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Actualmente, a China é o único país do mundo em que uma ou mais pequenas regiões, sob poder político vermelho, emergem no meio do cerco realizado pelo regime branco. Ao analisarmos esse fenómeno, vemos que uma das razões disso está nas divisões e guerras incessantes entre as classes dos compradores e dos déspotas e nobres na China. Enquanto durarem essas divisões e essas guerras, a sobrevivência e o crescimento duma base revolucionária armada dos operários e camponeses é possível. Além disso, essa sobrevivência e crescimento requerem as seguintes condições:
Uma base revolucionária deve variar a sua estratégia contra as classes dominantes que a cercam, adoptar uma estratégia para a altura em que o regime das classes dominantes está temporariamente estabilizado e, uma outra, quando esse regime está dividido. Quando as classes dominantes estão divididas, como aconteceu durante as guerras entre Li Tsum-jen e Tam Chem-tchi, nas províncias de Hunan e Hupei(1) e entre Tcham Fa-cui e Li Tsi-chen na província de Cuantum(2), a nossa estratégia pode ser comparativamente mais audaz e a área coberta pela actividade militar, com vistas ao alargamento da base, pode ser comparativamente mais extensa. Contudo, devemos ter o cuidado de estabelecer sólidas raízes nas regiões centrais, de modo a termos algo de seguro em que apoiar-nos quando se desencadeie o terror branco. Num período em que o regime das classes dominantes está comparativamente estabilizado, como aconteceu nas províncias do Sul, depois de Abril deste ano, a nossa estratégia deve ser a do avanço gradual. Nesses períodos, em matéria militar, a pior coisa é dividir as nossas forças para uma progressão aventureira e, no trabalho local (distribuição de terras, estabelecimento do poder político, expansão do Partido e organização das forças armadas locais), a pior coisa é dispersar os nossos homens e descurar o estabelecimento de raízes sólidas nas regiões centrais. As derrotas que muitas das pequenas regiões vermelhas sofreram devem-se ou à ausência de condições objectivas ou a faltas subjectivas no plano táctico. Os erros tácticos cometeram-se simplesmente em razão da falta de distinção clara entre as duas espécies de períodos, o período em que o regime das classes dominantes está temporariamente estabilizado e o período em que está dividido. Para um período de estabilização temporária do regime das classes dominantes, alguns camaradas defendiam a ideia de dividir as nossas forças para um avanço aventureiro, chegando mesmo a propor que se deixasse a defesa de grandes regiões exclusivamente à Guarda Vermelha, como se ignorassem o facto de o inimigo poder atacar, não só com as milícias de casa-a-casa mas também, em acções concentradas, com as tropas regulares. No trabalho local, eles descuraram absolutamente o estabelecimento de raízes sólidas nas regiões centrais e tentaram uma expansão ilimitada, sem se preocuparem se isso estava ou não dentro das nossas possibilidades. E se alguém defendia uma política de avanço gradual no plano militar, ou uma política de concentração dos nossos esforços no trabalho local, para estabelecer raízes sólidas nas regiões centrais, de maneira a assegurar-se uma posição invencível, era apontado como "conservador". As suas ideias erradas foram a causa fundamental das derrotas sofridas em Agosto último, na região fronteiriça Hunan-Quiansi, bem como da derrota sofrida nessa mesma altura pelo IV Corpo do Exército Vermelho, no sul do Hunan.
