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Camaradas! Chegou um dos momentos mais críticos, provavelmente mesmo o mais crítico, da revolução socialista. Os defensores dos exploradores, dos latifundiários e dos capitalistas, russos e estrangeiros (em primeiro lugar ingleses e franceses) fazem uma tentativa desesperada para restabelecer na Rússia o poder dos saqueadores do trabalho do povo, latifundiários e exploradores, para consolidar o seu poder, que está a cair em todo o mundo. Os capitalistas ingleses e franceses fracassaram no seu plano para conquistar a Ucrânia por meio das suas próprias tropas; fracassaram no seu apoio a Koltchak na Sibéria; o Exército Vermelho, avançando heroicamente nos Urais com a ajuda dos operários uralianos que se erguem como um só homem, aproxima-se da Sibéria para a libertar do jugo e da ferocidade inauditos dos capitalistas, senhores da região. Por fim, os imperialistas ingleses e franceses fracassaram também no seu plano para se apoderarem de Petrogrado por meio duma conspiração contra-revolucionária na qual participaram monárquicos, democratas-constitucionalistas, mencheviques e socialistas-revolucionários russos, sem excluir mesmo os socialistas-revolucionários de esquerda.
Agora os capitalistas estrangeiros fazem uma tentativa desesperada para restaurar o jugo do capital mediante a invasão de Deníkine, ao qual prestaram auxílio, tal como anteriormente a Koltchak, com oficiais, abastecimentos, munições, tanques, etc., etc.
Todas as forças dos operários e camponeses, todas as forças da República Soviética devem ser postas em tensão para repelir a invasão de Deníkine e derrotá-la, sem deter a ofensiva vitoriosa do Exército Vermelho sobre os Urais e a Sibéria. Nisto consiste
Todos os comunistas, antes de tudo e acima de tudo, todos os simpatizantes, todos os operários e camponeses honrados, todos os funcionários soviéticos devem pôr-se em pé de guerra, dirigindo o máximo do seu trabalho, dos seus esforços e preocupações para as tarefas imediatas da guerra, para repelir rapidamente a invasão de Deníkine, reduzindo e reorganizando, em subordinação a esta tarefa, toda a sua restante actividade.
A República Soviética é assediada pelo inimigo. Deve tornar-se, não em palavras mas de facto, um campo militar único.
Adaptar à guerra e reorganizar em pé de guerra todo o trabalho de todas as instituições!
A colegialidade é necessária para a resolução dos assuntos do Estado operário e camponês. Mas todo o exagero dessa colegialidade, toda a deturpação dela que leve à morosidade, à irresponsabilidade, toda a transformação das instituições colegiais em lugares de retórica, é o pior dos males, e é preciso acabar com este mal a todo o custo, o mais depressa possível, não se detendo perante nada.
A colegialidade não deve ir além do mínimo absolutamente indispensável, nem quanto ao número dos membros dos órgãos colegiais, nem no que se refere à gestão expedita do trabalho; proibição dos «discursos», máxima rapidez na troca de opiniões, sua redução à informação e a propostas práticas precisas.
De cada vez que para tal se apresenta a mínima possibilidade, a colegialidade deve reduzir-se a uma discussão brevíssima apenas das questões mais importantes, num órgão colegial o menos amplo possível, enquanto a direcção prática da instituição, empresa, obra, tarefa, deve ser confiada a um só camarada, conhecido pela sua firmeza, decisão, ousadia e capacidade para dirigir assuntos práticos e que goze da maior confiança. Em todos os casos e em todas as circunstâncias sem excepção, a colegialidade deve ser acompanhada da mais precisa determinação da responsabilidade pessoal de cada pessoa por uma tarefa precisamente definida. A irresponsabilidade, encoberta com referências à colegialidade, é o mais perigoso mal que ameaça todos aqueles que não têm uma experiência muito grande no trabalho colegial prático, e que nos assuntos militares muitas vezes conduz inevitavelmente à catástrofe, ao caos, ao pânico, à pluralidade de poderes, à derrota.
Um mal não menos perigoso é a excitação ou a mania dos projectos quiméricos em matéria de organização. A reorganização do trabalho, indispensável para a guerra, não deve em nenhum caso levar à reorganização de instituições e muito menos à criação precipitada de novas instituições. Isto é absolutamente inadmissível e só conduz ao caos. A reorganização do trabalho deve consistir na suspensão temporária das instituições que não são absolutamente indispensáveis, ou na sua redução em certa medida. Mas todo o trabalho de ajuda à guerra deve ser conduzido total e exclusivamente através das instituições militares já existentes, melhorando-as, fortalecendo-as, alargando-as e apoiando-as. A formação de «comités de defesa» ou de «revkoms» (comités revolucionários ou revolucionários militares) especiais é admissível apenas como excepção, em primeiro lugar; em segundo lugar, só com a aprovação das autoridades militares correspondentes ou das autoridades soviéticas superiores; em terceiro lugar, com o cumprimento obrigatório da referida condição.
Koltchak e Deníkine são os inimigos principais, e os únicos sérios, da República Soviética. Se não fosse a ajuda a eles por parte da Entente (Inglaterra, França, América), já há muito que se teriam desmoronado. Só a ajuda da Entente faz deles uma força. Mas são obrigados, no entanto, a enganar o povo, a fingir de vez em quando ser partidários da «democracia», da «Assembleia Constituinte», da «soberania popular», etc. Os mencheviques e socialistas-revolucionários deixam-se enganar de muito bom grado.
