Discurso Proclamado em um Encontro de Ativistas da Organização de Moscou do P.C.R.(B.)

V. I. Lenin

6 de dezembro de 1920


Primeira Edição: 1923; Publicado de acordo com o relatório literal.

Tradução: Igor A. Torres Ribeiro - a partir da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1920/dec/06.htm

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Camaradas, eu notei com grande prazer, apesar de, eu devo confessar, com surpresa, que a questão das concessões está incitando enorme interesse. Gritos estão sendo ouvidos de todos os lados, majoritariamente das bases. “Como pode ser?”, eles perguntam. “Nós expulsamos nossos próprios exploradores e ainda assim nós estamos convidando outros de fora.”

Rapidamente será entendido o porquê desses gritos me darem prazer. O fato de que um sinal de alarme se ergueu das bases sobre a possibilidade dos velhos capitalistas retornarem e que esse sinal se ergueu em conexão a um ato de décima categoria em significância, tal como o decreto sobre as concessões, demonstra que existe uma consciência do perigo do capitalismo e do grande perigo da luta contra ele. Isso é excelente, é caro, e é ainda mais excelente porque, como eu já disse, o alarme está sendo vocalizado pelas bases.

Do ponto de vista político, a coisa fundamental na questão das concessões – e aqui existem tanto considerações políticas quanto econômicas – é uma regra que nós não apenas assimilamos na teoria, mas também aplicamos na prática, uma regra que irá permanecer fundamental conosco por um longo período até que o socialismo finalmente triunfe sobre todo o mundo: nós devemos tomar vantagem dos antagonismos e contradições que existem entre os dois imperialismos, os dois grupos de estados capitalistas, e jogar eles um contra o outro. Até que nós tenhamos conquistado o mundo todo e enquanto nós formos economicamente e militarmente mais fracos que o mundo capitalista, nós devemos respeitar regra de que nós devemos ser capazes de tomar vantagens dos antagonismos e contradições existentes entre os imperialistas. Se nós não tivéssemos aderido a essa regra, cada um de nós teria sido pendurado pelo pescoço a muito tempo atrás, para felicidade dos capitalistas. Nós ganhamos nossa principal experiência a esse respeito quando nós concluímos o Tratado de Brest-Litovsk. Não deve ser inferido que todos os tratados devam ser como aquele de Brest-Litovsk ou o Tratado de Versalhes. Isso não é verdade. Pode existir um terceiro tipo de tratado, um que é vantajoso para seus participantes.

Brest-Litovsk foi significante em ser a primeira vez que nós fomos capazes, em uma escala imensa e em meio a vastas dificuldades, de tomar vantagem das contradições entre os imperialistas de tal forma a fazer do socialismo o vencedor supremo. Durante o período Brest-Litovsk, haviam dois grupos de predadores imperialistas imensamente poderosos - o Austro-Alemão e o Anglo-Franco-Americano. Eles estavam presos em um conflito furioso, que iria decidir o destino do mundo para o futuro imediato. Que nós fomos capazes de - apesar de nossas forças serem inexistentes do ponto de mista militar, nós não possuíamos nada e estávamos afundando nas profundezas do caos econômico consistentemente - o fato de que nós fomos capazes de aguentar foi um milagre que resultou de nós termos tomado vantagem do conflito entre o imperialismo Alemão e Americano. Nós fizemos uma tremenda concessão ao imperialismo Alemão; ao fazer isso, nós nos protegemos imediatamente contra a perseguição de ambos os imperialismos. A Alemanha foi incapaz de se concentrar em sufocar a Rússia Soviética, tanto economicamente quanto politicamente; ela estava ocupada demais para isso. Nós deixamos ela ter a Ucrânia, através da qual ela poderia conseguir todo o grão e o carvão que ela queria, é claro, desde que ela fosse capaz de extrair eles e tivesse a força para esse propósito. O imperialismo Anglo-Franco-Americano foi incapaz de nos atacar, porque nós primeiramente fizemos uma oferta de paz. Um grande livro escrito por Robins foi lançado recentemente na América, no qual o autor descreve as negociações dos E.U. com Lenin e Trotsky, que deram o consentimento deles para a conclusão da paz. Apesar dos Americanos estarem ajudando os Tchecoslovacos e fazerem eles tomarem parte na intervenção militar, eles foram incapazes de interferir, porque eles estavam ocupados com a própria guerra deles. O resultado pode ter parecido algo como um bloco entre a primeira República Socialista e o imperialismo Alemão contra outro imperialismo. Entretanto, nós não construímos um bloco de nenhum tipo; nós, em nenhum ponto, excedemos o limite que iria debilitar ou difamar o estado socialista; nós simplesmente tomamos vantagem do conflito entre os dois imperialismos de tal forma que, em ultima instância, ambos foram os perdedores. A Alemanha não obteve nada da Paz de Brest, exceto vários milhões de poods de grão, porém, ela trouxe a força desintegrada do Bolchevismo ao pais. Entretanto, nós ganhamos tempo, em cujo período a formação do Exército Vermelho começou. Mesmo as enormes dificuldades sofridas pela Ucrânia se provaram reparáveis, entretanto a um grande preço. Com o que nossos antagonistas contavam, a saber, o rápido colapso do governo Soviético na Rússia, não aconteceu. Nós utilizamos o intervalo que a história nos concedeu como um espaço para respirar, para poder nos consolidar em um grau que tornaria impossível nos sobrepujar através da força militar. Nós ganhamos tempo, um pequeno tempo, porém, em troca, tivemos que sacrificar uma grande quantidade de território. Naqueles dias, eu me lembro, as pessoas costumavam filosofar e dizer que para ganhar tempo nós devemos entregar território. Foi de acordo com a teoria do tempo e espaço dos filósofos que nós agimos na prática e na política: nós sacrificamos uma grande quantidade de território, mas ganhamos tempo suficiente para nos permitir reunir força. Naquele momento, quando todos os imperialistas queriam lançar uma guerra em escala total contra nós, isso se provou impossível: eles não tinham nem os meio nem a força para tal guerra. Naquele momento, nós não sacrificamos nenhum interesse fundamental; nós concedemos interesses menores e preservamos o que era fundamental.

Incidentalmente, isso levanta a questão do oportunismo. Oportunismo significa sacrificar interesses fundamentais para ganhar vantagens temporárias e parciais. Esse é o cerne da questão, se nós considerarmos a definição teórica do oportunismo. Muitas pessoas se desviaram sobre esse ponto. No caso da Paz de Brest-Litovsk, nós sacrificamos os interesses da Rússia, como entendidos no sentido patriótico, que, de fato, eram secundários do ponto de vista socialista. Nós fizemos imensos sacrifícios, ainda assim eles foram apenas sacrifícios menores. Os Alemães odiavam a Inglaterra implacavelmente. Eles odiavam os Bolcheviques também, mas nós lançamos uma isca e eles morderam ela.