O nosso trabalho na região fronteiriça Hunan-Quiansi começou em Outubro do ano passado. Nessa altura, das organizações do Partido nos distritos não restava nem uma. Quanto às forças armadas locais, elas consistiam apenas em duas unidades, sob o comando de luan Ven-tsai e Vam Tsuo, estabelecidas nas proximidades das montanhas Tchincam e munidas, cada uma, de sessenta espingardas em mau estado de conservação. Os corpos camponeses de auto-defesa, nos distritos de Ionsin, Lien-hua, Tchalim e Lincien, tinham sido completamente desarmados pela classe dos déspotas e nobres e o ardor revolucionário das massas tinha sido abafado. Por volta de Fevereiro deste ano, Nincam, Ionsin, Tchalim e Sueitchuan tinham já os seus comités distritais do Partido, Lincien tinha um comité do Partido de região especial e, em Lien-hua, tinha-se começado a criar uma organização do Partido e estabeleciam-se ligações com o Comité Distrital do Partido em Van-an. Todos os distritos, excepto Lincien, dispunham de reduzidas unidades armadas locais. Em Nincam, Tchalim, Sueitchuan e Ionsin, especialmente nos dois últimos distritos, registaram-se várias acções de guerrilhas contra os déspotas e nobres, as quais despertaram as massas e alcançaram um certo êxito. Nesse período, a revolução agrária ainda não tinha avançado profundamente. Os órgãos do poder político passaram a chamar-se Governo dos Operários, Camponeses e Soldados. No exército, foram constituídos comités de soldados(3). Quando as unidades partiam em separado para as diferentes missões, eram criados comités de acção que as dirigiam. O órgão dirigente superior do Partido era o Comité da Frente (com Mao Tsetung como secretário) que havia sido designado pelo Comité Provincial do Partido no Hunan, durante a Insurreição da Colheita de Outono. Nos começos de Março, a pedido do Comité Especial do sul do Hunan, o Comité da Frente foi abolido e reorganizado em Comité Divisional do Partido (com Ho Tim-im como secretário), passando a ser um órgão exclusivamente encarregado das organizações do Partido no exército, sem autoridade sobre as organizações locais do Partido. Ao mesmo tempo, as forças de Mao Tsetung foram enviadas para o sul do Hunan, a pedido do respectivo Comité Especial, em consequência do que a região fronteiriça Hunan-Quiansi foi ocupada pelo inimigo, durante mais de um mês. Em fins de Março sobreveio a derrota no sul do Hunan e, em Abril, as forças de Tchu Te e as de Mao Tsetung, juntamente com o exército de camponeses do sul do Hunan, retiraram-se para Nincam e dedicaram-se à reconstituição da base revolucionária na região fronteiriça Hunan-Quiansi.
A partir de Abril, a base revolucionária na região fronteiriça Hunan-Quiansi passou a estar confrontada com uma situação de estabilização temporária do poder das forças dominantes no Sul. As tropas reaccionárias enviadas do Hunan e Quiansi como "expedição punitiva" oscilavam, pelo menos, entre oito e nove regimentos e, algumas vezes, chegavam a dezoito. Com efectivos inferiores a quatro regimentos, nós combatemos, porém, o inimigo durante quatro meses e, dia após dia, conseguimos alargar o território da nossa base, aprofundar a revolução agrária, ampliar o poder político popular e aumentar os efectivos do Exército Vermelho e da Guarda Vermelha. Isso foi possível porque a política das organizações do Partido da região fronteiriça (locais e do exército) estava correcta. A política do Comité Especial do Partido na região fronteiriça (com Mao Tsetung como secretário) e a do Comité do Exército (com Tchen Yi como secretário) consistiam no seguinte: lutar resolutamente contra o inimigo, instaurar o poder político na parte central da cadeia de montanhas de Luociao e lutar contra a tendência para a fuga; aprofundar a revolução agrária no território da base revolucionária; promover o desenvolvimento das organizações locais do Partido com a ajuda das organizações do Partido no exército, e promover o desenvolvimento das forças armadas locais com a ajuda do exército regular; adoptar a defensiva no Hunan, onde o poder das forças dominantes é comparativamente mais forte, e adoptar a ofensiva no Quiansi, onde as forças dominantes são, comparativamente, mais fracas; despender grandes esforços para desenvolver Ionsin, criar aí uma base revolucionária de massas e preparar-se para uma luta prolongada; concentrar as unidades do Exército Vermelho, para combater oportunamente o inimigo que nos ataca, e opor-se à divisão das