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Primeira edição: Sotsial Demokrat, nº 48, 20 de novembro de 1915. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 21, págs. 378/383
Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 304-308
Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz
HTML: Fernando Araújo.
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No número 3 de Priziv, o sr. Plekhanov procura colocar a questão teórica fundamental da futura revolução russa. Toma uma citação de Marx em que este diz que a revolução de 1789 na França seguiu uma linha ascendente e em 1848 uma linha descendente. No primeiro caso, o poder passou gradativamente de um partido mais moderado a outro mais esquerdista: constitucionalistas — girondinos — jacobinos. No segundo, o contrário (proletariado — democratas pequeno-burgueses — republicanos burgueses — Napoleão III). «É desejável», deduz nosso autor, «orientar a revolução russa pela linha ascendente», isto é, de tal forma que o poder passe primeiro para os democratas constitucionalistas e os outubristas, depois para os trudoviques e mais tarde para os socialistas. A conclusão que se tira deste raciocínio consiste, naturalmente, em que são insensatos os esquerdistas da Rússia que não desejam apoiar os democratas constitucionalistas e os desacreditam prematuramente.
Este raciocínio «teórico» do sr. Plekhanov é um novo exemplo de substituição do marxismo pelo liberalismo. O sr. Plekhanov reduz a questão a terem sido ou não «justas» as «concepções estratégicas» dos elementos avançados. Marx raciocinava de outra maneira. Ele observava um fato: a revolução se desenvolveu nos dois casos de maneira diferente. E Marx não procurava a explicação desta diferença nas «concepções estratégicas». Do ponto-de-vista do marxismo é ridículo buscar essa diferença nas concepções. É preciso buscá-la na diferença da correlação das classes. O próprio Marx escrevia que, em 1789, a burguesia da França se uniu ao campesinato, e que, em 1848, a democracia pequeno-burguesa traiu o proletariado. O sr. Plekhanov conhece esta opinião de Marx, mas a silencia para falsificar Marx, dando a ele a aparência de Struve. Na França de 1789 tratava-se de derrocar o absolutismo e a nobreza. Com o grau de desenvolvimento econômico e político existente na época, a burguesia confiava na harmonia de interesses, não alimentava qualquer temor quanto à firmeza de seu domínio e se aliou ao campesinato. Esta aliança assegurou a vitória completa da revolução. Em 1848, tratava-se da derrocada da burguesia pelo proletariado. Este último não conseguiu ganhar para as suas posições a pequena burguesia, cuja traição deu origem à derrota da revolução. A linha ascendente foi em 1789 uma forma da revolução na qual a massa do povo venceu o absolutismo. A linha descendente de 1848 foi uma forma da revolução na qual a traição da massa da pequena burguesia ao proletariado provocou a derrota da revolução.
O sr. Plekhanov substituiu o marxismo por um idealismo vulgar, reduzindo a questão a «concepções estratégicas» e não à correlação das classes.
A experiência da revolução russa de 1905 e a da época contrarrevolucionária que a seguiu nos mostra que em nosso país se observaram duas linhas da revolução no sentido da luta de duas classes, o proletariado e a burguesia liberal, pela influência dirigente sobre as massas. O proletariado atuou revolucionariamente e arrastou o campesinato democrático para a derrocada da monarquia e dos latifundiários. Que o campesinato tenha manifestado aspirações revolucionárias no sentido democrático é um fato demonstrado em escala de massa por todos os grandes acontecimentos políticos: as insurreições camponesas de 1905/1906, as agitações militares destes mesmos anos, a União Camponesa de 1905 e as duas primeiras Dumas, nas quais os camponeses trudoviques atuaram não só como «mais esquerdistas do que os democratas constitucionalistas», como também mais revolucionariamente que os intelectuais social-revolucionários e trudoviques. Este fato, infelizmente, é esquecido com muita frequência, mas é um fato. Tanto na III Duma como na IV, os camponeses trudoviques mostraram, apesar de todas as suas debilidades, que as massas do campo estão contra os latifundiários.
A primeira linha da revolução democrático-burguesa russa, tomada a partir dos fatos e não da charlatanice «estratégica», consiste em que o proletariado lutou decididamente e o campesinato o seguiu com indecisão. Ambas as classes lutaram contra a monarquia e os latifundiários. A falta de força e de decisão destas classes originou a derrota (embora, apesar de tudo, se tenha aberto uma brecha parcial na autocracia).