Eles haviam afirmado, o tempo todo, que eles não iriam tão longe quanto Napoleão. De fato, eles não alcançaram Moscou, porém eles penetraram na Ucrânia, onde eles vieram a sofrer. Eles pensaram que eles haviam aprendido muito a partir de Napoleão, mas as coisas aconteceram de outra forma. Nós, por outro lado, ganhamos bastante.

O exemplo da Paz de Brest-Litovsk nos ensinou muito. No momento, nós estamos entre dois inimigos. Se nós somos incapazes de derrotar os dois, nós devemos ser capazes de organizar nossas forças de tal forma que faça com que eles se enfrentem entre si; toda vez que ladrões se enfrentam, homens honestos encontraram o sucesso deles. Entretanto, tão logo nós formos fortes o suficiente para derrubar o capitalismo como um todo, nós devemos agarrar ele pelo pescoço imediatamente. Nossa força está crescendo e muito rapidamente. A Paz de Brest-Litovsk foi uma lição que nós nunca devemos esquecer, uma que, a repeito das conclusões a serem retiradas dela, foi mais valiosa do que qualquer propaganda ou pregação. Nós vencemos agora, no sentido de que nós nos sustentamos com os nosso próprio pés. Nós estamos cercados pelos estados imperialistas que odeiam os Bolcheviques e estão gastando vastas somas de dinheiro, usando meios ideológicos, o poder da imprensa, e assim por diante, e ainda assim foram incapazes de nos derrotar em três anos de guerra, apesar de nós sermos infinitamente fracos do ponto de vista militar e econômico. Nós não possuímos um centésimo da força dos estados imperialistas combinados, ainda assim eles são incapazes de nos sufocar. Eles não podem nos esmagar porque os soldados deles não irão obedecer; os trabalhadores e camponeses, exaustos com a guerra, não querem uma guerra contra a República Soviética. Tal é a posição agora e é a partir disso que nós devemos proceder. Nós não sabemos como a posição será nos próximos anos, já que a cada ano as potências Ocidentais estão se recuperando da guerra.

Desdo Segundo Congresso da Terceira Internacional, nós asseguramos uma firme base nos países imperialistas, não apenas na esfera da ideologia, mas também naquela da organização. Em todos os países existem grupos que estão realizando um trabalho independente e irão continuar a afazer isso. Isso foi alcançado. Porém, a taxa, o ritmo de desenvolvimento da revolução nos países capitalistas é muito mais devagar do que no nosso país. Era evidente que o movimento revolucionário iria inevitavelmente desacelerar quando as nações assegurassem a paz. Portanto, agora nós não podemos depender desse ritmo se tornando acelerado sem supor sobre o futuro. Nós devemos decidir o que nós devemos fazer no momento atual. Todo povo vive em um estado e todo estado pertence a um sistema de estados que estão em um determinado sistema de equilíbrio político um em relação ao outro.

Tomemos em mente que, por todo o mundo, os capitalistas compraram a vasta maioria das fontes mais ricas de matérias primas, ou, se ele na verdade não compraram elas, eles tomaram elas politicamente; já que existe um equilíbrio baseado no capitalismo que deve ser lidado e levado em consideração. Nós não podemos entrar em guerra com a Entente atual. Nossa agitação tem sido e está sendo conduzida esplendidamente – disso nós estamos certos. Nós devemos tomar vantagem política das diferenças entre nossos oponentes, mas apenas das grandes diferenças que existem devido a profundas causas econômicas. Se nós tentarmos explorar diferenças menores e casuais, nós estaremos nos comportando como políticos pequenos e diplomatas baratos. Não existe nada de valor a ser ganho através disso. Existem enxames de diplomatas que jogam esse jogo; eles fazem isso durante vário meses, constroem carreiras e então caem em ruína.

Existem quaisquer antagonismos radicais no mundo capitalista atual que devem ser utilizados? Sim, existem principalmente três, os quais eu gostaria de enumerar. O primeiro, aquele que nos afeta mais proximamente, é a relação entre o Japão e a América. A guerra está fermentando entre eles. Eles não podem viver pacificamente em conjunto às margens do Pacífico, apesar dessas margens estarem três mil verstes de distância. Essa rivalidade surge incontestavelmente da relação entre os capitalismos deles. Uma vasta literatura existe sobre a futura guerra Nipo-Americana. Está além da dúvida que a guerra está fermentando, isso é inevitável. Os pacifistas estão tentando ignorar a questão e obscurecer ela com frases genéricas, porém nenhum estudante da história das relações econômicas e da diplomacia pode ter a menor dúvida de que a guerra está madura do ponto de vista econômico e está sendo preparada politicamente. Não se pode abrir um único livro sobre esse assunto sem se ver que a guerra está fermentando. O mundo foi dividido. O Japão tomou vastas colônias. O Japão possui uma população de cinquenta milhões e ele é comparativamente fraco economicamente. A América possui uma população de cento e dez milhões e, apesar dela ser muitas vezes mais rica do que o Japão, ela não possui colônia. O Japão tomou a China, que possui uma população de quatrocentos milhões e as reservas de carvão mais ricas do mundo. Como essa joia pode ser mantida? É absurdo pensar que um capitalismo mais forte não irá privar um capitalismo mais fraco dos espólios dele. Os Americanos podem permanecer indiferente sob tais circunstâncias? Capitalistas poderosos podem permanecer lado a lado a capitalistas fracos e não ser esperados a agarrar tudo que eles puderem desses últimos? Pra que eles serviriam se eles não fizessem isso? Porém, sendo esse o caso, enquanto Comunistas nós podemos permanecer indiferentes e apenas dizer: “Nós devemos realizar propaganda para o comunismo nesses países”. Isso é correto, mas não é tudo. A tarefa prática da política comunista é tomar vantagem dessa hostilidade e jogar um lado contra o outro. Aqui uma nova situação surge. Tome os dois países imperialistas, Japão e América. Eles desejam lutar, e irão lutar, pela supremacia mundial, pelo direito à pilhagem. O Japão irá lutar para continuar a saquear a Coreia, na qual ele está executando isso com brutalidade sem precedente, combinando todas as últimas invenções tecnológicas com torturas puramente Asiáticas. Recentemente nós recebemos um jornal Coreano que apresenta um relato do que os Japoneses estão fazendo. Aqui nós encontramos todos os métodos da tsarisin e todas as mais recentes perfeições tecnológicas combinadas com um sistema de tortura puramente Asiático e brutalidade sem paralelo. Porém, os Americanos gostariam de agarrar essa iguaria Coreana. É claro, defesa do país em tal guerra seria um crime hediondo, uma traição do socialismo. É claro, apoiar um desses países contra o outro seria um crime contra o comunismo; nós Comunistas devemos jogar um contra o outro. Não estamos cometendo um crime contra o comunismo? Não, porque nós estamos fazendo isso como um estado socialista que está realizando uma propagando comunista e é obrigado a tomar vantagem de toda situação garantida pelas circunstâncias para poder ganhar força tão rápido quanto possível. Nós começamos a ganhar força, porém muito vagarosamente. A América e outros países capitalistas estão crescendo em poder econômico e militar em uma velocidade tremenda. Nós iremos nos desenvolver muito mais vagarosamente, de qualquer forma que nós reunirmos nossas forças.

