O que aprendemos e o que ensinamos

Ernesto Che Guevara

1 de janeiro de 1959


Fonte: https://www.marxists.org/espanol/guevara/59-apren.htm

Tradução: Wallid Abuchahin

HTML: Fernando Araújo.

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No mês de dezembro, mês do Segundo Aniversário do desembarque de “Granma”, vale a pena dar uma olhada retrospectiva aos anos de luta armada e a longa luta revolucionária cujo fermento inicial é dado pelo 10 de Março, com o motim bastiniano, e seu primeiro degrau em 26 de Julho em 1953, com a trágica batalha do Moncada.

Longo tem sido o caminho e cheio de penúrias e contradições. É que no curso de todo processo revolucionário, quanto este é dirigido honestamente e não é freado desde postos de responsabilidade, há uma série de interações recíprocas entre os dirigentes e a massa revolucionária. O Movimento 26 de Julho, tem sofrido também a ação desta lei histórica. Do grupo de jovens entusiastas que assaltaram o Quartel Moncada na madrugada de 26 de Julho de 1953, aos atuais diretores do movimento, sendo muitos deles os mesmos, há um abismo. Os cinco anos de luta frontal, dois dos quais são de uma franca guerra, tem moldado o espírito revolucionário de todos nós nos choques cotidianos com a realidade e com a sabedoria instintiva do povo. De fato, nosso contato com as massas camponesas ensinou-nos a grande injustiça que constitui o atual regime de propriedade agrária, nos convenceram da justiça de uma mudança fundamental desse regime de propriedade; nos ilustraram na prática diária sobre a capacidade de abnegação do campesinato cubano, sobre sua nobreza e lealdade sem limites. Mas nós ensinamos também; ensinamos a perder o medo à repressão inimiga, ensinamos a superioridade das armas populares sobre o batalhão mercenário, ensinamos, enfim, a nunca suficientemente repetida máxima popular: “a união faz a força”.

E o camponês avisado sobre sua força impôs ao Movimento, sua vanguarda combativa, a proposta de reivindicações que foram fazendo-se mais conscientemente audaciosas até moldar-se na Lei nº 3 da Reforma Agrária da Sierra Maestra recentemente emitida.

Essa Lei é hoje nosso orgulho, nosso estandarte de combate, nossa razão enquanto organização revolucionária. Mas nem sempre foram assim nossas exposições sociais; cercados em nosso reduto da Sierra, sem conexões vitais com a massa do povo, uma vez acreditamos que podíamos impor a razão de nossas armas com mais força de convencimento do que a razão de nossas ideias. Por isso tivemos nosso 9 de Abril, data de triste lembrança que representa no social o que a Alegría de Pío, nossa única derrota no campo bélico, significou no desenvolvimento da luta armada. De Alegría de Pío extraímos o aprendizado revolucionário necessário para não perder mais nenhuma batalha; de 9 de Abril aprendemos também que a estratégia da luta de massas responde às leis definidas que não se podem burlar nem torcer. A lição está claramente aprendida. Ao trabalho das massas camponesas, as que temos unido sem distinção de bandeiras na luta pela posse da terra, somamos hoje a exposição de reivindicações operárias que unem à massa proletária sob uma só bandeira de luta, a Frente Operária Nacional Unificada (FONU - Frente Obrero Nacional Unificado), com uma só meta tática próxima: a greve geral revolucionária.

Isto não significa o uso de táticas demagógicas como expressão de habilidade política; não investigamos o sentimento das massas como uma simples curiosidade científica, respondemos ao seu chamado, porque nós, vanguarda combativa dos operários e camponeses que derramam seu sangue nas serras e planícies de Cuba, não somos elementos isolados da massa popular, somos a mesma parte do povo. Nossa função diretiva não nos isola, nos obriga. Mas nossa condição de Movimento de todas as classes de Cuba, nos faz lutar também pelos profissionais e pequenos comerciantes que aspiram viver em um marco de leis decorosas; pelo industrial cubano, cujo esforço engrandece a Nação criando fontes de trabalho, por todo homem de bem que quer ver Cuba sem seu luto diário destas jornadas de dor. Hoje, mais que nunca, o Movimento 26 de Julho, ligado aos mais altos interesses da nação cubana, luta, sem vacilar mas sem ceder, pelos operários e camponeses, pelos profissionais e pequenos comerciantes, pelos industriais nacionais, pela democracia e liberdade, pelo direito de sermos filhos livres de um povo livre porque o pão de cada dia há de ser a medida exata de nosso esforço cotidiano.

Neste segundo aniversário, mudamos a formulação de nosso juramento. Já não seremos “livres ou mártires”: seremos livres, livres pela ação de todo o povo de Cuba que está rompendo cadeia a cadeia com o sangue e o sofrimento de seus melhores filhos.


Inclusão: 25/04/2023