Com motivo da fundação da Guerrilha Popular Antijaponesa

Kim Il Sung

25 de abril de 1932


Origem: Discurso proferido no ato fundacional da Guerrilha Popular Antijaponesa.

Fonte: A Voz do Povo de 1945, publicado no dia 18 de outubro de 2019.

Tradução: Blog A Voz do Povo de 1945.

HTML: João Victor Bastos Batalha e Lucas Schweppenstette.


Camaradas:

Hoje fundamos a Guerrilha Popular Antijaponesa, chamada a derrotar na luta armada os bandidos imperialistas japoneses e alcançar o triunfo na histórica causa de restauração da Pátria.

Faz mais de 20 anos que os imperialistas japoneses ocuparam nossa Pátria. Atualmente, toda ela, com seus três mil ris de território tão bonito como um bordado em ouro, está sob o domínio dos imperialistas japoneses, uma verdadeira colônia, e nossa nação, com sua larguíssima história de 50 séculos e brilhante cultura, se converteu em escrava colonial, cruelmente explorada e oprimida por eles. Na medida em que cresce a ambição do imperialismo japonês de agredir o continente, aumenta mais a tragédia de nossa Pátria e nação.

Os imperialistas japoneses, após desatar em setembro do ano passado a guerra agressiva e ocupar a Manchúria, praticavam contra o povo coreano o terror branco mais atroz, esforçando-se desesperadamente para estender a agressão ao continente.

Com o fim de converter a Coreia em “sólida retaguarda” de sua agressão ao continente, privou nosso povo de todas as liberdades políticas elementares: liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e associação; esmagam com a força de suas baionetas as ações revolucionárias e, por toda parte, encarceram e assassinam em massa a população inocente.

São extremamente bestiais as atrocidades dos imperialistas japoneses contra o povo coreano também no interior da Manchúria, sobretudo na parte oriental. Em sua tentativa de sufocar a luta antijaponesa de nosso povo, assaltam diariamente as aldeias dos coreanos e perpetram tramas malignas, matando, queimando e saqueando tudo que encontrem. Assim é que, até em terra estrangeira, nossos compatriotas arrojados do país se veem condenados a uma morte cruel. A situação exige de nosso povo optar por uma destas duas alternativas: ou morrer sentado, ou se alçar na luta pela vida.

Hoje, nosso povo se levanta decididamente por toda parte, fazendo frente às monstruosas barbaridades do imperialismo japonês e empreende combates.

Os operários e camponeses respondem à repressão fascista do imperialismo japonês com ações violentas e os jovens de fervoroso sangue patriótico se unem em grupos, grandes e pequenos, buscando novos caminhos de luta. Agora, no período de fome primaveral, em Yanji, Wangqing, Helong, Hunchun e outros lugares ribeiros do rio Tuman, mais de cem mil camponeses sob a direção dos jovens comunistas coreanos se incorporaram à luta contra o imperialismo japonês, seus lacaios e os latifundiários reacionários.

O povo chinês também batalha tenazmente contra o imperialismo japonês. Desenvolve um movimento antijaponês de salvação nacional contra a ocupação da Manchúria pelos imperialistas japoneses, e, a fim de combatê-los, se organizam na Manchúria oriental e em outras distintas unidades antijaponesas, como tropas antijaponesas de salvação nacional, tropas antijaponesas de voluntários e outras.

Tal desenvolvimento da situação corrobora à justeza de nossa linha de luta armada exposta há 2 anos em Kalun, no distrito de Changchun. Realmente, é agora o momento mais oportuno e adequado para empreender plenamente a luta armada, prévia organização em grande escala das forças armadas revolucionárias.

No transcurso de uma prolongada luta sangrenta, nós, os jovens comunistas, e o povo revolucionário cimentamos a base para organizar a Guerrilha Popular.

Em julho de 1930 constituímos, como labor inicial na preparação da luta armada, o Exército Revolucionário da Coreia. Esta foi a primeira organização armada marxista-leninista em nosso país. Os soldados do Exército Revolucionário da Coreia se deslocaram às vastas regiões urbanas e rurais para consagrar-se a uma dinâmica atividade política e militar entre os operários, camponeses e jovens estudantes, fazendo os preparativos para a formação da guerrilha.

Logo criamos organizações da União da Juventude Comunista e muitas outras organizações revolucionárias em distintos lugares; constituímos em ampla escala a Guarda Vermelha, organização paramilitar, e formamos grupos guerrilheiros, — ainda que não muito numerosos —, em diversos lugares da Manchúria oriental.

Ativando assim a preparação para a fundação da guerrilha, logramos cimentar uma sólida base para criar a Guerrilha Popular Antijaponesa.