Nós devemos tomar vantagem da situação que surgiu. Esse é todo o propósito das concessões de Kamchatka. Nós tivemos uma visita de Vanderlip, um parente distante de um multimilionário famoso, se acreditarmos nele; porém, já que nosso serviço de inteligência em Choke, apesar de organizado esplendidamente, infelizmente ainda não se estende aos Estados Unidos da América, nós ainda não estabelecemos o parentesco exato desses Vanderlips. Alguns até mesmo dizem que não existe nenhum parentesco. Eu não presumo julgar: meu conhecimento está confinado a ter lido um livro de Vanderlip, não aquele que estava em nosso país e é dito ser uma pessoa tão importante que ele foi recebido com todas as honras por reis e ministros – a partir do que deve se inferir que o bolso dele é muito bem revestido. Ele falou com eles do modo que as pessoas discutem assunto em reuniões como as nossas, por exemplo, e falou a eles no tom mais calmo sobre como a Europa deveria ser restaurada. Se ministros falaram com ele com tanto respeito, deve significar que Vanderlip está em contato com os multimilionários. O livro dele revela a visão de um homem e negócios que não sabe nada além de negócios e que, depois de observar a Europa, disse: “Parece que nada sairá disso e que tudo vai pro diabo”. O livro está cheio de ódio pelo Bolchevismo, porém ele toca na questão do estabelecimento de contatos comerciais. Ele também é um livro muito interessante do ponto de vista da agitação, melhor que muitos livros comunistas, porque a conclusão final dele é: “Eu temo que esse paciente é incurável – apesar de nós termos muito dinheiro e os meios para o tratamento dele”.

Bem, Vanderlip trouxe uma carta para o Conselhos dos Comissários do Povo. É uma carta muito interessante, pois, com a franqueza extreme, cinismo e crueza de um pão-duro Americano, o escritor da carta disse: “Nós somos muito fortes agora, em 1920, e em 1923 nossa marinha será ainda mais forte. Entretanto, o Japão permanece no caminho do nosso poder crescente e nós teremos que enfrentar ele e não se pode lutar sem óleo. Venda Kamchatka para nós e eu posso assegurar que o entusiasmo do povo Americano será tão grande que nós iremos reconhecer vocês. As eleições presidenciais em Março irão resultar em uma vitória para o nosso partido. Entretanto, se vocês apenas nos deixarem ter a licença de Kamchatka, eu asseguro a vocês que não haverá tal entusiasmo”. Isso é quase literalmente o que ele disse na carta. Aqui nós temos uma imperialismo desavergonhado, que nem mesmo considera necessário se esconder de alguma forma, porque ele pensa que ele é magnânimo por conta própria. Quando essa carta foi recebida, nós dissemos que nós devíamos agarrar essa oportunidade com ambas as mãos. Que ele está correto, economicamente falando, é demonstrado pelo fato de que na América o Partido Republicano está nas vésperas da vitória. Pela primeira vez na história da América, as pessoas no Sul votaram contra os Democratas. Portanto, aqui está claro que nós temos o raciocino economicamente correto de um imperialista. Kamchatka pertenceu ao antigo Império Russo. Isso é verdade. Não está claro a quem ela pertence no momento atual. Ela parece ser propriedade de um estado chamado “A República de Extremo Oriente”, mas as fronteiras daquele estado ainda não foram fixadas precisamente.(1) De fato, certos documentos estão sendo escritos sobre esse assunto, porém, em primeiro lugar, eles ainda não foram escritos, e, em segundo lugar, eles ainda não foram ratificados. O Extremo Oriente é dominado pelo Japão, que pode fazer qualquer coisa que ele desejar lá. Se nós dermo a licença de Kamchatka para a América, que legalmente pertence a nós, mas na verdade foi tomada pelo Japão, nós claramente seremos os ganhadores. Essa é a base do meu raciocínio político e, sobre essa base, nós prontamente decidimos concluir um acordo imediato com a América. É claro, nós temos que barganhar, já que nenhum homem de negócios irá nos respeitar se nós não fizermos isso. O Camarada Rykov começou a barganhar adequadamente e nós esboçamos um acordo. Porém, quando veio o momento da assinatura, nós dissemos: “Todo mundo sabe quem nós somos, mas quem é você?” Transpareceu que Vanderlip não poderia fornecer garantias, sobre o que nós dissemos que estávamos prontos para nos acomodar. Porque, nós dissemos, este é apenas um esboço, e você mesmo disse que entraria em voga quando o partido de vocês ganhasse a vantagem; ele ainda não ganhou a vantagem, portanto nós iremos esperar. As coisas aconteceram da seguinte forma: nós escrevemos um esboço do tratado, ainda não assinado, dando Kamchatka - uma grande porção do território do Extremo Oriente e do Nordeste da Sibéria para a América por um período de sessenta anos, com o direto de construir um porto naval em um aportamento que é livre de gelo o ano todo e possui óleo e carvão.

Um acordo esboçado não é, de forma alguma, concreto. Nós sempre podemos dizer que ele contém passagens incertas e recuar a qualquer momento. Nesse caso, nós teremos perdido apenas tempo ao negociar com Vanderlip, e algumas folhas de papel; ainda assim, nós já ganhamos alguma coisa. É preciso apenas observar os relatórios da Europa para perceber isso. Dificilmente existe um relatório do Japão que não fale da grande preocupação causada pelas concessões esperadas. “Nós não iremos tolerar elas,” declara o Japão, “elas infringem os nossos interesses.” Vá enfrente então e derrote a América; nós não temos objeções. Nós já colocamos o Japão e a América a bater as cabeças, para colocar de forma crua, e portanto ganhamos um ponto. Nós também ganhamos no que tange os Americanos.

