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O desenvolvimento do movimento operário de massas na Rússia, em ligação com o desenvolvimento da social-democracia, caracteriza-se por três transições notáveis. Primeira transição - dos estreitos círculos de propaganda para a ampla agitação económica entre a massa; segunda - para a agitação política em grande escala e as manifestações de rua abertas; terceira - para uma verdadeira guerra civil, para a luta revolucionária directa, para a insurreição popular armada. Cada uma destas transições foi preparada, por um lado, pelo trabalho do pensamento socialista predominantemente numa direcção, e por outro lado por profundas mudanças nas condições de vida e em toda a estrutura psíquica da classe operária, pelo despertar de novas e novas camadas da mesma para uma luta mais consciente e activa. Estas mudanças tiveram por vezes lugar silenciosamente, a acumulação de forças pelo proletariado realizou-se nos bastidores, sem chamar a atenção, provocando não raramente um desapontamento dos intelectuais quanto à solidez e vitalidade do movimento de massas. Depois surgia uma viragem, e todo o movimento revolucionário se elevava, como que de repente, a um grau novo e mais elevado. Ao proletariado e ao seu destacamento de vanguarda, a social-democracia, colocavam-se tarefas praticamente novas, e para resolver estas tarefas surgiam como que do chão novas forças, de que ninguém suspeitava ainda na véspera da viragem. Mas tudo isto aconteceu não de uma vez, não sem vacilações, não sem uma luta de orientações na social-democracia, não sem retornos a concepções caducas que há muito pareciam mortas e enterradas.
A social-democracia da Rússia está precisamente a atravessar um desses períodos de vacilações. Tempo houve em que a transição para a agitação política abria caminho através de teorias oportunistas, em que se temia que não houvesse forças para as novas tarefas, em que o atraso da social-democracia em relação às exigências do proletariado era justificado com a desmedida repetição das palavras «de classe» ou com a interpretação seguidista da atitude do partido para com a classe. O curso do movimento varreu todos estes receios míopes e concepções atrasadas. Agora um novo ascenso é de novo acompanhado, embora de uma forma algo diferente, por uma luta contra os círculos e orientações caducas. Os rabotchedelistas ressuscitaram na pessoa dos novo-iskristas. Para adaptar a nossa táctica e organização às novas tarefas é preciso ultrapassar a resistência das teorias oportunistas sobre «um tipo superior de manifestação» (o plano da campanha dos zemstvos(1)) ou sobre a «organização-processo», é preciso lutar contra o medo reaccionário de «marcar» a insurreição ou da ditadura democrática revolucionária do proletariado e do campesinato. O atraso da social-democracia em relação às exigências prementes do proletariado é mais uma vez justificado com uma desmedida (e muitas vezes pouco inteligente) repetição das palavras «de classe» e com um rebaixamento das tarefas do partido em relação à classe. A palavra de ordem de «actividade independente operária» é novamente mal utilizada por pessoas que reverenciam as formas inferiores da actividade independente e ignoram as formas superiores da actividade independente realmente social-democrata, da iniciativa realmente revolucionária do próprio proletariado.
Não há a menor dúvida de que o curso do movimento varrerá também desta vez todos estes vestígios de concepções caducas e sem vida. Esse varrer não deve contudo consistir de modo nenhum apenas na refutação dos velhos erros, mas incomparavelmente mais num trabalho revolucionário positivo para realizar praticamente as novas tarefas, para que o nosso partido atraia e utilize as novas forças, que avançam agora em massa tão gigantesca para o campo revolucionário. São precisamente estas questões do trabalho revolucionário positivo que devem constituir o objecto principal das deliberações do próximo terceiro congresso, é precisamente nelas que devem agora concentrar os seus pensamentos todos os membros do nosso partido no seu trabalho local e geral. Já dissemos mais de uma vez em traços gerais quais são as novas tarefas que se nos colocam: alargamento da agitação a novas camadas dos pobres da cidade e do campo, criação de uma organização mais ampla, flexível e sólida, preparação da insurreição e armamento do povo, acordo com a democracia revolucionária com estes objectivos. Quais são as novas forças para a realização destas tarefas, disso falam eloquentemente as notícias sobre as greves gerais em toda a Rússia, sobre as greves e disposição revolucionária da juventude, da intelectualidade democrática em geral e mesmo de muitos círculos da burguesia. A existência destas imensas forças frescas, a plena convicção de que mesmo a actual efervescência revolucionária, nunca vista na Rússia, ainda só abarcou uma pequena parte de toda a gigantesca reserva de material inflamável que existe na classe operária e no campesinato, tudo isto garante plena e absolutamente que as novas tarefas podem ser resolvidas e serão necessariamente resolvidas. A questão prática que se nos coloca consiste antes de mais em como precisamente utilizar, dirigir, unir e organizar estas novas forças, como precisamente concentrar o trabalho social-democrata principalmente nas novas tarefas superiores avançadas pelo momento, sem ao mesmo tempo esquecer de modo nenhum as tarefas velhas e habituais que se nos colocam e colocarão enquanto existir o mundo da exploração capitalista.
