Produzir é um Acto de Militância

Samora Moisés Machel

13 de Outubro de 1976


Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Prefácio

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O presente discurso do Camarada Presidente Samora Moisés Machel foi proferido numa reunião com operários das empresas industriais de Maputo, em 13 de Outubro de 1976.

O Camarada Presidente define aqui o papel dirigente que cabe historicamente à classe operária no processo da edificação do socialismo. Mas chama a atenção para o facto de a classe operária moçambicana se encontrar ainda numa fase de consolidação e aprofundamento da sua própria consciência de classe. Resultado histórico das condições em que se processou a colonização do nosso Pais, a classe operária moçambicana não tem ainda uma grande experiência de luta e de organização. Por isso ela é por vezes vulnerável à acção do inimigo, à infiltração dos valores burgueses no seu seio.

É isso que explica que encontremos ainda, no seio dos nossos operários, um certo grau de indisciplina, desleixo, desorganização, confusão ideológicasequelas de uma situação em que o operário moçambicano foi privado da possibilidade de assumir o seu papel na produção e, a partir dai, o seu papel na sociedade, na vanguarda da Revolução.

É no combate permanente contra essas sequelas que a classe operária moçambicana se vai constituindo, sob a direcção do Partido FRELIMO, na vanguarda da luta de classe em Moçambique.

Este o conteúdo geral do presente discurso do Camarada Presidente Samora Machelum documento de estudo essencial para todos os operários, para todos os trabalhadores moçambicanos.

Departamento do Trabalho Ideológico da FRELIMO Maputo, Outubro de 1979.

 

★★★

Pensamos que nesta fase do nosso programa comum — a Reconstrução Nacional — é importante analisarmos juntos, os problemas que afectam a Produção. É importante falarmos directamente com os trabalhadores e, neste caso particular, com os representantes a nível político da classe operária.

Definimos o nosso Poder como Poder da aliança operário-camponesa. Poder da aliança operário-camponesa quer dizer que no nosso País, na República Popular de Moçambique, o Poder pertence hoje àqueles que no tempo colonial eram os mais explorados, tanto na cidade como no campo.

Na cidade o capitalismo ganhava dinheiro, construía prédios, hotéis, comprava casas e carros, à custa do trabalho do operário. O operário nada tinha, não podia falar e era espancado pelos polícias e mordido pelos cães, se se encontrasse na rua depois das nove horas da noite.

Ele era metido numa fábrica e obrigado a produzir peças que não sabia o que eram, para que serviam, quanto custavam.

O operário era brutalizado, tratado como um bicho.

No campo, o latifundiário fazia as suas plantações de cana-de-açúcar, de sisal, de algodão, à custa do trabalho dos camponeses. O camponês era levado pelo chibalo para as plantações e, aí, obrigado a trabalhar por um salário de fome.

Se estava doente era chicoteado, se levantava a sua voz era levado para a administração para apanhar palmatoadas. E mesmo aquele camponês que escapava ao chibalo era obrigado a vender o que produzia na sua machamba ao cantineiro, que lhe pagava com vinho e capulanas. Não se podia dizer que o camponês vivia. Ele apenas sobrevivia. E vocês diriam também que ele vegetava.

Os operários e camponeses não tinham acesso às escolas, não tinham hospitais, não tinham qualquer tipo de assistência.

Mas os operários e os camponeses ganharam consciência política.

Foram esses operários e camponeses que constituíram a FRELIMO e a definiram como sua organização.

Foram operários e camponeses que sob a direcção da FRELIMO pegaram em armas para expulsar o colonialismo português. Eram operários e camponeses os que se sacrificaram na luta de libertação nacional.

A nossa independência foi conquistada pelo sangue dos operários e camponeses. As Forças Populares de Libertação de Moçambique são um exército de operários e camponeses.

Responsabilidades Históricas da Classe Operária

A classe operária é a classe dirigente do nosso País, ela é a classe dirigente da História, a única capaz de assumir toda a sociedade, conceber o processo de transformação de toda a sociedade, desencadear e dirigir o processo.

Por isso, hoje no nosso Estado, na República Popular de Moçambique, o poder é assumido e exercido pela aliança operário-camponesa. Esse Poder deve ser exercido contra a classe burguesa cuja intenção é a exploração dos operários e dos camponeses.

Recaem, por isso, grandes responsabilidades sobre a classe operária, a classe que todos nós representamos. Compete a todos nós a responsabilidade histórica de vanguarda revolucionária, na transformação da sociedade.

Compete a todos nós a responsabilidade imediata de fazermos com que a indústria seja efectivamente o factor dinamizador da nossa economia, tal como define a nossa Constituição.

Luta pela Independência Económica Implica Aumento de Produção

Devemos perguntar: como é que em tanto que classe dirigente, como é que em tanto que classe que transforma a sociedade e é responsável por ela, como é que a classe operária assume os seus deveres históricos perante a sociedade.

Nós estamos na fase da luta pela independência económica. Mas a luta pela independência económica implica, antes de mais, o aumento da Produção.

Aumentando a Produção no nosso País, aumentamos a nossa capacidade de combate contra o imperialismo. Aumentando a produção do nosso País, modificamos a natureza das relações que herdamos do colonialismo.

Sem a produção não é pois possível falar na transformação das relações de produção, nem falar na transformação da base económica da nossa sociedade.

Por isso nós dizemos que a tarefa essencial na fase actual é a luta pelo aumento da produção, é a OFENSIVA POLÍTICA E ORGANIZACIONAL GENERALIZADA NA FRENTE DE PRODUÇÃO.

São muitos os aspectos a considerar na Produção. As máquinas, as matérias-primas, os transportes, etc. Mas nós dizemos que o ponto essencial é o homem. Aqui também é o homem e não a máquina o factor decisivo.

Perguntamos agora, como é que nós, trabalhadores das empresas industriais realizamos as nossas tarefas? E a classe operária, as classes trabalhadoras das empresas industriais deve assumir a responsabilidade de responder para nós ficarmos a saber, para que o País saiba como é que os trabalhadores realizam as suas tarefas, como é que assumimos as responsabilidades da classe operária. Achamos que estamos a assumir correctamente as nossas tarefas?

Temos feito visitas regulares às empresas. Parece que já visitámos empresas de todos os sectores de produção industrial aqui na província de Maputo.

Sob o Poder Operário-Camponês Produzir é um Acto de Militância

A empresa, a oficina, é para nós a cápsula incubadora onde se forja a consciência de classe. Aquilo que nós fabricamos, a maneira como trabalhamos, como discutimos e planificamos a produção, é o espelho da nossa consciência de classe.

Na nossa República em que o Poder pertence à aliança operário-camponesa, produzir é um acto de militância.

Agora que já não temos o chicote, o chibalo, a palmatória, produzir é um acto de militância.