A segunda linha foi a conduta da burguesia liberal. Nós, os bolcheviques, sempre dissemos, sobretudo na primavera de 1906, que a burguesia liberal é representada pelos democratas constitucionalistas e pelos outubristas como uma força única. O decênio de 1905/1915 confirmou nossa opinião. No momento decisivo da luta, os democratas constitucionalistas, juntamente com os outubristas, traíram a democracia e «acudiram» em ajuda do tsar e dos latifundiários. A linha «liberal» da revolução russa consistia em «tranquilizar» e fracionar a luta das massas em benefício da reconciliação da burguesia com a monarquia. E tanto a situação internacional da revolução russa como a força do proletariado russo tornaram inevitável semelhante conduta dos liberais.
Os bolcheviques ajudaram conscientemente o proletariado a seguir a primeira linha, a lutar pom abnegada bravura e a levar atrás de si o campesinato. Os mencheviques rodavam constantemente ao redor da segunda linha e corrompiam o proletariado ao adaptar seu movimento aos liberais, começando com o convite a participar na Duma de Buliguin (agosto de 1905) e terminando com o ministério democrata constitucionalista de 1906 e com o bloco dos democratas constitucionalistas contra a democracia em 1907. (Digamos, entre parênteses, que, do ponto-de-vista do sr. Plekhanov, «as justas concepções estratégicas» dos democratas constitucionalistas e dos mencheviques sofreram então uma derrota. Por que? Por que as massas não ouviram o sábio sr. Plekhanov, nem atenderam os conselhos dos democratas constitucionalistas, difundidos com uma amplitude cem vezes maior que os conselhos dos bolcheviques?)
Só estas correntes, a bolchevique e a menchevique, só elas, se manifestaram na política das massas em 1904/1908 e depois, em 1908/1914. Por que? Porque unicamente estas correntes tinham profundas raízes de classe: a primeira, proletárias; a segunda, liberal-burguesas.
Agora marchamos novamente para a revolução. Todo o mundo o vê. O próprio Khvostov vê que o estado de espírito dos camponeses recorda os anos de 1905/1906. E novamente aparecem diante de nós essas mesmas duas linhas da revolução, essa mesma correlação das classes, modificada unicamente pela nova situação internacional. Em 1905, toda a burguesia europeia estava ao lado do tzarismo e o ajudava, uns com bilhões (os franceses), e os outros preparando o exército contrarrevolucionário (os alemães). Em 1941, estourou a guerra europeia; a burguesia venceu, temporariamente, o proletariado em todas as partes, inundando-o com a torrente turva do nacionalismo e do chauvinismo. Na Rússia, as massas populares pequeno-burguesas, principalmente o campesinato, continuam constituindo a maioria da população. São oprimidas, em primeiro lugar, pelos latifundiários. Politicamente se encontram um tanto adormecidas, vacilam em parte entre o chauvinismo («a vitória sobre a Alemanha», «a defesa da Pátria») e o revolucionarismo. Os porta-vozes políticos destas massas — destas vacilações — são, por um lado, os populistas (trudoviques e social-revolucionários) e, por outro, os oportunistas da social-democracia (Nache Dielo, Plekhanov, a fração de Tchkheidze, o Comitê de Organização), que a partir de 1910 se deslizaram definitivamente pelo caminho da política operária liberal, e que, em 1915, circularam ora em torno do social-chauvinismo dos senhores Potresov, Tcherevanin, Levitski e Maslov, ora em torno da exigência de «unidade» com eles.
Desta situação de fato se depreende de forma evidente a tarefa do proletariado: luta revolucionária abnegadamente audaz contra a monarquia (palavras-de-ordem da Conferência de janeiro de 1912, «os três pilares»),(1) uma luta que arraste todas as massas democráticas, isto é, principalmente o campesinato. É, ao mesmo tempo, luta implacável contra o chauvinismo, luta pela revolução socialista na Europa, em aliança com seu proletariado. As vacilações da pequena burguesia não são casuais, e sim inevitáveis, derivam de sua situação de classe. A crise bélica reforçou os fatores econômicos e políticos que empurram a pequena burguesia — inclusive o campesinato — para a esquerda. Nisto reside a base objetiva da plena possibilidade de que vença a revolução democrática na Rússia. Não temos necessidade de demonstrar aqui que na Europa ocidental amadureceram plenamente as condições objetivas para a revolução socialista: isto foi reconhecido antes da guerra por todos os socialistas influentes em todos os países avançados.