Fizemos grandes esforços na formação da base estrutural da Guerrilha Popular Antijaponesa e ativamos a vida orgânica dos soldados do Exército Revolucionário da Coreia e dos membros da União da Juventude Comunista e da União da Juventude Anti-imperialista, para forjar mais sua vontade e ideologia revolucionárias e lograr que acumulassem valiosas experiências necessárias para a luta revolucionária.

Um dos problemas importantes que apresentamos para preparar a criação da Guerrilha Popular Antijaponesa foi o de melhorar as relações com as unidades antijaponesas chinesas. Como consequência da Revolta de 30 de Maio, desencadeada por aventureiros esquerdistas, e do “Incidente de Wanbaoshan”, forjado pelos imperialistas japoneses para criar discórdia entre os povos coreano e chinês e inventar um pretexto para agredir a Manchúria, algumas pessoas e unidades antijaponesas chinesas tinham em certo tempo um conceito errôneo acerca do povo e dos comunistas da Coreia. Cometeram atos hostis e difamatórios contra o povo e os comunistas coreanos, enquanto que na Coreia alguns ladinos, instigados pelo imperialismo japonês, desataram a chamada “campanha para repelir os chineses”, que, como consequência, tornou mais hostis as relações entre os povos coreano e chinês.

Todavia, nós penetramos nas unidades antijaponesas chinesas para empreender um perseverante e abnegado trabalho e demos exemplos práticos lutando resolutamente contra o imperialismo japonês. Assim, lograda certa melhoria nas relações entre os povos coreano e chinês, e dissipado o conceito errôneo de algumas unidades antijaponesas chinesas hostis a nós, conseguimos sua colaboração com nossa luta antijaponesa.

Lutando para despertar a consciência política das massas populares e aglutiná-las na organização, criamos em muitas zonas rurais ribeiras ao rio Tuman sólidas bases de massas revolucionárias, aptas para empreender a luta armada.

Hoje, sobre a base dos êxitos alcançados neste processo preparativo, constituímos a Guerrilha Popular Antijaponesa, primeira força armada revolucionária marxista-leninista de nosso país, e a proclamamos.

A Guerrilha Popular Antijaponesa está formada por operários, camponeses e jovens patriotas amantes de seu país e povo, e que se opõem ao imperialismo japonês e seus lacaios, e é uma autêntica força armada revolucionária defensora dos interesses do povo.

O objetivo e a missão da Guerrilha Popular consistem em acabar com a dominação colonialista do imperialismo japonês na Coreia e conquistar a independência nacional e a libertação social do povo coreano.

Com a fundação da Guerrilha Popular Antijaponesa, dispomos de nossa própria força motriz que se encarregará e conduzirá diretamente a luta armada, vertente principal do movimento antijaponês de libertação nacional de nosso país; e podemos desferir golpes decisivos aos invasores imperialistas japoneses e elevar nossa luta a um patamar superior.

A fundação da Guerrilha Popular Antijaponesa infundirá uma grande força e coragem ao povo coreano, extenuado pela escravidão colonial do imperialismo japonês, e o estimulará a alçar-se contra ele, iniciando uma nova fase na luta para pôr em prática a linha da frente unida antijaponesa e a orientação para fundar um partido marxista-leninista.

Camaradas:

Conforme as exigências da situação criada, devemos desdobrar com pleno ímpeto a luta armada, mobilizando todas nossas forças.

Com este fim, há que fomentar, antes de tudo, o poderio da Guerrilha Popular Antijaponesa.

Somente quando lograrmos fortalecer a Guerrilha Popular como força armada revolucionária de grandes destacamentos, poderemos desferir golpes demolidores às forças armadas contrarrevolucionárias dos imperialistas japoneses e desenvolver mais ainda a revolução coreana em todas suas manifestações, ampliando e fomentando a luta armada e sua influência.

Para fortalecer a Guerrilha é preciso cultivar uma infinita lealdade à revolução em todos os quadros de comando e soldados.

A elevada disposição revolucionária e a máxima fidelidade à revolução vem a ser a fonte da força e a garantia decisiva da Guerrilha Popular para derrotar o imperialismo japonês e conquistar a vitória. Portanto, todos os quadros de comando e os soldados da Guerrilha Popular devem ter um sólido conceito revolucionário do mundo e conservar sua inteireza revolucionária em qualquer situação desfavorável, armando-se firmemente com o marxismo-leninismo e com a estratégia e a tática da revolução coreana, mediante um intenso estudo político, e forjando-se constantemente no alvorecer da luta.

