Uma Unida Família Combativa

M. I. Kalinin

4 de Agosto de 1943


Primeira Edição: Intervenção na entrevista celebrada com os Agitadores que realizam seu trabalho na Frente entre os soldados de nacionalidades não russas. "Sobre o trabalho de massas do Partido”, págs. 27-31, Edições Políticas do Estado, 1943.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 218-224.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos. Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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Camaradas: Constitui grande prazer para mim encontrar-me com os agitadores do Exército Vermelho, representantes de quase todas as nacionalidades da URSS que participam da Grande Guerra Patriótica.

Esta contenda é dura e sangrenta. Ao cabo de mais de dois anos de guerra são muitas as famílias que sofreram a perda de seus entes queridos. Mas não temos outro remédio senão lutar. A questão está colocada da seguinte maneira: ou vamos limpar as botas dos fascistas, converter-nos em seus escravos e morremos, ou lutamos por nossa liberdade e independência.

Quando os fascistas alemães começaram esta guerra, não nos consideravam como seres humanos e nos tachavam de animais, de bestas submissas. Era assim que pensavam antes. Mas agora, depois dos golpes que lhes assestamos, os fascistas começam a dar-se conta, cada vez com mais clareza, do que representa a União Soviética. Antes acreditavam que todos os nossos combatentes eram russos, mas agora viram que nossos soldados, e sobretudo bons soldados, não são apenas russos, mas também turcomanos, kazaks, uzbeks, azerbaidjanos, etc., etc. Antes os alemães imaginavam que os ucranianos e os bielorrussos os receberiam de braços abertos e se levantariam contra os russos. Nem sequer levavam em consideração as demais nacionalidades.

A guerra demonstrou que a União Soviética é uma família unida de povos que vivem em harmonia e que esta união é duma solidez sem precedentes no mundo. Naturalmente, há exceções, mas estas são insignificantes. Algumas pessoas aceitam servir aos alemães na qualidade de prefeitos ou de outra coisa, mas são casos isolados e não têm nenhuma importância para um país tão vasto como o nosso. Os soldados de todas as nacionalidades representadas no Exército Vermelho defendem sua pátria com abnegação, lutam maravilhosamente e dão provas de enorme valor e heroísmo. E isto nossos inimigos não esperavam.

Todos combatem em nosso país. Sob o regime tzarista, os azerbaidjanos e os povos da Ásia Central — turcomanos, uzbeks, kazaks, quirguizes e outros — não combatiam porque não eram chamados às fileiras. O governo tzarista não confiava neles e não lhes queria ensinar o manejo das armas. Sabeis que, se de uma parte a guerra exige grandes sacrifícios dos povos, de outra, ela permite à população masculina aprender bem o manejo das armas. E um povo que saiba manejar as armas não se deixará pisotear. Por isso o governo tzarista não admitia no exército os representantes dessas nacionalidades, com exceção dum pequeno grupo de kulaks e nobres, os quais, na realidade, eram agentes do governo tzarista e executores de sua política.

O Governo Soviético não tem por que tratar assim os povos que habitam nosso território. Aqui todos os povos gozam de iguais direitos. E todos os povos da União Soviética, inclusive os que antes eram considerados como muito atrasados, hoje tomam parte na guerra, sem falar dos georgianos, armênios e tártaros, que também durante o regime tzarista participavam das guerras.

Compreende-se que não era fácil tarefa ensinar a arte da guerra, o manejo das armas e a vida militar à população das Repúblicas e regiões nacionais. Somente o Poder Soviético podia realizá-la com êxito.

Dizemos com frequência que somos internacionalistas, mas nem todos compreendem o que isto significa. Alguns pensam que chamar-se internacionalista significa não se considerar nem russo, nem uzbek, nem kazak. Isto é um absurdo. Ser internacionalista significa respeitar todas as nacionalidades. Nem mais nem menos. Nosso mestre na questão nacional é o camarada Stálin, que já faz muitos anos orienta nossa política nacional. Antes da Revolução já era o conselheiro de Lênin neste problema. O camarada Stálin nos ensina a respeitar todas as nacionalidades. Pois, bem, se alguém respeita todas as nacionalidades, esses alguém é internacionalista; mas se alguém é russo, por exemplo, e considera que só o que é russo é bom, então se trata de um chauvinista e não de um internacionalista, trata-se de um homem de curto alcance, que não vê mais longe do que o seu nariz. A política nacional stalinista permitiu pôr de pé todos os povos de nosso país para que participem da Guerra Patriótica, a política stalinista converte todos os nossos povos em heróis e abre um amplo caminho para todos os homens de talento de nosso país.

