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Escrito: em finais de Setembro 1 (14) Outubro 1917.
Primeira Edição: Publicado pela primeira vez a
7 de Novembro de 1925 no n.º 255
do Pravda..
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1978, t2, pp 370-374, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 34, pp. 385-390.
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições
"Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.
Camaradas! A nossa revolução atravessa tempos extremamente críticos. Esta crise coincidiu com a grande crise do crescimento da revolução socialista mundial e da luta do imperialismo mundial contra ela. Sobre os dirigentes responsáveis do nosso partido recai uma gigantesca tarefa, cujo não cumprimento ameaça com a bancarrota completa do movimento proletário internacionalista. O momento é tal que a demora equivale verdadeiramente à morte.
Lançai um olhar à situação internacional. O crescimento da revolução mundial é indiscutível. A explosão de indignação dos operários checos foi esmagada com inacreditável ferocidade, que indica o extremo temor do governo. Na Itália, as coisas foram também até uma explosão de massas em Turim[N214]. Mas o mais importante de tudo é a insurreição na esquadra alemã. É preciso pensar nas inacreditáveis dificuldades da revolução num país como a Alemanha, sobretudo nas condições actuais. É impossível duvidar de que a insurreição na esquadra alemã significa uma grande crise do crescimento da revolução mundial. Se os nossos chauvinistas, que pregam a derrota da Alemanha, exigem aos seus operários a insurreição imediata, nós, os revolucionários internacionalistas russos, sabemos pela experiência de 1905-1917 que é impossível imaginar sintoma mais significativo do crescimento da revolução do que a insurreição nas tropas.
Pensai em que situação nos encontramos agora perante os revolucionários alemães. Eles podem dizer-nos: temos apenas um Liebknecht que apelou abertamente para a revolução. A sua voz foi sufocada no presídio. Não temos nem um só jornal que publicamente explique a necessidade da revolução, não temos liberdade de reunião. Não temos nem um só Soviete de deputados operários ou soldados. A nossa voz mal chega às grandes massas. E fizemos uma tentativa de insurreição tendo cerca de uma probabilidade ern cem. E vós, internacionalistas revolucionários russos, tendes atrás de vos meio ano de livre agitação, tendes duas dezenas de jornais, tendes toda urna série de Sovietes de deputados operários e soldados, vencestes nos Sovietes de ambas as capitais, tendes a vosso lado toda a esquadra do Báltico e tod as tropas russas na Finlândia e, tendo noventa e nove probabilidades em cem de vitória da vossa insurreição, não respondeis ao nosso apelo à insurreição, não derrubais o vosso imperialista Kérenski!
Sim, seremos verdadeiros traidores à Internacional se, num momento como este, com condições tão favoráveis, respondemos ao apelo dos revolucionários alemães apenas ... com resoluções!
Acrescentai a isto que todos nós conhecemos perfeitamente o rápido crescimento do entendimento e da conjura dos imperialistas internacionais contra a revolução russa. Estrangulá-la custe o que custar, estrangulá-la tanto com medidas militares como com a paz à custa da Rússia — eis do que se aproxima cada vez mais o imperialismo internacional. Eis o que agrava de modo especial a crise da revolução socialista mundial, eis o que torna particularmente perigosas — e estou quase disposto a dizer: criminosas da nossa parte — as demoras da insurreição.
Tomai em seguida a situação interna da Rússia. A bancarrota dos partidos pequeno-burgueses conciliadores, que exprimiam a confiança inconsciente das massas em Kérenski e nos imperialistas em geral, amadureceu completamente. A bancarrota é completa. Votação da cúria dos Sovietes na Conferência Democrática contra a coligação, votação da maioria dos Sovietes locais de deputados camponeses (não obstante o seu Soviete central, onde se encontram os Avxéntiev e outros amigos de Kérenski) contra a coligação; eleições em Moscovo, onde a população operária está mais perto dos camponeses do que em qualquer outro lado e onde mais de 49 por cento votaram a favor dos bolcheviques (e entre os soldados, 14 mil de 17 mil) - será que tudo isto não é a bancarrota completa da confiança das massas populares em Kérenski e nos conciliadores com Kérenski e C.a? Será possível imaginar que as massas populares possam dizer aos bolcheviques de uma maneira mais clara do que com essa votação: conduzi-nos, nós seguir-vos-emos!
E nós, depois de termos obtido assim a maioria das massas populares para o nosso lado, depois de termos conquistado os Sovietes de ambas as capitais, vamos esperar? Esperar o quê? Que Kérenski e os seus generais kornilovistas entreguem Petrogrado aos alemães, entrando assim, directa ou indirectamente, aberta ou veladamente, em conluio, tanto com Buchanan como com Guilherme, para estrangular por completo a revolução russa!