Produtividade: Um Termómetro da Consciência Política

Mas a produção tem um aspecto muito particular, muito sensível — a produtividade. Esse aspecto é que para nós serve de termómetro da consciência política, de reflexo da consciência de classe.

Produzir é utilizar os meios materiais, técnicos e humanos para fazer uma coisa socialmente útil.

Um operário que pega num serrote, numa tábua, plaina, pregos, martelo e faz uma cadeira, produziu uma cadeira. Esse operário está a produzir, mesmo que leve um dia inteiro a produzir a cadeira.

Outro operário, utilizando o mesmo material, faz durante o mesmo tempo 4 cadeiras do mesmo tipo. Esse operário também produziu, também trabalhou. Mas há uma diferença básica entre o trabalho destes dois operários. Essa diferença chama-se produtividade.

O primeiro operário é um agente de desmobilização, é um sabotador da economia nacional, não tem consciência de classe, é um peso morto na oficina, em resumo é um Xiconhoca. É assim que aparecem muitos xiconhocas nas fábricas. Não são senão pesos mortos nas fábricas. Deve ser transportado para um lugar apropriado, porque é um corvo que está à espera de tirar os nossos olhos logo que os fechemos.

O segundo operário assumiu a sua responsabilidade de trabalhador, sabe para que é que trabalha e sabe que com a sua produção está a trabalhar para a reconstrução nacional. Este operário que se preocupa com a produtividade, mostra que tem consciência política, que tem consciência de classe.

A produtividade é aquilo que vai melhorar as nossas condições, aquilo que nos vai permitir realizar o progresso, o desenvolvimento económico.

Indisciplina Generalizada e Corrupção nas Empresas Industriais

Nós fomos às vossas fábricas, nós vimos a maneira como trabalham, vimos aquilo que vocês produzem. Agora perguntamos de novo: o que é que nós encontrámos nas vossas fábricas? Estou certo que aqueles que foram visitados têm consciência; sabem o que é que nós constatámos lá e sabem o que é que nós dizemos disso. E perguntamos

agora à classe operária, depois de termos constatado o que existe nas vossas fábricas o que é que vamos comunicar ao País como resultado da visita às vossas fábricas; o que é que temos a dizer ao Povo sobre os operários das empresas industriais do nosso País, ao povo que se veste, calça, come e vive com o produto do vosso trabalho?

Nós vimos que vocês produzem pouco. Então perguntámos a diversos técnicos, a trabalhadores, a aprendizes como é que podemos aumentar a produtividade. A resposta tem sido sempre esta: não é possível aumentar a produtividade porque na maior parte das empresas há atrasos, faltas ao serviço, liberalismo, falta de respeito pelas estruturas, confusão, ambição, boatos, roubo e racismo. Em resumo: indisciplina generalizada e corrupção.

Temos portanto baixa de produtividade!

Com as mesmas máquinas que vocês tinham no tempo colonial, as mesmas instalações, o mesmo número de operários e, em muitos casos, os mesmos técnicos, baixaram a produtividade!

É isto que os operários destas empresas apresentam para responder aos sacrifícios daqueles que lutaram pela conquista da independência? É esta a resposta que devemos dar àqueles que ofereceram as suas preciosas vidas pela independência nacional? É esta a resposta que devemos dar ao nosso Povo e aos nossos filhos? É esta a tradição que devemos transmitir aos nossos filhos? As populações que dia e noite sofreram massacres mas que não vacilaram no combate ao colonialismo é isto que devem saber? É isso que devem saber aqueles que morreram transportando armas, transportando medicamentos, munições, géneros alimentícios, para impulsionar o desenvolvimento da luta, para esmagar, expulsar e destruir o colonialismo no nosso País? É esta a resposta que devemos dar àqueles que foram presos e assassinados nas cadeias do Ibo, aqui no Jamanguane? Todos eles devem saber que esses operários valorizam desta maneira a independência e portanto o sangue derramado na conquista da nossa liberdade? Estou certo, no entanto, que aqui estão alguns que estiveram no Jamanguane e assistiram à brutalidade da PIDE e do colonialismo; à violência do capitalismo e ao ódio que o capitalismo tem pelos operários.

Estamos a ver que temos uma situação muito complicada nas vossas empresas. Por isso perguntamos: como é que vamos resolver? Como é que vamos avançar com pesos mortos, com pessoas inconscientes, como é que vamos avançar com pessoas que nas suas empresas e oficinas instalam uma base do inimigo, como é que vamos avançar com elementos que nas suas fábricas gritam para que o capitalismo, o colonialismo e a exploração regressem para o nosso País?

Parece-nos que o método correcto é compreender quais as causas da situação actual, como é que chegámos à situação actual.

Causas da Situação Actual: Manobras Neocoloniais

No tempo colonial as empresas estavam organizadas e funcionavam com um único objectivo: servir os interesses do capitalismo. Toda a nossa força, dedicação, energia e suor serviam somente os interesses do capitalismo. Mas hoje dizemos o poder pertence-nos.

O Governo colonial, com as suas leis repressivas, os seus administradores, os seus sipaios, era um instrumento que o capitalismo utilizava para melhor explorar os trabalhadores moçambicanos.

A estrutura e os métodos de trabalho que a empresa tinha no tempo colonial eram também repressivos. Serviam os interesses de uma minoria exploradora e não os interesses dos trabalhadores moçambicanos.

O trabalhador moçambicano era na empresa directamente submetido à segregação racial e social, à opressão e à exploração. O seu único direito era o de trabalhar de sol a sol. Não lhe era permitido conhecer mais do que aquilo que directamente fazia. Ninguém lhe explicava os problemas da empresa, os programas da produção, nem sequer a importância social do seu próprio trabalho. Ele era considerado uma máquina sem valor, irresponsável e inconsciente.

O trabalhador moçambicano entrava como aprendiz e morria como aprendiz. Quando muito, podia ser operário de terceira ao fim de vinte anos.

A luta heróica do Povo moçambicano dirigido pela FRELIMO, e as lutas dos povos irmãos de Angola e da Guiné-Bissau, dirigidos pelo MPLA e pelo PAIGC, provocaram o colapso do regime colonial-fascista português. O 25 de Abril foi assim o produto das lutas heroicas dos nossos povos — libertámos a metrópole. Sem a luta nas colónias o fascismo não cairia. Não foi um acto de caridade foi um sacrifício dos nossos povos.

O colonialismo português em Moçambique desmoronava-se frente às vitórias decisivas da FRELIMO.

O capitalismo, procurando sobreviver, tenta criar novas formas para continuar a explorar o nosso Povo. As suas primeiras medidas são para criar o caos económico. Isso aumentaria a dependência do nosso País em relação ao capitalismo e ao imperialismo. E, segundo os seus cálculos, seria então possível utilizar fantoches como Kavandame, Simango, Guengere e Joana Simeão, para dividir o povo e estabelecer um Governo neocolonial.