Quem é Vanderlip? Nós não estabelecemos quem ele é - porém, é um fato que, no mundo capitalista, não são enviados telegramas por todo o mundo sobre cidadãos comuns. E, quando ele nos deixou, telegramas foram enviados para todos os cantos da terra. Bem, ele viajou dizendo que ele havia obtido uma boa concessão e, onde quer que ele fosse, começou a elogiar Lenin. Isso foi um tanto engraçado, mas deixe me dizer a vocês que existe uma pouco de política nessa situação engraçada. Quando Vanderlip havia concluído todas as negociações dele aqui, ele quis me encontrar. Eu consultei os representantes dos departamentos apropriados e perguntei se eu deveria receber ele. Eles disseram, “Deixe ele ir embora com um sentimento de satisfação.” Vanderlip veio me ver. Nós conversamos sobre todas essas coisas e, quando ele começou a me contar que ele havia estado na Sibéria, que ele conhecia Sibéria e veio de uma família de trabalhadores, assim como a maioria dos multimilionários Americanos, e assim por diante, que eles valorizam apenas coisas práticas e que eles acreditam em uma coisa apenas quando eles veem ela, eu respondi, “Bem, você são um povo pratico e quando vocês observarem o sistema Soviético vocês irão introduzir ele no seu próprio país” Ele me encarou com surpresa nesse momento da conversa e disse a mim em Russo (toda a conversa havia sido em Inglês), “Mozhet byt.”(2) Eu perguntei, com surpresa, onde ele havia adquirido o conhecimento dele da língua Russa. “Ora, eu cobri a maior parte da Sibéria à cavalo quando eu tinha vinte e cinco”. Eu irei contar para vocês uma observação de Vanderlip que pertence à esfera do humor. Ao partir ele disse: “Eu terei que dizer a eles na América que o Sr, Lenin não tem chifres.” Eu não compreendi o significado disso imediatamente, já que eu não entendo o Inglês muito bem. “O que você disse? Você pode repetir isso, por favor?” Ele é um individuo ágil; apontando para a têmpora, ele disse, “Sem chifre aqui.”

Havia um interprete presente que disse, “É exatamente o que ele disse.” Na América eles estão convencidos que eu tenho chifres, isto é, a burguesia diz que eu fui marcado pelo demônio. “E agora eu terei que dizer a eles que você não tem chifres”, disse Vanderlip. Nós nos despedimos muito amigavelmente. Eu expressei a esperança de que as relações amigáveis entre os dois estados seria uma base não apenas para o estabelecimento de concessões, mas também para o desenvolvimento normal de assistência econômica recíproca. Tudo se desenvolveu nesse tipo de viés. Então telegramas chegaram contando o que Vanderlip havia falado ao chegar em casa. Vanderlip havia comparado Lenin com Washington e Lincoln. Vanderlip havia pedido pelo meu retrato autografado. Eu recusei, porque quando você presentei um retrato você escreve, “Ao Camarada Tal-e-Tal”, e eu não poderia escrever “Ao Camarada Vanderlip”. Nem era possível escrever: “Ao Vanderlip a quem nós estamos assinando uma concessão”, porque aquele acordo de concessão seria concluído pela Administração quando ela assumisse o cargo. Eu não sabia o que escrever. Seria ilógico dar minha fotografia para um completo imperialista. Ainda assim, esses foram os tipos de telegramas que chegaram; esse assunto claramente desempenhou um certo papel nas políticas imperialistas. Quando a notícia das concessões de Vanderlip foi divulgada, Harding - o homem que foi eleito Presidente, mas que irá tomar posto apenas no Março seguinte, emitiu uma negação oficial, declarando que ele não sabia nada sobre isso, não possuía nenhum negócio com os Bolcheviques e não ouviu nada sobre quaisquer concessões. Isso foi durante as eleições e, para confessar, pelo que sabemos, durante eleições, pode custar votos a você que você tenha negócios com os Bolcheviques. Foi por isso que ele emitiu uma negação oficial. Ele enviou esse relato para todos os jornais que são hostis aos Bolcheviques e que estão na folha de pagamento dos partidos imperialistas. As vantagens políticas que nós podemos ganhar à respeito da América e do Japão estão perfeitamente claras para nós. Esse relato é significante porque ele mostra concretamente o tipo de concessões que nós queremos assinar e sob quais termos. É claro, isso não pode ser contado à imprensa. Isso só pode ser contado em um encontro do Partido. Nós não devemos ficar calados na imprensa sobre esse acordo. É para nossa vantagem, e nós não devemos dizer uma única palavra que possa dificultar a conclusão de tal acordo, porque ele nos promete enormes vantagens e um enfraquecimento tanto do imperialismo E.U quanto do Japonês em relação a nós.

Tudo que esse acordo significa é a deflexão das forças imperialistas para longe de nós - enquanto os imperialistas estão suspirando e esperando um momento oportuno para estrangular os Bolcheviques, nós estamos adiando esse momento. Quando o Japão estava ficando envolvido no desafio Coreano, os Japoneses disseram aos Americanos “É Claro, nós podemos queimar os Bolcheviques, mas o que você nos darão por isso? A China? Nós tomaremos ela de qualquer forma, já aqui nós teremos que avançar dez mil versts para derrotar os Bolcheviques, com vocês, os Americanos, na nossa retaguarda. Não, isso não é política.” Mesmo naquela época, os Japoneses poderiam ter nos derrotado em algumas semanas, se houvesse uma ferrovia de trilho duplo e o apoio Americano no transporte das instalações. O que nos salvou foi o fato de que, enquanto o Japão estava ocupado devorando a China, eles não poderiam avançar para o ocidente, através de toda a Sibéria, com a América na retaguarda deles; além disso, eles não queriam colocar as castanhas da América fora do fogo.

Uma guerra entre as potências imperialistas teria nos salvado ainda mais. Se nós somos obrigados a tolerar tais salafrários como os ladrões capitalistas, cada um dos quais esta proto a nos esfaquear, é nosso dever máximo fazer eles voltarem as facas deles uns contra os outros. Toda vez que ladrões se enfrentam, homens honestos encontraram o sucesso deles. O segundo ganho é puramente político. Mesmo se esse acordo de concessões não se materialize, isso será para nossa vantagem. Já para o ganho econômico, ele irá nos prover com parte dos produtos. Se os Americanos receberem parte dos produtos, isso será para nossa vantagem. Existe tanto óleo e minério em Kamchatka que nós obviamente não estamos na posição de trabalhar eles.

E mostrei a você um dos antagonismos imperialistas que nós devemos tomar vantagem, aquele que existe entre o Japão e a América. Existe outro – o antagonismo entre a América e o resto do mundo capitalista. Praticamente todo o mundo capitalista dos “vitoriosos” emergiu da guerra tremendamente enriquecido. A América é forte; ela é credora e todo mundo e tudo depende dela; ela está sendo cada vez mais detestada; ela está roubando tudo diversamente e fazendo isso de modo único. Ela não possui colônias. A Inglaterra emergiu da guerra com vastas colônias. Assim como a França. A Inglaterra ofereceu à América um mandato – essa é a linguagem que eles usam hoje em dia – para uma das colônias que ela havia tomado, porém a América não aceitou ele. Empresários E.U, evidentemente raciocinam de outra forma. Eles observaram que, na devastação que ela produz e os temperamentos que ela incita entre os trabalhadores, a guerra possui consequências muito definidas e eles vieram à conclusão de que não existe nada a ser ganho ao aceitar um mandato. Naturalmente, entretanto, eles não irão permitir que essas colônias sejam usadas por nenhum outro estado. Toda a literatura burguesa testemunha um ódio crescente da América, enquanto na América existe uma demanda crescente por uma acordo com a Rússia. A América assinou um acordo com Koichak, dando a ele reconhecimento e apoio, mas aqui eles já caíram em lamentos, as únicas recompensas pelas dores deles são perdas e desgraça. Portanto, nós temos diante de nós o maior estado no mundo que, até 1923, terá uma marinha mais poderosa que a Britânica e esse estado está se encontrando com uma crescente hostilidade dos outros países capitalistas. Nós devemos tomar essa tendência das coisas em consideração. A América não pode entrar em acordo com o resto da Europa – esse é um fato provado pela história. Em nenhum lugar o Tratado de Versalhes foi analisado tão bem como no livro de Keynes, um representante Britânico em Versalhes. No livro dele, Keynes ridiculariza Wilson e o papel que ele desempenhou no Tratado de Versalhes. Aqui, Wilson se provou ser um completo simplório, a quem Clemenceau e Lloyd George manipularam com as próprias mãos. Portanto, tudo demonstra que a América não pode entrar em acordo com os outros países, por causa dos profundos antagonismos econômicos entre eles, já que a América é mais rica que o resto.

