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Quando a América foi descoberta e conquistada pelos colonizadores europeus estava povoada por numerosas tribos índias cujo nível de desenvolvimento social e cultural variava consideravelmente. Alguns deles tinham atingido um alto nível civilizado, enquanto outros viviam em sociedades extremamente primitivas.
A cultura maia, a mais antiga que se conhece no continente americano, desenvolveu-se no Noroeste da América Central. Inicialmente centrava-se nas costas do Lago Petén Itzá e na região a Sudoeste, ao longo do vale do rio Usumacinta (Norte da Guatemala e do Estado mexicano moderno de Tabasco). Mais tarde, contudo, o centro da cultura maia ia deslocar-se para a península do Yucatão, onde no século X surgiram as cidades-Estado do Chichen-Itzá, Mayapan, Uxmal e outras, entre as quais se iam travar contendas durante vários séculos.
A composição da sociedade maia, no período do seu declínio (séculos X a XV) estava longe de ser homogénea. A nobreza e os sacerdotes constituíam as camadas dominantes. A nobreza possuía as plantações de cacau, as colmeias e os depósitos de sal e tinha muitos escravos. Havia também uma classe especial de comerciantes. Os habitantes de cada povoação viviam numa comunidade que mantinha várias características da sociedade de clã. O povo comum era obrigado a trabalhar nos campos dos nobres e a pagar-lhes uma renda em géneros e também a construir estradas, templos, as casas dos nobres e outros edifícios. Os escravos, que eram prisioneiros de guerra, criminosos, devedores e órfãos, eram utilizados para o trabalho mais pesado. Assim, ao mesmo tempo que mantinha algumas instituições típicas da sociedade de clã, a vida nas povoações maias começava a revelar várias características de uma sociedade esclavagista.
A cultura maia exerceu uma influência considerável nos povos vizinhos. A agricultura, a criação de abelhas, os ofícios e o comércio estavam desenvolvidos e florescia uma arte altamente original (arquitectura, escultura e pintura). Houve realizações espantosas na matemática e na astronomia. No início da nossa era foi inventada uma escrita hieroglífica — a primeira escrita do continente americano.
Os vizinhos dos Maias incluíam os Zapotecas, os Olmecas e os Tetonacas. A costa nordeste do México era habitada pelos Huastecas que, embora falassem uma língua maia, não tinham atingido nada que se possa chamar um avançado grau de cultura.
No México Central, conhecido naqueles tempos por vale Anáhuac (que significava «Terra de água» na língua nativa), a cultura tolteca fez notáveis progressos na segunda metade do primeiro milénio d.C. Grandes cidades cresceram (a maior das quais era Teotihuacan) com edifícios e escultura monumentais e um comércio desenvolvido. Este povo também tinha uma escrita e um calendário, ambos baseados na escrita e no calendário maias.
A civilização tolteca foi eliminada no início do segundo milénio d.C. como resultado de invasões do vale Anáhuac por aguerridas tribos nahua. Uma das mais importantes destas tribos neste período eram os Culhuas, cuja cidade central. Culhuacan, estava situada na costa sul do lago Texcoco. Outra importante cidade-estado era Texcoco na costa oriental do Lago. No final do século XIV e no início do século XV, os Tepanecs atingiram um lugar de destaque e conseguiram subjugar Culhuacan, Textcoco e os Estados súbditos desta no vale Anáhuac. Também conquistaram Tenochtitlan, situada numa ilha no lago Texcoco e fundada cerca de 1325 pelos Aztecas (que pertenciam ao mesmo grupo de tribos, falavam uma língua nahua e tinham vindo para o vale no século XII).
Em 1426, os Aztecas de Tenochtitlan formaram uma aliança com as tribos texcoco e tlacopan (estas vinham das costas ocidentais do lago). Depois de derrubarem o domínio tepaneca, os aliados começaram a guerrear contra as tribos vizinhas e acabaram por conseguir obter controlo sobre todo o vale Anáhuac. Em breve, os Aztecas se tornaram líderes da aliança e no curso de várias guerras que se seguiram submeteram todo o México. A acrescentar a estes feitos militares também assimilaram a cultura complexa que se tinha desenvolvido nessa altura no vale Anáhuac. Esta cultura floresceu no início do século XV depois de os Aztecas de Tenochtitlán se terem afirmado como principal tribo da América Central.