Mas a clareza ideológica da nossa linha rechaçou a manobra colonialista. Esse Governo teria a missão de desvirtuar o conteúdo da independência e manter a exploração do nosso Povo.

Aproveitando o entusiasmo e a emoção popular, o capitalismo utilizou a fraca consciência política dos trabalhadores para fazer a agitação das massas em seu benefício.

Não há Luta Política sem Consciência Política

É aqui que começam as grandes manobras contra a nossa independência. Fomentando a anarquia generalizada, as greves, os saneamentos indiscriminados, as reivindicações salariais, os capitalistas que sempre exploraram e humilharam o nosso Povo, procuram então aparecer como seus defensores. Alguma vez viram o colonialismo a defender os interesses do Povo? O mesmo capitalista que antes chamava a polícia fascista e denunciava à PIDE qualquer trabalhador que manifestasse insatisfação, procurou rapidamente vestir a pele de anticolonialista, antifascista e anti-racista, aparecendo como bom patrão, defensor dos interesses do trabalhador. Acreditam? Mas há quem diga que é preferível ser comido pelo leopardo do que pelo leão. E assim queriam abrir a porta da frente e de trás para, pela de trás entrar o leopardo enquanto o leão saía pela da frente.

Mas o que é que eles queriam na realidade? Isso é que os nossos trabalhadores não conseguiram detectar porque não analisaram suficientemente as intenções.

  1. Queriam confundir as massas, dificultando a definição correcta do inimigo;
  2. Queriam dividir os trabalhadores;
  3. Queriam desorganizar a economia moçambicana;
  4. Queriam agravar a crise, aquela crise de que o inimigo hoje fala;
  5. Queriam impedir que o Povo, ao tomar o poder político, tomasse também o poder económico.

Em suma, queriam levantar uma série de obstáculos à transformação da nossa economia numa economia verdadeiramente ao serviço do Povo.

Quem não analisar correctamente estas questões pode pensar que as greves, os saneamentos indiscriminados, as reivindicações salariais que na maior parte dos casos eram instigados pelo próprio patrão capitalista ou pelos seus agentes, constituíam formas correctas de luta nacionalista e anti-capitalista.

Na realidade o capitalista nunca e jamais sacrificará o mínimo dos seus interesses por amor ao trabalhador. Não tenhamos ilusões.

Muitos participavam nas greves e pensavam que isso era uma atitude nacionalista. Mas não há luta política, sem consciência política.

Um estivador podia dizer: eu não descarrego estas caixas porque o dinheiro que me pagam é pouco. As caixas eram de armas, munições e bombas que o exército colonial utilizava para combater a FRELIMO. Mas passavam a pagar mais ao estivador e ele descarregava. Quem é que ficava a ganhar? O Povo moçambicano por causa do aumento do salário do estivador ou os nossos inimigos que ficavam com mais bombas para massacrarem o Povo moçambicano?

Para provocar maior divisionismo no seio da classe trabalhadora, o capitalismo inventou no tempo do governo provisório do «senhor doutor» Soares de Melo, agente do capitalismo e fantoche, as chamadas comissões e conselhos de trabalhadores cuja acção descoordenada apenas servia para instaurar a anarquia.

Com a acção desses conselhos e comissões acentuou- -se a dissolução da autoridade na empresa, a paralisação da nossa economia. É aí que surgem as primeiras ondas de boatos. Generaliza-se a indisciplina, a corrupção e o roubo. O capitalismo tinha conseguido o primeiro objectivo do seu plano: baixar a produtividade de forma dramática.

Conclusões da Análise Sobre a Acção Neocolonial

Parece que chegámos a uma conclusão importante:

Já descobrimos onde nascem os problemas que estamos hoje a tentar resolver.

É na estratégia do capitalismo, após o desmoronamento do colonialismo português, que vamos encontrar as raízes da situação de liberalismo, de indisciplina e de corrupção, que desmobilizam a classe trabalhadora e têm como consequência a baixa de produtividade.

O capitalismo utilizou trabalhadores para dividir e desorganizar a classe trabalhadora.

Utilizou trabalhadores para combater a independência de Moçambique e o poder da aliança operário-camponesa.

O capitalismo aproveitou-se do baixo nível de consciência de classe dos trabalhadores.

Actuação do Capitalismo depois dos Acordos de Lusaca

É neste ambiente que a vitória do Povo moçambicano se materializa com a assinatura dos Acordos de Lusaca e o estabelecimento do Governo de Transição, sob a direcção da FRELIMO.

A nossa vitória levou o capitalismo ao desespero. Ele teve que rever os seus planos. Intensificou a sua acção de sabotagem da nossa economia. Organizou a fuga maciça de técnicos, a transferência ilegal de divisas, o roubo e a destruição de maquinaria e equipamento.

Desmontavam fábricas inteiras e atravessavam a fronteira com a maquinaria! O capitalismo continuou a fazer falsas promessas aos trabalhadores para os revoltar contra a FRELIMO. Dizia-lhes: nós queremos aumentar-vos o ordenado, mas a FRELIMO não deixa! Quem é que conquistou a independência, quem libertou o Povo, quem lutou, quem aceitou sacrifícios? Queriam «ajudar» o Povo para lutar contra as suas próprias conquistas. A FRELIMO é o Povo unido do Rovuma ao Maputo. Agora qual é essa FRELIMO que não deixa aumentar os ordenados?

Muitas empresas foram abandonadas, outras paralisadas.

Cumprindo a palavra de ordem de estender as estruturas da FRELIMO a todo o País, formaram-se então Grupos Dinamizadores.

Os Grupos Dinamizadores foram e são a nossa arma fundamental na luta contra todas as formas de sabotagem económica praticadas pelo capitalismo.

Grave Insuficiência na Organização da Classe Trabalhadora

Contudo este combate, tomou de tal forma as nossas energias que não foi possível dedicar a atenção devida à organização da classe trabalhadora. E esta é uma insuficiência muito grave. Agora passamos o tempo atrás do inimigo para descobrir e neutralizar as acções de sabotagem que ele realiza contra a nossa economia, porque não organizámos a classe trabalhadora. Não dedicámos a atenção suficiente, à organização da força principal.

Temos estado a ir atrás dos acontecimentos. Não tomámos ainda a iniciativa. Trabalhamos como bombeiros. Isso reflecte falta de estruturas, falta de organização. Dizemos, portanto, que isso é mau. Um dos maiores segredos é ganhar a iniciativa. A iniciativa deve pertencer-nos sempre e nunca ao inimigo.

Nós só conseguiremos tomar a iniciativa, passar à ofensiva, quando nos organizarmos, quando organizarmos a classe trabalhadora, quando dentro de uma empresa definirmos correctamente as estruturas porque as estruturas são os nossos instrumentos e cada um conhecer o seu lugar dentro das estruturas. Assim teremos distribuído tarefas a cada empregado, a cada trabalhador desde a pequena oficina à grande indústria.