Portanto, nós iremos examinar todas as questões das concessões a partir desse ângulo: se a menor oportunidade surgir de agravar as diferenças entre a América e os outros países capitalistas, ela deve ser aguarrada com ambas as mãos. A América está em contradição inevitável com as colônias e se ela tentar se tornar mais envolvida nelas ela estará nos ajudando dez vezes mais. As colônias estão fervilhando com inquietação e, quando você toca elas, se você gosta disso ou não, se você for rico ou não – e quão mais rico você for melhor – você estará nos ajudando, e os Vanderlips serão mandados embora. É por isso que, para nós, esse antagonismo é a principal consideração. O terceiro antagonismo é aquele entre a Entente e a Alemanha. A Alemanha foi derrotada, esmagada pelo Tratado de Versalhes, porém ela possui vastas potencialidades econômicas. A Alemanha é o segundo país no mundo em desenvolvimento econômico, se a América for tomada como a primeira. Os especialistas até mesmo dizem que ela é superior à América no que tange à indústria elétrica, e vocês sabem que a indústria elétrica é tremendamente importante. Em relação à extensão da aplicação da eletricidade, a América é superior, mas a Alemanha superou ela em perfeição técnica. É em tal país que o Tratado de Versalhes foi imposto, um tratado que ela não pode possivelmente viver sob. A Alemanha é um dos mais poderosos e avançados países capitalistas. Ela não pode aguentar o Tratado de Versalhes. Apesar dela mesma ser imperialista, a Alemanha é obrigada a buscar por um aliado contra o mundo imperialista, porque ela foi esmagada. Essa é a situação que nós devemos voltar para nossa vantagem. Tudo que aumente o antagonismo entre a América e o resto da Entente, ou entre toda a Entente e a Alemanha, deveria ser usado por nós a partir do ponto vista das concessões. É por isso que nós devemos tentar atrair o interesse deles; é por isso que o panfleto Milyut III prometeu trazer, e trouxe e irá distribuir, contém os decretos do Conselho dos Comissários do Povo escritos de forma que ele irá atrair concessionários prospectivos. O livreto contém mapas com explicações. Nós deveremos traduzir ele para todas as línguas e encorajar a distribuição dele, com o objetivo de colocar a Alemanha contra a Inglaterra, porque as concessões serão uma salvação para a Alemanha. Da mesma forma, nós devemos colocar a América contra o Japão, toda a Entente contra a América, e toda a Alemanha contra a Entente.

Portanto, esses são os três antagonismos que estão perturbando o equilíbrio dos imperialistas. Esse é o cerne da questão; é por isso que, do ponto de vista político, nós deveríamos ser, de corpo e alma – ou melhor, com toda nossa sagacidade – à favor das concessões.

Agora eu falarei sobre a economia. Quando nós estávamos falando da Alemanha, nós chegamos na questão da economia. Do ponto de vista econômico, a Alemanha não pode existir seguindo a Paz de Versalhes; nem podem todos os países derrotados, tal como a Áustria-Hungria nas antigas fronteiras dela, pois, apesar de partes daquele país agora pertencerem aos estados vitoriosos, ela não pode existir sob o Tratado de Versalhes. Na Europa Central, esses países formam um vasto grupo com enorme poder econômico e técnico. Do ponto de vista econômico, todos eles são essenciais para a restauração da economia mundial. Se vocês lerem e relerem cuidadosamente o Decreto sobre as Concessões, de 23 de Novembro, vocês perceberam que nós enfatizamos a importância da economia mundial e nós fizemos isso intencionalmente. Isso é indubitavelmente correto. Para a economia mundial ser restaurada, as matérias primas Russas devem ser utilizadas. Não se pode ter progresso sem elas – isso é economicamente correto. Isso é admitido até mesmo por um burguês de primeira ordem, um estudante de economia que considera as coisas do ponto de vista puramente burguês. Esse homem é Keynes, autor de As Consequências Econômicas da Paz. Vanderlip, que viajou por toda a Europa como um magnata financeiro, também admite que a economia mundial não pode ser restaurada, pois parece que existe muito pouca matéria prima disponível no mundo, tendo ela sido dissipada na guerra. Ele diz que se deve depender da Rússia. E agora a Rússia se apresenta e declara ao mundo: nós tomamos a tarefa de restaurar a economia internacional – aqui está o nosso plano. Isso é boa economia. Durante esse período o governo Soviético se fortaleceu; ele não apenas se fortaleceu, mas ele desenvolveu um plano para a restauração de toda a economia mundial. A reabilitação da economia internacional por meio de um plano de eletrificação é cientificamente correto. Com nosso plano, muito certamente nós devemos atrair a simpatia, não apenas de todos os trabalhadores, mas também de capitalistas sensatos, desconsiderando o fato de que aos olhos deles nós somos “aqueles terríveis terroristas Bolcheviques”, e assim por diante. Portanto, nosso plano econômico é correto; quando ele lerem esse plano, todos os democratas pequeno burgueses irão pender para esse lado, pois, enquanto os imperialistas já brigam entre si, aqui está um plano ao qual engenheiros e economistas não podem oferecer objeção. Nós estamos entrando no campo da economia e estamos oferecendo ao mundo um programa positivo de construção; nós estamos abrindo perspectivas baseadas em considerações econômicas, perspectivas que a Rússia não considera como um plano egoísta para destruir as economias de outras terras, como era o governo no passado, mas como uma forma de restaurar aquelas economias no interesse de todo o mundo.

Nós estamos voltando a questão para o plano anticapitalista. Nós dizemos que nós tomamos a tarefa de construir o mundo todo em uma base econômica racional; não pode haver dúvida de que essa é uma ideia correta. Não pode haver dúvida de que, se nós trabalharmos corretamente, com a maquinaria moderna e a ajuda da ciência, toda a economia mundial pode ser restaurada prontamente.