Agora, a verdade sobre Koltchak (e Deníkine é seu gémeo) está completamente a descoberto. Fuzilamentos de dezenas de milhares de operários. Fuzilamentos mesmo de mencheviques e socialistas-revolucionários. Espancamento de camponeses em distritos inteiros. Espancamento público de mulheres. Poder absolutamente desenfreado dos oficiais, dos filhinhos dos latifundiários. Pilhagem sem fim. Tal é a verdade sobre Koltchak e Deníkine. Mesmo entre os mencheviques e socialistas-revolucionários, que atraiçoaram eles próprios os operários, que estavam ao lado de Koltchak e Deníkine, é cada vez maior o número daqueles que se vêem obrigados a reconhecer esta verdade.
É preciso considerar como o mais importante de toda a agitação e propaganda informar o povo acerca disto. É preciso explicar: ou Koltchak e Deníkine, ou o Poder Soviético, o poder (a ditadura) dos operários; não há meio termo; não pode haver meio termo. É preciso utilizar em particular os testemunhos de não bolcheviques: de mencheviques, de socialistas-revolucionários e sem partido que tenham estado no território ocupado por Koltchak ou Deníkine. Que cada operário e camponês saiba por que se luta, o que o espera no caso de vitória de Koltchak ou Deníkine.
Uma das preocupações principais deve ser presentemente o trabalho entre os que vão ser mobilizados, para ajudar a mobilização, e entre os já mobilizados. Os comunistas e simpatizantes em todas as localidades onde estão concentrados os mobilizados ou onde há guarnições e em particular batalhões de reserva, etc., devem ser todos alertados. Todos eles, sem excepção, devem unir-se e trabalhar, uns diariamente, outros, digamos, 4 ou 8 horas por semana, na ajuda à mobilização e entre os mobilizados, entre os soldados da guarnição local, é claro que duma forma rigorosamente organizada, sendo cada um designado para um trabalho adequado pela organização local do partido e pelas autoridades militares.
A população sem partido ou pertencente a um partido que não seja o comunista, não está, naturalmente, em condições de realizar um trabalho ideológico contra Deníkine ou Koltchak. Mas é inadmissível excluí-la por essa razão de todo o trabalho. É necessário procurar todos os meios possíveis para que toda a população sem excepção (e em primeiro lugar os mais abastados, tanto na cidade como no campo) seja obrigada a dar o seu óbolo, de uma ou de outra forma, para ajudar a mobilização ou os mobilizados.
Deve constituir uma categoria especial das medidas de ajuda a assistência à mais rápida e melhor instrução dos mobilizados. O poder soviético convoca todos os ex-oficiais, suboficiais, etc. O partido comunista, e com ele todos os simpatizantes e todos os operários, devem ajudar o Estado operário e camponês, em primeiro lugar ajudando por todos os meios a pescar os ex-oficiais, suboficiais, etc., que fogem a apresentar-se, em segundo lugar organizando, sob o controlo da organização do partido ou anexos a ela, grupos integrados por pessoas que, teórica ou praticamente (por exemplo, por terem participado na guerra imperialista) adquiriram instrução militar e estão em condições de dar o seu contributo útil.
Nos últimos tempos verificou-se claramente uma viragem na luta contra os desertores. Numa série de províncias, os desertores regressaram em massa ao exército; os desertores, sem exagero, afluem em multidão ao Exército Vermelho. A causa disto, em primeiro lugar, é o trabalho mais hábil e sistemático dos camaradas do partido; em segundo lugar, a crescente consciência dos camponeses de que Koltchak e Deníkine levam à restauração de uma ordem ainda pior do que a tsarista, à restauração da escravidão dos operários e camponeses, dos espancamentos, pilhagem e ultrages dos oficiais e dos fidalgotes.
Por isso mesmo é preciso reforçar em toda a parte e com todas as forças o trabalho entre os desertores e para o regresso dos desertores ao exército. Esta é uma das tarefas mais fundamentais e urgentes.
A propósito. A possibilidade de influir sobre os desertores por meio da persuasão e o êxito desta actividade mostram da parte do Estado operário, diferentemente do Estado dos latifundiários e dos capitalistas, uma atitude inteiramente particular em relação ao campesinato. O jugo do cacete ou o jugo da fome são a única fonte de disciplina para aqueles dois tipos de Estado. Para o Estado operário ou para a ditadura do proletariado, é possível outra fonte de disciplina: a persuasão dos camponeses por parte dos operários e a sua aliança fraterna. Quando se ouve testemunhas oculares relatar que em determinada província (por exemplo, na de Riazán) regressam voluntariamente milhares e milhares de desertores, que nos comícios os apelos aos «camaradas desertores» têm por vezes um êxito indescritível, começamos a ter uma ideia de como são grandes as forças ainda não utilizadas por nós contidas nessa aliança fraterna entre os operários e os camponeses. O camponês tem um preconceito que o conduz atrás do capitalista, atrás do socialista-revolucionário, atrás do «comércio livre», mas tem também uma razão que o leva cada vez mais à aliança com os operários.
