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No virar do século, o capitalismo atingiu a fase mais avançada do seu desenvolvimento. O sistema capitalista de relações sociais era já, nesta altura, predominante em todo o Mundo e várias e novas características e fenómenos começaram a surgir na sua natureza e desenvolvimento. Isto não ocorreu de repente, mas foi um processo lento e gradual, que viria a dar frutos no virar do século.
Estas novas características observar-se-iam nos desenvolvimentos económicos e políticos e nas relações de classes. Muitas pessoas notaram estas novas características isoladas; economistas e sociólogos descreveram vários aspectos destes fenómenos, mas não foram capazes de atingir todas as suas implicações e estabelecer as leis que governavam o desenvolvimento dos novos processos.
Foi Lenine, na sua famosa obra O Imperialismo, a Fase mais Avançada do Capitalismo (1916) que revelou claramente a essência imperialismo e definiu o seu significado histórico. Lenine estabeleceu que o imperialismo não é uma política particular adoptada ou rejeitada por este ou aquele grupo de capitalistas, mas uma fase definida, historicamente determinada, da evolução do capitalismo, a sua fase mais recente, mais adiantada, e a última
No campo económico, esta nova fase do capitalismo distingue-se pelas seguintes características: primeiro, a concentração da produção e do capital atinge um nível em que o papel decisivo da economia de um país é desempenhado pelos monopólios. Os principais monopólios poderosos, «trusts» e empresas que gradualmente se sobrepõem a empresas mais pequenas e menos poderosas, acabam por ocupar uma posição dominante nas suas indústrias respectiva.
Por exemplo, no final do século XIX, o «trust» de petróleo Rockefeller-Standard Oil já controlava 90% da produção de petróleo dos Estados Unidos, enquanto a Corporação do Aço dos Estados Unidos, fundada em 1901, por Morgan e com fundos superiores a mil milhões de dólares controlava nesta altura aproximadamente dois terços da indústria do aço. Na Alemanha, as duas empresas gigantes, da engenharia eléctrica, a Siemens e Halske e a AEG, depois de terem absorvido as suas rivais mais fracas, controlavam entre si cerca de dois terços desta indústria. Em França, duas fábricas, a Kuhlmann e a Saint-Gobain, controlavam a indústria química.
Em todo o mundo capitalista, os monopólios desempenhariam um papel decisivo no desenvolvimento industrial. Uma concentração semelhante ia observar-se no mundo das operações bancárias. Aqui também, geralmente, quatro ou cinco bancos, cada um com a sua sede de negócios financeiros subsidiários e associados, dominavam num dado país.
A segunda característica distintiva do estádio imperialista do desenvolvimento capitalista era a íntima união do capital bancário e industrial. Daqui, o aparecimento do capital financeiro e das poderosas oligarquias financeiras.
A exportação de capitais, que estava agora a desempenhar um papel cada vez mais importante, se comparado com a exportação de mercadorias, era a terceira característica original do imperialismo: por exemplo, por volta de 1914, as exportações de capital inglês totalizavam entre setenta e cinco mil milhões de francos, as de capital francês sessenta mil milhões e as de capital alemão quarenta e quatro mil milhões de francos. Assim, só estes três países tinham exportado a colossal soma de quase 200 000 000 de francos.
A quarta característica típica do estádio imperialista do desenvolvimento capitalista era a formação de grupos monopolistas internacionais e a divisão do Mundo em esferas de influência das alianças capitalistas. Um exemplo deste fenómeno foi dado pelo acordo ferroviário internacional que estabelecia quotas específicas para a Inglaterra, para a Alemanha e para a Bélgica. Mais tarde, a França, a Áustria, a Espanha e os Estados Unidos da América juntar-se-iam a este acordo. Em 1909, foi fundado um Sindicato do Zinco que determinava as quotas de produção das fábricas alemãs, belgas, francesas, espanholas e inglesas. Novas alianças internacionais apareceram e foram assinados acordos respeitantes à divisão dos mercados de venda, entre alguns dos principais monopólios de vários países (o que, não excluía, necessariamente, a rivalidade entre eles).
Quinta e última característica era a divisão final de todo o território do Mundo entre as principais potências capitalistas e o início da luta com o fim de modificar o mapa.