Nós estamos conduzindo um tipo de propaganda industrial quando nós dizemos para a classe mestre: “Vocês capitalistas são inúteis; enquanto vocês estão se destruindo e arruinando, nós estamos construindo de nossa própria forma; então cavalheiros, vocês não pensam que é hora de nos aceitar?” Ao que todos os capitalistas do mundo terão que responder, ainda que de forma ressentida: “Sim, talvez seja. Assinemos um acordo comercial.”

Os Britânicos já escreveram um esboço e enviaram ele para nós.(3) Eles está sob discussão. Novos tempos estão se estabelecendo. As maquinações de guerra deles abortaram e agora eles terão que lutar no campo econômico. Nós entendemos isso completamente. Nós nunca imaginamos que, com o fim da luta e o advento da paz, o lobo capitalista se deitaria com o cordeiro socialista. Não, nós não imaginamos. Ainda assim, o fato de que vocês terão que lutar no campo econômico é um tremendo passo adiante. Nós apresentamos a vocês um programa mundial ao considerar as concessões do ponto de vista da economia mundial. Isso é indisputável do ponto de vista de economia. Nenhum engenheiro ou agrônomo que tenha qualquer coisa a ver com a economia nacional irá negar isso. Muitos capitalistas dizem que não pode haver um sistema de estados capitalistas estável sem a Rússia. Ainda assim, nós desenvolvemos tal programa na capacidade de construtores de uma economia mundial baseada em um plano diferente. Isso é de enorme valor propagandista. Mesmo se eles não assinarem uma única concessão – o que eu considero bastante possível – mesmo se o único resultado de toda essa conversa sobre concessões será um certo número de encontros Partidários e decretos, sem uma única concessão sendo garantida, ainda assim nós teremos ganhado algo. Além de desenvolver um plano de reconstrução econômico, nós estamos conquistando todos os estados que foram arruinados pela guerra. No congresso da Terceira Internacional Comunista, eu disse que todo o mundo está dividido em nações oprimidas e opressoras.

Que nações oprimidas não constituem menos do que setenta por cento da população da terra. A Paz de Versalhes adicionou outras cem ou cento e cinquenta milhões de pessoas a essas.

Agora nós não nos situamos apenas como os representantes do proletariado de todos os países, mas também como representantes dos povos oprimidos. Um periódico da Internacional Comunista foi lançado recentemente, sob o título de Narody Vostoka.(4) Ele carrega o seguinte lema, emitido pela Internacional Comunista, para os povos do Oriente: “Trabalhadores de todos os países e todos os povos oprimidos, uni-vos!” “Quando o Comitê Executivo deu ordens para os lemas serem modificados?”, um dos camaradas perguntou. De fato, eu não me lembro que isso tenha sido feito. É claro, a modificação está errada do ponto de vista do Manifesto Comunista, mas naquela época o Manifesto Comunista foi escrito sob condições inteiramente diferentes. Entretanto, do ponto de vista da política atual, a mudança é correta. As relações se tornaram tensas. Toda a Alemanha está fervilhando; assim como está toda a Ásia. Você leram como o movimento revolucionário está se desenvolvendo na Índia. Na China existe um ódio feroz dos Japoneses e também dos Americanos. Na Alemanha existe um ódio tão fervoroso da Entente que só pode ser entendido por aqueles que viram o ódio dos trabalhadores Alemães pelos próprios capitalistas deles. Como um resultado, eles fizeram da Rússia a representante imediata de toda a massa de população oprimida da terra; os eventos estão ensinando os povos a considerarem a Rússia como um centro de atração. Um jornal Menchevique na Geórgia escreveu recentemente: “Existem duas forças no mundo: a Entente e a Rússia Soviética.” O que são os Mencheviques? Eles são pessoas que lançam as velas deles ao vento. Quando nós estávamos fracos internacionalmente, eles gritaram, “Abaixo aos Bolcheviques!” Quando nós começamos a nos fortalecer, eles gritaram, “Nós somos neutro!” Agora que nós afugentamos os inimigos, eles dizem, “Sim, existem duas forças.”

No decreto sobre as concessões nós nos apresentamos, em nome de toda humanidade, com um programa economicamente irrepreensível para a restauração das forças econômicas mundiais através de utilização de matérias primas, onde quer que elas sejam encontradas. O que nós consideramos importante é que não deve haver fome em lugar algum. Vocês capitalistas não podem eliminar ela; nós podemos. Nós estamos falando por setenta por cento da população da terra. É certo que isso exerça uma influência. O que quer que resulte do projeto, nenhuma exceção pode ser tomada para ele do ângulo da economia. O aspecto econômico das concessões é importante, apesar de se elas forem assinadas ou não.

Como vocês podem perceber, eu fui obrigado a fazer uma introdução bastante longa e a demonstrar as vantagens das concessões. É claro, as concessões também são importantes para nós como um meio de obter commodities. Isso é inquestionavelmente verdade, mas a questão principal é o aspecto político. Até o momento em que o Congresso dos Sovietes se reunir vocês irão receber um livro de seiscentas páginas – o plano para a eletrificação da Rússia. Esse plano foi construído por agrônomos e engenheiros de vanguarda. Nós não podemos expedir a realização dele sem a ajuda do capital e meios de produção estrangeiros. Porém, se nós desejarmos assistência, nós devemos pagar por ela. Até agora, nós estivemos enfrentando os capitalistas, e eles disseram que eles ou iriam nos estrangular ou nos forçar a pagar vinte mil milhões. Entretanto, eles não estão em posição de nos estrangular e nós não iremos pagas os débitos. No momento atual nós estamos gozando de um certo descanso. Enquanto nós estivermos em necessidade de assistência econômica nós estaremos dispostos a pagar vocês – é assim que nós apresentamos a questão e qualquer outra forma seria economicamente incorreta. A Rússia está em um estado de ruína industrial; ela está dez vezes pior, ou mais, do que antes da guerra. Se nos tivesse sido dito, três anos atrás, que nós estaríamos enfrentando todo o mundo capitalista por três anos, nós não acreditaríamos nisso. Agora, porém, nos será dito que restaurar a economia, com apenas um décimo da riqueza nacional do pré-guerra, é uma tarefa ainda mais difícil. E, de fato, é uma tarefa mais difícil do que lutar. Nós poderíamos lutar com a ajuda do entusiasmo das massas da classe trabalhadora e dos camponeses, que estavam se defendendo contra os senhores de terras. Atualmente não é uma questão de defesa contra os senhores de terras, mas de restaurar a vida econômica em perímetros que os camponeses não estão acostumados. Aqui a vitória não dependerá do entusiasmo, audácia ou autossacrifício, mas do esforço diário, monótono, pequeno e comum. Isso é indubitavelmente uma questão mais difícil. Onde nós devemos obter os meios de produção que nós precisamos? Nós devemos pagar para atrair os Americanos: eles são homens de negócios. E com o que nós devemos pagar? Com ouro? Porém, nós não podemos desperdiçar ouro. Nós temos pouco ouro sobrando. Nós tempo pouco até para cobrir o programa de eletrificação. O engenheiro que esboçou o programa estimou que nós precisamos de, pelo menos, mil e cem milhões de rublos de ouro para realizar ela. Nós não temos tal estoque de ouro. Nem nós podemos pagar em matérias primas, porque nós ainda não alimentamos o nosso próprio povo. Quando, no Conselho dos Comissários do Povo, a questão se ergue de dar 100,000 poods de grão para os Italianos, o Comissário dos Povos para os Alimentos se levanta e protesta. Nós estamos barganhando por cada vagão de grãos. Sem grão nós não podemos desenvolver o comércio exterior. O que nós devemos dar então? Lixo? Eles têm lixo próprio o suficiente. Eles dizem, negociemos em grão; mas nós não podemos dar grão a eles. Portanto, nós propomos resolver o problema por meio das concessões.