Mas porque ainda não estamos bem organizados a nível das empresas, não somos capazes de fazer a análise das causas da baixa de produtividade, descobrir as contradições fundamentais, analisar as relações de produção.

Já vimos que as dificuldades que agora vivemos não são de hoje. A baixa de produtividade não é como o inimigo diz, o resultado da incapacidade dos trabalhadores para exercerem o Poder, para governarem o seu próprio País.

A maior baixa de produtividade teve lugar como vimos, durante o período do fantoche Governo Provisório quando ainda eram os colonialistas que mandavam no nosso país.

Situação Actual

Mas temos que aprofundar a nossa análise. Temos de ver claramente os sintomas para conhecermos a doença e tomarmos o remédio que a pode curar. Vamos por isso ver qual é a situação actual.

Resumindo: o que verificámos nas empresas?

Indisciplina

Nas nossas empresas há muitos elementos que faltam ao trabalho. As faltas justificadas como doença muitas vezes são por causa da bebedeira, diremos por causa da babalaze. Quando vai à fábrica faz da máquina almofada.

Há casos em que num mês um elemento falta vinte dias. Quase que só vai ao serviço para ir receber o ordenado. Dizem que estão independentes, que a FRELIMO trouxe a independência e que estiveram na prisão, agora querem beber. Muitos há que só vão ao serviço para furar o cartão mas não para trabalhar. Aparece o encarregado e quando o manda trabalhar ele responde: «você é fascista». Se lhe dizem que está a prejudicar a fábrica e a economia o indisciplinado responde: «vou fazer autocrítica». Com autocrítica já produziu?

Há muitos atrasos. Atrasos de trinta minutos, de uma hora, de duas horas. Abusam da tolerância e quando lhes chamam a atenção dizem: «o colonialismo já acabou, abaixo a exploração». Afinal quem são os exploradores: não são eles, os que faltam, os que chegam tarde e no fim querem receber o salário inteiro? Já definimos quem são alguns dos exploradores que agora existem. Não é só o que tem a fábrica.

Muitos abandonam o posto de trabalho durante as horas de serviço. Vão esconder-se nos armazéns para jogar batota, ntxuba! Um indivíduo destes é operário, pertence à nossa classe? É difusor da ideologia proletária dentro da fábrica? Outros saem mesmo da fábrica para irem tratar dos seus assuntos particulares e usam dois cartões para o controlo não saber que saíram.

Há elementos que se apresentam ao serviço embriagados. Dormem no banco do trabalho, insultam os colegas, provocam cenas de pancadaria, estragam matéria- -prima, causam avarias, fazem paralisar a linha de produção.

Outra forma de indisciplina é o esbanjamento. Este não é provocado apenas pelo estado de embriaguez com que alguns se apresentam ao serviço. É também provocado pelo desleixo. Há pessoas que estragam material, utilizam mal o equipamento, produzem montanhas de desperdício. O desleixo revela-se até na maneira como se apresentam: vão ao serviço sujos, alguns nem lavam a cara, as suas caras são lugares onde poisam as moscas, porque têm remelas nos olhos e assim em vez de trabalharem passam o tempo a sacudir as moscas, o cabelo desgrenhado e cheio de fios de manta, como é que um trabalhador destes pode cuidar da máquina se nem sequer de si cuida? Nas fábricas onde existe fato de trabalho e outros meios de protecção e segurança, há trabalhadores que não os usam por desleixo.

Verifica-se também, em muitas empresas falta de higiene. Locais de trabalho sujos, desarrumados, cheios de pó e teias de aranha! Por causa da falta de higiene, em algumas empresas que visitámos quase nem podíamos respirar. E quem trabalha lá durante oito horas por dia são pessoas!

Isto é particularmente repugnante quando se trata de empresas de géneros alimentícios, como vimos na «Bonsuino» e noutras.

Mas estes aspectos todos de indisciplina não dizem respeito só aos trabalhadores. Vimos também a indisciplina na direcção das empresas. Diríamos mesmo que em certos casos a indisciplina dos trabalhadores nasce e é fomentada pela indisciplina da direcção. Entre os dirigentes da empresa também há faltas ao trabalho, há abandono do posto de trabalho, há falta de observação das condições de higiene e segurança que devem existir numa empresa bem dirigida. Visitámos algumas empresas e o que é que vimos nos escritórios dos responsáveis da empresa: papéis desarrumados por todo o lado, chapéu em cima da mesa, casaco mal pendurado, etc.

Na direcção há muitas vezes corrupção material e sexual. Há responsáveis de empresas que não respeitam a dignidade das operárias. Devemos eliminar o desrespeito pela dignidade da mulher na República Popular de Moçambique. Já o dissemos na tomada de posse do Governo de Transição e repetimo-lo na Machava no aniversário da independência. O mau exemplo a nível da direcção reflecte-se sempre na base, no seio da massa operária.

Reivindicações

Há trabalhadores que ainda tentam resolver os seus problemas da maneira como aprenderam no tempo do Governo Provisório, no tempo das chamadas comissões de trabalhadores.

Esses trabalhadores fazem greves silenciosas. Provocam conscientemente a baixa de produção. Constatámos um caso, numa fábrica de confecções em que de setecentas camisas por dia passaram a produzir 150. O que pretendiam era aumento de salários. E diziam à direcção da empresa: só aumentamos a produção quando nos pagar melhor! Donde vem então o dinheiro? Isso é um método errado.

Na realidade o que fizeram é uma sabotagem à fábrica, é um atentado à nossa economia.

Noutras empresas, já com Comissão Administrativa, os trabalhadores exigem que os lucros sejam divididos entre eles. Não compreendem que a conquista do poder económico é uma conquista de todo o Povo, que as empresas devem servir o Povo e não um grupo de trabalhadores, que o aumento da produção dessa fábrica é o resultado do esforço do país inteiro.

Há casos, também, em que depois da fuga de um técnico os trabalhadores vão dizer à direcção: «agora vocês deviam dividir o ordenado dele por nós. Nós é que ficamos a fazer o trabalho». Isto é confusão. Diríamos mesmo: diarreia ideológica. O seu cérebro não está no lugar e é líquido.

Esta confusão que reina nas empresas justifica que façamos uma análise aos problemas das reivindicações.

No tempo colonial, o Poder pertencia aos colonialistas. O exército, os polícias e o governo eram deles.

Ao trabalhador não era permitida qualquer forma de organização.

Assim, os trabalhadores eram obrigados, para procurarem solução para os seus problemas, a organizarem formas de luta próprias.

Foi assim que organizaram manifestações, greves e outras formas de reivindicações.

No entanto o colonialista sabia qual era a sua força.

Se a manifestação era organizada para reclamar a independência, como em 1960 em Mueda, chamava o exército e massacrava.