O facto de o povo nos ter exprimido a sua confiança com as eleições de Moscovo e com a reeleição dos Sovietes não é tudo. Existem sintomas de crescimento da apatia e da indiferença. Isto é compreensível. Isto não significa o declínio da revolução, como gritam os democratas-constitucionalistas e os seus porta-vozes, mas um declínio da confiança nas resoluções e nas eleições. Na revolução, as massas exigem aos dirigentes dos partidos acções e não palavras, vitórias na luta e não conversações. Aproxima-se o momento em que pode surgir no povo a opinião de que os bolcheviques também não sao melhores que os outros, pois não souberam agir depois de lhes termos exprimido a nossa confiança ...
Por todo o país se inflama a insurreição camponesa. É claríssimo que os democratas-constitucionalistas e os lacaios dos democratas-constitucionalistas procuram minimizá-la por todos os meios, reduzindo-a a «pogro-mes» e «anarquia». Esta mentira é refutada pelo facto de nos centros da insurreição se ter começado a entregar a terra aos camponeses: os «pogromes» e a «anarquia» nunca conduziram a tão excelentes resultados políticos! A imensa força da insurreição camponesa é demonstrada pelo facto de que tanto os conciliadores como os socialistas-revolucionários no Delo Naroda e mesmo Brechko-Brechkóvskaia começaram a falar da entrega da terra aos camponeses para abafar o movimento enquanto ele não os ultrapassa definitivamente.
E nós iremos esperar para ver as unidades, cossacas do kornilovista Kérenski (que precisamente nos últimos tempos foi desmascarado como implicado na kornilovada pelos próprios socialistas-revolucionários) esmagarem por partes esta insurreição camponesa?
Aparentemente, muitos dirigentes do nosso partido não notaram a especial importância da palavra de ordem que todos reconhecemos e repetimos incessantemente. Essa palavra de ordem é: todo o poder aos Sovietes. Houve períodos, houve momentos durante o meio ano da revolução, em que esta palavra de ordem não significava a insurreição. É possível que esses períodos e esses momentos tenham cegado parte dos camaradas e os tenham feito esquecer que agora e para nós, pelo menos desde meados de Setembro, esta palavra de ordem equivale a um apelo à insurreição.
Nesta questão não pode haver nem sombra de dúvida. O Delo Naroda há pouco explicou-o «popularmente» ao dizer: «Kérenski não se submeterá em caso algum!». Era o que faltava!
A palavra de ordem «todo o poder aos Sovietes» não é mais do que um apelo à insurreição. E sobre nós recairá inteira e incondicionalmente a culpa se, depois de durante meses termos chamado as massas à insurreição, à renúncia ao espírito de conciliação, não conduzirmos essas massas à insurreição em vésperas da bancarrota da revolução, depois de as massas nos terem manifestado a sua confiança.
Os democratas-constitucionalistas e os conciliadores assustam com o exemplo do 3-5 de Julho, com o crescimento da agitação cem-negrista, etc.
Mas se houve um erro no 3-5 de Julho foi o de não termos tomado o poder.
Penso que esse erro não existiu então, pois então ainda não estávamos em maioria, mas agora isso seria um erro fatal e algo de pior que um erro. O crescimento da agitação cem-negrista é compreensível como agudização dos extremos numa atmosfera de revolução camponesa-proletária em crescimento. Mas fazer disto um argumento contra a insurreição é ridículo, pois a impotência dos cem-negros subornados pelos capitalistas, a impotência dos cem-negros na luta nem sequer exige demonstração. Na luta são simplesmente um zero. Na luta, Kornílov e Kérenski só podem apoiar-se na divisão selvagem e nos cossacos. Mas agora a desmoralização também já começou entre os cossacos e, além disso, os camponeses ameaçam-nos com a guerra civil de dentro das suas regiões cossacas.
Escrevo estas linhas no domingo, 8 de Outubro, e ireis lê-las não antes de 10 de Outubro. Disse-me um camarada que passou por aqui qué aqueles que viajam pela linha de Varsóvia dizem: Kérenski leva os cossacos para Petrogrado! É plenamente verosímil, e a culpa será exclusivamente nossa se não o verificarmos em todos os aspectos e não estudarmos as forças e a distribuição das tropas kornilovistas do segundo recrutamento.
Kérenski voltou a trazer tropas kornilovistas para os arredores de Petrogrado para impedir a entrega do poder aos Sovietes, para impedir que este poder proponha imediatamente a paz, para impedir a entrega imediata de toda a.terra ao campesinato, para entregar Petrogrado aos alemães[N215] e fugir ele próprio para Moscovo! Eis a palavra de ordem da insurreição que elevemos pôr a circular com a maior amplitude possível e que terá um imenso êxito.