A base da agricultura azteca era o cultivo que era possível por sistemas de irrigação. As principais colheitas eram o milho que crescia bem, apesar dos métodos agrícolas extremamente atrasados baseados inteiramente no trabalho manual. Também se cultivava feijão, abóboras, tomate, cacau, algodão e tabaco. Os ofícios mais importantes dos Aztecas eram a cerâmica, a tecelagem, o fabrico de artigos de metal. As técnicas de construção estavam bastante avançadas, o que possibilitou a este povo construir represas, canais e habitações fortificadas feitas de tijolos rudes ou de pedra. Faziam-se trocas nos activos mercados de Tenochtitlán e outras cidades.
Os aztecas viviam em clãs com chefes eleitos. A terra era propriedade das comunas cujos membros a cultivavam. O principal comandante militar dos aztecas (Tlacatecuhtli) que era eleito de entre os membros de uma dada tribo era na prática o supremo chefe de tribo tanto em tempo de paz como na guerra. Também desempenhava importantes funções religiosas. O chefe azteca e o seu conselho exerciam o controlo de todas as operações de guerra realizadas por todos os membros da aliança. Engels descreveu a federação chefiada pelos Aztecas como
«uma confederação de três tribos, que tinham feito de algumas outras suas tributárias, e que era governada por um conselho federal e um chefe militar federal».
As constantes guerras travadas pelos Aztecas acabaram por levar a uma desigual distribuição da propriedade, porque os guerreiros que mais se distinguiam na batalha começaram a receber mais do que os seus parceiros quando os despojos eram distribuídos e o território conquistado era dividido entre os vencedores. Muitas vezes aqueles que eram feitos prisioneiros depois da batalha eram obrigados a trabalhar como escravos. À medida que esta desigualdade aumentou, alguns dos aztecas tornaram-se escravos dos membros mais ricos da sua própria tribo. A escravatura tornou-se uma instituição essencial da sociedade azteca. O aparecimento de uma nobreza de clã progrediu rapidamente e guerras incessantes consolidaram o poder do supremo chefe, que na prática se foi tornando hereditário.
Tudo isto testemunha a desintegração da estrutura de clã da sociedade azteca. No final do século XV e no início do século XVI, esta sociedade vivia uma transição gradual para uma sociedade de classes com as formas apropriadas de poder estadual.
Neste período a arte dos Aztecas atingiu um nível impressionante, particularmente nos campos da arquitectura e da escultura. Os Aztecas utilizavam um calendário solar baseado, sobretudo, no calendário maia. A escrita estava ainda na fase de formação nesta época e era do tipo pictográfico incluindo alguns hieróglifos.
À medida que os últimos vestígios do sistema de clã ia desaparecendo gradualmente, a classe dominante azteca intensificou a pilhagem e a exploração dos pobres da sua própria tribo e dos escravos membros de povos submetidos. No curso das numerosas guerras que travavam durante a maior parte do século XV e no início do século XVI, os Aztecas não só derrotaram os outros povos que habitavam o vale Anáhuac, mas penetraram as montanhas até às costas do golfo do México e à costa do Pacífico. Exigiram um tributo às tribos conquistadas e por vezes tomaram parte das suas terras e faziam grande número de prisioneiros. Muitos destes prisioneiros eram sacrificados aos deuses aztecas, enquanto os outros eram obrigados a trabalhar como escravos, a cultivar a terra, a construir templos e outros edifícios ou trabalhando como escravos domésticos.
Esta maneira de tratar os povos submetidos levou a frequentes revoltas e serviu para fortalecer a resistência por parte das tribos que os aztecas tentaram submeter. A situação agudizou-se particularmente durante o reinado de Montezuma II (1503-1520) que tentou em vão impedir a desintegração que se tinha iniciado.