Para indicar alguns meios de resolver esta questão prática, comecemos por um exemplo particular mas, em nossa opinião, muito característico. Recentemente, mesmo em vésperas do começo da revolução, a Osvobodjénie liberal-burguesa (n.° 63) tocou a questão do trabalho de organização da social-democracia. Seguindo com atenção a luta das duas orientações na social-democracia, a Osvobodjénie não deixou uma e outra vez de aproveitar a viragem do novo Iskra em direcção ao «economismo» e de sublinhar (a propósito da demagógica brochura de «Um Operário»(2)) a sua profunda simpatia de princípios com o «economismo». O órgão liberal observou correctamente que desta brochura (sobre ela ver o n.° 2 do Vperiod) decorre a inevitável negação ou diminuição do papel da social-democracia revolucionária. E, a propósito das afirmações perfeitamente falsas de «Um Operário» acerca de que depois da vitória dos marxistas ortodoxos a luta económica foi ignorada, diz a Osvobojdénie:
«A ilusão da social-democracia russa actual consiste em que ela teme o trabalho cultural, teme as vias legais, teme o "economismo", teme as chamadas formas não políticas do movimento operário, sem compreender que só o trabalho cultural, as formas legais e não políticas, podem criar uma base suficientemente sólida e suficientemente ampla para um movimento da classe operária que mereça a designação de revolucionário.»
E a Osvobojdénieaconselha os osvobojdenistas a «tomar a iniciativa na criação de um movimento operário sindical» não contra a social-democracia mas juntamente com ela, e estabelece um paralelo com as condições do movimento operário alemão na época da lei de excepção contra os socialistas.
Não é aqui o lugar de falar deste paralelo, que é profundamente errado. É necessário em primeiro lugar restabelecer a verdade sobre a atitude da social-democracia em relação às formas legais do movimento operário. «A legalização das uniões operárias não socialistas e não políticas já começou na Rússia», dizia-se em 1902 em Que Fazer?(3). «E nós não podemos deixar de ter em conta esta corrente.» Como ter em conta? pergunta-se aí, e aponta-se a necessidade de desmascarar não só as doutrinas zubatovistas mas também todos os discursos liberais e de harmonia sobre o tema da «colaboração de classes» (a Osvobojdénie, ao convidar os sociais-democratas à colaboração, reconhece plenamente a primeira tarefa e cala a segunda). «Fazer isto», diz-se mais adiante, «não significa de modo nenhum esquecer que a legalização do movimento operário beneficiar-nos-á, no fim de contas, a nós, e não, de modo nenhum, aos Zubátov.» Ao desmascarar o zubatovismo e o liberalismo nas assembleias legais nós separamos o joio do trigo.
«O trigo consiste em interessar pelas questões sociais e políticas sectores operários ainda mais vastos, os sectores mais atrasados; em nos libertarmos, nós, os revolucionários, das funções que são, no fundo, legais (difusão de obras legais, socorros mútuos, etc.) e cujo desenvolvimento nos dará, infalivelmente, materiais cada vez mais abundantes para a agitação.»
Por aqui se vê claramente que, quanto à questão do «temor» das formas legais do movimento, a vítima da «ilusão» é a Osvobojdénie e mais ninguém. Os sociais-democratas revolucionários não só não temem estas formas como apontam directamente a existência nelas tanto de joio como de trigo. Consequentemente, com as suas considerações a Osvobojdénie só encobre o temor real (e fundado) dos liberais perante o desmascaramento pela social-democracia revolucionária da essência de classe do liberalismo.