Se a greve tinha conteúdo de massa, como sucedeu em Maputo, então Lourenço Marques, na greve dos estivadores dos anos 60, a polícia de choque prendia, agredia e matava.

Se a reivindicação era apenas de dinheiro, chamava a PI DE, prendia os dirigentes e mais tarde, dava pequenos aumentos.

As pequenas vitórias conseguidas pelos nossos trabalhadores surgiram, depois de 1964, depois do início da luta armada.

E porquê? Porque o Povo moçambicano começava a exprimir organização e a manifestar as primeiras formas de Poder.

Hoje, o Poder pertence ao Povo.

A polícia pertence à classe trabalhadora, o exército pertence à classe trabalhadora, o governo pertence à classe trabalhadora.

A nossa polícia luta contra os reaccionários e os inimigos da independência. Ela reprime os exploradores. Antigamente era dos exploradores e reprimia os explorados.

O nosso exército defende as nossas fronteiras contra os fascistas, os racistas, os agentes do imperialismo. Ele combate o capitalismo.

O nosso Governo recupera a terra, nacionaliza a medicina, o ensino, a justiça, as casas de arrendamento, retirando esses sectores das mãos dos capitalistas para os pôr ao serviço do Povo. O nosso governo destrói as bases do sistema de exploração.

No tempo colonial, o operário só podia lutar pelo seu benefício pessoal. Procurava resolver a sua vida através do salário. Mas o salário não dava acesso à propriedade da terra, aos consultórios privados, não permitia mandar os filhos à Universidade, viver nas casas de cimento.

Hoje, o operário, com o seu Poder, pode decidir o futuro do seu País. Deve, portanto, estudando com os seus colegas e com as estruturas políticas e administrativas, encontrar a forma melhor de resolver os seus problemas.

No tempo colonial, porque o poder pertencia ao colonialista, o produto do nosso trabalho servia para enriquecer o capitalista. As nossas riquezas escoavam-se para o estrangeiro. Hoje, com o nosso poder, criámos as condições para usar o produto do nosso trabalho em nosso próprio benefício. É por isso que dizemos que devemos produzir mais e melhor, porque, produzindo mais, aumentaremos a riqueza do nosso País, construiremos mais escolas, hospitais, melhoraremos as condições de vida de todo o Povo. No tempo colonial produzíamos sem saber porquê e para quê. Hoje, estamos em condições de produzir, de determinar o sentido da nossa produção, isto é, sabemos para quê que produzimos e com que finalidade. Estamos hoje em condições de controlar a nossa economia e pôr a produção ao serviço do Povo.

Vemos assim que a situação actual é profundamente diferente da que era no passado. Por isso as formas de luta devem também ser diferentes.

Utilizar hoje as mesmas reivindicações que fazíamos no tempo colonial, significa não termos ainda compreendido bem a natureza da nossa luta; não termos compreendido bem quem é o nosso inimigo; não termos compreendido bem que o poder nos pertence.

Nesta fase da nossa luta, o combate contra a exploração passa pelo combate contra a miséria, a fome, o analfabetismo, o combate pela melhoria das condições de vida do nosso Povo. É necessário que assumamos bem quem beneficia agora da produção em primeiro lugar. É por isso que dizemos que na fase presente, a reivindicação a fazer é: aumentar a produção, aumentar a produtividade.

Esta deve ser a nossa luta, mas nunca se organizaram para fazer manifestações pelo aumento da produtividade.

A trincheira do operário é a fábrica, é na fábrica, na oficina, onde, sob a direcção da sua vanguarda revolucionária, elevará a sua consciência de classe, desenvolver-se-á como classe. Armado da ideologia científica do proletariado, saberá utilizar em cada fase da luta a arma adequada para combater o inimigo. O trabalhador organizado, enquadrado nas suas estruturas, saberá utilizar canais correctos para solucionar os seus problemas, saberá subordinar os interesses individuais aos interesses da maioria.

Racismo

Para alguns é complexo esse problema de RACISMO. Nas empresas continuamos a encontrar manifestações de racismo. Ao lado do racismo anti-negro, característico da sociedade colonial capitalista acentua-se agora o racismo anti-branco. Por exemplo:

Há elementos que não aceitam a autoridade dos chefes só porque eles são brancos. Isso é confusão ideológica. Desorganização mental, incorrecta definição do inimigo, conhecimento imperfeito dos nossos princípios. Costumam perguntar: «afinal o colonialismo não acabou? Os brancos ainda continuam a mandar em nós»? Outros dentro da empresa, tratam as pessoas de modo desigual. Os pretos são camaradas e os brancos são senhores. Pode ser um reaccionário mas trata-se por camarada só porque é preto. Esquecem a luta de classes.

Uma forma camuflada de racismo é a daqueles que se recusam a aprender com os técnicos, só porque estes são estrangeiros brancos. Se for um preto aceitam.

Dizem que isso de aprender com estrangeiros não é para quem está independente. Para eles, o conhecimento

técnico, profissional e científico dos estrangeiros não serve. A ciência agora tem cor?

Por isso cometem erros que só prejudicam a nossa economia, atrasam o processo da reconstrução nacional e obrigam-nos a uma maior dependência tecnológica.

Sejamos claros a este respeito.

Nós somos abertamente contra o RACISMO. Racismo de qualquer tipo. O racismo é uma atitude reaccionária que divide os trabalhadores, lançando trabalhadores brancos contra trabalhadores negros ou negros contra brancos e minando a sua consciência de classe.

O racismo impede a correcta definição do inimigo, permitindo a infiltração de agentes do inimigo no nosso seio, camuflados com uma cor.

Por exemplo: — para um racista preto, os seus aliados são o Simango, o Gwengere, a Joana Simeão porque são pretos como ele. Para um racista branco os aliados são o Jorge Jardim, o Kaúlza e o Spínola que são brancos como ele. Onde está o sentido da nossa classe quando dizemos que a característica principal hoje da nossa luta é a agudização da luta de classe?

Nós dizemos que o nosso inimigo não tem cor, não tem raça, não tem pátria. E o nosso amigo também. Não definimos o amigo e o inimigo em função da cor da pele.

Há brancos e pretos que são nossos camaradas. Mesmo estrangeiros. E há brancos e pretos que são nossos inimigos. Mesmo estrangeiros.

Não lutamos contra uma cor mas sim contra um sistema — o sistema da exploração do homem pelo homem.

O piolho, a carraça, o percevejo não têm apenas uma cor, mas nenhum deles bebe água ou leite — vivem de sangue.

O racismo é um cancro que ainda, se manifesta na nossa sociedade. Um cancro que divide. os trabalhadores e os priva da unidade e da consciência de classe. O racismo é um cancro que se alimenta da divisão e destrói a trincheira comum anti-imperialista. Temos pois de o eliminar, de o arrancar, até à última raiz.