As antigas civilizações da América do Sul desenvolveram-se nos Andes, onde habitavam os Quechua, os Aymara e outros povos que atingiram um alto nível de desenvolvimento — material e cultural. No século XV e no início do século XVI, os Incas (que pertenciam ao mesmo grupo linguístico que os Quechua) chefiados por Pachacutec. Tupac Yupanqui, e Huanna Capac subjugaram algumas tribos daquela região e estabeleceram um grande Estado, fazendo de Cuzco a capital. Este Estado era chefiado pelo Sapa Inca («Único Inca»), que se considerava filho do Sol e que era adorado como um deus. A língua oficial do Estado inca era o quechua, dialecto que era falado por muitas das tribos súbditas.
Os Incas estavam bastante avançados na agricultura, na criação de gado, nos ofícios (fabrico de artigos de ferro, cerâmica, tecelagem, etc.) e na arquitectura. Alcançaram êxitos notáveis na matemática, na astronomia, na medicina e noutras ciências, e usavam uma escrita hieroglífica. A construção de estradas e comércio também estavam avançados.
A principal unidade social na terra dos incas era o ayllu ou comuna, cujos membros trabalhavam juntos no cultivo de terra e era distribuída pelas famílias individuais. Contudo, o Sapa Inca era considerado dono de toda a terra; uma grande parte das colheitas e dos produtos animais era exigida para fins oficiais e religiosos.
As tribos indianas Pueblo (Hopi, Zuni, Tano, Keres, etc.) que habitavam os vales do rio Grande do Norte e do rio Colorado; os Tupi, os Guarani, os Caribans, os Arawaks e Caiapo brasileiros nas bacias do Orenoco e do Amazonas; os aguerridos Mapuche das pampas e das costas do oceano Pacífico (chamados arancans pelos europeus); as tribos das várias regiões dos actuais Peru e Equador — os Colorados, os Jívaros e os Záparos; as tribos de La Plata (diaguita, charrua, querandi, etc.); os Tehuelche da Patagónia e os índios da Tierra del Fuego (ona, yahgan, chono) — todos viviam em sociedades primitivas em diferentes estádios de desenvolvimento. Isto aplicava-se às numerosas tribos Índias e esquimós da América do Norte. Muitas destas tribos uniram-se para formar grupos e alianças intertribais — os algonkis, iroqueses, muskogi, sioux, athapascans, etc.
No final do século XV e no início do século XVI, o curso natural de desenvolvimento dos povos da América foi interrompido à força pelos conquistadores europeus, particularmente pelos conquistadores espanhóis.
Escrevendo acerca do destino da população nativa do continente americano, Engels notou:
«A conquista espanhola impediu qualquer desenvolvimento independente.»
A conquista e a colonização da América que foi de tão funestas consequências para os seus povos pode ser reconstituída em complexos processos socioeconómicos que então se estavam a dar na sociedade europeia.
O desenvolvimento do comércio e da indústria e o aparecimento da burguesia e das relações de produção capitalista no final do século XV e no início do século XVI, dentro da sociedade feudal da Europa Ocidental, deu origem à necessidade de abrir novas rotas de comércio e de conquistar as incalculáveis riquezas da Ásia Oriental e do Sul. Foi com este objectivo que se empreenderam algumas expedições, particularmente pelos espanhóis. O papel de Espanha nas grandes descobertas deste período pode ser explicado não só pela posição geográfica mas também pela existência de uma numerosa nobreza empobrecida que, depois de completada a expulsão dos Mouros (1492), não encontrava ocupação adequada e procurava ansiosamente meios de adquirir riquezas, sonhando com a descoberta da fabulosa «Terra dourada», do Eldorado.
«Ouro foi a palavra mágica que levou os espanhóis a atravessar o Atlântico», escreveu Engels. «Ouro» era a primeira coisa por que o homem branco perguntava quando aportava a uma costa desconhecida».