Com efeito, se um homem soviético, seja qual for sua nacionalidade, é dotado de talento, irá escalando posições cada vez mais altas. Sabeis de quantos oficiais magnificamente preparados e de todas as nacionalidades dispõe hoje o Exército Vermelho. Hoje são tenentes ou jovens coronéis, mas no fim de certo tempo chegarão a ser generais e marechais. Em nosso país não é a nacionalidade que determina as promoções, mas a inteligência e o valor. Um homem que não tenha inteligência e seja um mau combatente não será promovido, mas se uma pessoa — soldado ou oficial — tem talento, inteligência e conhece bem seu ofício, essa pessoa escalará elevados postos, seja qual for sua nacionalidade. Nosso Alto Comando apega-se firmemente a este princípio. Ninguém poderá afirmar que o camarada Stálin dá preferência a este ou aquele povo. Para todos ele é um pai: premia e exige responsabilidades de todos por igual, segundo seu merecimento, e destaca os homens de talento de qualquer nacionalidade.

Referir-me-ei a outra questão importante: o aprendizado do russo pelos soldados de outras nacionalidades. Isto é muito necessário. O idioma russo é indispensável no Exército. Todos os regulamentos militares estão redigidos em russo, em russo são escritas todas as ordens de batalha e em russo são dadas as vozes de comando. O idioma russo serve para relacionar entre si todos os povos da URSS. O idioma russo é o idioma de Lênin. É neste idioma que nosso chefe, o camarada Stálin, se dirige a todos os homens soviéticos, ao Exército Vermelho.

Nos primeiros tempos, o conhecimento do idioma russo pelos soldados de outras nacionalidades naturalmente será muito limitado e é claro que continuarão pensando no idioma materno. Por isso, se quereis transmitir aos soldados algo que lhes chegue até a alma, fazei-o em sua língua materna e então vossos ouvintes se compenetrarão melhor do que lhes disserdes. O idioma materno chegará à sua consciência e lhes transmitirá todos os matizes de vosso pensamento. Portanto, o estudar o idioma russo não dispensa o agitador da obrigação de empregar o idioma dos soldados de diferentes nacionalidades, no seu trabalho entre eles. Estudai o russo, mas, sobretudo, no princípio, deveis utilizar o idioma materno do soldado para abrir caminho até seu coração. E é muito justo que em nosso exército se escolha agitadores da mesma nacionalidade que a dos soldados entre os quais devem trabalhar.

Durante a guerra, todos os povos de nosso país desenvolveram-se consideravelmente. Foi relatado aqui que os uzbeks vos perguntam como vai em sua terra o cultivo do algodão. Mas hoje, para o Uzbekistão, o algodão já não é o mais importante. Seu papel primordial não ficou limitado à agricultura. Hoje, em dia o Uzbekistão possui uma enorme indústria. Durante a guerra foram transferidas para essa República numerosas fábricas, abriram-se minas de carvão e foram postas a funcionar novas centrais hidrelétricas. E hoje já não se pode dizer que a República da Uzbékia seja famosa somente por suas uvas e seu algodâo. Não! Hoje ela é uma República dotada de grande indústria. Antes, mal existia ali a classe operária; hoje os operários do Uzbekistão se contam às centenas de milhares.

A guerra exige grandes sacrifícios materiais e muitas vidas humanas de todas as nossas nacionalidades. Mas de outra parte forja-se a firmeza de todos os nossos povos, sua consciência cívica se desenvolve, alargam-se seus horizontes, fazem grandes progressos e, poderíamos dizer, saem para o cenário mundial. E, na realidade é assim. Imaginai como sereis ao retomar aos vossos lares depois que tivermos derrotado os alemães. Regressareis completamente transformados, convertidos, por assim dizer, em pessoas de fama mundial, com plena consciência de ter contribuído diretamente para forjar a História Universal.

Os agitadores, que falaram aqui, disseram com toda razão que cada nacionalidade deve ser tratada de maneira diferente, porque os homens de cada nacionalidade viveram e continuam vivendo em condições diferentes, o que deixa sua marca em cada povo. Assim, por exemplo, os povos do Cáucaso e da Transcaucásia sentem um grande respeito pelas armas e a entrega das armas num ambiente solene representa muito para eles. Os uzbeks, por sua parte, respeitam muito os velhos. Em seu trabalho, forçosamente, o agitador deve ter em conta os hábitos, usos e costumes nacionais de cada povo.