Ambição

A ambição revela-se com a luta pelo Poder dentro da empresa. A forma de actuação do ambicioso é o oportunismo e a sua característica principal é a corrupção. É como um camaleão numa parede branca fica branco, numa parede vermelha fica vermelho. E são os que connosco mais agitam a bandeira da FRELIMO.

A corrupção conduz ao vício, e este ao crime. O ambicioso é um elemento com vocação para agredir a nossa linha, trair a causa da classe trabalhadora. Um ambicioso é um criminoso.

Como os ambiciosos pensavam que os Grupos Dinamizadores assumiriam a gerência das empresas, eles procuraram infiltrar-se nos Grupos Dinamizadores.

Essa foi a nossa experiência no Governo de Transição. Uma autêntica corrida para os Grupos Dinamizadores! Houve casos de empresas que se formavam três, quatro Grupos Dinamizadores, que faziam verdadeiras campanhas eleitorais junto das massas trabalhadoras. É preciso analisarmos os nossos erros.

Cada um deles fazia promessas falsas aos trabalhadores e acusava os rivais dos piores crimes.

Cada um deles procurava mostrar maior agressividade contra a gerência, e dizia-se que esses é que eram nacionalistas, é que ataca frontalmente a gerência, defende-nos. No entanto não passava de um oportunista. As pessoas chegavam a meter cunhas, a invocar relações de amizade ou laços de parentesco com A, com B, com C. «Porque eu sou primo do ministro, sou cunhado do director nacional». Em Moçambique não pode haver cunhas.

Essas acções só serviam para confundir e dividir a classe operária e desviar os objectivos da nossa luta de classes.

Depois viram que os Grupos Dinamizadores não eram uma estrutura administrativa. Mesmo no caso das empresas abandonadas nomeavam-se Comissões Administrativas, e os elementos dos Grupos Dinamizadores não podiam fazer parte dessas Comissões. Então começaram as demissões dos elementos dos Grupos Dinamizadores.

Porque é que se demitiam? Alguns, porque viram frustradas as suas ambições pessoais, já não viam razões para continuar a dizer: VIVA A FRELIMO.

Outros porque resolveram realizar as suas ambições pessoais doutra maneira: saíam da empresa onde, por pertencerem ao Grupo Dinamizador, não podiam assumir cargos de chefia administrativa, e iam para outras empresas, onde o seu passado de militante contava para a promoção a chefe.

Outros saíam do Grupo Dinamizador para entrarem na Comissão Administrativa da própria empresa. Sabemos do caso de um elemento do Grupo Dinamizador que para poder entrar na Comissão Administrativa da sua empresa, como não tivesse qualquer outro pretexto para sair do Grupo Dinamizador, renunciou à nacionalidade. Mas perdeu a nacionalidade e seu lugar na Comissão Administrativa.

Até que ponto chega o ambicioso!!!

Houve o caso da Padaria Hazis, aqui na cidade de Maputo, em que quatro elementos do Grupo Dinamizador fizeram sociedade com o patrão. Onde está então a nossa classe trabalhadora, a classe operária?

Isto prova, como dissemos, a vocação do ambicioso para trair, dividir e desmobilizar a classe trabalhadora. Há que redobrar a vigilância para detectar, denunciar e neutralizar administrativamente os ambiciosos!

Acção Inimiga

Nas empresas a acção inimiga assume diversas formas. A mais importante é a sabotagem económica.

Outros exemplos dessa acção são:

O boato, a intriga, a infiltração de antigos PIDES, OPV’s, GE’s, FLECHAS, ANP’s, tentativa de suborno dos elementos dos Grupos Dinamizadores. Ontem diziam, viva Marcelo Caetano, hoje dizem viva a FRELIMO. Estes são os agentes da confusão.

As promessas falsas aos trabalhadores e a destruição de quadros. Trata-se duma forma de actuação muito refinada.

No interesse de fazer baixar a produtividade ou paralisar a própria produção, o inimigo alicia um técnico a abandonar a empresa para ir para outra empresa, nem que para tal tenha de pagar três ou quatro vezes mais.

Em alguns casos o técnico vai desempenhar tarefas diferentes da sua especialidade. Aí dizemos que há destruição de quadros. Esta ofensiva tem-se dirigido sobretudo contra empresas sob controlo do Governo.

Ainda outras formas de acção do inimigo: oferece sociedade a moçambicanos, com quotas não realizadas ou fictícias. Isto é: transfere a contradição que existe entre o capitalismo internacional e as massas trabalhadoras moçambicanas para o seio dos próprios moçambicanos, com o consequente fortalecimento da burguesia interna.

Falta de Consciência de Classe

A razão profunda de todos estes males é o facto de ainda não termos assumido verdadeiramente a consciência da nossa classe. Sem consciência, não há organização. E sem organização não há consciência.

A falta de consciência de classe manifesta-se, também, na falta de interesse em aumentar o nível técnico.

Há cursos de formação que se organizam e depois ficam quase desertos. Os candidatos que se inscrevem abandonam os cursos antes de os acabar, alegando as mais diversas razões, mas a razão fundamental é a questão do dinheiro.

Sem estar organizado, o trabalhador não pode ter a noção de estrutura, não pode ser um bom operário, não pode ter consciência de classe e, muito menos, ser um militante.

Por isso não pode assumir a sua tarefa e participar eficazmente na Reconstrução Nacional.

Vimos portanto que nas nossas empresas há indisciplina generalizada, reivindicações salariais, racismo, ambição e baixo nível de consciência de classe.

Vimos também alguns aspectos da acção inimiga e concluímos que, na maior parte das empresas, a produção e a produtividade são baixas.

O que Queremos! Como solucionar os Problemas? Quais as Tarefas Concretas?

Já vimos que a nossa tarefa central é AUMENTAR A PRODUÇÃO E AUMENTAR A PRODUTIVIDADE.

Já vimos também que a causa real da baixa de produtividade é a divisão e a desorganização das massas trabalhadoras.

Por isso para aumentarmos rapidamente a produtividade do nosso trabalho, diremos que é necessário:

I. Unir e Organizar os Trabalhadores em Moldes Colectivos em cada Sector de Trabalho da Fábrica

É aqui que reside o segredo da vitória. Sem organização não há vitória, onde há desorganização há improvisação, há rotina, triunfalismo e espírito de vitória.

Actualmente o trabalhador está bloqueado pelas estruturas capitalistas que ainda existem no seio da empresa.

A forma de organização interna da empresa, a sua estrutura, corresponde aos interesses do patrão. O trabalhador é considerado como simples instrumento de trabalho. Está ausente dos centros de decisão. Ao trabalhador não lhe é dada a oportunidade de participar nas decisões; não lhe é dada a possibilidade de discutir e procurar colectivamente as soluções dos problemas que se põem no seu local de trabalho, na fábrica.