A tarefa principal de um partido revolucionário é pôr a claro a correlação das classes na futura revolução. Desta tarefa afasta-se o Comitê de Organização, que na Rússia contínua sendo um aliado fiel de Nache Dielo e no estrangeiro lança frases «esquerdistas» que nada significam. Esta tarefa e resolvida erroneamente por Trotski, em Nache Slovo, que repete sua «original» teoria de 1905 e não deseja refletir sobre porque a vida durante dez anos, nem mais nem menos, passou indiferente diante desta magnífica teoria.
A original teoria de Trotski toma dos bolcheviques a conclamação a uma decidida luta revolucionária do proletariado e à conquista por ele do poder político, e dos mencheviques a «negação» do papel do campesinato. O campesinato, diz, dividiu-se em várias camadas, diferenciou-se; foi diminuindo seu possível papel revolucionário; na Rússia é impossível revolução «nacional»: «vivemos na época do imperialismo» e «o imperialismo não contrapõe a nação burguesa ao velho regime, e sim o proletariado à nação burguesa».
Aqui temos um divertido exemplo de «jogos malabarísticos» com a palavra imperialismo! Se na Rússia o proletariado contrapõe-se já «à nação burguesa», isso significa que a Rússia se encontra ante a própria revolução socialista!! Então não é acertada a palavra-de-ordem de «confisco das terras dos latifundiários» (repetida por Trotski em 1915, seguindo a Conferência de janeiro de 1912); então não se deve falar de governo «operário revolucionário» e sim de governo «socialista operário!! A que extremo chega a confusão de Trotski o evidencia sua frase de que o ímpeto do proletariado arrastará «as massas populares não proletárias» (n° 217)!! Trotski não pensou que se o proletariado arrasta as massas não proletárias do campo ao confisco das terras dos latifundiários e derroca a monarquia, isto será o coroamento da «revolução burguesa nacional» na Rússia, isto será a ditadura democrático-revolucionária do proletariado e do campesinato!
Todo um decênio — o grande decênio de 1905 a 1915 — provou que existem única e exclusivamente duas linhas de classe da revolução russa. A diferenciação do campesinato fez crescer a luta de classes em seu seio, despertou muitos elementos que dormiam politicamente, aproximou do proletariado urbano o proletariado rural (na organização particular deste último insistiram os bolcheviques em 1906, levando esta reivindicação à resolução do Congresso de Estocolmo, dominado pelos mencheviques). Mas o antagonismo entre o «campesinato» e os Markov, os Romanov e os Khvostov se acentuou, é maior, mais profundo. Esta é uma verdade tão evidente que mesmo milhares de frases em dezenas de artigos parisienses de Trotski não poderão «refutá-la». Trotski ajuda de fato os políticos operários liberais da Rússia, que entendem por «negação» do papel dos camponeses o não querer levantá-los para a revolução!
E eis aí o quid da questão. O proletariado luta e continuará lutando abnegadamente pela conquista do poder, pela república, pelo confisco das terras, isto é, pela conquista do campesinato, pela utilização exaustiva de suas forças revolucionárias, pela participação das «massas populares não proletárias» na obra de libertar a Rússia burguesa do «imperialismo militar feudal» (isto é, do tzarismo). E o proletariado aproveitará imediatamente esta libertação da Rússia burguesa do tzarismo, das relações de propriedade feudal sobre a terra, do poder dos latifundiários, não para ajudar os camponeses acomodados em sua luta contra os onerários agrícolas, e sim para levar a cabo a revolução socialista em aliança com os proletários da Europa.
Notas de fim de tomo:
(1) “As três baleias”: as três principais palavras de ordem dos bolcheviques na revolução democrático-burguesa: república democrática, jornada de trabalho de 8 horas e confisco de toda a terra dos latifundiários.
A VI Conferência de Toda a Rússia do POSDR (Conferência de Praga), realizada em janeiro de 1912, formulou estas reivindicações como as principais palavras de ordem eleitorais do Partido durante a campanha, eleitoral para a IV Duma do Estado. (retornar ao texto)