O nosso exército tem necessidades sobretudo no terreno do abastecimento: roupa, calçado, armas, munições. Num país arruinado temos de fazer enormes esforços para cobrir estas necessidades do exército, e só a ajuda que os bandidos capitalistas da Inglaterra, da França e da América prestam generosamente a Koltchak e a Deníkine, só ela os salva do colapso inevitável por causa da insuficiência de abastecimentos.
No entanto, por mais arruinada que esteja a Rússia, possui ainda muitos e muitos recursos que ainda não utilizámos, que muitas vezes não temos sabido utilizar. Existem ainda muitos depósitos de material de guerra não descobertos ou não inventariados, muitas possibilidades de produção que deixamos escapar, em parte devido à sabotagem consciente dos funcionários, em parte devido à morosidade, à rotina burocrática, à desordem e à incompetência, a todos esses «pecados do passado», que pesam de um modo tão cruel e tão inevitável sobre qualquer revolução que efectue um «salto» para um novo regime social.
A ajuda directa ao exército neste aspecto é especialmente importante. As instituições que a realizam têm especial necessidade de ser «revigoradas», de assistência de fora, da iniciativa voluntária, enérgica e heróica dos operários e dos camponeses da base.
É preciso exortar com a maior amplitude todos os operários e camponeses conscientes, todos os militantes dos Sovietes, a esta iniciativa, é preciso pôr à prova em diversos lugares e em diversos domínios do trabalho diferentes formas de ajuda ao exército neste aspecto. Aqui o «trabalho à maneira revolucionária» é muito menor do que nos outros domínios, enquanto a necessidade de um «trabalho à maneira revolucionária» é aqui muito maior.
Uma parte integrante desse trabalho é recolher as armas da população. Que num país que viveu quatro anos de guerra imperialista e depois duas revoluções populares, muitíssimas armas tenham sido escondidas pelos camponeses e pela burguesia, isso é natural, isso surgiu inevitavelmente. Mas agora, perante a invasão ameaçadora de Deníkine, é preciso lutar com todas as forças contra isto. Aquele que esconde ou ajuda a esconder armas comete o maior crime contra os operários e camponeses e merece o fuzilamento, pois é culpado da morte de milhares e milhares dos melhores soldados vermelhos, que muitas vezes morrem só por causa da insuficiência de armas nas frentes.
Os camaradas de Petrogrado souberam encontrar milhares e milhares de espingardas quando realizaram - de forma estritamente organizada - buscas em massa. É preciso que o resto da Rússia não fique atrás de Petrogrado, mas que a alcance e ultrapasse, custe o que custar.
Por outro lado, não há dúvida de que a maioria das vezes as espingardas estão escondidas pelos camponeses, e muito frequentemente sem qualquer má intenção, mas simplesmente devido à desconfiança inveterada em relação a todo o «Estado», etc. Se soubemos fazer muito e muitíssimo (nas melhores províncias) por meio da persuasão, de uma agitação hábil, com uma abordagem racional do assunto, para o regresso voluntário dos desertores ao Exército Vermelho, não há dúvida de que também se pode e deve fazer muito, se não ainda mais, para a devolução voluntária das armas.
Operários e camponeses! Procurai as espingardas escondidas e entregai-as ao exército! Com isso salvar-vos-eis dos massacres, fuzilamentos, espancamentos em massa e pilhagem de Koltchak e Deníkine!
Para realizar, ainda que parcialmente, os trabalhos acima resumidamente apontados, são necessários novos e novos funcionários, e além disso, provenientes dos comunistas mais seguros, dedicados e enérgicos. E onde encontrá-los, tendo em conta as queixas gerais sobre a falta de tais funcionários ou sobre o seu cansaço excessivo?
Não há dúvida de que essas queixas são em grande parte justas. Se alguém calculasse com precisão como é reduzida a camada de operários de vanguarda e de comunistas que, com o apoio e a simpatia das massas operárias e camponesas, tem governado a Rússia durante os últimos 20 meses, isto poderia parecer completamente inverosímil. E, contudo, temos governado com enorme êxito, criando o socialismo, superando dificuldades inauditas, vencendo os inimigos que surgiam por toda a parte, directa ou indirectamente ligados à burguesia. E já vencemos todos os inimigos, excepto um: excepto a Entente, excepto a burguesia imperialista com um poderio mundial da Inglaterra, da França e da América, embora também a este inimigo tenhamos quebrado um braço - Koltchak; agora só nos ameaça o seu outro braço: Deníkine.
As novas forças operárias para a direcção do Estado, para a realização das tarefas da ditadura do proletariado, crescem rapidamente na pessoa da juventude operária e camponesa que aprende cada vez com maior paixão, entusiasmo e abnegação, assimila as novas impressões do novo regime, se liberta da crosta dos velhos preconceitos capitalistas e democrático-burgueses, forja no seu seio comunistas ainda mais firmes que os da velha geração.
Mas, por mais rápido que seja o crescimento desta nova camada, por mais rapidamente que aprenda e amadureça no fogo da guerra civil e da raivosa resistência da burguesia, não poderá dar-nos nos próximos meses funcionários preparados para a direcção do Estado. E trata-se precisamente dos próximos meses, do Verão e do Outono de 1919, pois é necessário decidir a luta contra Deníkine e fazê-lo imediatamente.
Para obter um grande número de funcionários preparados para reforçar o trabalho militar é preciso reduzir toda uma série de ramos e instituições do trabalho soviético não militar, ou melhor, não directamente militar, é preciso reorganizar nesta direcção (isto é, na direcção da redução) todas as instituições e empresas que não são absolutamente necessárias.