Eu passo para o próximo ponto. Concessões criam novos perigos. Eu devo mencionar o que eu disse no começo do meu discurso, a saber, que um grito estava se erguendo das bases, das massas trabalhadoras: “Não se renda aos capitalistas; eles são inteligentes e engenhosos.” É bom ouvir isso, porque isso é um sinal do desenvolvimento daquela vasta massa que irá lutar contra o capitalismo com unhas e dentes. Existem algumas ideias boas nos artigos do Camarada Stepanev, que ele planejou em linha pedagógicas (primeiro apresentar todos os argumentos contra as concessões e então dizer que elas devem ser aceitas; porém, certos leitores podem parar de ler antes deles chegarem na parte boa, convencidos de que as concessões são desnecessárias); porém, quando ele diz que nós não devemos dar concessões à Inglaterra, porque isso irá significar que algum Lockhart irá vir para cá, eu não posso concordar. Nós lidamos com ele em um momento quando a Cheka ainda estava na infância dela, não tão efetiva como ela é agora. Se nós não pudermos pegar espiões depois de três anos de guerra, então tudo o que pode ser dito é que tais pessoas não deveriam tomar a tarefa de dirigir um estado. Nós estamos resolvendo problemas muito mais difíceis. Por exemplo, no momento existem 300,000 burgueses na Crimeia. Eles são uma fonte de lucros, espionagem e todo tipo de assistências futuras aos capitalistas. Entretanto, nós não estamos com medo deles. Nós dizemos que nós devemos tomar e distribuir ele, fazer eles se submeterem, e assimilar eles.

Dizer que, depois disso, os estrangeiros que estarão ligados às várias concessões serão um perigo para nós, ou que nós não seremos capazes de manter um olho neles, é ridículo. Por que então nós começaríamos todo esse negócio? Por que então nós tomaríamos a tarefa de dirigir o estado? A tarefa aqui é puramente uma de organização e não vale apena permanecer nela do começo até o fim.

É claro, seria uma grande erro pensar que concessões implicam a paz. Nada desse tipo. Concessões não são nada além de uma nova forma de guerra. A Europa lançou guerra contra nós e agora a guerra está se voltando para uma nova esfera. Anteriormente, a guerra era conduzida em um campo onde os imperialistas eram infinitamente mais fortes do que nós eramos – o campo militar. Se vocês contarem o número de canhões e metralhadores que eles têm e o número que nós temos, o número de soldados que o governo deles pode mobilizar e o número que nosso governo pode mobilizar, então nós certamente deveríamos ter sido esmagados em uma quinzena. Entretanto, nós resistimos nesse campo e nós nos dedicamos a continuar a luta e estamos saltando para uma guerra econômica. Nós estipulamos definidamente que próxima a uma área de concessão, uma quadra de concessão territorial, haverá nosso espaço, e então o espaço deles; nós devemos aprender com eles como organizar empresas-modelo ao colocar o que é nosso próximo ao deles. Se nós formos incapazes de fazer isso, não faz sentido falar sobre nada. Operar equipamento de ponta hoje em dia não é uma questão fácil e nós devemos aprender a fazer isso, aprender isso na prática. Isso é algo que nenhuma escola, universidade ou curso irá ensinar a vocês. É por isso que nós estamos garantindo concessões no sistema de tabuleiro de damas. Venha e aprenda trabalhando.

Nós devemos ter um enorme ganho econômico através dessas concessões. É claro, quando as áreas residenciais deles forem criadas, eles trarão costumes capitalistas junto com eles e irão tentar desmoralizar o campesinato. Nós devemos estar em alerta e exercer nossa contra influência comunista em cada passo. Isso também é um tipo de guerra, um duelo entre dois métodos, dois sistemas políticos e econômicos - o comunista e o capitalista. Nós devemos provar que nós somos os mais fortes. É dito a nós: “Muito bem, vocês se provaram no fronte externo; bem, comece a construção, vá enfrente e construa, e nós veremos quem vence.” É claro, essa é uma tarefa difícil, mas nós dissemos,e ainda dizemos, que o socialismo tem a força do exemplo. A coerção é efetiva contra aqueles que querem restaurar o governo deles. Porém, neste estágio a importância da força acaba e depois disso apenas a influência e o exemplo são efetivos. Nós devemos demonstrar a importância do comunismo na prática, através do exemplo. Nós não temos maquinário; a guerra nos empobreceu e privou a Rússia dos recursos econômicos dela. Ainda assim, nós não tememos esse duelo, porque ele será vantajoso para nós em todos os aspectos.

Essa, também, será uma guerra na qual nós não recuaremos uma polegada. Essa guerra será para nossa vantagem em todos os aspectos; a transição da velha guerra para essa nova também será para nossa vantagem, para não dizer nada sobre o fato de que existe uma certa garantia indireta de paz. Na reunião que foi tão pobremente relatada no Pravda, eu disse que nós havíamos passado da guerra para a paz, mas que nós não havíamos esquecido de que a guerra irá retornar. Enquanto o capitalismo e o socialismo existirem lado a lado, eles não podem viver em paz: em última instância um ou o outro irá triunfar - as exéquias finais serão observadas ou da República Soviética ou do mundo do capitalismo. Isso é algum descanso da guerra. Os capitalistas irão buscar pretextos para entrar em guerra. Se eles aceitarem nossa proposta e concordarem com as concessões, isso será mais difícil para eles. Por um lado, nós deveremos ter as melhores condições no evento da guerra; por outro lado, aqueles que querem entrar em guerra não concordarão em tomar concessões. A existência de concessões é um argumento econômico e político contra a guerra. Estados que podem entrar em guerra conosco não serão capazes de fazer isso se eles tomarem concessões. Isso irá amarrar eles. Nós colocamos um valor tão alto através disso que nós não devemos ter medo de pagar, muito mais que nós devemos estar pagando através dos meios de produção que nós não podemos desenvolver. Através de Kamchatka nós devemos pagar em termos de 100,000 poods de óleo, tomando apenas 2 por cento para nós. Se nós não pagássemos nós não deveriam conseguir nem mesmo dois poods. Esse é um preço exorbitante, porém, enquanto o capitalismo existir, nós não podemos esperar um preço justo dele. Ainda assim, as vantagens estão além da dúvida. Do ângulo do perigo de uma colisão entre o capitalismo e o Bolchevismo, pode ser dito que as concessões são uma continuação da guerra, porém em uma esfera diferente. Cada passo do inimigo terá que ser vigiado. Todo modo de administração, supervisão, influência e ação será exigido. E isso também é guerra. Nós enfrentamos uma guerra muito maior; nessa guerra, nós devemos mobilizar um número de pessoas ainda maior do que na anterior. Nessa guerra, todo o povo trabalhador será mobilizado até o ultimo homem. Eles serão ditos e dados a entender: “Se o capitalismo faz isso ou aquilo, vocês, trabalhadores e camponeses que derrubaram os capitalistas, não devem fazer nada menos. Nós devemos aprender!”