No início do século XVI, Colombo e outros marinheiros tinham descoberto algumas das ilhas das Índias Ocidentais, feito o mapa da costa norte e de uma parte considerável da costa oriental da América do Sul e da maior parte da costa das Caraíbas da América Central. Logo em 1494 foi feito o Tratado das Tordesilhas entre a Espanha e Portugal para definir as esferas de expansão colonial dos dois países.
Um grande número de aventureiros da península ibérica, membros empobrecidos da nobreza, mercenários, criminosos, etc., partiram para as terras recentemente descobertas. Por meio de traição e da violência tomavam as terras à população local e proclamavam-nas possessões espanholas ou portuguesas. Os conquistadores roubavam, escravizavam e exploravam os índios e esmagavam cruelmente quaisquer tentativas de resistência. Destruíram cidades e aldeias inteiras com bárbara crueldade. Como Marx diria:
«o saque e a violência era o único objectivo dos aventureiros espanhóis na América do Norte».
A febril ânsia de ouro incitou os conquistadores a descobrir cada vez mais terras. Em 1513, Balboa atravessou o istmo de Panamá, então chamada «Castilla Dourada», e alcançou a costa do Pacífico; Ponce de Léon descobriu a península da Florida, a primeira possessão espanhola da América do Norte.
Alguns anos mais tarde a península do Yucatão foi descoberta e em 1521, Fernando Cortês conquistou finalmente o México Central depois de uma guerra que durou três anos. Tudo isto se fez à custa da antiga cultura dos Aztecas e depois da total destruição da sua capital Tenochtitlán. Foi nesta altura que Magalhães fez a viagem a longo da costa atlântica do continente para o Sul de La Plata e pelo estreito que separava o continente da Terra do Fogo.
Em breve os conquistadores e os seus homens iam voltar a sua atenção para a América do Sul. No início de 1530, uma expedição espanhola chefiada por Francisco Pizarro e Diego de Almagro conquistou o Peru, arrasando a esplêndida civilização inca. Esta conquista começou com a sangrenta repressão dos índios indefesos na cidade de Cajamarca, processo que foi iniciado pelo padre Valverde. O chefe Luca Atahualpa foi feito prisioneiro por um sujo golpe e executado; a capital inca de Cuzco também foi tomada pelos conquistadores. Deslocando-se para o Sul, Almagro e os seus homens penetraram num território a que mais tarde chamariam Chile (1535-1537). Aqui, contudo, encontraram-se perante os aguerridos araucans e sofreram reveses temporários. Entretanto, Pedro de Mendoza começara a colonização de La Plata. Grande número de europeus também procurou apoderar-se da parte norte da América do Sul, onde imaginavam que era o próprio Eldorado, rico em ouro e pedras preciosas. Era à procura do Eldorado que as expedições espanholas conduzidas por Ordaz, Jiménez de Quesada, Benalcázar e destacamentos de mercenários alemães chefiados pelos Alfinger, Von Speyer e Federmann se dirigiram cerca de 1530 para os vales de Orenoco e Madalena. Em 1538, Jiménez de Quesada, Federmann e Benalcázar, marchando do Norte, Leste e Sul, respectivamente, encontraram-se no planalto de Cundinamarca, perto da cidade de Bogotá.
Entretanto, o Brasil estava a ser colonizado pelos Portugueses. Por volta de 1540, Orellana chegou ao Amazonas e navegou por ele abaixo até à costa atlântica. Uma nova expedição ao Chile foi também empreendida na altura sob a chefia de Pedro de Valdivia, mas no início dos anos cinquenta só tinha conseguido capturar as partes do norte e do centro do país.
A penetração nas partes centrais do continente sul-americano pelos colonialistas espanhóis e portugueses continuou durante a segunda metade do século XVI e a colonização de algumas áreas, tais como o Sul do Chile e o Norte do México ia levar ainda mais tempo. Contudo, Ingleses, Franceses e Holandeses também estavam ansiosos por afirmar o seu direito às vastas e ricas terras do Novo Mundo, e conseguiram tomar terras na América Central e do Sul e nas Índias Ocidentais.
Inclusão | 25/06/2016 |