Na verdade, o que bloqueia a iniciativa do trabalhador são as formas de gestão e administração, que não são populares.

É necessário rapidamente criar estruturas organizativas dos trabalhadores através das quais eles possam participar de forma activa, colectiva e consciente, na discussão e na resolução dos problemas, em especial no que diz respeito à produção e produtividade. No imediato, enquanto essas estruturas não são criadas, em todas as empresas devem realizar-se reuniões gerais de todos os trabalhadores, onde se discutam colectivamente todos os problemas da vida da empresa e da organização do trabalho.

Designadamente: origem da matéria-prima; todo o processo de produção e comercialização; o valor económico e social da produção da empresa no contexto nacional; métodos de trabalho a aplicar para aumentar a produção e a produtividade, a segurança e a higiene dentro da empresa.

II. Programar e Planificar a Produção

A organização implica a planificação, a programação das tarefas, a definição de metas a atingir e o estabelecimento de prazos a cumprir na realização das tarefas.

Em cada empresa temos de definir o objectivo semanal, o objectivo mensal, semestral. Todos os trabalhadores deverão executar as suas tarefas de acordo com os objectivos definidos para a secção ou sector a que pertencerem. Colectivamente, o sector ou secção responderá pela execução das tarefas que lhe couberem.

Assim o trabalhador será mais responsável e responderá pela execução correcta das tarefas que lhe forem distribuídas.

III. Definir e Aplicar com Rigor Novas Normas de Disciplina

É a desorganização nas nossas empresas que permite a existência entre nós de elementos nocivos que objectivamente sabotam a nossa economia.

Estes sabotadores são: os bêbados, os preguiçosos, os ladrões, os que faltam ao serviço, os que chegam sistematicamente atrasados, os esbanjadores, os desleixados, os boateiros, os racistas, os indisciplinados, os corruptos. Estes elementos são inimigos da Revolução.

Contra os que cometem essas faltas, nós usamos primeiro a crítica e autocrítica.

É esta a nossa tradição. Através deste processo conseguimos normalmente a correcção dos elementos desviados. Chamamos a atenção para os seus erros, para o que eles representam para a sociedade. Apelamos para o seu sentido de responsabilidade, a responsabilidade de homem livre, a responsabilidade de um homem, de um país que quer ser revolucionário, a responsabilidade de um homem que luta pelo progresso. Batemos a sua consciência, a consciência do trabalhador, de cidadão moçambicano.

Mas sabemos que há os renitentes, os recalcitrantes, os que recusam a transformação. A estes elementos maus, representantes fiéis do inimigo no nosso seio, temos de aplicar medidas administrativas. Não podemos passar o tempo a criticar e ouvir auto-críticas de elementos que depois, sistematicamente, vão violar a nossa disciplina, sabotar a nossa economia e a nossa independência dura- mente conquistada. Eles não respeitam o Povo trabalhador, comportam-se como inimigo do nosso Povo.

Para esses elementos há as medidas administrativas, diremos: violentas e coercivas. Primeiro há as multas, há as suspensões, há toda uma série de medidas administrativas.

Nós usamos a crítica e autocrítica com camaradas, não com reaccionários. Não com aqueles que são renitentes e recalcitrantes, aqueles que em cada domingo confessam e na segunda-feira recomeçam com os mesmos pecados que disse ao padre. Contra estes vamos puni-los, castigá-los e expulsá-los das nossas fábricas, vamos instalá-los em centros de reeducação.

Os operários devem adquirir uma disciplina consciente, resultante do conhecimento das estruturas, das suas tarefas e de necessidade de cumprir essas tarefas e respeitar essas estruturas.

Devem possuir uma capacidade de análise crítica, uma sensibilidade aguda em relação à organização, às estruturas. Sensibilidade aguda em relação às estruturas e à organização.

Um aspecto particular da disciplina é a pontualidade. A pontualidade é um acto político.

A sirene não marca a hora de chegar à fábrica. Marca a hora do começo do trabalho.

Se às sete horas toca a sirene, vocês a essa hora é que estão a chegar à fábrica, quando muito estão a entrar. Deve ser assim? Não deve, mas agora é assim. O operário consciente de todo o mundo chega vinte minutos antes e prepara-se. Fica cinco minutos a limpar a sua máquina. Quando toca a sirene às sete horas ele começa então o trabalho. Não está a entrar, porque quando entra às sete horas significa que começa a trabalhar às 7.15, ou às 7.20 ou 7.30.

Nós ouvimos de alguns trabalhadores por exemplo que a fábrica «Sena Sugar» em uma hora produz duzentas toneladas de açúcar. Agora um trabalhador que se atrasa sistematicamente meia hora por dia quantas toneladas perdeu a fábrica? Cem toneladas, por causa de um operário inconsciente. Demos este exemplo mas há muitos outros. Diríamos o mesmo de uma fábrica de cigarros, pano, farinha e outras fábricas. Por isso a partir de agora uma característica de todo o nosso operário é a disciplina. Pontualidade como aspecto particular da disciplina. É um acto político, um acto de militância.

O operário consciente está no seu lugar de trabalho pelo menos cinco minutos antes da hora. Prepara a ferramenta, recebe instruções sobre as tarefas que deve executar e, quando a sirene toca, está pronto a iniciar o trabalho.

Já sabe o que vai fazer e como vai fazer.

Quando a sirene volta a tocar não é para sair da fábrica. É para parar o trabalho, para arrumar a ferramenta, limpar as máquinas e o local de trabalho.

Depois o operário consciente, analisa e discute os resultados do trabalho diário com os seus camaradas. Só depois é que ele sai.

As características essenciais da classe operária são a UNIDADE, a ORGANIZAÇÃO e a DISCIPLINA.

Definir Claramente as Atribuições e Competência da Direcção Política e da Direcção Administrativa

Não existe neste momento uma definição clara do tipo de relações que devem existir entre o Grupo Dinamizador e a estrutura administrativa das empresas. Esta situação conduz muitas vezes a choques entre as estruturas e, consequentemente, ao estabelecimento de um clima de tensão e conflitos. Esta situação permite também a acção divisionista dos ambiciosos e dos intriguistas.

É necessário, portanto, que a nível nacional sejam claramente definidas as normas que devem orientar as relações entre as várias estruturas da empresa.

Sobre esta questão há vários aspectos a considerar:

Em primeiro lugar é verdade que todos os problemas são, antes de mais, problemas políticos. No entanto, os problemas têm dois tipos de solução: soluções fundamentalmente políticas e soluções essencialmente administrativas.

Por isso dizemos que compete ao Grupo Dinamizador ocupar-se dos problemas que exijam uma solução política. Compete à estrutura administrativa ocupar-se dos problemas que exijam solução administrativa. Neste caso, o Grupo Dinamizador deve ser também consultado para estudar o problema e para expressar o seu parecer, para traduzir o sentimento dos trabalhadores.

