Carta a I. M. Sverdlov

V. I. Lénine

4 ou 5 de Novembro de 1917

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Escrito: Escrito a 22 ou 23 de Outubro (4 ou 5 de Novembro) de 1917..
Primeira Edição: Publicado pela primeira vez em 1957 no livro A Insurreição Armada de Outubro em Petrogrado, Moscovo, edição da Academia das Ciências da URSS.

Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, t2, p 387, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.34, p. 434.
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.


capa

Ao camarada Sverdlov.

Só ontem à noite soube que Zinóviev nega por escrito a sua participação na intervenção de Kámenev no Nóvaia Jizn.

Como é possível que não me envie nada sobre isto???

Todas as cartas sobre Kámenev e Zinóviev enviei-as apenas aos membros do CC. — Você sabe-o; não é estranho que, depois disto, você pareça duvidar disto?

Evidentemente, não conseguirei estar no plenário, pois andam à minha «caça». Na questão de Zinóviev e Kámenev, se você (+ Stáline, Sokólnikov e Dzerjínski) exige um compromisso[N222], apresente contra mim a proposta da entrega do caso a um tribunal do partido (os factos mostram claramente que também Zinóviev sabotou premeditadamente): isto será um adiamento.

«Foi aceite a demissão de Kámenev?» Do CC? Envie o texto da sua declaração.

A anulação da manifestação dos cossacos[N223] é uma vitória gigantesca. Hurra! Atacar com todas as forças e venceremos completamente em alguns dias! As melhores saudações. Seu.


Notas de fim de tomo:

[N219] A Carta aos Membros do Partido Bolchevique e a Carta ao Comité Central do POSDR(b) reflectem a luta de Lenine contra Zinóviev e Kámenev, que tentavam torpedear a decisão do CC sobre a insurreição armada. Tendo sofrido uma derrota na reunião do CC de 10 (23) de Outubro de 1917, na qual se discutiu a questão da insurreição, no dia seguinte - 11 (24) de Outubro - Zinóviev e Kámenev dirigiram uma declaração ao CC e uma carta, intitulada Acerca do Momento Actual, aos comités de Petrogrado, de Moscovo, regional de Moscovo e regional da Finlândia do POSDR(b) e às fracções bolcheviques do CEC dos Sovietes e do Congresso dos Sovietes da Região Norte.
Nesta carta pronunciavam-se contra a resolução tomada pelo CC sobre a insurreição armada. Não tendo recebido nenhum apoio na reunião alargada do Comité de Petrogrado de 15 (28) de Outubro, na qual foi lida a sua carta, e na reunião ampliada do CC de 16 (29) de Outubro, onde se pronunciaram novamente contra a insurreição armada, Zinóviev e Kámenev passaram à traição directa. Em 18 (31) de Outubro foi publicada no jornal semimenchevique Nóvaia Jizn uma nota com o título I. Kámenev sobre a «Intervenção», na qual Kámenev, em seu nome e no de Zinóviev, se declarava contra a insurreição armada, revelando deste modo ao inimigo uma importantíssima decisão secreta do Partido. Nesse mesmo dia Lenine escreveu a Carta aos Membros do Partido Bolchevique, e em 19 de Outubro (1 de Novembro) a Carta ao Comité Central do POSDR(b). Nas suas cartas Lenine estigmatizava este acto como uma traição à revolução, chamava fura-greves a Zinóviev e Kámenev e exigia a sua expulsão do Partido.
A carta de Lenine ao Comité Central do POSDR(b) foi discutida na reunião do CC de 20 de Outubro (2 de Novembro). Na discussão desta questão, Dzerjínski, intervindo em primeiro lugar, propôs «exigir a Kámenev o completo afastamento da actividade política». Em relação a Zinóviev alegou que este último se escondia da perseguição do poder e de qualquer modo não participava no trabalho do Partido. Na sua intervenção Sverdlov assinalou que o acto de Kámenev não podia de modo nenhum ser justificado, mas que o CC não tinha o direito de o expulsar do Partido. Propôs que se aceitasse a demissão de Kámenev do CC. Stáline interveio duas vezes na reunião do CC. Inicialmente propôs que se levasse a questão à discussão de um plenário do CC, e, quando a sua proposta não foi aceite, declarou na sua segunda intervenção que «a expulsão do Partido não é receita», e propôs obrigar Zinóviev e Kámenev a submeterem-se às decisões do CC, demitindo-os do CC. Este mesmo ponto de vista foi também expresso por Stáline nas colunas do jornal Rabótchi Put, numa nota Da Redacção publicada em 20 de Outubro (2 de Novembro), antes da tomada de decisão do Comité Central. Nesta nota Stáline escrevia que a rispidez do tom do artigo de Lenine (Carta aos Camaradas) não alterava, relativamente a Zinóviev e Kámenev, o facto «de que no fundamental continuamos a ser correligionários». A nota Da Redacção foi publicada por Stáline já depois da declaração de Kámenev no Nóvaia Jizn e de ter sido feita nas cartas de Lenine uma apreciação da conduta de Kámenev e Zinóviev.
O Comité Central aceitou a demissão de Kámenev do CC; Zinóviev e Kámenev foram colocados na obrigação de não fazer nenhumas declarações contra as decisões do CC e a linha de trabalho por ele traçado. Foi também decidido que nenhum membro do CC se pronunciasse contra as decisões tomadas pelo CC.
Lenine não esteve de acordo com a decisão do CC em relação a Zinóviev e Kámenev, e escreveu acerca disto uma carta a Sverdlov, na qual chamava compromisso a esta decisão. (retornar ao texto)

[N222] Trata-se das intervenções de Sverdlov, Stáline, Dzerjínski e Sokólnikov na reunião do Comité Central do Partido de 20 de Outubro (2 de Novembro) de 1917, quando da discussão da carta de Lenine ao Comité Central do POSDR(b) (ver Carta ao Comité Central do POSDR (b) e a nota 219.) (retornar ao texto)

[N223] A manifestação dos cossacos ou «procissão» cossaca em Petrogrado foi marcada para o dia 22 de Outubro (4 de Novembro) de 1917 e era considerada pela contra-revolução como uma revista das suas forças na luta contra a revolução crescente. Os bolcheviques desenvolveram um grande trabalho entre os cossacos, exortando-os a recusarem-se a participar nesta manifestação. O Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado dirigiu um apelo aos cossacos. Foram convidados representantes dos regimentos cossacos para uma assembleia de comités de regimentos organizada pelo Soviete de Petrogrado em 21 de Outubro (3 de Novembro) no Smólni. Na assembleia os cossacos declararam que não actuariam contra os operários e soldados. O Governo Provisório viu-se obrigado, às primeiras horas de 22 de Outubro (4 de Novembro), a anular a «procissão» cossaca. (retornar ao texto)

Inclusão 03/05/2011