A primeira guerra imperialista por causa da nova divisão do Mundo foi a Guerra Hispano-Americana em 1898. Nesta guerra, o capitalismo relativamente jovem e vigoroso dos Estados Unidos, desejoso de expansão territorial (fosse por que meio fosse) opunha-se à Espanha cujo poderio estava a declinar e que estava a ter cada vez mais dificuldades em manter intacto o seu extenso império colonial. Os Estados Unidos saíram rapidamente vitoriosos deste confronto, expulsando os Espanhóis das Filipinas e de Cuba. O povo dos dois territórios submetidos pegou em armas para defender a sua liberdade e independência. Tanto os Filipinos como os Cubanos não desejavam mais viver sob o jugo americano do que sob o jugo espanhol. No entanto, naquela altura, na alvorada da luta de libertação anti-imperialista, os povos de Cuba e das Filipinas ainda não eram suficientemente fortes para defender a sua independência e o reforço e a correlação das forças de classes na arena internacional da época não favorecia ainda as oportunidades das massas populares.
Contudo, os imperialistas americanos não eram os únicos que aspiravam a alterar as divisões coloniais existentes pela força das armas. O imperialismo alemão, nesta altura armado até aos dentes, tinha ambições semelhantes, e do mesmo modo o imperialismo japonês que, não contente em ter dominado o povo coreano, sonhava estabelecer-se também em território chinês. Os imperialistas italianos, muito menos fortes e poderosos do que os outros, mas no entanto extremamente agressivos, tentaram em 1896 anexar a Etiópia.
Entretanto, as potências coloniais tradicionais, a Inglaterra, a França, a Holanda, Portugal e a Espanha também cravaram ainda mais as garras nas terras que tinham desde havia muito, e não mostravam desejo de se separar de nenhuma delas. As aspirações dos jovens Estados imperialistas, que tinham surgido depois destes e estavam ansiosos por arrancar os territórios coloniais aos antigos conquistadores, levaram inevitavelmente a uma amarga luta entre os dois grupos. No mundo capitalista um tão violento choque de interesses na partilha das colónias só podia ser resolvido duma maneira: pela guerra. A luta pela nova divisão do Mundo e das possessões coloniais levaria inevitavelmente a uma guerra imperialista.
Entre as várias características do imperialismo, a mais fundamental e importante é o aparecimento dos monopólios. Lenine escreveu que a definição curta e mais adequada da natureza essencial do imperialismo seria o estádio dos monopólios do capitalismo. Havia naturalmente muitas variações locais a ter em conta: por exemplo, Lenine referiu-se ao imperialismo inglês como «imperialismo colonial», ao imperialismo alemão como «imperialismo Junker», ao imperialismo francês como «imperialismo usurário», ao imperialismo russo como «imperialismo militar-feudal». Porém, apesar de todas as diferenças que havia entre estes países, por vezes bastante consideráveis, o seu desenvolvimento reflectia a acção de todas as leis gerais inerentes ao imperialismo, como estádio definido do desenvolvimento capitalista.
Uma vez que atingira esta forma mais avançada do seu desenvolvimento, o monopólio, o capitalismo alcançara um limite histórico. O capitalismo de monopólio não é só a fase mais avançada do capitalismo, é também a sua última fase. Sob o imperialismo não só foram criadas as condições materiais objectivas para a transição para um modo de produção diferente, a socialista, como também todas as contradições básicas inerentes ao sistema capitalista se tornaram tão agudas que é inevitável uma solução revolucionária. Foi esta consideração que levou Lenine a afirmar que o imperialismo era a fase final antes da revolução socialista.
A inevitabilidade histórica da queda do imperialismo reflectiu-se e ainda se manifesta numa quantidade de fenómenos. Mesmo no início do século XX, quando o sistema capitalista de relações sociais dominava o Mundo inteiro, já se observavam sinais da sua decadência e declínio. O monopólio, pela sua própria natureza, dá origem à estagnação e à decadência. Isto, porém, não implica que o capitalismo na sua fase final leve imediatamente à estagnação da produção. Durante a fase imperialista a produção aumenta mesmo, e várias indústrias expandem-se com extrema rapidez. Contudo, ao mesmo tempo a irregularidade do desenvolvimento capitalista vê-se muito mais claramente e surgem novas características do capitalismo, tais como o parasitismo e a decadência.