Tomemos, por exemplo, a secção científico-técnica do Conselho Superior da Economia Nacional. Trata-se duma instituição extremamente útil, necessária para a completa construção do socialismo, para um correcto registo e distribuição de todas as forças científico-técnicas. Mas uma instituição como esta será absolutamente necessária? Claro que não. Dedicar-lhe homens que podem e devem ser utilizados imediatamente num trabalho comunista vital e absolutamente necessário no exército e directamente para o exército, seria neste momento um verdadeiro crime.
No nosso país, no centro e nas localidades, há muitas instituições e secções de instituições deste género. Aspirando à completa realização do socialismo, não podíamos deixar de começar a organização imediata de semelhantes instituições. Mas seremos estúpidos ou criminosos se perante a ameaçadora invasão de Deníkine não soubermos reorganizar as fileiras de tal modo que tudo aquilo que não seja absolutamente necessário seja suspenso e reduzido.
Não nos deixando arrastar pelo pânico nem cair na balbúrdia organizativa, não devemos reorganizar nem fechar totalmente nenhuma instituição, nem mesmo começar a organizar novas instituições, o que é particularmente nocivo quando se trabalha precipitadamente. Devemos suspender por três, quatro ou cinco meses todas as instituições e secções de instituições, no centro e nas localidades, que não sejam absolutamente necessárias, ou, se não se pode suspendê-las totalmente, reduzi-las, pelo mesmo período (aproximadamente), reduzi-las na maior medida possível, isto é, manter apenas o mínimo de trabalho absolutamente necessário.
Sendo o nosso objectivo principal obter imediatamente um grande número de comunistas ou de simpatizantes do socialismo preparados, experimentados, dedicados, provados, para o trabalho militar, podemos correr o risco de deixar temporariamente sem nenhum comunista muitas das instituições (ou secções de instituições) fortemente reduzidas, entregando-as nas mãos de funcionários exclusivamente burgueses. Este risco não é grande, uma vez que se trata apenas de instituições que não são absolutamente necessárias, e o prejuízo ocasionado pela redução da sua actividade (semiparalisada), embora exista, não será grande e de modo nenhum nos deitará a perder. Mas a falta de energia para o reforço do trabalho militar, reforço imediato e significativo, pode deitar-nos a perder. É preciso compreendê-lo claramente e tirar daqui todas as conclusões.
Se cada dirigente de departamento ou de secção de departamento das províncias, distritos, etc., cada célula de comunistas, sem perder um instante, se puser a perguntar: é absolutamente necessária tal instituição? E tal secção? Sucumbiremos se a suspendermos ou reduzirmos o seu trabalho em 9/10, deixando-a sem nenhum comunista? Se depois de colocar assim a questão se reduzir rápida e decididamente o trabalho e se retirar os comunistas (juntamente com os seus colaboradores absolutamente seguros de entre os simpatizantes ou os sem partido), então poderemos obter no mais breve prazo centenas e centenas de homens para o trabalho nas secções políticas do exército, para os cargos de comissários, etc. E então teremos sérias probabilidades de vencer Deníkine, assim como vencemos Koltchak, que era mais forte.
Durante as últimas semanas, a zona da frente na República Socialista Federativa Soviética da Rússia cresceu terrivelmente e sofreu modificações extremamente rápidas. Isto pressagia ou acompanha o momento decisivo da guerra, a proximidade do seu desenlace.
Por um lado, uma enorme zona da frente na região dos Urais e nos próprios Urais tornou-se uma zona nossa devido às vitórias do Exército Vermelho e ao desmoronamento de Koltchak, ao crescimento da revolução nos territórios ocupados por Koltchak. Por outro lado, uma zona ainda maior transformou-se em zona de guerra nas proximidades de Petrogrado e no Sul, devido às nossas perdas, devido à enorme aproximação do inimigo em direcção a Petrogrado e à invasão da Ucrânia e do centro da Rússia a partir do Sul.
O trabalho na zona da frente adquire uma importância particularmente grande.
Na região dos Urais, onde o Exército Vermelho avança com rapidez, entre os funcionários do exército, comissários, membros das secções políticas, etc., e também entre os operários e os camponeses locais, existe o desejo natural de se estabelecerem nas localidades reconquistadas e realizar ali um trabalho soviético construtivo, desejo tanto mais natural quanto maior é o cansaço da guerra e mais penoso o quadro da destruição realizada por Koltchak. Mas nada seria mais perigoso do que a satisfação desse desejo. Isso ameaçaria enfraquecer a ofensiva, dificultá-la e aumentar as possibilidades de Koltchak se recompor. Da nossa parte, isso seria um verdadeiro crime para com a revolução.
Não retirar em nenhum caso do exército do Oriente nem um dos seus funcionários para o trabalho local!(1*) Não enfraquecer em caso algum a ofensiva! A única possibilidade de vitória completa consiste na participação de toda a população da região próxima dos Urais e dos próprios Urais, que conheceu os horrores da «democracia» de Koltchak, e na continuação da ofensiva sobre a Sibéria até à completa vitória da revolução na Sibéria.