Mas, do ponto de vista das tarefas actuais, interessa-nos especialmente a questão da libertação dos revolucionários de uma parte das suas funções. É precisamente o momento que atravessamos de começo da revolução que atribui a esta questão um significado particularmente actual e particularmente amplo. «Quanto mais energicamente desenvolvermos a luta revolucionária tanto mais o governo se verá obrigado a legalizar parte do trabalho "sindical", tirando-nos assim de cima parte da carga que sobre nós pesa», dizia-se em Que Fazer?(4). Mas uma luta revolucionária enérgica não nos liberta de «parte da carga que sobre nós pesa» apenas por esta via mas também por muitas outras. O momento que atravessamos não «legalizou» apenas muito daquilo que antes estava proibido. Ele alargou tanto o movimento que, mesmo à margem da legalização pelo governo, entrou na prática, se tornou habitual e acessível à massa muito daquilo que antes se considerava acessível e era acessível apenas a um revolucionário. Todo o processo histórico de desenvolvimento do movimento social-democrata se caracteriza pelo facto de ele conquistar, apesar de todos os obstáculos, uma liberdade de acção cada vez nais significativa, a despeito das leis do tsarismo e das medidas da polícia. O proletariado revolucionário como que se envolve numa certa atmosfera, inacessível ao governo, de simpatia e apoio tanto entre a classe operária como noutras classes (que partilham, naturalmente, apenas uma pequena parte das reivindicações da democracia operária). No começo do movimento um social-democrata tinha de realizar uma massa de trabalho quase cultural, de ocupar as suas forças quase só com a agitação económica. Agora essas funções passam cada vez mais, uma após outra, para as mãos de novas forças, de camadas mais vastas que aderem ao movimento. Nas mãos das organizações revolucionárias concentrou-se cada vez mais a função da verdadeira direcção política, a função de tirar conclusões sociais-democratas das manifestações de protesto operário e de descontentamento popular. Primeiro tivemos de ensinar aos operários o abecedário, tanto no sentido directo como figurado. Agora o nível de alfabetização política subiu tão gigantescamente que podemos e devemos concentrar todas as nossas forças em objectivos mais imediatamente sociais-democratas de direcção organizada da torrente revolucionária. Agora os liberais e a imprensa legal fazem uma grande quantidade daquele trabalho «preparatório» que até agora ocupava demasiado as nossas forças. Agora alargou-se tanto a propaganda aberta, não perseguida pelo governo enfraquecido, das ideias e reivindicações democráticas que temos de nos adaptar a uma envergadura completamente nova do movimento. Naturalmente que neste trabalho preparatório há joio e há trigo; naturalmente que os sociais-democratas têm agora de dar cada vez mais atenção à luta contra a influência da democracia burguesa sobre os operários. Mas precisamente esse trabalho encerrará um muito maior conteúdo realmente social-democrata do que a nossa actividade anterior, dirigida sobretudo para despertar as massas politicamente inconscientes.
Quanto mais se amplia o movimento popular, tanto mais se revela a verdadeira natureza das diferentes classes, tanto mais premente é a tarefa do partido de dirigir a classe, de ser o seu organizador, e de não se arrastar atrás dos acontecimentos. Quanto mais se desenvolve em toda a parte toda a espécie de actividade independente revolucionária, tanto mais evidente se torna como são vazias e falhas de conteúdo as palavrinhas rabotchedelistas sobre a actividade independente em geral, de tão boa vontade repetidas por qualquer palrador, tanto maior é a importância da actividade independente social-democrata e tanto mais elevadas as exigências que os acontecimentos colocam à nossa iniciativa revolucionária. Quanto mais amplas forem as novas e novas torrentes do movimento social tanto mais importante é uma organização social-democrata sólida que seja capaz de criar novos canais para estas torrentes. Quanto mais trabalharem a nosso favor a propaganda e agitação democráticas que se processam independentemente de nós, tanto mais importante é a direcção organizada da social-democracia para salvaguardar a independência da classe operária em relação à democracia burguesa.
Uma época revolucionária é para a social-democracia o mesmo que para um exército o tempo de guerra. É preciso alargar os quadros do nosso exército, passá-lo dos contingentes de paz aos de guerra, mobilizar os reservistas, chamar às fileiras os que estão de licença, formar novos corpos, destacamentos e serviços auxiliares. É preciso não esquecer que na guerra é inevitável e necessário completar as nossas fileiras com recrutas menos preparados, substituir muitas vezes os oficiais por simples soldados, apressar e simplificar a promoção de soldados a oficiais.