Estas características reflectem-se em fenómenos como o crescimento de estratos não produtores nas classes dominantes, num maior número de indivíduos que vivem dos lucros que obtêm do capital que emprestam. Estes são essencialmente parasitas, que não desempenham qualquer função social útil e que desde há muito deixaram de fazer qualquer trabalho no verdadeiro sentido da palavra, na era imperialista constituem um considerável sector da sociedade em muitos países capitalistas desenvolvidos. Estes países que exportam capital e disso auferem lucros assumem a mesma função. Os seis mil milhões de francos que a França investiu no estrangeiro em 1914 teriam sem dúvida servido para dar um maior vigor à própria economia do país. Vemo-lo com particular clareza se tomarmos em conta como a indemnização de guerra, de cinco mil milhões de francos pagos em 1871-1873 à Alemanha, deu um grande impulso à economia alemã. No entanto, os ricos homens de negócios que exportam capital pensam pouco na economia do seu país; preocupam-se somente com a obtenção de grandes lucros, e as suas transacções estão pouco a pouco a fazer dos países onde dominam, Estados exportadores de capitais.
Outro reflexo do parasitismo e a decadência, no último estádio (o imperialista) do capitalismo; é o rápido aumento do número das pessoas empregadas em vários tipos de trabalho que não produz. Uma enorme quantidade de esforços humanos, é desperdiçado na guerra. Durante a guerra imperialista de 1914-1918, nos sete principais países beligerantes, foram mobilizados mais de sessenta milhões de homens válidos; em vez de fazerem trabalho produtivo, utilizavam as suas energias a exterminar-se uns aos outros. Ao todo tomaram parte nesta guerra trinta e seis Estados e a sua população total era de mais de mil [sic] homens.
No entanto, mesmo em tempo de paz, os orçamentos militares e a corrida às armas devoram uma parte considerável do trabalho de um país. Na Alemanha, na véspera da Primeira Guerra Mundial, as verbas autorizadas para fins militares eram duas vezes e meia maiores do que para todos os outros fins; em França, no mesmo período, os gastos militares levavam mais de um terço do orçamento.
A decadência do capitalismo também se reflectiu no facto de em certo número de casos ele ter começado a ser um travão para o progresso tecnológico. Em casos em que os interesses dos monopólios não exigiam inovações ou melhoramentos técnicos, estes não faziam qualquer tentativa para os introduzir e até se opunham deliberadamente a isso.
Contudo, estes sinais de parasitismo, decadência e declínio que apareceram no sistema capitalista no início do século XX, não implicavam qualquer mudança no seu carácter agressivo e reaccionário.
Pelo contrário, durante a era imperialista as características reaccionárias e agressivas inerentes ao sistema capitalista tornaram-se ainda mais pronunciadas. Neste período, a corrida às armas, longe de abrandar, intensifica-se. Através das suas políticas militaristas, de declaradas ameaças militares e do desencadear de guerras imperialistas, as mais fortes de entre as grandes potências imperialistas procuram, conquistando e escravizando os países mais fracos, consolidar e aumentar a sua influência e domínio. O imperialismo e a guerra andam juntos.
Porém, o imperialismo não implica só a agressão em solo estrangeiro. A época imperialista é de reacção crescente tanto nas políticas internas como extensas dos vários países capitalistas. Uma vez alcançado o auge do seu poderio e tornando-se a classe dominante dos opressores, a burguesia já não está interessada no progresso e acaba por constituir um bastião da reacção e da contra-revolução. A força motivadora atrás de todas as actividades da burguesia imperialista — monopolistas, banqueiras, donos de fábricas, comerciantes, colonialistas e todos os grandes proprietários — é a tendência para acumular o maior lucro possível, nada mais interessa. Num período primitivo, as actividades e o pensamento da burguesia dirigiram-se contra a Igreja, mas no século XX a burguesia imperialista trabalha de mãos dadas com a Igreja para defender os seus interesses comuns, egoístas. A burguesia foi em certa altura inimiga da aristocracia hereditária e do absolutismo, mas agora ela própria se constitui em aristocracia endinheirada e fez quanto podia para estabelecer uma relação mais íntima com o que restava da nobreza, esforçando-se de todas as maneiras por consolidar a máquina do Estado que serve os seus interesses. Menos de dois séculos antes, na época do Iluminismo, a burguesia tinha proclamado o triunfo da liberdade e da razão, tinha sido a campeã da liberdade social e pessoal e procurava apoio entre as massas populares. No século XX, porém, esta classe tornara-se um bastião da reacção e do obscurantismo, promovendo o culto do militarismo e da violência, do nacionalismo das grandes potências e de um brutal chauvinismo. O seu antigo herói, Voltaire, campeão do livre-pensamento, fora agora substituído pelo extremamente reaccionário filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) de cujos escritos ressaltam o cínico entusiasmo da força bruta e de toda a espécie de ideias anti-humanistas.
