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Primeira Edição: .....
Fonte: Edições Manoel Lisboa
Transcrição: Rafael Freire.
HTML de: Fernando A. S. Araújo, Outubro 2008.
A educação dos quadros não é um trabalho simples; para conduzi-la com êxito, é necessário conhece-la bem. Agora vou responder sucessivamente às vossas perguntas:
1 — A quanto se elevou o número de quadros que nossas organizações educaram?
Não sabemos exatamente o número, mas podemos ainda assim fazer um cálculo aproximado: os relatórios da juventude da 5ª zona assinalam que foram abertos 2.713 cursos de educação. Esta cifra parece muito “cientifica” para que possamos nela crer inteiramente. Então, nós podemos desprezar 713 e tomar somente 2.000 cursos. Quanto às outras organizações, na mesma zona, (operários, camponeses, mulheres, etc.) elas puderam abrir 3.000. Assim somente para a 5ª Zona, cuja população é rarefeita, podemos já organizar 5.000 cursos. Suponhamos que cada curso comporte 10 pessoas, o número total de indivíduos recebendo uma formação de quadros em todo o setor elevar-se-ia a 50.000. No Nam Bo, nas 3ª e 4ª Zonas, e no Viet Bac, a população é mais densa e em certas localidades o trabalho de educação pôde se realizar de maneira mais intensa. SE nós tomarmos uma média de 50.000 pessoas ou seja 250.000 quadros. E no entanto queixa-se da falta de quadros! E por que isto? Porque o trabalho de educação se faz mais pela forma do que pelo fundo: prende-se a quantidade sem fazer o trabalho de massas realista e conscienciosa.
2 — Quem devemos nós formar?
Nós devemos formar:
Tomemos primeiro os quadros, porque “os quadros formam o capital das organizações populares”.
É preciso ter um capital para poder fazê-lo frutificar. Para a aplicação de uma política, para a execução de um trabalho, com bons quadros, chega-se ao sucesso, isto é a rentabilidade. Sem bons quadros, o trabalho fracassa, ou dito de outra maneira, há perda de fundos.
3 — Quem deve educar?
Não se deve dizer que não importa quem faça o trabalho de educação. Para preparar ferreiro ou ajustadores, o educador deve ser realmente versado no oficio de ferreiro ou ajustador. O educador nas organizações populares deve ser um modelo sob todos os pontos de vista: ideologia, moralidade, método de trabalho.
O educador deve sempre [aprender] mais para poder assegurar sua tarefa. Lênin nos exortou a:
“Aprender, aprender e ainda aprender sempre”.
Cada um de nós deve se lembrar deste conselho e pô-lo em pratica, o educador mais que qualquer outro. O educador que pretende tudo saber é o ultimo dos ignorantes. A palavra de ordem: “Instruir-se, instruir-se ainda, ensinar, ensinar ainda” afixada nas salas de reunião, vem de Confúcio. Confúcio era um feudal e em sua doutrina, há muitas coisas que não são justas, mas nós podemos tirar proveito dos bons ensinamentos que ele encerra.
“Somente os revolucionários autênticos sabem aproveitar o precioso legado das gerações passadas”, disse-nos Lênin.
4 — O que é preciso ensinar para a formação dos quadros?
a) Pela teoria. É preciso inculcar em todos a teoria marxista-leninista. Mas, não adianta nada conhecer a teoria sem aplicá-la. Não se aprende a teoria para falar dela. Conhecer a teoria sem aplicá-la, é cair na teoria oca. Aprende-se a teoria aplicando-a em nossas ações. Agir sem nada conhecer de teoria é marchar as apalpedalas na noite, lenta e inseguramente. A teoria ajuda a compreender tudo o que se passa na sociedade, no movimento, o que nos permite tomar medidas justas e aplicá-las corretamente.
b) Para o trabalho prático. Além da teoria é preciso ensinar o trabalho prático. Por exemplo, para a mobilização geral, para a emulação patriótica, para o recolhimento do imposto do arroz em casca, etc, é preciso saber como explicar claramente a população, como mobiliza-la no plano moral, como organizar o trabalho. Por nossos recentes sucessos diplomáticos, há ocasião de examinar sua influência sobre nós, sobre o inimigo, sobre a situação interior do país, sobre a situação internacional, examinar o que é preciso fazer para explorar a fundo a influencia destes sucessos. Convém ensinar tudo isto a nossos quadros e a nossos camaradas.
c) Pela cultura. Dar uma cultura geral aos camaradas que não a têm, para ajudá-los a progredir em matéria de teoria e trabalho.
d) Pela qualificação profissional. Cada um deve saber exercer uma profissão para viver. Os quadros que dirigem um ramo de atividade devem ter a qualificação profissional requerida. Assim, os camaradas diretores das estradas de ferro devem ser qualificados na técnica ferroviária. Não é senão com esta condição que eles podem garantir uma direção eficiente.