Em segundo lugar, o Grupo Dinamizador e a estrutura administrativa da empresa deverão fixar um dia certo em cada mês para uma reunião conjunta obrigatória, que se realizará fora das horas normais de trabalho.

Nestas reuniões a estrutura administrativa deverá explicar ao Grupo Dinamizador o andamento da empresa. Em conjunto as duas estruturas deverão estudar também:

  1. Medidas concretas para aumentar a produção e a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos da empresa;
  2. Iniciativas para a elevação de consciência profissional dos trabalhadores e para o desenvolvimento dos seus conhecimentos científicos e técnicos, como são os casos dos cursos de formação e reciclagem;
  3. Processos destinados a melhorar a higiene e segurança na empresa e as condições de vida e de trabalho;
  4. Métodos para reforçar a disciplina no trabalho e para uma justa aplicação de medidas disciplinares;
  5. Critérios políticos e técnicos para as admissões, readmissões, despedimentos e promoções ou outras normas de regulamentação interna.

Em terceiro lugar, para além das reuniões semanais dos Grupos Dinamizadores com os trabalhadores, para estudo e difusão da linha política da FRELIMO, deverá ter lugar uma reunião mensal como já atrás referimos.

Nesta reunião o Grupo Dinamizador deverá, junto dos trabalhadores, fazer uma ampla e profunda divulgação das questões discutidas nas reuniões conjuntas com a estrutura administrativa. As decisões fundamentais deverão ser também divulgadas através do Jornal do Povo da empresa.

Em quarto lugar, numa empresa os poderes executivos pertencem à estrutura administrativa da mesma, seja ela gerência ou comissão administrativa. No entanto a estrutura administrativa, como atrás determinámos, deve estudar em conjunto com o Grupo Dinamizador todos os problemas que directa ou indirectamente afectem a produção, a produtividade e a vida das massas trabalhadoras. Nestes termos, o Grupo Dinamizador deve ser sempre consultado pela estrutura administrativa sobre todas as questões ligadas à vida do trabalhador, nomeadamente em: admissões, readmissões, despedimentos, promoções, escolhas de elementos para cursos de formação ou reciclagem, problemas disciplinares, ordens de serviço e outras formas de regulamentação internas.

Em quinto e último lugar, os operários devem exigir que o Grupo Dinamizador se ocupe prioritariamente do estudo e difusão da linha política da FRELIMO no seio das massas, bem como do permanente esclarecimento das massas sobre o processo revolucionário em curso no nosso País, em África e no Mundo.

A actual situação é difícil, mas as perspectivas são francamente favoráveis. Conquistámos o poder político, temos largas potencialidades em recursos naturais, contamos com a solidariedade militante dos países socialistas, nossos aliados naturais, dos países africanos, dos Governos e organizações democráticas do mundo inteiro, mas acima de tudo contamos com a força, com a unidade e determinação do Povo. Ele é hoje como o foi durante a luta armada de libertação nacional o factor decisivo da vitória.

A classe operária tem a responsabilidade de assegurar o desenvolvimento do País. A indústria é o factor dinamizador da nossa economia. Isso significa que é a indústria que vai permitir o avanço de todos os outros sectores da nossa sociedade. Por isso dizemos que a classe operária tem uma grande responsabilidade histórica. Hoje estamos engajados numa nova luta, a luta pela independência económica, estamos engajados numa nova batalha, a batalha pela produção.

Para essa luta necessitamos de um exército. Esse exército são os trabalhadores. Se algum de nós deve assumir na prática o papel de combatente na luta pela independência económica, a classe operária assumirá a vanguarda desse exército poderoso quando estiver unida, organizada, disciplinada e armada com a sua ideologia científica.

Pensamos que vocês vão saber aplicar tudo isto de maneira criadora e respeitar as condições específicas de cada sector de trabalho; pensamos que hoje desencadeámos o combate pela libertação da iniciativa criadora que durante muito tempo esteve atrofiada e destruída pelo colonialismo, pela opressão, pela exploração e pela ocupação do nosso território por estrangeiros.

Desejamos que tenham sucessos para que em 25 de Junho de 1977 todos possam dar relatórios positivos e em poucos meses para que vocês possam mudar as condições dos estabelecimentos comerciais, para que eles representem de maneira viva a vossa face, a vossa consciência. O que significa abastecê-los.

Finalmente queremos que a classe operária, a classe dos trabalhadores se empenhe num papel decisivo no III Congresso da FRELIMO. É lá que antes do 25 de Junho vocês darão relatórios de cada fábrica sobre os métodos encontrados, sobretudo métodos revolucionários. Queremos que vocês desempenhem um papel decisivo na realização do III Congresso da FRELIMO que deve ser uma vitória para o Povo moçambicano, uma vitória para a fundação dos Sindicatos no nosso País.

Foram os operários e camponeses que constituíram a FRELIMO e a definiram como sua organização. A nossa independência foi conquistada pelo sangue dos operários e camponeses. As Forças Populares de Libertação de Moçambique são um exército de operários e camponeses. A classe operária é a classe dirigente do nosso país, ela é a classe dirigente da História, a única capaz de assumir toda a sociedade, conceber o processo de transformação de toda a sociedade, desencadear e dirigir o processo.

A produção tem um aspecto muito particular, muito sensível — a produtividade. Esse aspecto é que para nós serve de termómetro da consciência política, de reflexo da consciência de classe. A produtividade é aquilo que vai melhorar as nossas condições, aquilo que nos vai permitir realizar o progresso, o desenvolvimento económico.

Nós somos abertamente contra o RACISMO. Racismo de qualquer tipo. O racismo é uma atitude reaccionária que divide os trabalhadores, lançando trabalhadores brancos contra trabalhadores negros ou negros contra brancos e minando a sua consciência de classe. O racismo impede a correcta definição do inimigo, permitindo a infiltração de agentes do inimigo no nosso seio, camuflados com uma cor.

É necessário rapidamente criar estruturas organizativas dos trabalhadores, através das quais eles possam participar de forma activa, colectiva e consciente, na discussão e na resolução dos problemas, em especial no que diz respeito à produção e produtividade.

Em cada empresa temos de definir o objectivo semanal, o objectivo mensal, semestral. Todos os trabalhadores deverão executar as suas tarefas de acordo com os objectivos definidos para a secção ou sector a que pertencerem.

Os bêbados, os preguiçosos, os ladrões, os que faltam ao serviço, os que chegam sistematicamente atrasados, os esbanjadores, os desleixados, os boateiros, os racistas, os indisciplinados, os corruptos, são inimigos da Revolução. Eles não respeitam o povo trabalhador, comportam-se como inimigos do nosso povo. Para esses elementos há medidas administrativas. Há as multas, há as suspensões, há toda uma série de medidas administrativas. Nós usamos a crítica e autocrítica com camaradas, não com reaccionários.


Inclusão 12/09/2018