Eu estou convencido de que os Sovietes irão superar e deixar para trás os capitalistas e que o nosso ganho não será puramente econômico. Nós conseguiremos míseros dois por cento, de fato muito pouco, ainda assim é algo. Porém, então, nós deveremos ganhar conhecimento e treinamento; nenhuma escola ou universidade vale qualquer coisa sem conhecimento prático. Vocês verão, através do mapa apêndice ao panfleto que o Camarada Milyutin irá mostrar para vocês, que nós estamos garantindo concessões principalmente nas regiões afastadas do centro. Na Rússia Europeia existem 70,000,000 desiatinas de terra florestal nortenha. Cerca de 17,000,000 desiatinas estão sendo separadas para concessões. Nossas empresas de lenha estão mapeadas como um xadrez: essas florestas estão na Sibéria Ocidental e no Extremo Norte. Nós não temos nada a perder. Os principais empreendimentos estão localizados na Sibéria Ocidental, cuja riqueza é imensa. Nós não conseguiremos desenvolver um centésimo dela em dez anos. Entretanto, com a ajuda dos capitalistas estrangeiros, ao deixar eles terem, digamos, uma única mina, nós seremos capazes de trabalhar as nossas próprias minas. Ao garantir concessões, nós escolhemos as localizações.

Como as concessões devem ser organizadas a respeito da supervisão? Eles irão tentar desmoralizar nosso campesinato, nossas massas. O camponês, um pequeno mestre devido à própria natureza, está inclinado à liberdade de comércio, algo que nós consideramos criminoso. Essa é uma questão para o estado combater. Aqui a nossa tarefa é contrapor o sistema socialista de economia ao sistema capitalista. Essa também será uma guerra na qual nós teremos que lutar uma batalha decisiva. Nós estamos sofrendo com um tremendo fracasso na colheita, falta de forrageamento e perda de rebanhos, ainda assim, ao mesmo tempo, vastas áreas de terra não estão cultivadas. Em alguns dias um decreto será emitido proporcionando que todo esforço seja exercido para alcançar a maior semeadura possível e a maior melhoria possível da agricultura.(5)

Em seguida, nós temos um milhão de desiatinas de solo virgem ao qual nós não conseguimos arar, porque nós não temos animais de tração e implementos, enquanto que, com tratores, essa terra pode ser arada em qualquer profundidade. Portanto, é para nossa vantagem arrendar essas terras. Mesmos se nós entregarmos metade da produção, ou até mesmo três quartos, nós seremos os ganhadores. Essa é a política que nos guia e eu posso dizer que nossas ações não devem ser guiadas apenas pelas considerações econômicas e tendências da economia mundial, mas também por profundas considerações políticas. Qualquer outra abordagem ao assunto seria curto prazista. Se é uma questão sobre se as concessões são economicamente vantajosas ou desvantajosas, a resposta é que as vantagens econômicas estão além da disputa. Sem as concessões nós não seremos capazes de realizar nosso programa e a eletrificação do país; sem elas, será impossível restaurar nossa vida econômica em dez anos; uma vez que nós tenhamos restaurado ela, nós deveremos ser invencíveis ao capital. Concessões não significam paz com o capitalismo, mas guerra em uma nova esfera. A guerra das armas e tanques dá lugar para a guerra econômica. De fato, ela também carrega novas dificuldade e novos perigos, mas eu estou certo de que nós superaremos eles. Eu estou convencido de que se a questão das concessões é posta dessa forma, nós seremos capazes de convencer facilmente a vasta maioria dos camaradas do Partido da necessidade das concessões. O receio instintivo do qual eu falei é um sentimento bom e sadio, que nós iremos converter em uma força motriz que irá nos assegurar uma vitória mais rápida na guerra econômica iminente.


Notas de rodapé:

(1) A República do Extremo Oriente foi estabelecida em Abril, 1920, e incluía as regiões de Trans-Baikal, Amur, Maritime e Kamchatka e a Sakhalin do Norte. Formalmente um estado burguês democrático, na verdade, ela seguia uma política Soviética. A formação dela estava em acordo com os interesses da Rússia Soviética, que precisava de uma descanso prolongado da guerra no Extremo Oriente e queria adiar uma guerra com o Japão. Entretanto. ao mesmo tempo, a criação dela foi um passo que o Governo Soviético foi compelido a tomar pela pressão das circunstâncias (ver p. 465 nesse volume). Depois dos intervencionistas e guardas brancos serem expulsos do Extremo Oriente Soviético (exceto Sakhalin do Norte), A Assembleia da República dos Povos votou pela entrada na R.S.F.S.R. em 14 de Novembro, 1922. (retornar ao texto)

(2) Talvez (retornar ao texto)

(3) Isso se refere ao esboço de um acordo comercial entre a Grã Bretanha e a R.S.F.S.R., que o Presidente da Câmara de Comercio, Edward F. Wise, apresentou a L. B. Krasin, líder da delegação de comércio Soviética em Londres, em 29 de Novembro, 1920. Diálogos para normalizar os contatos políticos e econômicos, que haviam começado em Maio, 1920, se arrataram e quase se romperam em diversas ocasiões. Em16 de Março, 1921, eles acabaram com a assinatura de um acordo comercial. (retornar ao texto)

(4) Narodl Vostoka (Povos do Oriente), um jornal mensal, órgão do Conselho para Propaganda e Liderança dos Ativistas dos Povos do Oriente, publicado por uma decisão do Primeiro Congresso dos Povos do Oriente, que foi realizados em Baku, de 1 de Setembro até 7 de Setembro, 1920. Apenas uma edição foi lançada - em Outubro, 1920. Ele foi lançado em Russo, Turco, Persa e Árabe (retornar ao texto)

(5) Lenin está se referindo a lei “Sobre as Medidas para Fortalecer e Desenvolver a Agricultura Camponesa” que o Conselho dos Comissários dos Povos apresentou ao Presidium do Comitê Central Executivo de Toda a Rússia para consideração, através do Oitavo Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia. Foi publicado no Izvestia N°. 281, em 14 de Dezembro, 1920. (retornar ao texto)

Inclusão: 17/08/2022