5 — Como educar os quadros?
a) É preciso ser realista e consciencioso de preferência a correr atrás da quantidade.
O essencial é fazer compreender a fundo a matéria pelos que a estudam. Mas há várias maneiras de compreender a fundo: pode-se fazer compreender a fundo entrando em todos os detalhes, mas isto exige muito tempo. Em compensação, pode-se também ensinar de uma maneira geral e igualmente fazer compreender o assunto, a fundo. Assim, para ensinar a alguém o que um elefante, pode-se descrever minuciosamente seu esqueleto, sua dentição, seu modo de existência, indica a duração de sua vida, etc. Entretanto, se não se pode ainda ensinar estes detalhes, pode-se sempre fazer compreender o que é um elefante descrevendo-se sumariamente: sua altura – três a quatro vezes a de um búfalo, suas patas — tão volumosas como os pilares de uma casa, suas orelhas — como dois leques, sua cabeça — com uma tromba e duas presas, etc... De tal sorte que os alunos não confundam um elefante com um camarão, um gato ou um boi. Melhor ainda,quando eles ouvirem falar de caça ou captura do elefante, eles não possam imaginar erroneamente que se possam servir de anzóis para pescá-lo ou de junco ou de varas para abater a fera. Desta maneira, eles podem utilizar mais ou menos o seu saber em seu trabalho. Pelo contrario, se com o pouco tempo disponível e com um nível cultural ainda baixo, nos alongarmos sobre o estudo das presas de marfim, os alunos, chegados a casa, confundirão o elefante com o marfim, o que não será de nenhuma utilidade.
b) É necessário assegurar a educação de alto a baixo. Os comitês de educação dos quadros não devem ser muito ambiciosos. Eles educam os quadros de um nível inferior que, por sua vez, se encarregarão de ensinar os quadros de um nível mais baixo. O Comitê central forma quadros para as zonas e as províncias; estes asseguram em seguida a educação dos quadros de distrito e de aldeia. Far-se-á assim uma economia de força e de tempo e colocar-se-á melhor ao alcance dos camaradas do nível imediatamente inferior. Todavia uma educação empreendida desta maneira deve ser conduzida muito conscienciosamente. É necessário evitar o “deixa pra lá”; se a negligência reina num nível superior, quanto mais descermos para os níveis inferiores, veremos que os erros se acentuarão.
c) Ligar estreitamente a teoria com o trabalho prático. O Comitê central fornece as diretrizes referentes as medidas a tomar no painel da política do partido. O comitê de educação deve explicar estas medidas por uma documentação concreta tomada da situação real e da experiência prática. Não será senão desta maneira que a teoria não estará dissociada da realidade concreta.
d) A formação deve visar as necessidades reais. O comitê de educação deve se por em contato estreito com os organismos de propaganda, de agitação e de poder. A formação dos quadros tem por fim essencial fornecer aos diversos ramos: organizações populares, Frente Nacional Unida, Serviços Públicos e Exército, estes elementos. Aqueles ramos consomem. O comitê de educação fabrica. O fabricante deve satisfazer as exigências do consumidor. Se fabricarmos bules de chá em quantidade quando quase todos os pedidos são de veículos, ninguém comprará os primeiros.
e) A formação dos quadros deve dar toda a importância necessária à transformação ideológica. É preciso compreender bem os alunos para poder desenvolver suas aptidões e eliminar seus defeitos. É preciso ensinar e inventar. Ensinar é fazer aprender, forjar é desembaraçar o cérebro de seus vícios. Por exemplo: atualmente os nossos quadros são afligidos por um defeito grave: o orgulho e a insolência. É preciso extirpá-lo a qualquer preço. Senão o saber adquirido pelo estudo seria até nefasto. É por orgulho e presunção que os quadros ambicionam as altas funções. Exemplo: um quadro servindo no nível zona se queixará e se desencorajará se a organização transferi-lo para o nível província. Ele considera esta transferência indigna de suas capacidades que deveriam normalmente lhe valer um posto mais elevado! Esta inclinação para os altos postos deve ser extirpada. É necessário fazer todo trabalho útil a revolução, ao Partido: não existe trabalho nobre nem trabalho vil.