Ao mesmo tempo, os quadros dirigentes e os soldados da Guerrilha devem compenetrar-se e lograr uma estreita união de vontade e ideologia, estabelecer íntimas relações com o povo, defender os interesses vitais das massas e manter uma férrea disciplina, mostrando assim inteiramente as melhores qualidades políticas e morais de um autêntico exército do povo, exército revolucionário.

Para vencer os bandoleiros imperialistas japoneses, temos que incrementar o quanto antes as fileiras guerrilheiras. Para lográ-lo, em primeiro lugar, devemos incorporar nelas numerosos jovens progressistas e patriotas provados na luta prática. Somente procedendo assim a Guerrilha Popular poderá ser um autêntico exército popular, um exército revolucionário.

Além de engrossar as fileiras guerrilheiras, nos vemos obrigados a conseguir muito mais armas. Somente com patriotismo é impossível vencer os imperialistas japoneses, dotados de modernos armamentos. Para vencer o inimigo armado há que armar a si mesmo.

Devemos enriquecer constantemente o arsenal da guerrilha, tomando as armas do inimigo em assaltos por surpresa ou fabricando-as com nossas próprias forças.

A fim de fortalecer ainda mais a Guerrilha Popular Antijaponesa, seus quadros dirigentes e soldados devem possuir e saber aplicar acertadamente as hábeis táticas guerrilheiras.

Somente mediante a acertadas táticas guerrilheiras é possível fazer de um inimigo superior em número e técnica um inimigo débil, aplastá-lo e apoderar-se facilmente de seu armamento, embora com poucas forças.

Hoje em dia, os quadros dirigentes e os soldados da Guerrilha ainda não conhecem bem os métodos de combate guerrilheiro. Temos que combater cara a cara com o imperialismo japonês, sem poder contar com uma retaguarda estatal nem ajuda de forças armadas regulares, porém carecemos ainda de experiência na guerra guerrilheira que nos sirva de referência.

Dadas estas condições, devemos acumular experiências combativas e elaborar um atrás do outro os novos métodos de combate guerrilheiro em processo ininterrupto de batalhas.

Ao empreender o combate guerrilheiro, devemos tomar por princípio básico aniquilar quantos inimigos seja possível conservando ao máximo as forças guerrilheiras. Com este objetivo, há que realizar combates de segura vitória, sobre a base de uma acertada análise da situação dada e da correlação de nossas forças e das inimigas.

Ao interprender combates ativos tomando a iniciativa, devemos combinar acertadamente a proteção das forças guerrilheiras e a aniquilação do inimigo.

Para que a guerrilha logre aniquilar muitos inimigos sem perder as próprias forças, é necessário captar justamente os pontos débeis do inimigo e tirar bom proveito. O exército do imperialismo japonês tem diversos pontos débeis e limitações, entre eles, a essencial debilidade própria do agressor e a de não estar acostumado às circunstâncias naturais e geográficas destas regiões. Agudizando ativamente e aproveitando ao máximo estes pontos fracos do inimigo, devemos realizar por toda parte emboscadas e ataques surpresa, mantendo-o na inatividade e desgastando-o constantemente.

Além disso, devemos impulsionar ativamente o trabalho para criar nas regiões ribeiras do rio Tuman, ao norte da Coreia, e na Manchúria oriental as zonas guerrilheiras nas quais a Guerrilha Popular poderá realizar suas ações.

Para que uma guerrilha possa levar a cabo a luta, lhe é indispensável contar com bases em que possa se apoiar.

Na situação atual, creio que é mais conveniente estabelecer bases guerrilheiras nas regiões ribeiras do rio Tuman, em vista de suas condições naturais e geográficas e da composição de sua população.

Devemos tomar uma medida para ampliar mais, no sucessivo, as bases guerrilheiras e levar a cabo a luta guerrilheira em estreita relação com o Exército Independentista da Coreia, que atua nas regiões ribeiras do rio Amnok, na Manchúria meridional e em outras regiões. Ademais, há que estreitar mais as relações orgânicas com as organizações revolucionárias no interior do país e acercar, pouco a pouco, as bases revolucionárias ao país.

Também, devemos dedicar mais empenho no trabalho para formar a frente aliada antijaponesa com o povo chinês.

A fim de criar essa frente, há que formar a frente aliada antijaponesa com as unidades antijaponesas chinesas.

Estas são forças armadas capazes de combater conosco o imperialismo japonês, inimigo comum dos povos coreano e chinês. Como forças armadas consideráveis, ocuparam vastas regiões da Manchúria, empreendendo ali ações militares. Por isso, a formação da frente aliada da Guerrilha Popular com as tropas antijaponesas chinesas têm grande significado para isolar e debilitar mais as forças agressivas do imperialismo japonês e para assegurar a superioridade indiscutível das forças armadas antijaponesas.