nossas forças, de modo a evitar que o inimigo nos esmague unidade por unidade; e, para alargar a nossa base de apoio, adoptar a política de avançar em vagas sucessivas e combater a política do avanço aventureiro. Graças a essas tácticas adequadas, graças ao terreno da região fronteiriça que nos favorecia a luta e graças à deficiente coordenação entre as tropas invasoras vindas do Hunan e do Quiansi, nós fomos capazes de alcançar uma série de vitórias militares e expandir a nossa base revolucionária de massas, nos quatro meses que vão de Abril a Julho. Embora nos fosse várias vezes superior em número, o inimigo não foi capaz de destruir a nossa base e nem mesmo de impedir a sua expansão. A nossa base tende a exercer uma influência cada vez maior no Hunan e no Quiansi. A razão única da derrota de Agosto foi o facto de alguns camaradas, não tendo compreendido que o período era de estabilização temporária das classes dominantes, adoptarem uma política adequada aos períodos de divisão no seio das classes dominantes, e dividirem as nossas forças para um avanço aventureiro sobre o sul do Hunan, causando assim a derrota na região fronteiriça e no sul do Hunan. Tu Siu-quim, representante do Comité Provincial do Partido no Hunan, e Iam Cai-mim, secretário do Comité Especial do Partido na região fronteiriça, ambos nomeados pelo Comité Provincial, não compreenderam a situação dessa altura e, aproveitando-se do facto de Mao Tsetung, Uan Si-sien e outros camaradas, que eram energicamente opostos aos seus pontos de vista, estarem longe, ausentes em Ionsin, não tiveram em conta alguma as resoluções da reunião conjunta do Comité do Exército, do Comité Especial e do Comité de Distrito de Ionsin, resoluções que desaprovavam os pontos de vista do Comité Provincial do Hunan, e, de maneira literal, executaram somente a ordem do Comité Provincial do Hunan, que consistia em marchar para o sul do Hunan, apoiando assim os desejos do 29º Regimento do Exército Vermelho (composto de camponeses de Itchan), que queria abandonar a luta e regressar à sua região de origem. Foi isso que causou a derrota na região fronteiriça e no sul do Hunan.
Já antes, em meados de Julho, o VIII Corpo das forças inimigas no Hunan, sob comando de Vu Cham, tinha invadido Nincam, penetrado em Ionsin e tentado em vão travar batalha (as nossas tropas tinham procurado atacá-lo por um caminho lateral mas não o conseguiram) até que, amedrontado pelas massas, se retirou precipitadamente para Tchalim, via Lien-hua. Nesse meio tempo, o destacamento principal do Exército Vermelho, que viera de Nincam para atacar Lincien e Tchalim, modificou os seus planos ao alcançar Lincien, e voltou-se para o sul do Hunan, enquanto cinco regimentos do III Corpo das forças inimigas em Quiansi, sob comando de Vam Tchiun e Quin Han-tim, e seis regimentos do VI Corpo, sob as ordens de Hu Ven-tou, lançavam um assalto conjunto sobre Ionsin. Nessa altura, em Ionsin, dispúnhamos apenas de um regimento que, coberto pelas grandes massas do povo, conseguiu, durante vinte e cinco dias, encerrar os onze regimentos inimigos num raio de trinta lis(1*) perto da capital do distrito de Ionsin, por meio de ataques de guerrilhas desferidos em todas as direcções. Finalmente, em virtude do vigor do assalto inimigo, acabámos por perder Ionsin e, mais tarde, Lien-hua e Nincam. Justamente nessa altura, verificaram-se súbitas dissensões no seio das forças inimigas no Quiansi; o VI Corpo comandado por Hu Ven-tou retirou-se apressadamente e atacou, em Tchanchu, o III Corpo de Vam Tchiun. Os restantes cinco regimentos inimigos do Quiansi retiraram-se igualmente para a capital do distrito de Ionsin. Se o nosso destacamento principal não se tivesse deslocado para o sul do Hunan, teria sido inteiramente possível bater aquelas forças e alargar a nossa base de apoio, de maneira a que incluísse Qui-an, Anfu e Pinsiam, e ligando-a a Pinquiam e Liuiam. Todavia, como o destacamento principal estava ausente e o regimento que nos restava encontrava-se exausto, decidiu-se que uma parte dos homens ficaria para a defesa das montanhas Tchincam, em cooperação com as duas unidades de Iuan Ven-tsai e Vam Tsuo, enquanto que eu deveria conduzir a outra parte das tropas para Cueitum, a fim de encontrar-me com o nosso destacamento principal e convidá-lo a regressar. Nessa altura, o destacamento principal das nossas forças retirava-se do sul do Hunan para Cueitum onde, a 25 de Agosto, fizemos a junção.
