Mulheres Anamês e a Dominação Francesa

Ho Chi Minh

1 de Agosto de 1922


Primeira Edição: La Paria – 01 de agosto de 1922

Fonte: HO CHI MINH ON REVOLUTION, Selected Writings, 1920-66 Edited and with an introduction by Bernard B. Fall, pág. 62-62.

Tradução: Samuel Melo

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Colonização por si só é um ato de violência contra o mais fraco. Esta violência se torna ainda mais odiosa quando exercida sobre mulheres e crianças.

É irônico descobrir que a civilização — simbolizada em suas várias formas, como por exemplo, liberdade, justiça etc., pela imagem delicada da mulher e dirigida por homens bem conhecidos por serem campeões de galanteria — inflige ao seu emblema vivo o mais desprezível tratamento e a aflige vergonhosamente em suas maneiras, sua modéstia e até sua vida.

O sadismo colonial é inacreditavelmente generalizado e cruel, mas nós devemos nos conter aqui para relembrar alguns exemplos vistos e descritos por testemunhas sem suspeita de parcialidade. Estes fatos permitirão que nossas irmãs ocidentais percebam a natureza da "missão civilizatória" do capitalismo e os sofrimentos das suas irmãs nas colônias.

"Na chagada dos soldados", relata um colono, "a população fugiu; permaneceram apenas dois homens e duas mulheres: uma solteira e uma mãe amamentando um bebê e segurando uma menina de oito anos pela mão. Os soldados pediram dinheiro, álcool e ópio.

"Como não conseguiam se fazer entender, ficaram furiosos e derrubaram um dos idosos a coronhadas de espingarda. Depois, dois deles, que já estavam bêbados quando chegaram, se divertiram por muitas horas "assando" o outro idoso numa fogueira. Enquanto isso, os outros estupraram as duas mulheres e a menina de oito anos. Então, cansados, mataram a menina. A mãe, então, conseguiu escapar com seu bebê, a cerca de 100 metros de distância, escondida em uma moita, assistiu sua companheira ser torturada. Ela não sabia por que o assassinato foi perpetrado, mas ela viu a jovem garota deitada de costas, amarrada e amordaçada e um dos homens, vagarosamente, enfiar muitas vezes a baioneta em seu estomago e, muito lentamente, retirá-la novamente. Então ele cortou o dedo da garota morta para pegar seu anel e sua cabeça para roubar seu colar.

"Os três cadáveres ficaram no chão de um antigo sapal: a menina de oito anos nua, a garota estripada, seu antebraço esquerdo enrijecido, levantado um punho cerrado ao céu indiferente, e o idoso, horrível, nu como as outras, desfigurado pelo fogo com sua gordura correndo, derretida e grudada à pele de sua barriga, que estava inchada, grelhada e dourada, como a pele de um porco assado"


Inclusão 01/10/2019