Falando sem metáforas: é preciso ampliar fortemente o número de membros de toda a espécie de organizações do partido ou aderentes ao partido para acompanhar ainda que minimamente a torrente de energia revolucionária popular, que cresceu cem vezes. Isto não significa, evidentemente, que se deva deixar na sombra a preparação consequente e o ensino sistemático das verdades do marxismo. Não, mas é preciso recordar que agora na preparação e educação têm uma importância muito maior as próprias acções de guerra, que ensinam os impreparados precisamente na nossa e inteiramente na nossa orientação. É preciso recordar que a nossa fidelidade «doutrinária» ao marxismo é agora reforçada pelo facto de o curso dos acontecimentos revolucionários dar em toda a parte lições concretas à massa e de todas estas lições confirmarem precisamente o nosso dogma. Consequentemente, não é de renúncia ao dogma que falamos, não é de enfraquecimento da nossa atitude de desconfiança e reserva em relação aos intelectuais indistintos e aos inúteis revolucionários, muito pelo contrário. Falamos de novos métodos de ensinar o dogma que seria inadmissível um social-democrata esquecer. Falamos de como agora é importante aproveitar as claras lições dos grandes acontecimentos revolucionários para ensinar, não já aos círculos mas às massas, as nossas velhas lições «dogmáticas» acerca, por exemplo, de que é necessário fundir na prática o terror com a insurreição das massas, de que por trás do liberalismo da sociedade russa instruída é preciso saber ver os interesses de classe da nossa burguesia (ver a polémica com os socialistas-revolucionários sobre esta questão no n.° 3 do Vperiod).
Quer dizer que não é do enfraquecimento da nossa exigência social-democrata, da nossa intransigência ortodoxa, que se trata, mas do reforço de uma e outra por novas vias, por novos métodos de ensino. Em tempo de guerra é preciso instruir os recrutas directamente nas acções de guerra. Por isso lançai mão com mais audácia de novos meios de ensino, camaradas! Formai com mais ousadia novos e novos destacamentos, lançai-os na batalha, recrutai mais jovens operários, alargai o quadro habitual de todas as organizações do partido, a começar pelos comités e a acabar nos grupos de fábrica, nas associações profissionais e nos círculos estudantis! Lembrai-vos que qualquer demora nossa neste trabalho serve os inimigos da social-democracia, pois os novos regatos procuram uma saída imediata e, não encontrando um canal social-democrata, lançar-se-ão para um canal não social-democrata. Lembrai-vos que cada passo prático do movimento revolucionário ensinará inevitável e inexoravelmente aos jovens recrutas precisamente a ciência social-democrata, pois esta ciência baseia-se numa avaliação objectivamente correcta das forças e tendências das diferentes classes, e a revolução não é senão a destruição das velhas superstruturas e a actuação independente das diferentes classes que aspiram a criar à sua maneira a nova superstrutura. Mas não rebaixeis a nossa ciência revolucionária a um simples dogma livresco, não a vulgarizeis com frases miseráveis acerca da táctica-processo, da organização-processo, com frases que justificam a confusão, a indecisão e a falta de iniciativa. Dai maior amplitude aos mais diversos empreendimentos dos mais diferentes grupos e círculos, tendo em mente que a justeza da sua via é assegurada, para além dos nossos conselhos e independentemente dos nossos conselhos, pelas exigências inexoráveis do próprio curso dos acontecimentos revolucionários. Foi dito há já muito tempo que em política muitas vezes é preciso aprender com o inimigo. E em momentos revolucionários o inimigo impõe-nos sempre conclusões correctas de modo particularmente instrutivo e rápido.
Assim, resumamos: é preciso ter em conta o movimento que cresceu cem vezes, é preciso ter em conta o novo ritmo de trabalho, a atmosfera mais livre, o campo de actividade mais amplo. É precisa uma envergadura completamente diferente de todo o trabalho. É preciso deslocar o centro de gravidade dos métodos de ensino das pacíficas lições dos professores para as acções de guerra. É preciso recrutar mais audaciosa, ampla e rapidamente jovens combatentes Para as fileiras de todas as nossas organizações de toda a espécie. É preciso criar para isto, sem demorar um minuto, centenas de novas organizações. Sim, centenas, não é uma hipérbole, e não me respondam que agora «é tarde» para nos ocuparmos de um trabalho de organização tão amplo. Não, nunca é tarde para se organizar. E devemos utilizar a liberdade que adquirimos pela lei e que conquistámos apesar da lei para multiplicar e reforçar todas as organizações do partido de toda a espécie. Qualquer que seja o curso e o desfecho da revolução, por mais cedo que ela seja detida por estas ou aquelas circunstâncias, todas as suas aquisições reais só serão sólidas e seguras na medida em que o proletariado esteja organizado.
