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Primeira Edição: Original: DIE ENTWERTUNG DES WERTS em Neues Deutschland 10.06.2005
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
O capitalismo não é outra coisa senão a incessante "valorização do valor", aparecendo como o fim-em-si de transformar dinheiro em mais dinheiro. E em que consiste o valor? Segundo Marx, no "trabalho abstracto" representado pelas mercadorias, na massa de "nervo, músculo e cérebro" gasta no processo de produção. Contudo, apenas é válido o trabalho que corresponde ao standard de produtividade. O qual é medido pelo mercado e pela "muda coerção da concorrência" (Marx) nele dominante. No mercado mundial, à falta de outra medida, impõe-se o nível mais alto de produtividade dos países capitalistas centrais. Os países periféricos só podem acompanhar este nível, se é que podem, através de um desgaste brutal da sua força de trabalho. Sob estas condições, o produto do trabalho de milhares de trabalhadores chineses mal pagos talvez não seja maior como produto válido do valor, do que o de um trabalhador ocidental high tech. Pelo que não passa de uma ilusão de óptica pensar que o emprego massivo de trabalho barato na China, na Índia, etc., catapultaria para cima o produto global de valor na mesma medida.
Nas três revoluções industriais, o standard de produtividade foi levantado cada vez mais alto por meio da concorrência. Porém, quanto mais alta a produtividade, tanto menor a quantidade válida de trabalho representada por cada mercadoria e, portanto, tanto menor o valor desta. Aqui se manifesta a auto contradição lógica do capitalismo: por um lado, a sua finalidade é a infindável acumulação de valor, por outro lado, é ele próprio que progressivamente retira a substância do valor das mercadorias. Historicamente esta contradição foi compensada pela expansão capitalista: quanto menor o valor de cada mercadoria, tanto mais mercadorias tinham que ser produzidas e vendidas. Mas está aqui estabelecido um limite interno lógico. A qualquer momento deixa de valer a pena entulhar o mundo com mercadorias. Juntamente com a substância do valor cai também o poder de compra, pois este é apenas um momento daquela. Na terceira revolução industrial a equação já não dá certo: ao desemprego global em massa corresponde a desvalorização interna das mercadorias. Com uma dose de substância do valor tornada homeopática, os produtos já são autenticamente apenas bens naturais; pelo que só artificialmente podem ser forçados à forma do preço em dinheiro.
O dinheiro, porém, como "equivalente geral", não é senão a mercadoria destacada como mercadoria do rei. Em última instância, a função do dinheiro como "meio de conservação do valor" requere uma substância de valor própria. Ao longo da história foram os metais nobres que desempenharam essa função, porque representavam "trabalho abstracto" de modo particularmente condensado. Mas, apesar da acelerada circulação do dinheiro, já nem todo o ouro do mundo podia representar a crescente massa de mercadorias. No século XX o dinheiro foi desacoplado da substância do valor dos metais nobres; o último fio foi cortado em 1973, quando se rompeu a ligação ao ouro do dinheiro mundial dólar. A garantia apenas jurídico-estatal do dinheiro ficou todavia frágil. Daí as crescentes inflações e crises do dinheiro e da moeda. Atrás do dólar está hoje apenas a máquina militar dos USA; atrás do euro não há nada; a maioria das outras moedas de qualquer forma já caiu. A ameaça de uma grande crise monetária mundial não vem da concorrência entre o dólar e o euro, mas da dessubstancialização do dinheiro em geral. À desvalorização da força de trabalho corresponde a desvalorização das mercadorias e esta leva à desvalorização do dinheiro. Com isto é a relação social fetichista da modernidade em geral que passa à disponibilidade.