Logo que o destacamento principal do Exército Vermelho chegou a Lincien, a meados de Julho, os oficiais e soldados do 29º Regimento, que manifestavam certa instabilidade política e desejavam regressar à sua terra natal nò sul do Hunan, recusaram-se a obedecer. Nessa mesma altura, o 28º Regimento pronunciou-se contra a marcha para o sul do Hunan, pretendendo seguir para o sul do Quiansi, e não aceitando, em caso nenhum, um regresso a Ionsin. Como Tu Siu-quim encorajasse o 29º Regimento a persistir no seu erro e como o Comité do Partido do Exército não tivesse conseguido dissuadi-lo, o destacamento principal partiu de Lincien a 17 de Julho, em direcção de Tsendjou. A 24 de Julho, num combate que travou em Tsendjou contra as tropas comandadas por Fan Chi-chem, o destacamento obteve um sucesso inicial mas acabou por ser derrotado, retirando-se do campo de batalha. Seguidamente, por sua livre iniciativa, o 29º Regimento retirou-se em direcção da sua região de origem, Itchan, o que levou ao aniquilamento de uma parte das suas forças, durante um ataque que lhe lançaram os bandos de Hu Fum-tcham, em Lotcham, bem como à dispersão da outra parte dos homens pela região Tsendjou-Itchan, não se tendo deles qualquer outra notícia até hoje; nesse dia não foi possível reagrupar mais do que uma centena de homens. Afortunadamente, o 28º Regimento, que constituía a força principal, não sofreu grandes perdas e, em 18 de Agosto, ocupou Cueitum. A 23 de Agosto, esse regimento operou uma junção com as unidades vindas das montanhas Tchincam, decidindo-se então que as forças conjuntas deveriam regressar a Tchincam, via Tchon-yi e Chan-iou. Quando chegamos a Tchon-yi, o comandante de batalhão Iuan Tchon-tchiuan desertou, arrastando consigo uma companhia de infantaria e uma companhia de artilharia, e, embora estas tivessem sido constrangidas a regressar, o nosso comandante de regimento, Vam El-tchuo, perdeu a vida nessa operação. Em 30 de Agosto, aproveitando-se do facto de as nossas tropas, embora já no caminho do regresso, não terem ainda atingido o seu destino, as unidades inimigas do Hunan e do Quiansi atacaram as montanhas Tchincam. Sabendo tirar proveito das vantagens oferecidas pelo terreno, as nossas forças de defesa que, no total, não atingiam os efectivos de um batalhão, ripostaram e derrotaram o inimigo, salvando assim a base.
As causas da derrota de Agosto são as seguintes:
A partir de Abril deste ano, as regiões vermelhas começaram a estender-se gradualmente. Depois da batalha de Lom-iuan-cou (nas fronteiras de Ionsin e Nincam), a 23 de Junho, onde derrotámos pela quarta vez as forças inimigas do Quiansi, a região fronteiriça atingiu o máximo da sua expansão, abarcando os três distritos de Nincam, Ionsin e Lien-hua, os pequenos sectores de Qui-an e Anfu, o sector norte de Suei-tchuan e o sector sudeste de Lincien. Nas regiões vermelhas, grande parte das terras já tinha sido distribuída e o restante está sendo também distribuído. Foram criados órgãos do poder político por toda a parte, tanto nos sub-distritos como nas circunscrições. Estabeleceram-se governos de distrito em Nincam, Ionsin, Lien-hua e Sueitchuan e criou-se Um governo de fronteira. Em geral, organizaram-se destacamentos insurreccionais de operários e camponeses nas circunscrições, e formou-se a Guarda Vermelha ao nível dos distritos e sub-distritos. Em Julho, as forças inimigas do Quiansi passaram ao ataque e, em Agosto, as forças inimigas do Hunan e Quiansi atacaram conjuntamente as montanhas Tchincam. Todas as sedes de distrito, bem como as planícies da região fronteiriça, foram ocupadas pelo inimigo. Os lacaios do inimigo — os corpos de preservação da paz e as milícias de casa-a-casa dos senhores de terras — actuaram arbitrária e furiosamente, fazendo reinar o terror branco pelas cidades e campos. A maioria das organizações do Partido e do governo desmoronou-se. Os camponeses ricos e os arrivistas no interior do Partido passaram-se, um após outro, para o lado do inimigo. Só depois da batalha das montanhas Tchincam, a 30 de Agosto, é que as forças inimigas do Hunan se retiraram para Lincien; todavia, as forças do Quiansi continuaram a controlar todas as capitais e a maioria das aldeias nos distritos. Contudo, o inimigo nunca conseguiu apoderar-se das regiões de montanha, incluindo os dois sectores do oeste e norte de Nincam; os sectores de Tienlom, Siaociquiam e Vanienxan, respectivamente no norte, oeste e sul de Ionsin; o sector de Chansi, no distrito de Lien-hua; o sector de Tchincanxan, no distrito de Sueitchuan; e os sectores de Tchinchicam e Ta-iuan, no distrito de Lincien. Em Julho e Agosto, em coordenação com a Guarda Vermelha dos vários distritos, um dos regimentos do Exército Vermelho travou dezenas de batalhas, pequenas e grandes, perdendo apenas trinta espingardas até ao momento em que se retirou para as montanhas.