Na era imperialista, as forças unidas da reacção encontraram oposição das forças que defendiam a democracia e os interesses do povo. Na peugada da classe operária, que constitui o principal inimigo da burguesia imperialista, os estratos não proletários da população trabalhadora também tomaram parte na luta. Escritores notáveis do virar do século denunciaram o mundo capitalista, nas suas melhores obras, criticando o seu código moral e de convenções. Entre eles estavam figuras como Anatole France (1884-1924), Romain Rolland (1866-1944), Heinrich Mann (1871-1950), Thomas Mann (1875-1955) e Jack London (1876-1916). Professores e outros profissionais, os escalões mais baixos e médios dos trabalhadores de «colarinho branco», que antes se mantinham afastados da luta de classes, começam agora a tomar parte nela.
A classe trabalhadora afirma-se nesta época cada vez mais como principal bastião da democracia. Por mais de uma vez quando o proletariado, juntamente com as forças democráticas que lhe davam apoio directo ou indirecto passou à ofensiva, as classes dominantes viram-se obrigadas a fazer concessões. Por exemplo, em Inglaterra, em face de uma nova vaga de actividade do movimento trabalhista, o governo liberal chefiado pelo hábil e inteligente Lloyd George (1863-1945) promulgou algumas reformas, incluindo o dia de trabalho de oito horas para os mineiros (1908); a segurança social para os trabalhadores em caso de doença ou desemprego (1911); o Acto do Parlamento (1911), que estipulou que as leis passassem três vezes pelos Comuns sem alteração em três sessões separadas, pudessem ser apresentadas para aprovação real sem o consentimento dos Lords, e que as medidas financeiras pudessem ser apresentadas, mesmo sem passagem repetida, um mês depois de passarem nos Comuns. Em 1905 foi adaptada uma lei em França, que tirava o apoio oficial à Igreja, e foi decretado o sufrágio universal na Áustria em 1907 (para os homens).
O imperialismo também trouxe no seu rasto a intensificação das agressões coloniais. Tanto as Grandes Potências como os países capitalistas pequenos, mas industrialmente desenvolvidos, tais como a Bélgica e a Holanda, fizeram o que lhes era possível para intensificar a exploração dos povos subjugados nas respectivas colónias. Ao mesmo tempo, lutavam entre si para controlar qualquer território que, por uma razão ou por outra (geralmente como resultado de rivalidade entre vários pretendentes), não tivesse ainda sido anexado. Não só os países que tinham entrado na corrida colonial nesta última fase mas também as potências coloniais estabelecidas, aspiravam a novas conquistas.
No começo do século, a Inglaterra possuía o maior império colonial. Em 1900, as suas colónias e territórios dependentes tinham uma área 109 vezes maior do que a do país-irmão, com uma população 8,8 vezes maior. Não mãos da Inglaterra, estavam concentrados 44,9% dos territórios coloniais do Mundo, e eram estas colónias que constituíam a fonte do seu poder e riqueza. Mas, não contentes ainda com isto, os colonialistas ingleses desejavam alargar as fronteiras do império «cada vez mais». Assim, de 1899 a 1902 a Inglaterra travou uma guerra abertamente agressiva de pilhagem contra as duas Repúblicas Boer, do Transval e do Estado Livre de Orange, que finalmente conseguiu anexar. A Guerra dos Boers foi uma das primeiras guerras imperialistas que despertou a justa indignação dos progressistas em toda a parte do Mundo. Em 1906, a Inglaterra tomou as Novas Hébridas. Embora o poder económico da Inglaterra já não constituísse a mesma ameaça para os seus rivais, isto não significava que ela estivesse disposta a abandonar a mais pequena parcela do seu enorme império. O leão britânico tinha posto o pé sobre a presa e rugia ferozmente se alguém tentasse aproximar-se.
O império da França estava em segundo lugar tanto no que se refere ao território como no que se refere à população, mas nem isto satisfazia o apetite dos colonialistas franceses. Durante a primeira década do século XX, para grande descontentamento dos Imperialistas alemães que fizeram repetidas ameaças de guerra por causa disso, a França deu início à penetração em Marrocos. Por volta de 1911, para todos os efeitos, Marrocos já fora anexado e incorporado no império colonial francês.
A Bélgica, país pequeno mas economicamente poderoso, conquistou o enorme território do Congo na África Central no final do século XIX e submeteu o seu povo a uma cruel exploração.