Que a construção na zona próxima dos Urais e nos Urais se atrase, que ela se realize pior com forças fracas, inexperientes, jovens, puramente locais. Não pereceremos por isso. Mas enfraquecer a ofensiva sobre os Urais e sobre a Sibéria far-nos-á perecer, devemos reforçar essa ofensiva com as forças dos operários sublevados nos Urais, com as forças dos camponeses das regiões próximas dos Urais, que conhecem agora na sua própria pele o que significam as promessas «constituintes» do menchevique Máiski e do socialista-revolucionário Tchernov e qual é o verdadeiro conteúdo destas promessas, isto é, Koltchak.
Enfraquecer a ofensiva sobre os Urales e a Sibéria significaria atraiçoar a revolução, atraiçoar a causa da libertação dos operários e camponeses do jugo de Koltchak.
No trabalho nas zonas da frente há pouco libertadas é preciso recordar que a tarefa fundamental ali consiste em conquistar a confiança no poder dos Sovietes, não só dos operários, mas também dos camponeses, em explicar-lhes na prática a essência do Poder Soviético como poder dos operários e camponeses, em tomar imediatamente o rumo certo adoptado pelo partido com base no balanço de vinte meses de trabalho. Não devemos repetir nos Urais os erros por vezes cometidos na Grã-Rússia, e dos quais rapidamente nos desacostumamos.
Na zona da frente, junto a Petrogrado, e na enorme zona da frente que cresceu tão rapidamente e duma forma tão ameaçadora na Ucrânia e no Sul, é preciso pôr absolutamente tudo em pé de guerra, subordinando integralmente todo o trabalho, todos os esforços, todos os pensamentos à guerra e só à guerra. Doutro modo não é possível repelir a invasão de Deníkine. Isto é claro. É preciso compreendê-lo com clareza e levá-lo totalmente à prática.
Diga-se de passagem que uma peculiaridade do exército de Deníkine consiste na abundância de oficiais e de cossacos. É um elemento que, sem ter atrás de si uma força de massas, é extraordinariamente capaz de efectuar rápidos ataques, de lançar-se em aventuras e empreendimentos desesperados, com o fim de semear o pânico e destruir por destruir.
Na luta contra semelhante inimigo é necessária a disciplina militar e a vigilância militar, elevadas aos seus limites máximos. Deixar escapar o momento propício ou desnortear-se significa perder tudo. Cada funcionário do partido ou dos Sovietes deve ter isso em conta.
Disciplina militar nos assuntos militares e em todos os outros!
Vigilância e rigor militares, firmeza na adopção de todas as medidas de precaução!
A enorme conspiração que eclodiu em Krásnaia Gorka(N114) e que tinha por objectivo entregar Petrogrado, colocou de novo com particular actualidade a questão dos especialistas militares e do combate à contra-revolução na retaguarda. Não há dúvida de que o agravamento da situação militar e do abastecimento provoca inevitavelmente, e continuará a provocar no futuro próximo, a intensificação das tentativas dos contra-revolucionários (na conspiração de Petrogrado participaram a organização «União do Renascimento»(N115), os democratas-constitucionalistas, os mencheviques e os socialistas-revolucionários de direita; participaram separadamente, mas participaram também, os socialistas-revolucionários de esquerda). É igualmente indubitável que os especialistas militares darão nos próximos tempos uma elevada percentagem de traidores, do mesmo modo que os kulaques, os intelectuais burgueses, os mencheviques e os socialistas-revolucionários.
Mas seria um erro irreparável e uma imperdoável falta de carácter colocar, por esse motivo, a questão de modificar as bases da nossa política militar(N116). Atraiçoam-nos e atraiçoar-nos-ão centenas e centenas de especialistas militares, que descobriremos e fuzilaremos, mas trabalham sistematicamente connosco e desde há já muito tempo milhares e dezenas de milhares de especialistas militares, sem os quais não se poderia ter formado o Exército Vermelho, que nasceu da anarquia de maldita memória e soube obter brilhantes vitórias no Leste. Os homens experientes que estão à frente do nosso departamento da guerra apontam com razão que onde se aplica com maior rigor a política do partido em relação aos especialistas militares e à extirpação da anarquia, onde a disciplina é mais firme, onde o trabalho político entre as tropas e o trabalho dos comissários se realizam com o maior cuidado, são menos, em suma, os especialistas militares propensos a trair, são menores as possibilidades, para aqueles que querem trair, de levar a cabo os seus propósitos, aí não existe desleixo no exército, a sua organização e o seu moral são melhores, aí há mais vitórias. A anarquia, os seus vestígios, os seus restos e sobrevivências causaram, tanto ao nosso exército como ao ucraniano, infinitamente mais calamidades, desagregação, derrotas, catástrofes, baixas e perdas de material de guerra do que todas as traições dos especialistas militares.
O programa do nosso partido, tanto quanto à questão geral dos especialistas burgueses como quanto à questão particular de uma das suas variedades, os especialistas militares, determinou com absoluta precisão a política do partido comunista. O nosso partido luta e «lutará implacavelmente contra a presunção pseudo-radical, mas de facto ignorante, de que os trabalhadores estão em condições de vencer o capitalismo e o regime burguês sem aprender dos especialistas burgueses, sem os utilizar e sem passar por uma longa escola de trabalho ao lado deles»(N117).