Quando as nossas forças regressavam às montanhas Tchincam, via Tchon-yi e Chan-iou, as tropas inimigas do sul do Quiansi, a 7ª Divisão Independente comandada por Liu Chi-yi, perseguiram-nas até Sueitchuan. A 13 de Setembro, derrotámos Liu Chi-yi, capturámos centenas de espingardas e ocupámos Sueitchuan. A 26 de Setembro, regressámos às montanhas Tchincam. A 1 de Outubro, em Nincam, atacámos e derrotámos uma das brigadas de Sium Chi-huei, comandada por Tchou Huen-iuan, reconquistando inteiramente o distrito de Nincam. Entretanto, 126 homens das tropas inimigas comandadas por Ien Tchom-ju, que estacionavam no Cueitum, pertencentes às forças de Hunan, passaram para o nosso lado, sendo organizados num batalhão especial, sob comando de Pi Tchan-iun. A 9 de Novembro derrotámos um regimento da brigada de Tchou, na sede do distrito de Nincam e em Lom-luan-cou. No dia seguinte, avançámos e ocupámos Ionsin, mas retirámo-nos pouco depois, para Nincam. Actualmente, a nossa base, que a sul se estende das vertentes sul das montanhas Tchincam, no distrito de Sueitchuan, até à fronteira do distrito Lien-hua, no norte, abarca todo o Nincam e parte de Sueitchuan, Lincien e Ionsin, formando uma estreita e continuada faixa que segue de norte para sul. O sector de Chansi, no distrito de Lien-hua, e os sectores de Tienlom e Vanienxan, no distrito de Ionsin, não estão inteiramente ligados a essa faixa. O inimigo tenta destruir a nossa base de apoio por meio de ataques militares e bloqueio económico, mas estamos a preparar-nos para esmagar tais ataques.
Uma vez que a luta na região fronteiriça é exclusivamente militar, tanto o Partido como as massas tiveram de ser postas em pé de guerra, Como enfrentar o inimigo, como combater, tornou-se o problema central da nossa vida diária. Assim, uma base de apoio deve ser uma base de apoio armada. Seja onde for que se situe, uma base de apoio é imediatamente ocupada pelo inimigo se não possui forças armadas ou se estas são insuficientes, ou ainda se se adoptam tácticas erradas frente ao inimigo. Como a luta vai sendo cada dia mais encarniçada, os nossos problemas são extremamente complexos e sérios.
O Exército Vermelho na região fronteiriça formou-se com:
Depois de pouco mais de um ano de combate, porém, das forças originariamente comandadas por Ie Tim e Ho Lom, do Regimento de Guardas e dos camponeses de Pinquiam e Liuiam, não resta senão um terço dos efectivos iniciais. E igualmente pesadas foram as perdas entre os camponeses do sul do Hunan. Assim, embora as primeiras quatro categorias continuem até hoje a formar a espinha dorsal do IV Corpo do Exército Vermelho, elas são, de longe, ultrapassadas em número pelas duas últimas categorias. Além disso, destas duas últimas, a maior é a formada por soldados feitos prisioneiros; sem o recompletamento a partir dessa fonte, criar-se-ia um sério problema de efectivos. Ademais, o aumento dos homens não segue de harmonia com o aumento de espingardas. As espingardas não diminuem tão facilmente como os homens, pois podemos ter feridos, mortos, doentes ou desertores. O Comité Provincial do Partido no Hunan prometeu-nos o envio de operários de An-iuan(9) e nós esperamos ansiosamente que o faça.
Quanto à origem de classe, o Exército Vermelho é constituído em parte por operários e camponeses e, em parte, por elementos do lumpen-proíetariado. Como é evidente, não é aconselhável ter muitos homens da última categoria. Não obstante, eles são capazes de combater e, como a luta prossegue cada dia com maiores perdas, até dentre tal categoria de indivíduos já não é fácil conseguir homens para o recompletamento. Em semelhantes circunstâncias, a única solução é intensificar a preparação política.