6- Documentação a utilizar.
a) Em primeiro lugar, é preciso tomar os textos do marxismo-leninismo como documentos de base. Entretanto, deve-se fazer uma escolha e re-classificar os textos porque há diferenças de nível entre alunos, e, para cada categoria, é preciso documentos adequados. É inútil estudar textos que não convém. Uma vez, ao regressar de uma reunião, encontrei um grupo de jovens e de mulheres sentados, no campo, descansando, no alto de uma ladeira. Como eu perguntasse sobre seu deslocamento, eles informaram-me que voltavam de um curso de formação de quadros, embora estivéssemos em pleno período dos trabalhos da colheita; eles tinham se esforçado para terminar seus afazeres a fim de poder ir seguir o curso, tendo cada um levado uma provisão de arroz para dez dias. E eu insisti:
— Tiveram prazer em seguir este curso?
— Muito prazer.
— E o que estudaram?
— Carlos Marx.
— Compreenderam alguma coisa?
Eles mostraram-se perturbados.
— Não.
Assim, eles tinham perdido seu tempo e seus víveres.
b) Além dos documentos sobre o marxismo-leninismo, há também os documentos tirados da pratica. Trata-se dos efeitos de experiências trazidos pelos próprios ouvintes, experiências de sucessos como experiências de fracassos. O intercambio destas experiências lhes dar preciosos ensinamentos. Não é necessário, para que haja uma lição a aprender, que um camarada de um escalão superior venha fazer uma palestra. O intercambio e o acumulo de experiências vividas devem ser cuidadosamente organizados, eles não devem ser uma ocasião para alguém fazer a própria promoção.
c) As instruções, as resoluções, as leis, as ordens da Organização e do Governo são documentos dignos de estudo.
O aprendizado na escola da Organização não se assemelha ao aprendizado nas escolas do tipo antigo onde se estudava somente na presença do mestre e se divertia durante sua ausência. É necessário se tomar a iniciativa de estudar por si próprio.
Também deve-se perguntar:
1. Por que estudar?
a) Estudar para se corrigir ideologicamente: entregar-se à revolução com ardor, é elogiável. Mas enquanto não se tem ainda idéias exatamente revolucionárias, é necessário estudar, para retificar. É somente quando a ideologia é justa que a ação é isenta de erro e que se pode levar em bom termo sua tarefa revolucionária.
b) Estudar para cultivar a moral revolucionária: é necessário possuir as virtudes revolucionárias, saber devotar-se ate o sacrifício pela revolução, para poder dirigir as massas e conduzir a revolução à vitória.
c) Estudar para ter confiança: confiança na Organização, no povo, no futuro da nação, no futuro da revolução.
É preciso ter fé para se mostrar firme e ardente na ação, resoluto em todos os sacrifícios diante das dificuldades.
d) Estudar para agir: o estudo e a ação devem-se acompanhar. Não há estudo útil sem ação. Não há ação que tenha bom êxito sem estudo.