É claro que, paralelamente, o partido não fará «nem a mínima concessão política a essa camada burguesa», o partido reprime e «reprimirá implacavelmente todos os seus propósitos contra-revolucionários». E natural que quando semelhantes «propósitos» se descobrem ou se desenham com maior ou menor grau de probabilidade, a sua «repressão implacável» exige outras qualidades que não a lentidão e a prudência de espírito do estudante, qualidades que exigem uma «longa escola» e que esta cultiva nos homens. A contradição entre o estado de espírito de homens ocupados na «longa escola do trabalho ao lado» dos especialistas militares e o estado de espírito das pessoas entusiasmadas com a tarefa imediata de «reprimir implacavelmente propósitos contra-revolucionários» dos especialistas militares pode levar facilmente, e leva, a fricções e conflitos. O mesmo acontece com as necessárias transferências de pessoal, e por vezes deslocações de um grande número de especialistas militares, que são provocadas por um ou outro caso de «propósito» contra-revolucionário e, com maior razão, de grandes conspirações.
Estas fricções e conflitos, resolvemo-los e continuaremos a resolvê-los pela via do partido, exigindo o mesmo de todas as organizações do partido e insistindo em que não se tolerem nem o mínimo prejuízo do trabalho prático, nem a menor demora na adopção das medidas necessárias, nem sombra de vacilação na aplicação dos princípios estabelecidos da nossa política militar.
Se alguns órgãos do partido adoptam um tom errado em relação aos especialistas militares (como há pouco aconteceu em Petrogrado) ou se em alguns casos a «crítica» aos especialistas militares degenera num entrave directo para o trabalho sistemático e perseverante para a sua utilização, o partido corrige imediatamente e corrigirá esses erros.
O meio principal e fundamental para os corrigir consiste na intensificação do trabalho político no exército e entre os mobilizados, no reforço do trabalho dos comissários no exército, na melhoria da sua composição e na elevação do seu nível, na realização de facto por eles daquilo que o programa do partido exige e que com demasiada frequência se cumpre muito deficientemente, a saber: «concentração de um controlo em todos os aspectos sobre os quadros de comando (do exército) nas mãos da classe operária». A crítica aos especialistas militares feita de fora, as tentativas de corrigir as coisas com «incursões», é uma coisa demasiado fácil e, por isso, condenada ao fracasso e nociva. Todos aqueles que têm consciência da sua responsabilidade política e levam a peito os defeitos do nosso exército, que entrem nas suas fileiras como soldados vermelhos ou comandantes, como funcionários políticos ou comissários, que cada um - qualquer membro do partido encontrará um lugar de acordo com as suas aptidões - trabalhe dentro da organização militar para a melhorar.
O Poder Soviético já há muito dedica a maior atenção a que os operários, e depois os camponeses, e sobretudo os comunistas, tenham a possibilidade de estudar seriamente a arte militar. Isso faz-se numa série de estabelecimentos, instituições, cursos, etc., mas está ainda longe, muito longe, de ser suficiente. A iniciativa pessoal, a energia pessoal devem ainda fazer muito aqui. Os comunistas devem estudar aplicadamente o manejo da metralhadora, da artilharia, dos carros blindados, etc., pois aqui o nosso atraso é mais sensível, aqui a superioridade do inimigo, que conta com um grande número de oficiais, é mais considerável, aqui um especialista militar desleal pode causar-nos grande dano, aqui o papel do comunista é extremamente grande.
Tal como em Julho do ano passado, a contra-revolução levanta cabeça na nossa retaguarda, entre nós.
A contra-revolução foi derrotada, mas está ainda longe de ter sido aniquilada e, naturalmente, aproveita-se das vitórias de Deníkine e do agravamento da crise do abastecimento. E atrás da contra-revolução directa e aberta, atrás dos cem negros e dos democratas-constitucionalistas, fortes pelos seus capitais, pelas suas ligações directas com o imperialismo da Entente, por compreenderem a inevitabilidade da ditadura e pela capacidade de a realizar (à maneira de Koltchak), atrás deles arrastam-se, como sempre, os vacilantes, os sem carácter, os mencheviques e os socialistas-revolucionários de direita e os socialistas-revolucionários de esquerda, que encobrem os seus actos com palavras.
Nenhumas ilusões a este respeito! Conhecemos o «caldo de cultura» que engendra os empreendimentos contra-revolucionários, as intentonas, as conspirações, etc., conhecemo-lo muito bem. É o meio da burguesia, da intelectualidade burguesa, dos kulaques no campo, e em toda a parte dos elementos «sem partido», e ainda dos socialistas-revolucionários e mencheviques. É necessário triplicar e decuplicar o controlo sobre esse meio. É preciso decuplicar a vigilância, porque os propósitos contra-revolucionários por esse lado são absolutamente inevitáveis, precisamente no momento presente e no futuro imediato. Neste terreno são naturais também repetidas tentativas de dinamitar pontes, de organizar greves, golpes de espionagem de toda a espécie, etc. Todas as medidas de precaução, as mais fortes, sistemáticas, repetidas, maciças e inesperadas, são necessárias em todos os centros, sem excepção, onde o «caldo de cultura» dos contra-revolucionários tenha qualquer possibilidade de se «abrigar».
