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Fonte: Sachsische Arbeiterzeitung, 30 de setembro de 1898.
HTML: Fernando Araújo.
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Camarada Heine, como se sabe bem, escreveu um panfleto para a conferência do partido entitulado Votar ou Não Votar? Nele, sai a favor de nossa participação nas eleições do parlamento prussiano. Não é o assunto principal deste panfleto que nos leva a fazer alguns comentários, mas sim os dois termos os quais ele menciona em sua linha de argumento, e aos quais nós reagimos com certa sensibilidade em consequência dos fatos notáveis que tem acontecido recentemente no partido.
Os termos são: a arte do possível e oportunismo. Heine acredita que a aversão do partido a estas tendências deve-se inteiramente a um mal entendido acerca do verdadeiro significado linguístico destas palavras estrangeiras. Ah! Camarada Heine, como Fausto, estudou jurisprudência com dedicado empenho, mas infelizmente, diferente de Fausto, não muito mais do que isso. E no espírito verdadeiro do pensamento jurídico, ele diz a si mesmo, No começo era a palavra. Se nós quisessemos saber se a arte do possível e oportunismo são prejudiciais ou úteis para a Social Democracia, nós apenas precisamos consultar o dicionário de palavras estrangeiras e a pergunta está respondida em cinco minutos. Visto que o dicionário de palavras estrangeiras nos informa que a arte do possível é ‘uma política que se esforça para alcançar o que é possível sob determinadas circunstâncias’. Heine então proclama,
‘De fato, eu pergunto a todos os homens racionais, uma política deveria tentar alcançar o que é impossível sob determinadas circunstâncias?’
Sim, nós como homens racionais respondemos, se as questões de política e tática pudessem ser resolvidas tão facilmente, então os lexicógrafos seriam os estadistas mais sábios e, em vez de proferir discursos Social-Democráticos, nós deveríamos começar a fazer cursos populares sobre linguística.
Certamente, nossa política deveria e pode apenas se esforçar para alcançar o que é possível sob determinadas circunstâncias. Mas isto não diz como, de que maneira, nós deveríamos nos esforçar para alcançar o que é possível. Isto, porém, é o ponto crucial.
A questão fundamental do movimento socialista sempre foi como colocar sua atividade prática imediata em acordo com seu objetivo final. As várias ‘escolas’ e tendências do socialismo são diferenciadas de acordo às suas várias soluções a este problema. E a Social Democracia é o primeiro partido socialista que entendeu como harmonizar seu objetivo final revolucionário com sua atividade prática do dia-a-dia, e desta forma tem sido capaz de atrair grandes massas à luta. Por que então esta solução é particularmente harmoniosa? Dito brevemente e em termos gerais, é que a luta prática tem sido moldada de acordo com os princípios gerais do programa do partido. Isso todos nós sabemos de cor; ninguém deveria nos desafiar, nossas respostas são tão espertas como sempre foram. Agora, acreditamos que, apesar de sua generalidade, este princípio constitui um guia muito palpável para nossa atividade. Deixe-nos ilustrar brevemente através de duas questões da atualidade da vida do partido – pelo militarismo e política personalizada.
Em princípio – como todos que estão familiarizados com nosso programa sabem – nós somos contra todo militarismo e tarifas protetoras. Entende-se disso que nosso representante no Reichstag deve opor-se a todos os debates de projetos de lei sobre estas questões com um abrupto e brusco não? Claro que não, pois isto seria uma atitude própria de uma pequena seita e não de um grande partido de massa. Nossos representantes devem investigar cada projeto de lei individual; eles devem considerar os argumentos e devem julgar e debater no princípio básico se o relacionamento concreto existente, das situações políticas e econômicas existentes, e não um princípio abstrato e sem vida. O resultado, porém, deve ser e será – se nós tivemos avaliado corretamente a relação existente e o interesse das pessoas – não. Nossa solução é: nenhum homem e nenhum centavo a este sistema! Mas, dada a ordem social presente, não pode haver sistema que não seja este mesmo sistema. Cada vez que as tarifas são aumentadas nós dizemos que não vemos razão para concordar com a tarifa na situação atual, mas para nós não pode haver situação na qual nós poderíamos alcançar uma posição diferente. Apenas deste jeito nossa luta prática pode tornar-se o que deve ser: a realização de nossos princípios básicos no processo da vida social e a personificação de nossos princípios gerais na prática, na ação diária.
E apenas sob estas condições é que vamos lutar no único caminho permissível para o que é ‘possível’ a qualquer tempo. Agora se alguém diz que nós deveríamos oferecer uma troca – nosso consentimento aos militaristas e legislação tarifária em troca de concessões políticas ou reformas sociais – então este alguém está sacrificando os princípios básicos da luta de classes por vantagens momentâneas, e suas ações são baseadas no oportunismo.
Oportunismo, a propósito, é um jogo político o qual pode ser perdido de duas maneiras: não apenas princípios básicos, mas também sucesso prático podem ser perdidos. A suposição de que alguém pode alcançar o maior número de sucessos fazendo concessões é um completo erro. Aqui, como em todas as grandes questões, as pessoas mais astutas não são as mais inteligentes. Bismarck uma vez disse a um partido burguês de oposição:
‘Vocês irão se privar de influências práticas se vocês sempre e como uma questão de conduta dizerem não’.
O velho garoto era então, como tantas vezes, mais inteligente do que é o Pappenheimer.[1] De fato, um partido burguês, isto é, um partido que diz sim à ordem vigente como um todo, mas que dirá não às consequências do dia-a-dia desta ordem, é um híbrido, uma criação artificial, que não é nem peixe nem carne nem frango. Nós que nos opomos à ordem vigente inteira vemos as coisas de modo bem diferente. Em nosso não, em nossa atitude intransigente, encontra-se toda nossa força. É esta atitude que nos ganha o medo e respeito do nosso inimigo e a confiança e apoio do povo.
Precisamente porque nós não concedemos nem um centímetro de nossa posição, nós forçamos o governo e os partidos burgueses a nos conceder os poucos sucessos imediatos que podem ser ganhos. Mas se nós começamos a perseguir o que é ‘possível’ de acordo com os princípios do oportunismo, sem nos preocupar com nossos próprios princípios, e por meios de troca como fazem os estadistas, então nós iremos logo nos encontrar na mesma situação que o caçador que não só falhou em matar o veado, mas também perdeu sua arma no processo.
Nós não nos arrepiamos com os termos estrangeiros, oportunismo e a arte do possível, como Heine acredita; nós nos arrepiamos apenas quando eles são ‘Alemanizados’ à nossa prática partidária. Deixe-as permanecerem palavras estrangeiras para nós. E, se aparecer uma ocasião, deixe nossos camaradas evitarem o papel de intérpretes.
Notas:
[1] Uma referência aos soldados do General Pappenheim na Guerra dos Trinta Anos. (retornar ao texto)
Inclusão | 22/03/2009 |