Não se pode esperar pelo congresso dos Sovietes de toda a Rússia, que o Comité Executivo Central pode adiar mesmo até Novembro, não se pode protelar a insurreição permitindo que Kérenski traga mais tropas kornilovistas. No congresso dos Sovietes estão representados a Finlândia, a esquadra e Reval que, tomados em conjunto, podem realizar um movimento imediato para Petrogrado contra os regimentos kornilovistas, um movimento da esquadra e da artilharia, das metralhadoras e dois ou três corpos de soldados que demonstraram, por exemplo, em Víborg, toda a força do seu ódio aos generais kornilovistas com os quais Kérenski voltou a entender-se.
Seria o maior dos erros renunciar à possibilidade de derrotar imediatamente os regimentos kornilovistas do segundo recrutamento com base na consideração de que a Esquadra do Báltico, ao largar para Petrogrado, abriria esta frente aos alemães. Os caluniadores kornilovistas dirão isso, tal como dirão qualquer mentira em geral, mas é indigno de revolucionários deixar-se intimidar pela mentira e pela calúnia. Kérenski entregará Petrogrado aos alemães, isso está agora claríssimo; nenhuma asseveração em contrário eliminará a nossa plena convicção disto, que decorre de toda a marcha dos acontecimentos e de toda a política de Kérenski.
Kérenski e os kornilovistas entregarão Petrogrado aos alemães. Precisamente para salvar Petrogrado é preciso derrubar Kérenski e que os Sovietes de ambas as capitais tomem o poder, estes Sovietes proporão imediatamente a paz a todos os povos e, assim, cumprirão o seu dever para com os revolucionários alemães, darão assim um passo decisivo para frustrar as criminosas conjuras contra a revolução russa, as conjuras do imperialismo internacional.
Só um movimento imediato da Esquadra do Báltico, das tropas da Finlândia, de Reval e Cronstadt contra as tropas kornilovistas nos arredores de Petrogrado pode salvar a revolução russa e mundial. E esse movimento tem noventa e nove probabilidades em cem de, em alguns dias, levar à rendição de uma parte das tropas cossacas, à derrota completa da outra parte, ao derrubamento de Kérenski, pois os operários e os soldados de ambas as capitais apoiarão tal movimento.
A demora equivale à morte.
A palavra de ordem: «todo o poder aos Sovietes» é a palavra de ordem da insurreição. Quem utiliza tal palavra de ordem sem ter consciência disto, sem pensar nisto, que se queixe a si mesmo. E é preciso saber tratar a insurreição como uma arte — insisti nisto durante a Conferência Democrática e insisto agora, pois éisto que ensina o marxismo, é isto que ensina toda a situação actual na Rússia e em todo o mundo.
Não se trata de votações, de atrair os «socialistas-revolucionários de esquerda», da conquista dos Sovietes provinciais, do seu congresso. Trata-se da insurreição, que Petrogrado, Moscovo, Helsingfors, Cronstadt, Víborg e Reval podem e devem decidir, junto de Petrogrado e em Petrogrado — eis onde pode e deve decidir-se e realizar-se esta insurreição com a maior seriedade possível, com a maior preparação possível, com a maior rapidez possível, com a maior energia possível.
A esquadra, Cronstadt, Víborg, Reval podem e devem avançar sobre Petrogrado, derrotar os regimentos kornilovistas, levantar ambas as capitais, fazer uma agitação de massas por um poder que entregue imediatamente a terra aos camponeses e proponha imediatamente a paz, derrubar o governo de Kérenski, criar esse poder.
A demora equivale à morte.
8 de Outubro de 1917.
N. Lenine
Notas de fim de tomo:
[N214] Trata-se das grandes acções contra a guerra que tiveram lugar em Turim em Agosto de 1917. No dia 21 de Agosto começaram em Turim manifestações provocadas por uma aguda falta de víveres. No dia seguinte os operários entraram em greve, que se tornou geral. Na cidade começaram a aparecer barricadas. O movimento adquiriu um carácter político antibélico. No dia 23 de Agosto os subúrbios de Turim encontravam-se nas mãos dos insurrectos. O governo enviou tropas para esmagar o movimento e declarou o estado de sítio na cidade. No dia 27 de Agosto terminou a greve geral em Turim. (retornar ao texto)
[N215] Com o propósito de impedir por todos os meios a insurreição armada dos operários e soldados, o Governo Provisório de Kérenski e o generalato contra-revolucionário, de acordo com os imperialistas anglo-franceses, propunham-se em começos de Outubro de 1917 entregar Petrogrado aos alemães para assim estrangular a revolução. Com este objectivo, o Governo Provisório decidiu na sua reunião de 4 (17) de Outubro transferir-se para Moscovo. A insurreição armada de Outubro frustrou os planos da contra-revolução. (retornar ao texto)
Inclusão | 26/01/2011 |