No que respeita aos mencheviques e aos socialistas-revolucionários de direita e de esquerda, é preciso ter em conta a experiência mais recente. Na sua «periferia», entre o público que tende para eles, existe sem dúvida uma deslocação do lado de Koltchak e Deníkine e para o lado da aproximação do Poder Soviético. Temos tido em conta esta deslocação, e sempre que ela se manifesta de uma maneira minimamente real, demos um certo passo ao seu encontro. Não modificaremos em caso algum esta nossa política, e o número de «trânsfugas» que passam do lado dos mencheviques e socialistas-revolucionários que tendem para Koltchak e Deníkine, para o lado dos mencheviques e socialistas-revolucionários que tendem para o Poder Soviético, falando em geral, crescerá sem dúvida.
Mas no momento actual a democracia pequeno-burguesa encabeçada pelos socialistas-revolucionários e mencheviques, como sempre sem carácter e vacilante, vai para onde sopra o vento e vacila para o lado do vencedor, para Deníkine. Isto é particularmente verdade no que respeita aos «chefes políticos» dos socialistas-revolucionários de esquerda, dos mencheviques (como Mártov e Cª), dos socialistas-revolucionários de direita (como Tchernov e Cª) e em geral dos seus «grupos literários», cujos membros se sentem, além disso, profundamente ofendidos pela sua completa falência política e por isso têm uma inextirpável «tendência» para as aventuras contra o Poder Soviético.
Não devemos deixar-nos enganar pelas palavras e pela ideologia dos seus chefes, pela sua honradez pessoal ou a sua hipocrisia. Isto é importante para a biografia de cada um deles. Isto não é importante do ponto de vista da política, isto é, das relações entre as classes, das relações entre milhões de pessoas. Mártov e Cª «em nome do CC» condenam solenemente os seus «activistas» e ameaçam (ameaçam eternamente!) expulsá-los do partido. Mas isto de modo nenhum elimina o facto de que os «activistas» são os mais fortes entre os mencheviques, se escondem atrás deles e realizam o seu trabalho em favor de Koltchak e Deníkine. Vólski e Cª condenam Avxéntiev, Tchernov e Cª, mas isso não impede de modo nenhum estes últimos de serem mais fortes que Vólski, nem impede Tchernov de dizer: «Se não for por nós, e se não for agora, por quem e quando serão derrubados os bolcheviques?» Os socialistas-revolucionários de esquerda podem «trabalhar» «independentemente», fora de qualquer acordo com a reacção, com Tchernov, mas de facto são igualmente aliados de Deníkine e peões do seu jogo, do mesmo modo que o defunto socialista-revolucionário de esquerda Muraviov, ex-comandante-chefe, que por motivos «ideológicos» abriu a frente aos checoslovacos e a Koltchak.
Mártov, Vólski e Cª julgam-se «acima» das duas partes em luta, julgam-se capazes de criar uma «terceira parte».
Este desejo, ainda que fosse sincero, continua a ser a ilusão de um democrata pequeno-burguês, que mesmo agora, 70 anos depois de 1848, ainda não aprendeu o á-bê-cê, a saber: no meio capitalista só é possível a ditadura da burguesia ou a ditadura do proletariado e é impossível existir qualquer terceira solução. Os Mártov e Cª, pelos vistos, morrerão com essa ilusão. Isso é com eles. O nosso dever é recordar que na prática são inevitáveis as vacilações em tais pessoas, hoje para Deníkine, amanhã para os bolcheviques. E hoje é necessário fazer a obra do dia de hoje.
O nosso dever é colocar directamente a questão: que é melhor? Apanhar e mandar para a prisão, e por vezes mesmo fuzilar, centenas de traidores de entre os democratas-constitucionalistas, os sem partido, mencheviques, socialistas-revolucionários, que «actuam» (uns com as armas, outros com conspirações, outros com agitação contra a mobilização, como os tipógrafos ou os ferroviários mencheviques, etc.) contra o Poder Soviético, isto é, a favor de Deníkine? Ou levar as coisas a tal ponto que se permita a Koltchak e Deníkine matar, fuzilar, espancar até à morte dezenas de milhares de operários e camponeses? A escolha não é difícil.
A questão coloca-se assim e só assim.
Quem não tiver compreendido isto até agora, quem for capaz de choramingar a propósito da «injustiça» de semelhante decisão, é necessário deixar de contar com ele, é preciso entregá-lo ao ridículo e à vergonha pública.
A República Soviética é uma fortaleza sitiada pelo capital mundial. Só podemos conceder o direito de a utilizar como refúgio contra Koltchak e, em geral, o direito de habitar nela, àqueles que participam activamente na guerra e nos ajudam por todos os meios. Daqui decorre o nosso direito e o nosso dever de mobilizar toda a população para a guerra, uns para o trabalho militar no sentido directo, outros para toda a espécie de actividades auxiliares da guerra.
Para realizar inteiramente isto é necessária uma organização ideal. E uma vez que a nossa organização estatal está muito longe de ser perfeita (o que nada tem de surpreendente, considerando que ela é jovem, nova, e as dificuldades extraordinárias do seu desenvolvimento), lançar-se na realização em vasta escala e imediatamente de qualquer coisa de completo ou mesmo de muito vasto neste terreno seria cair numa quimera extremamente perniciosa em matéria de organização.
Mas é possível fazer muito de parcial para nos aproximarmos do ideal neste aspecto, e a «iniciativa» dos militantes do nosso partido, dos nossos funcionários soviéticos, neste aspecto está ainda muito longe de ser suficiente.
