e podre; um partido operário que de 80.000 membros tem 62.000 funcionários é somente uma excrescência morbosa da coletividade nacional.
O fenômeno é, sem embargo, rico em ensinamentos para os militantes comunistas; si é certo que o Partido Socialista, ainda que morto como consciência política do proletário, segue vivendo como aparato organizativo das grandes massas, ele indica a importância considerável que na civilização moderna tem os “funcionários”.
Para o Partido Comunista, o problema de se converter no partido das grandes massas e, por conseguinte, partido do governo revolucionário, não consiste somente em resolver a questão de interpretar fielmente as aspirações populares, significa também resolver a questão de substituir os funcionários contra revolucionários por funcionários comunistas; significa por conseqüência, criar um corpo de funcionários comunistas, que sem impedimento, a diferença dos socialistas, sejam extremamente disciplinados e subordinados ao Congresso e ao Comitê Central do Partido.
Desta verdade, pouco simpática aparentemente, devemos convencer nossos jovens; a realidade é como é, algo rebelde, e deve ser dominado com os meios adequados, ainda que pareçamos pouco revolucionários e pouco simpáticos.