A Vida Ensina

V. I. Lênin

19 de Janeiro de 1913


Primeira Edição: Pravda, n.° 15, de 19 de janeiro de 1913. Encontra-se in Obras, t. XVIII, págs. 486/487.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, novembro de 1961. Traduzido por Armênio Guedes, Zuleika Alambert e Luís Fernando Cardoso, da versão em espanhol de Acerca de los Sindicatos, das Ediciones em Lenguas Extranjeras, Moscou, 1958. Os trabalhos coligidos na edição soviética foram traduzidos da 4.ª edição em russo das Obras de V. I. Lênin, publicadas em Moscou pelo Instituto de Marxismo-Leninismo, anexo ao CC do PCUS. As notas ao pé da página sem indicação são de Lênin e as assinaladas com Nota da Redação foram redigidas pelos organizadores da edição do Instituto de Marxismo-Leninismo. Capa e planejamento gráfico de Mauro Vinhas de Queiroz. Pág: 227-228.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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capa

Os que se interessam sinceramente pela sorte do movimento de libertação em nosso país, não podem, pelo menos, deixar de demonstrar interesse antes de tudo por nosso movimento operário. Tanto os anos de ascensão quanto os anos da contrarrevolução, demonstraram com meridiana clareza que a classe operária marcha à frente de todas as forças libertadoras e que, por isso, a sorte do movimento operário se entrelaça do modo mais estreito com a sorte do movimento social russo em geral.

Tomem a curva do movimento grevista dos operários nos últimos oito anos e experimentem fazer outra curva que reflita o crescimento e o declínio de todo o movimento russo de libertação desses mesmos anos. Ambas as linhas coincidirão inteiramente. Entre todo o movimento de libertação no seu conjunto, de um lado, e o movimento operário, de outro, existe a mais estreita e indissolúvel conexão.

Vejamos os dados sobre o movimento grevista da Rússia, a partir de 1905.

Anos
Número
de Greves
Grevistas
(milhares)
1905
13 995
2 863
1906
6 114
1108
1907
3 573
740
1908
892
176
1909
340
64
1910
222
47
1911
466
105
1912
aproximadamente cerca de um milhão e meio
(em greves econômicas e políticas)

Esses dados por acaso não indicam claramente que o movimento grevista dos operários russos é o melhor barômetro de toda a luta popular de libertação na Rússia?

O ponto mais alto (ano de 1905) dá aproximadamente 3 milhões de grevistas. Em 1906 e 1907 o movimento decresce, mas continua em nível muito elevado, dando em média um milhão de grevistas. A seguir o movimento entra em rápido declínio, que se prolonga até o ano de 1910, inclusive: o ano de 1911 é um ano de reviravolta. A curva começa — embora ainda em pequena proporção — a subir. O ano de 1912 marca nova e poderosa ascensão. A curva eleva-se com segurança e decisão até o nível de 1906 e mantém evidentemente a mesma direção até o ano em que se bateu o recorde mundial com a cifra de 3 milhões de grevistas.

Começou uma nova época. Sobre isso, agora, não pode haver a menor dúvida. A melhor prova temos nos começos do ano de 1913. De diferentes questões parciais, a massa operária marcha para a colocação da questão geral. A atenção das mais amplas massas já não se concentra em algumas irregularidades de nossa vida russa. A questão é colocada levando em conta todo o conjunto dessas irregularidades; já não se trata de reformas, e sim da reforma.

A vida ensina. A luta real é a que melhor resolve as questões que ainda há muito pouco tempo eram tão discutidas. Vejam agora, depois de 1912, mesmo que sejam apenas as nossas discussões sobre a “campanha de abaixo-assinados”(1) e sobre a palavra de ordem de “liberdade de associação”. O que foi que a experiência mostrou?

Era impossível reunir nem que fossem apenas várias dezenas de milhares de assinaturas de operários sob uma solicitação bastante moderada. Mas foi uma realidade a cifra de um milhão de participantes nas greves exclusivamente políticas. As divagações a respeito de que não se deve ir além da palavra de ordem de “liberdade de associação”, pois em caso contrário as massas não nos compreenderiam e não se mobilizariam, resultaram em palavras vazias e supérfluas de pessoas desligadas da vida. E as massas concretas e reais de milhões se mobilizaram, precisamente, sob as mais amplas e velhas fórmulas, mantidas em toda a sua integridade. Tais fórmulas foram as únicas que despertaram o entusiasmo das massas. Agora ficou demonstrado com suficiente força de convicção quem efetivamente marchou com as massas e quem marchou sem elas e contra elas.

O renovado e poderoso movimento entusiasta das próprias massas varre, como velharia inútil, as receitas artificiais geradas nos gabinetes e prossegue em sua marcha sempre para frente.

Nisso baseia-se o sentido histórico do grandioso movimento que se desenvolve diante de nossos olhos.


Notas de rodapé:

(1) “Campanha de petições”: agitação desenvolvida pelos liquidacionistas e Trotski acerca de uma “petição” dos liquidacionistas de Petersburgo, formulada em dezembro de 1910. A “petição” sobre a liberdade de associação, de reunião e de greve, segundo se pensava, devia ser enviada em nome dos operários da III Duma de Estado. A “campanha de petições” não repercutiu entre as massas operárias. (retornar ao texto)

Inclusão 10/12/2012