Aqui basta colocar a questão e chamar para ela a atenção dos camaradas. E desnecessário dar indicações ou sugestões concretas.
Apenas sublinhamos que os democratas pequeno-burgueses que estão mais próximos do Poder Soviético e que, como de costume, se chamam socialistas, por exemplo, alguns dos mencheviques «de esquerda», etc., gostam particularmente de se indignar com o método «bárbaro», segundo eles, de fazer reféns.
Que se indignem, mas a guerra não se pode fazer sem isto, e com o agravamento do perigo é necessário, em todos os sentidos, alargar e multiplicar a utilização deste meio. Não é raro, por exemplo, que os tipógrafos mencheviques ou amarelos, que os ferroviários provenientes dos «administrativos» e especuladores clandestinos, que os kulaques, a parte possidente da população das cidades (e do campo) e outros elementos do mesmo género, adoptem em relação à defesa contra Koltchak e Deníkine uma atitude infinitamente criminosa e de infinita indiferença insolente, que chega a ser sabotagem. É preciso fazer listas de semelhantes grupos (ou obrigá-los eles próprios a constituir grupos solidariamente responsáveis) e não só pô-los a cavar trincheiras, tal como por vezes se faz, mas também encarregá-los de uma ajuda material múltipla e variada ao Exército Vermelho.
Os campos dos soldados vermelhos serão melhor trabalhados, o fornecimento aos soldados vermelhos de víveres, de tabaco e outros artigos necessários estará melhor organizado, o perigo de morte de milhares e milhares de operários e camponeses, em consequência de uma conspiração, etc., diminuirá consideravelmente se adoptarmos este método duma maneira mais ampla e mais criteriosa.
Resumindo o que foi dito atrás, chegamos a uma conclusão simples: exige-se de todos os comunistas, de todos os operários e camponeses conscientes, de todo aquele que não queira admitir a vitória de Koltchak e Deníkine, imediatamente e durante os próximos meses, um ascenso extraordinário de energia, exige-se um «trabalho à maneira revolucionária».
Se tanto os ferroviários de Moscovo como os operários especializados e os serventes, famintos, cansados e exaustos puderam, em nome da vitória sobre Koltchak e até à vitória completa sobre ele, organizar os «sábados comunistas», trabalhar gratuitamente várias horas por semana e desenvolver durante elas uma produtividade de trabalho jamais vista, muitas vezes superior à habitual, isto demonstra que se pode fazer ainda muito e muito.
E devemos fazer este muito.
Então venceremos.
O CC do PCIR (bolchevique)
Notas de rodapé:
(N113) A obra Todos à Luta contra Deníkine! foi escrita por Lénine em ligação com resoluções da reunião plenária do CC do PCR(b) realizada em 3-4 de Julho de 1919. Nessa reunião foram debatidos os problemas mais importantes que se colocavam ao país devido ao início da nova campanha dos imperialistas. (retornar ao texto)
(1*) Sem uma necessidade extrema, não devem ser retirados, em geral, mas transferir para ali das províncias centrais! (retornar ao texto)
(N114) Lénine alude à conspiração para a entrega de Petrogrado, dirigida pela organização contra-revolucionária «centro nacional», que unificava a actividade duma série de grupos anti-soviéticos e dos espiões que actuavam na clandestinidade. Na noite de 12 para 13 de Junho de 1919, os conspiradores começaram um motim no forte de Krásnaia Gorka, que era um dos acessos de maior importância a Petrogrado. Para derrotar os amotinados foram enviadas tropas do grupo de defesa de costa, navios da Esquadra do Báltico, forças aéreas, destacamentos de voluntários. Na noite de 15 para 16 de Junho as unidades do grupo de defesa de costa apoderaram-se do forte. A organização contra-revolucionária que dirigiu a conspiração foi descoberta e liquidada.
Cem-negros: bandos monárquicos criados pela polícia tsarista para combater o movimento revolucionário. (retornar ao texto)
(N115) União do Renascimento da Rússia: organização contra-revolucionária formada em 1918 por democratas-constitucionalistas, «socialistas populares», socialistas-revolucionários de direita e mencheviques; esta organização estava ligada directamente a missões e serviços de espionagem estrangeiros. (retornar ao texto)
(N116) Lénine tinha em vista em particular a posição de Stáline, que se encontrava então em Petrogrado na qualidade de delegado plenipotenciário do Conselho de Defesa, e de Zinóviev, os quais apresentaram ao CC a proposta de discutir de novo a questão dos especialistas militares. Na carta Todos à luta contra Deníkine!, Lénine assinalou que «alguns órgãos do partido adoptam um tom errado em relação aos especialistas militares (como há pouco aconteceu em Petrogrado). Na discussão no CC desta carta Stáline propôs que «se suprimisse a referência a Petrogrado» e afirmou, como Lénine registou, que «os especialistas militares não são a mesma coisa que os especialistas burgueses em geral, não se pode compará-los (aprender com os especialistas técnicos agrícolas não é a mesma coisa que com os especialistas militares: neles tudo são segredos, a desconfiança é maior)». As observações de Stáline não foram aprovadas. (retornar ao texto)
(N117) Ver VIII Congresso do PCR(b). Março de 1919. Actas, Moscovo, 1959, p. 404 (em russo); V. I. Lénine, Obras Completas, 5ª ed. em russo, t. 38, pp. 98-120. (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 23/01/2019 |