A Libertação da Mulher é uma Necessidade da Revolução, Garantia da sua Continuidade, Condição do seu Triunfo

Samora Machel

[Fala de Abertura]


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Camaradas Membros do Comité Central,

Camaradas Membros do Comité Executivo, Camaradas Delegadas,

Camaradas Observadoras e Observadores, Camaradas,

Este é um momento histórico, glorioso, na vida da nossa Organização.

Pela primeira vez, tem lugar uma Conferência das Mulheres Moçambicanas engajadas em todos os sectores de atividade, no quadro da nossa Revolução. Pela primeira vez, militantes da FRELIMO juntam-se para porem em comum os seus esforços e conjuntamente traçarem uma estratégia para a emancipação da mulher.

Neste momento queremos saudar calorosamente, em nome do Comité Central da FRELIMO, todas as delegações aqui presentes.

Permitam-nos dirigir uma saudação particular às delegadas das Províncias em luta, que deixaram sectores importantíssimos de trabalho para, com a sua presença e experiência, contribuírem para o sucesso desta Conferência. A presença delas aqui é prova da sua compreensão do valor desta Conferência e garantia do sucesso dos nossos trabalhos.

Saudamos as camaradas de Cabo Delgado que heroicamente lutam em todas as frentes, muitas delas desde o início da guerra, fazendo avançar e consolidando-a Revolução, desferindo golpes tremendos às forças colonialistas e reacionárias.

Saudamos as camaradas que vêm do Niassa, Província tão vasta mas com população tão reduzida. As dificuldades que estas camaradas enfrentam são grandes — mas elas sabem superá-las, demonstrando uma determinação e espírito revolucionário inquebrantáveis, defendendo dia a dia as ideias centrais da nossa Organização, transportando material, mobilizando as populações, produzindo e alimentando os guerrilheiros, criando condições para que no Ocidente, no Oriente, no Sul desta Província a presença da FRELIMO permaneça incontestada.

As camaradas de Tete têm uma responsabilidade especial. Esta é uma Província de grande importância estratégica, que representa como que a porta para a libertação de toda a África Austral, e é o centro do conflito direto entre as forças revolucionárias e as forças da reação. Saudamos com calor as camaradas vindas de Tete, e felicitamo-las por terem assumido tão completamente as palavras de ordem da nossa Organização, e em cerca de 4 anos apenas, ao lado dos homens seus companheiros de armas, terem sabido transportar o facho da liberdade através de toda a Província de Tete, fazendo-o entrar e iluminar já também Manica e Sofala.

Queremos saudar as camaradas que nas zonas ocupadas ainda pelos colonialistas portugueses realizam o trabalho clandestino. Atuando no seio do inimigo, sujeitas a riscos incalculáveis, submetidas às tentações de corrupção em que o inimigo é especialista — estas camaradas, pondo os interesses do povo acima de tudo, enfrentam os riscos e recusam a corrupção, criando condições para o desencadeamento da luta armada, fornecendo-nos informações valorosíssima e dando uma contribuição importantíssima para o progresso da nossa luta de libertação. Queremos por último envolver numa saudação especial as camaradas que trabalham nos campos da FRELIMO no exterior, nos vários sectores de atividade. Na representação, onde desempenham um papel de relevo para o abastecimento das novas frentes. Na Escola Secundária onde se preparam os quadros que vão assumir a nossa orientação, descobrindo os segredos da ciência e destruindo os mitos, para mobilizar a sociedade e a natureza em favor da revolução.

Saudamos também as camaradas do Hospital Américo Boavida, que realizam o nosso princípio de pôr os serviços de saúde ao serviço das massas, tratando os feridos de guerra e os doentes, para os habilitarem a regressar à luta, e formando quadros que nas linhas da frente defenderão a saúde do nosso Povo.

As camaradas do CPPM merecem uma saudação especial. Elas realizam uma missão delicada e difícil — transformando homens e mulheres dominados por ideias velhas e preconceitos, em combatentes conscientes e prontos a destruir as forças físicas e morais de exploração e opressão do inimigo.

Três tarefas decisivas recaem sobre as camaradas do nosso viveiro. Formar a nova geração, criar nas crianças a mentalidade nova que lhes permitirá serem autênticos continuadores da revolução. Ensinar os alunos, para que, assumindo a nossa linha, dominem a ciência e se tornem agentes transformadores da sociedade. Transformar as esposas dos militantes em militantes ativas elas próprias, em autênticas mães da revolução.

A estas nossas camaradas, que hoje aqui nos acolhem para realizarmos a nossa Conferência, endereçamos as nossas calorosas saudações, conscientes como estamos do seu importante papel de educadoras.

Podemos com orgulho dizer que esta Conferência é uma grande vitória. Vitória contra o obscurantismo e tradições que condenam a mulher à passividade, vitória contra a sociedade exploradora que escraviza a mulher. Vitória da revolução, que liberta os explorados e oprimidos, liberta a iniciativa das massas.

Mas as vitórias também se constroem e se alimentam do sangue e sacrifício. Muitas mulheres, muitos homens, aqui deveriam estar hoje conosco. Elas e eles, que pelo combate contra o inimigo, pelo combate interno realizado, criaram as condições políticas, morais e mesmo físicas, para que nos reuníssemos aqui.

Eles não estão fisicamente conosco. Os seus corpos são as pontes que nos permitem avançar. Uns, consumiram a vida num ato heroico final; outros, cada dia da sua vida foi um ato heroico, um exemplo de servir as massas, de defesa da linha.

Somos o que somos pelos sacrifícios e sangue que fertilizam e regam a revolução. É justo pois, que, ao iniciarmos a nossa Conferência, observemos um minuto de silêncio em memória das mulheres e homens que caíram servindo o povo, servindo a revolução.

Aqui se reúnem mulheres vindas de todas as Províncias, de todas as Regiões e grupos étnicos do nosso País, com vários níveis de educação e cultura. Aqui se encontram mães e mesmo algumas avós, lado a lado com jovens solteiras. Temos presentes professoras, instrutoras, soldados, enfermeiras, alunas, como presentes estão camponesas. Convosco participarão nos trabalhos, homens, vossos camaradas de combate, não só na libertação da Pátria, como ainda na própria luta pela emancipação da mulher.


fonte do texto
Inclusão 24/11/2015