Na maioria, os soldados do Exército Vermelho vêm dos exércitos mercenários, mas o seu carácter modifica-se assim que entram neste. Antes de mais, o Exército Vermelho aboliu o sistema mercenário, fazendo com que os homens sintam que estão combatendo para si próprios e para o povo e não para qualquer outra pessoa. Até a data, o Exército Vermelho não tem um sistema de pagamento regular de soldos, realizando-se apenas a distribuição de cereais, dinheiro para a compra de óleo de cozinha, sal, lenha e vegetais, bem como uma certa quantia para as pequenas despesas. A cada um dos oficiais e soldados do Exército Vermelho originários da região fronteririça, foi distribuído um lote de terra, apresentando-se, porém, mais difícil a atribuição de terras aos que vêm de outras regiões do país.
Depois que receberam uma educação política, todos os soldados do Exército Vermelho ganharam consciência de classe e adquiriram noções gerais a respeito da distribuição das terras, estabelecimento do poder político, armamento dos operários e camponeses, etc, e sabem que estão lutando para si mesmos, para a classe operária e a classe camponesa. Assim, eles podem suportar sem queixumes os rigores desta dura luta. Cada companhia, cada batalhão ou regimento tem o seu comité de soldados, o qual representa os interesses destes e executa o trabalho político e o trabalho no seio das massas populares.
A experiência provou que não se deve abolir o sistema de representantes do Partido(10). Os representantes do Partido são especialmente importantes à escala das companhias, pois as células do Partido são organizadas na base da companhia. Eles devem velar por que os comités de soldados realizem a educação política, crevem guiar o trabalho de massas e funcionar simultaneamente como secretários de célula. Os factos mostraram que quanto melhores são os representantes do Partido, tanto melhor é a companhia, e que só muito dificilmente um comandante de companhia pode desempenhar um papel político assim tão importante. Como as perdas entre os quadros dos escalões inferiores são muito grandes, é frequente a transformação, em curto prazo, de antigos prisioneiros inimigos em comandantes de pelotão ou companhia; alguns dos soldados inimigos capturados em Fevereiro ou Março deste ano são já comandantes de batalhão. Como o nosso exército se chama Exército Vermelho, à primeira vista pode pensar-se que poderíamos passar bem sem representantes do Partido. No fundo, porém, isso seria um grave erro. Houve um momento em que o 28º Regimento, que se encontrava na altura no sul do Hunan, aboliu o sistema de representantes do Partido, mas teve de restabelecê-lo algum tempo depois. Designar os representantes do Partido por "instrutores" seria confundi-los com os "instrutores" do exército do Kuomintang, os quais são detestados pelos soldados inimigos que fazemos prisioneiros. Uma alteração do nome não afecta a natureza do sistema. Daí o termos decidido não fazer essa alteração. Como as perdas entre os representantes do Partido são muito elevadas, embora tenhamos iniciado cursos de formação para o efeito, esperamos que o Comité Central e os Comités Provinciais de Hunan e Quiansi nos enviem, pelo menos, trinta camaradas capazes de servir como representantes do Partido.
Geralmente, um soldado precisa de seis a doze meses de treino para estar apto para o combate; os nossos soldados, porém, foram recrutados ainda ontem e hoje já têm que combater, quer dizer, quase sem preparação. Não possuindo grandes conhecimentos técnico-militares, eles só podem contar com a sua própria coragem. Como não é possível dispor de longos períodos de repouso e preparação, o que nos resta é tentar evitar, na medida do possível, uns quantos combates, procurando, desse modo, ganhar o tempo necessário à preparação. Neste momento, porém, ainda é difícil dizer se isso será possível ou não. Actualmente temos um curso de 150 homens, em preparação para oficiais de escalão inferior, e pretendemos fazer desse curso uma instituição permanente. Nós esperamos que o Comité Central e os dois comités provinciais nos enviem mais oficiais, do escalão de pelotão ou companhia para cima.