A palavra de ordem «organizai-vos!», que os partidários da maioria queriam lançar de modo formalizado no segundo congresso do partido, deve ser posta em prática imediatamente. Se não soubermos com ousadia e iniciativa criar novas organizações, teremos de renunciar a ocas pretensões ao papel de vanguarda. Se nos detivermos desamparadamente nos limites, formas e quadros já adquiridos dos comités, grupos, assembleias, círculos, mostraremos com isto a nossa incapacidade. Milhares de círculos surgem agora por toda a parte, independentemente de nós, sem qualquer programa e objectivo definidos, simplesmente sob influência dos acontecimentos. É preciso que os sociais-democratas se coloquem a si próprios a tarefa de criar e reforçar relações directas com o maior número possível desses círculos, para os ajudar, esclarecer com os seus conhecimentos e experiência, impulsionar com a sua iniciativa revolucionária. Que todos esses círculos, excepto os conscientemente não sociais-democratas, ou entrem directamente para o partido ou adiram ao partido. Neste último caso não se pode exigir nem a aceitação do nosso programa nem relações organizativas obrigatórias connosco: basta o sentimento de protesto, a simpatia com a causa da social-democracia revolucionária internacional, para que esses círculos que aderiram, havendo uma intervenção enérgica dos sociais-democratas e sob o impacte do curso dos acontecimentos, se transformem primeiro em auxiliares democráticos do partido operário social-democrata e depois em seus membros convictos.
Há muita gente e não há gente - nesta fórmula contraditória se expressou já há muito a contradição da vida organizativa e as exigências organizativas da social-democracia. E esta contradição manifesta-se hoje com particular força: ouvem-se de todo o lado com igual frequência apaixonados apelos a novas forças, queixas pela falta de gente nas organizações, e a par disto em toda a parte uma gigantesca oferta de serviços, o crescimento das forças jovens, particularmente entre a classe operária. O organizador prático que nestas condições se queixa da falta de gente cai na mesma ilusão em que na época do culminar do desenvolvimento da grande revolução francesa caiu Madame Roland, que escreveu em 1793: em França não há homens, só há pigmeus. Quem assim fala não vê a floresta por trás das árvores, confessa que os acontecimentos o cegaram, que não é ele, o revolucionário, que os domina na sua consciência e na sua actividade, mas eles que o dominam, que o esmagaram. Para esse organizador seria melhor aposentar-se, dar lugar a forças jovens, cuja energia compensará de sobra a velha e decorada rotina.
Há gente, a Rússia revolucionária nunca teve tanta gente como agora. Nunca uma classe revolucionária teve condições tão favoráveis - quanto a aliados temporários, amigos conscientes, auxiliares involuntários - como o proletariado russo actual. Há uma enorme quantidade de gente, só é preciso lançar pela borda fora as ideias e preceitos seguidistas, só é preciso dar amplitude à inovação e à iniciativa, aos «planos» e «empreendimentos», e então seremos dignos representantes da grande classe revolucionária, então o proletariado da Rússia levará a cabo toda a grande revolução russa tão heroicamente como a iniciou.
Notas de rodapé:
(1) Plano de campanha dos zemstvos: plano menchevique de apoio aos congressos, assembleias e banquetes de personalidades dos órgãos locais de auto-administração (zemstvos), em que se pronunciavam discursos e se adoptavam resoluções no espírito das reivindicações constitucionais moderadas. (retornar ao texto)
(2) «Um Operário»: autor da brochura Os Operários e os Intelectuais nas Nossas Organizações, publicado em Genebra em 1904 com prefácio de P. Axelrod (retornar ao texto)
(3) V. I. Lénine, Obras Escolhidas em seis tomos, Edições «Avante!«-Edições Progresso, Lisboa-Moscovo, 1977, t. l, p. 160. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(4) V. I. Lénine, Obras Escolhidas em seis tomos, Edições «Avante!»-Edições Progresso, Lisboa-Moscovo, 1977, t. l, p. 186. (N. Ed.) (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 28/10/2014 |
Última atualização | 22/03/2016 |