Já melhoramos em certo grau as relações com as tropas antijaponesas chinesas graças a nosso paciente e tenaz trabalho neste terreno.

Todavia, as relações entre a Guerrilha Popular e essas tropas não alcançaram ainda o nível necessário para formar a frente aliada antijaponesa em todos seus aspectos. Alguns oficiais e soldados das mencionadas tropas, enganados pelas artimanhas do imperialismo japonês voltadas a semear a discórdia, mantém uma atitude hostil para com os comunistas coreanos e a Guerrilha Popular Antijaponesa. Nestas circunstâncias, temos que seguir realizando com afinco e paciência o trabalho com elas.

Para intensificar este trabalho é preciso, antes de tudo, organizar mais corpos panfletários de comunistas coreanos e elevar seu papel.

Dado que as forças guerrilheiras são ainda débeis e uma parte dos oficiais e soldados das unidades antijaponesas chinesas olham com hostilidade os comunistas coreanos e a Guerrilha Popular, temos que acelerar gradualmente os preparativos para a fundação da frente aliada antijaponesa em múltiplos aspectos, melhorando nossas relações com essas unidades mediante as atividades dos corpos panfletários e incrementando as forças da Guerrilha Popular.

Os corpos panfletários devem penetrar nas tropas antijaponesas chinesas e atuar junto com elas, demonstrando, com persuasão e exemplo prático, a seus oficiais e soldados que os comunistas coreanos e a Guerrilha Popular Antijaponesa são autênticos patriotas e combatentes que lutam valentemente contra os agressores japoneses, para que tenham uma compreensão justa dos comunistas coreanos e levem a cabo uma ativa luta antijaponesa.

Também, para reforçar o trabalho com as unidades antijaponesas chinesas é preciso elevar mais o rol do Comitê de Soldados Antijaponeses.

Como cresce com o passar dos dias a esfera de trabalho com essas tropas, surge a necessidade peremptória de elevar mais o papel do Comitê de Soldados Antijaponeses, com sua missão exclusiva de trabalhar com elas.

Dito Comitê deve tomar em suas mãos e resolver de maneira centralizada os problemas que surjam no curso do trabalho com as unidades antijaponesas chinesas e retificar a tempo os desvios que possam surgir.

A fim de realizar com êxito o trabalho com essas unidades, há que mobilizar ativamente todos os membros da Guerrilha Popular e as amplas massas revolucionárias, convertendo-o em um grande movimento de massas. Somente assim as referidas tropas podem mudar seu conceito errôneo sobre os coreanos e os comunistas da Coreia.

Outrossim, a Guerrilha Popular, realizando um trabalho frutífero entre as massas populares, tem que fortalecer os laços consanguíneos com estas e ganhar na luta seu ativo apoio e respaldo.

Atualmente, lutamos contra o potente imperialismo japonês em duras circunstâncias, sem retaguarda estatal nem ajuda externa.

Somente devemos estar seguros em nossas forças unidas e firmemente convencidos de que venceremos o inimigo com nossas próprias forças. Estas são precisamente as massas populares unidas e organizadas.

Devemos empreender a guerra guerrilheira confiando e apoiando-nos unicamente nas forças unidas e organizadas do povo.

Os laços consanguíneos com as massas populares e seu apoio e respaldo ativos constituem a fonte do poderio da Guerrilha Popular e a importante garantia da vitória. Por isso, a Guerrilha Popular deve manter cabalmente em suas fileiras um correto ponto de vista e atitudes revolucionárias sobre as massas populares e uma disciplina que proteja resolutamente a vida e os bens do povo, e lutar, seja onde e quando for, apoiando-se nas forças das massas populares e defender ativamente seus interesses.

A Guerrilha Popular Antijaponesa deve realizar, ademais, um enérgico trabalho organizativo e político entre as massas populares coreanas e chinesas para ganhar seu apoio e respaldo multilaterais e mobilizá-las a desenvolver, com dinamismo, em todas partes a luta política contra o imperialismo japonês, compaginando-a com a luta armada.

Camaradas:

Somos os primeiros honrosos membros da Guerrilha Popular Antijaponesa chamados a forjar os destinos da Pátria e da nação.

O futuro da Pátria e da nação depende totalmente de nossa luta.

Devemos cumprir com honra os deveres assumidos ante a Pátria e a nação, superando quaisquer vicissitudes e dificuldades.

Para concluir exitosamente a histórica causa de restauração da Pátria, empreendamos todos com fervor a luta armada contra o imperialismo japonês, mantendo bem alta a bandeira vermelha da revolução.