Não obstante, considero que existe também um modo comum de tratar todos os nossos povos. Sabeis perfeitamente que o agitador não tem que gastar muitas palavras com o soldado que combate bem e sabe analisar os fatos. Pelo contrário, para o soldado que combate mal ou se mostra pusilânime — seja ele georgiano, kazak ou uzbek — o agitador poderia falar-lhe mais ou menos do seguinte modo: “Será possível que não queiras que participemos desta guerra, quando todas as demais nacionalidades lutam como leões? Acaso podemos ficar à margem da guerra? Será possível que queiras que, por tua causa, pensem que todo o nosso povo é composto de gente pusilânime? Medita, acaso estaria certo que se começasse a considerar nossa República como um país cujos homens não sabem combater e são incapazes de lutar e defender-se? Depois disto, como é que vamos apresentar-nos ante os demais povos, como poderemos continuai marchando, para a frente, como desenvolveremos nossa cultura? Acaso és o único que vai à guerra? Hoje todos lutam. E tu, que queres: não combater? Queres que nos escravizem? Sentimos muito, mas isto nós não toleraremos! Mais vale morrer na luta do que voltar para casa com o estigma de covarde ou de traidor. Na guerra atual não se luta por alguma cidade ou algum território, não se luta porque os alemães queiram apoderar-se de alguma cidade fronteiriça e nós não queiramos entregá-la. Hoje se luta porque os alemães desejam converter-nos em escravos e edificar seu domínio mundial sobre nossos ossos. Os alemães levaram muitos cidadãos soviéticos dos territórios ocupados para o cativeiro na Alemanha. Muitos deles sucumbiram por causa da fome e do trabalho desumano. É contra tudo isso que nós sustentamos a guerra. Hoje não se pode dizer que a guerra é lá, no Ocidente, e que não nos afeta”.

Quando se conversa com alguém em seu idioma materno, pode-se falar com maior liberdade, porque o outro entenderá tudo como é preciso. Quando um uzbek está entre uzbeks ou um kazak entre kazaks, eles não se sentem coibidos. Se os soldados vos dizem: “Por que nos falas assim e nos censuras”, podeis responder-lhes: “Falo assim porque também sou uzbek (ou kazak) e amo meu povo tanto quanto vós podeis amá-lo”.

Todos, inclusive os russos, se mostram orgulhosos de sua nacionalidade. E não pode ser de outro modo, pois cada um é filho de seu povo! Este é um detalhe muito importante e de grande significação e que não se deve esquecer nunca no trabalho de agitação. Cultivai em vossos homens o patriotismo soviético, o orgulho nacional, recordai a cada combatente as heroicas tradições de seu povo, suas magníficas lendas épicas, sua literatura, os grandes homens — capitães e chefes militares — os paladinos da libertação das massas populares. Mas só isto não basta. O orgulho nacional e o patriotismo de nossos povos, devem traduzir-se em ações bélicas. Cada povo tem seus heróis nacionais. Façamos com que estes se multipliquem! Estamos em guerra e a guerra, como é sabido, engendra heróis. Contribui com vosso trabalho para forjar soldados valorosos e viris, ajudai a formar os quadros de sargentos e oficiais do Exército Vermelho entre os soldados das nacionalidades não russas.

Os povos da URSS consideram — e com toda a razão que o povo russo é o seu irmão maior. Deveis conhecer também o glorioso passado do povo russo, seus heróis nacionais, seus grandes homens e falar de tudo isso aos soldados de outras nacionalidades. Isto contribuirá para unir ainda mais todos os povos de nosso país e tornará ainda mais estreita sua amizade.

Mas não se deve robustecer a amizade entre os povos somente com fatos e acontecimentos do passado. Na frente podemos encontrar numerosos e magníficos exemplos de amizade entre soldados de diferentes nacionalidades. Propagai estes exemplos, difundi-os entre todos. Vós, os agitadores, podeis fazer muito neste sentido.

Atualmente, a guerra vai tomando uma feição cada vez mais favorável para nós. Devemo-lo aos nossos combatentes de todas as nacionalidades. Todos os nossos povos, competindo em heroísmo, lutam abnegada e valorosamente contra o inimigo.

Nosso Exército Vermelho é uma só família combativa na qual todos os povos estão unidos por uma amizade sólida e in- quebrantável. E, como disse o camarada Stálin, a amizade entre os povos é o mais valioso de quanto nos deu a política nacional bolchevique. Esta amizade constitui uma firme garantia de nossa vitória sobre os invasores fascistas alemães.


Inclusão 30/12/2012