O Comité Provincial do Partido no Hunan pede-nos que nos ocupemos das condições materiais em que vivem os soldados, fazendo com que o seu nível de vida seja, pelo menos, um pouco melhor do que o dos camponeses e operários. Actualmente, acontece precisamente o contrário. Além dos cereais, cada homem recebe apenas cinco fen diários para óleo de cozinha, sal, lenha e vegetais, mas mesmo isso já é difícil de manter. Mesmo a manutenção desse nível já chega para fazer subir a nossa despesa mensal para mais de dez mil yuan-prata, soma que exclusivamente se obtém através da expropriação dos déspotas locais(11). Actualmente, temos acolchoados de algodão para roupas de inverno dum exército de cinco mil homens, mas ainda nos falta tecido de algodão para vestuário. Com o frio que faz, muitos dos nossos homens continuam ainda a dispor apenas de duas fardas de pano não espesso. Afortunadamente, estamos habituados às dificuldades e, o que é mais, todos sofremos iguais privações; desde o comandante do corpo de exército ao soldado que se encarrega da cozinha, todos vivem dos seus cinco fen de ração diária, à parte os cereais que recebem. Quanto ao dinheiro para as pequenas despesas, cada indivíduo recebe a mesma quantia, quer se trate de dois jiao quer de quatro jiao(12). Assim, os soldados não podem queixar-se contra este ou aquele.
No fim de cada combate, há sempre alguns feridos. Além disso, muitos oficiais e soldados adoecem por causa da má alimentação, do frio, etc. O nosso hospital instalado nas montanhas ministra um tratamento tanto chinês como ocidental, mas tem falta de médicos e medicamentos. Actualmente há mais de oitocentas pessoas nesse hospital. O Comité Provincial do Partido no Hunan prometeu que nos conseguiria alguns medicamentos, mas até este momento nada recebemos. Nós esperamos também que o Comité Central e os dois comités provinciais nos enviem uns quantos médicos, capazes de aplicar a medicina ocidental, e ainda uma certa quantidade de iodo.
Além do papel desempenhado pelo Partido, a aplicação da democracia no Exército Vermelho constitui a razão por que esse exército se tem mantido tão firme como no passado, não obstante as duras condições materiais e a frequência dos combates. Os oficiais não batem nos soldados; os oficiais e os soldados recebem um mesmo tratamento; os soldados gozam de liberdade de reunião e expressão; o formalismo e as cerimónias inúteis estão abolidos, as contas são abertas à inspecção de todos. Os soldados dirigem as questões relativas à messe e, dos cinco fen para óleo de cozinha, sal, lenha e vegetais, eles arranjam-se para poupar um pouco para as suas pequenas despesas, conseguindo juntar sessenta ou setenta wen diários por pessoa, ao que chamam "sobras da messe". Tudo isso agrada fortemente aos soldados. Em particular, os soldados inimigos recentemente aprisionados sentem que o nosso exército e o exército do Kuomintang são dois mundos completamente diferentes. Eles sentem-se espiritualmente libertados, muito embora vejam que as condições materiais no Exército Vermelho são piores do que as existentes no exército branco. Soldados que ainda ontem, no exército branco, não davam mostras dum mínimo de coragem, comportam-se hoje com muita valentia, no seio do Exército Vermelho. Tal é o efeito da democracia. O Exército Vermelho é pois uma forja onde os soldados inimigos feitos prisioneiros se transformam assim que nele entram. Na China, não é só o povo que necessita de democracia; o exército também tem necessidade de democracia. O sistema democrático no nosso exército constitui uma arma importante para destruir o exército mercenário feudal(13).
A organização do Partido compreende, actualmente, quatro escalões: a célula de companhia, o comité de batalhão, o comité de regimento e o comité de exército. Há uma célula por companhia e um grupo em cada esquadra. "As células do Partido são organizadas na base da companhia"; essa é uma das razões importantes pelas quais o Exército Vermelho tem sido capaz de manter-se indestrutível num combate tão árduo. Há dois anos, quando estávamos no exército do Kuomintang, o nosso Partido não tinha raízes de tipo organizacional entre os soldados, e mesmo no seio das tropas de Ie Tim(14) não havia mais do que uma célula em cada regimento. Foi por isso que não fomos capazes de resistir a provas sérias. Hoje, no seio do Exército Vermelho, a proporção entre membros e não membros do Partido é aproximadamente de um para três, quer dizer, existe, em média, um membro do Partido entre cada quatro militares. Recentemente decidimos recrutar mais membros do Partido entre os soldados combatentes, de maneira a atingirmos uma proporção de cinquenta por cento(15). Actualmente, as células do Partido nas companhias têm falta de bons secretários, por isso nós pedimos ao Comité Central que nos envie um certo número de elementos activos, escolhidos dentre aqueles que já não podem permanecer nas regiões onde agora se encontram. Quase todos os quadros vindos do sul do Hunan fazem o trabalho do Partido no exército. Mas como alguns deles se dispersaram durante a retirada de Agosto no sul do Hunan, não temos gente disponível.