Além destes actos declarados de pilhagem colonial, as Grandes Potências e os países capitalistas economicamente desenvolvidos empreenderam também formas disfarçadas de expansão colonial. Muitas vezes era mais vantajoso e conveniente para os imperialistas apre- sentarem-se como amigos e defensores dos povos dos países economicamente atrasados do que empregar declaradamente a violência. Tal foi o caminho seguido por exemplo pelos poderosos círculos imperialistas dos Estados Unidos.
Em muitas ocasiões, o dólar havia de revelar-se uma arma mais eficiente do que a baioneta para os gigantes imperialistas dos EUA. Nos países da América Latina, anteriormente reconhecidos como estados soberanos independentes, a influência americana afirmou-se sobretudo por meio da infiltração económica. O capital dos Estados Unidos começou a penetrar em todas as esferas da vida económica dos países latino-americanos e conseguiu desalojar a maior parte dos seus rivais britânicos. Os Estados nominalmente independentes da América Latina iam na prática tornar-se peões do capital americano.
A escravização colonial da China ia seguir um padrão diferente. Oficialmente, a China era ainda (antes da Revolução de 1911) um império soberano independente. Na prática, contudo, era governada por grupos rivais de imperialistas ingleses, americanos, japoneses, russos, franceses e alemães. A China estava à mercê de alguns países imperialistas.
Outra forma de servidão imperialista era a que se observava no Irão no virar do século. Durante um período considerável a Inglaterra e a Rússia tinham competido pelo domínio do país e finalmente em 1907 assinaram um acordo que definia as suas respectivas esferas de influência: a russa no Norte e a inglesa no Sul, enquanto a parte central do país era declarada zona neutra. O Irão, que teoricamente continuava a ser independente, estava nesta altura e para todos os efeitos controlado por duas das Grandes Potências — a Inglaterra e a Rússia.
Apesar da variedade de formas que criou, algumas declaradas, outras disfarçadas, a essência do colonialismo continuava a mesma, trazendo opressão, ruína, exploração e mesmo extermínio aos povos que acorrentou.
Na Índia, que nesta altura era chamada «a pérola da Coroa britânica», a média de vida sob o domínio britânico era de vinte e seis anos. Alguns dos povos coloniais, como os Maoris, da Nova Zelândia; grande número dos Papuas, da Nova Guiné, e dos Pele-Vermelhas, dos Estados Unidos, foram praticamente condenados à extinção.
A expansão colonial crescente, a grande rivalidade pelos mercados é zonas de investimento de capitais, novas fontes de matérias-primas e esferas de influência e a tendência para voltar a dividir o governo do Mundo, tudo isto agravou ainda mais as profundas contradições imperialistas. Entre estas contradições que dividiam as potências imperialistas, as mais graves eram as que existiam entre a Inglaterra e a Alemanha. A poderosa e agressiva Alemanha, pronta a apoderar-se da sua parte do tesouro colonial e a conseguir o domínio mundial, aproveitava todas as oportunidades para obstruir os interesses dos imperialistas britânicos. Era evidente que o futuro próximo os militaristas alemães abandonariam as pressões económicas e políticas e utilizariam a força contra a Inglaterra.
Os diplomatas ingleses viram-se obrigados a abandonar a sua antiga táctica. Já não estavam em posição de seguir a política de «esplêndido isolamento» e tiveram de procurar aliados. Em 1904, a Inglaterra fez um acordo com a França sobre os limites das respectivas possessões coloniais (o Egipto ia para a Inglaterra e Marrocos para a França) e assim preparou o caminho para a Entente Cordiale entre os dois países. Numa base semelhante (a divisão das esferas de influência no Irão), a Inglaterra concluiu um acordo com a Rússia em 1907. Estes dois acordos significavam para todos os efeitos que a Inglaterra se tinha agora unido à aliança franco - russa. Embora a Inglaterra não tomasse sobre si obrigações militares tão claramente definidas como fizeram a França e a Rússia, no contexto das então tensas relações anglo-alemães, ela tornou-se naturalmente um dos membros mais activos da Triple Entente, como a aliança veio a ser conhecida.
A Europa estava agora dividida em dois poderosos blocos imperialistas, a Tripla Aliança e a Triple Entente, ambas as quais se estavam a preparar activamente para a guerra. Em vista do facto de a maior parte das Grandes Potências serem membros de um destes blocos, de terem consideráveis possessões espalhadas pelo globo, e ao facto de que estava em jogo um grande número de contactos e interesses, a iminente conflagração não havia de ser simplesmente uma guerra europeia mas uma guerra mundial.
Inclusão | 09/12/2016 |