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Fonte: Centro de Documentación de los Movimientos Armados. Fonte em português: blog Bah! Caroço.
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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As operações no Vale do Ribeira significaram a eclosão da guerrilha rural no Brasil?
LAMARCA - Não, não montamos guerrilha, não preparamos a área com rede logística, rede de inteligência e embasamento político. Não era objetivo nosso executar guerrilha ali. Tratava-se de campo de treinamento de guerrilha.
Mas foram executadas ações de guerrilha?
LAMARCA - Sim, foram executadas ações de guerrilha. As operações se desenvolveram de 21 de abril a 31 de maio. Limitamos nossas ações às necessárias ao rompimento do cerco tático e estratégico. Causamos 10 baixas e fizemos 18 prisioneiros em três combates que travamos, assim como evitamos cair numa emboscada. Deixamos de executar outras ações, que não comprometeriam nosso objetivo, por não possuirmos morteiros, minas e granadas de mão. Achamos aventureirismo continuar a luta ali naquela circunstâncias. Temos consciência e capacidade de organizar mais amplamente, e o faremos, é questão de tempo.
Quantos homens foram empregados pelas Forças Armadas no Vale da Ribeira?
LAMARCA - Avaliamos em cerca de 20.000. Empregaram muitos helicópteros de observação e transporte de tropa, caças t6, aviões C47 para transporte de tropa e bombardeiros B23. E não ficou o emprego de tropas restrito ao Vale, estendeu-se, desnecessariamente ampla área.
Qual a repercussão, na população local, da guerrilha no Vale do Ribeira?
LAMARCA - A situação logística nos obrigou a nos aproximarmos da população. Ficamos satisfeitos ao comprovar a receptividade e a capacidade de entender a nossa comunicação por parte do trabalhador rural. A repressão começou a entender que ganhávamos o apoio da população. Prendeu e assassinou um jovem casal de camponeses. Evacuou a população da região. Bombardeou a área. Complementou o terrorismo com rajadas de metralhadora a esmo, para dentro do mato, e vôos rasantes sobre as choupanas ainda habitadas.
Qual o significado do treinamento de guerrilha?
LAMARCA - Encaramos o fato de que companheiros treinados no exterior não se dispunham a preparar a luta no campo, sempre permanecendo nas cidades. Enfrentamos também o problema do grande tempo necessário para treinamento no exterior, assim como as despesas. E ainda, achamos que um grupo que vai executar guerrilha deve conviver e se coletivizar antes de entrar na área.
De que forma uma escola de guerrilha existindo concretamente pode ser fator influenciador na atuação de esquerda revolucionária no Brasil?
LAMARCA - A concretização desta experiência pioneira no nosso país representa principalmente a vitória de uma posição política. E a demonstração prática da consciência, da necessidade de levar adiante a guerra de guerrilhas. Através da nossa prática revolucionária e quanto à organização, permitimos o salto qualitativo na atuação das esquerdas. A esquerda tem como realidade atualmente a existência de quadros que foram adquirir condições e voltarão ao campo para combater. Não só através do exemplo de luta, mas também por ele, que engajaremos a massa no processo; é só através desse mesmo exemplo de luta, do empenho na sua efetivação, que influenciaremos a esquerda a dar um passo à frente no encaminhamento do processo.
A preocupação com a mudança do nível de atuação e relacionamento entre os diversos grupos já existia quando criou-se o campo de treinamentos?
LAMARCA - Sim. Tanto que dele participaram militantes de outras organizações. Esta medida já representava um passo para diminuir o sectarismo e as divergências que só podem ser superadas no processo através de um encaminhamento conjunto. Além do que representava também a nossa concepção política de levar à prática as tarefas da revolução e não apenas crescer enquanto organização.
Há condições de execução de guerrilha rural no Brasil?
LAMARCA - Há. Não só no Brasil, como em toda a América Latina. É no campo que a exploração capitalista é mais desumana e ali se encontra o elo mais fraco do sistema, onde a repressão tem sido feroz em todas as lutas travadas. Existe todo um passado de luta e de organização do trabalhador rural, que a classe dominante omite na nossa história.
Inclusão | 29/04/2014 |