2. Onde estudar?
Aprender na escola, nos livros, aprender uns com os outros, junto das massas. Seria uma grande falha não aprender junto das massas. Eis uma história muito interessante a este propósito. A heroína dela é uma camarada Thai, originária de Son La. Quando ela estava com 15 ou 16 anos, os quadros da Revolução tinham lhe confiado uma tarefa no trabalho de propaganda, mas ela apenas repetia o que eles lhe diziam e não compreendia muita coisa. Um ano mais tarde, o inimigo ocupou Son La. A população e os quadros de Son La se refugiaram em Hoa Binh. Ai a população local lhes mostrou seu desprezo acusando-os de ter medo do inimigo, o que os determinou a ingressar a seus lares reconquistando suas aldeias. No caminho de volta, se defrontaram com toda espécie de dificuldades e tiveram de suportar numerosos sofrimento, mas sempre continuavam amigos e se auxiliavam reciprocamente. Aconteceu um dia que um camarada caiu doente, a seção fez tudo por ela inclusive lava sua roupa. Os quadros se devotavam para ajudar a população em todas as suas ocupações e assim ganharam sua estima. Assim restabeleceu-se a união da população com os quadros. As bases foram reconstituídas. Os quadros viviam misturados com a população e conseguiram, pouco a pouco, reorganizar a produção e a luta armada. Um dia, quatro milicianos chegaram na aldeia: as aldeãs, faceiramente ataviadas, lhes serviram bebidas alcoólicas que continha um narcótico, os milicianos, tendo ingerido a beberagem, caíram entorpecidos. As mulheres então chamaram os guerrilheiros que vieram despojá-los de suas armas. Ao recuperarem o conhecimento e vendo que haviam perdido seus fuzis os soldados fugiram. Prevendo represálias, os quadros discutiram com a população sobre os meios de esconder o arroz em casca e os outros bens na floresta. Mas eles não ousaram ainda aconselhar a técnica da “terra queimada”. Foram justamente os velhos da aldeia que primeiro sugeriram a idéia de queimar as casas a fim de que o inimigo não encontrasse nada para se abrigar quando chegasse na aldeia. Esta idéia foi aprovado por todos. Quando o inimigo chegou, suas próprias armas (tomadas aos milicianos) serviram para que os habitantes pudessem resistir e repelir os assaltantes. Desde então, a população está cheia de confiança em suas próprias focas e nos quadros, e o movimento cresce dia a dia.
A camarada Thai, que este ano completou vinte anos e ainda tem pouca instrução, contou esta estória de maneira muito clara e dela tirou uma conclusão bastante marxista em três pontos:
Isto significa que?
Quando unidos os quadros levam a bom termo tudo o que tiveram de fazer.
Os quadros devem se fazer benquistos pelo povo, ganhar sua confiança e sua estima.
Os quadros devem se manter junto das massas e aprender ao redor delas.
O defeito geral é que se visa muito à quantidade e não se faz o trabalho de maneira conscienciosa. Esquece-se de que “mais vale boa qualidade do que grande quantidade”. Isto é particularmente visível na organização dos cursos de formação de quadros.
1) O efetivo das classes é muito elevado. Daí resultados limitados tanto do lado dos instrutores como do lado dos alunos, porque suas diferenças quanto ao nível teórico os impedem de ter a mesma capacidade de assimilação. O programa não responde as necessidades reais pelo fato de que os alunos são quadros ocupados em tarefas de nível diferentes.
2) Abrem-se cursos um pouco aleatoriamente. Na hora atual, grassa uma epidemia de abertura de escolas. Por exemplo, ao lado da escola de Organização. Há aquelas de ação popular, camponesa, feminina, operaria e aquela de ação junto aos jovens. Desde que não importa qual escola da Organização deve ensinar a ação popular. Por que abrir outras com o mesmo fim? Em razão do grande numero de cursos, chega-se a ter falta de instrutores, o que desencoraja os alunos. Por falta de instrutores, obriga-se os existentes aos “trabalhos forçados”, o que faz com que eles estejam sempre apressados e sejam obrigados a passar logo de uma classe para outra “como libélulas tocando a água com suas patas”. Seus ensinamentos não respondem as exigências da situação. Quando se tem falta de instrutores, é necessário “tapar os buracos” e o “tapas buracos” não está a altura de sua tarefa, ele comete erros, o que prejudica aos alunos, isto é a Organização.
Finalmente desperdiça-se arroz e aprende-se ao “vai levando”.
Então como fazer?
É necessário racionalizar a formação dos quadros isto é:
Ao abrir-se um curso, é necessário que ele tenha as condições requeridas.
É preciso que não se abram cursos aleatoriamente.
Eu não falo exclusivamente dos cursos. A imprensa deve ser igualmente racionalizada. Nada de muitas folhas. Fazer pouco mais com seriedade. Se não se racionalizar, a imprensa fornecerá artigos que não acham leitores e que custam muito caro. A organização paga somas enormes enquanto os jornalistas se divertem a fazer pastiches que não interessam a ninguém.
Eis em resumo, o que eu tenho a dizer-lhes.
Inclusão | 16/10/2008 |