As forças armadas locais compõem-se de destacamentos da Guarda Vermelha e de destacamentos insurreccionais de operários e camponeses. Armados com piques e armas de caça, estes últimos destacamentos estão organizados na base da circunscrição, havendo em cada uma um destacamento cujos efectivos variam segundo a extensão e população da respectiva circunscrição. A sua tarefa é bater a contra-revolução, proteger os órgãos do poder na circunscrição, e prestar assistência ao Exército Vermelho e à Guarda Vermelha, durante os combates destes, e sempre que o inimigo se apresenta. Os destacamentos insurreccionais criaram-se primeiramente em Ionsin, como forças clandestinas, passando a ter um carácter público depois que ocupámos todo o distrito. Sob a mesma designação, esse sistema estendeu-se depois a outros distritos da região fronteiriça. O armamento da Guarda Vermelha consta, sobretudo, de espingardas de cinco tiros, incluindo também algumas de nove e até mesmo espingardas de um só tiro. A distribuição das armas pelos distritos é a seguinte: 140 espingardas em Nincam, 220 em Ionsin, 43 em Lien-hua, 50 em Tchalim, 90 em Lincien, 130 em Sueitchuan e 10 em Van-an, o que perfaz um total de 683. A maioria das espingardas foi dispensada pelo Exército Vermelho, mas o restante foi tomado ao inimigo pela própria Guarda Vermelha. Em constante combate contra os corpos de preservação da paz e as milícias de casa-a-casa dos déspotas e nobres, a maioria dos destacamentos da Guarda Vermelha nos distritos está a aumentar dia a dia a sua capacidade de combate. Antes do Incidente de 21 de Maio(16), todos os distritos tinham corpos de auto-defesa formados por camponeses. A quantidade de espingardas era de 300 em Iucien, 300 em Tchalim, 60 em Lincien, 50 em Sueitchuan, 80 em Ionsin, 60 em Lien-hua, 60 em Nincam (os homens de Iuan Ven-tsai) e 60 nas montanhas Tchincam (os homens de Vam Tsuo) totalizando 970. Depois do Incidente de 21 de Maio, além das espingardas que estão intactas entre as mãos das tropas de Iuan e Vam, ficaram apenas 6 espingardas em Sueitchuan e uma em Lien-hua, tendo sido todas as outras capturadas pelos déspotas e nobres. Os corpos camponeses de auto-defesa não foram capazes de conservar as suas armas pelo facto de terem seguido uma linha oportunista. Actualmente, a Guarda Vermelha nos distritos tem muito poucas espingardas; menos do que as forças dos déspotas e nobres. O Exército Vermelho deve pois continuar a fornecer-lhe armas. O Exército Vermelho deve continuar a fazer o máximo por ajudar a armar o povo, sem contudo diminuir a sua própria capacidade de combate. Nós tínhamos estabelecido que cada batalhão do Exército Vermelho devia ser formado por quatro companhias, cada uma dispondo de setenta e cinco espingardas; incluindo a companhia especial, a companhia de metralhadoras e a de morteiros, o quartel general de regimento e os três quartéis generais de batalhão, atinge-se um total de 1.075 espingardas por regimento. As espingardas tomadas em combate devem ser usadas, dentro do possível, para armar as forças locais. Os comandantes da Guarda Vermelha devem ser homens escolhidos dentre os que foram enviados pelos distritos para os cursos de instrução do Exército Vermelho e que já terminaram a respectiva preparação. O Exército Vermelho deve enviar cada vez menos gente vinda de fora, para comandantes das forças locais. Tchu Pei-te está a armar os seus corpos de preservação da paz e as suas milícias de casa-a-casa; dados os seus efectivos e a sua capacidade de combate, os destacamentos dos déspotas e nobres nos distritos da região fronteiriça constituem uma força que é de considerar. Isso torna mais urgente do que nunca o aumento das forças armadas vermelhas locais.
Para o Exército Vermelho o princípio é o da concentração, enquanto que, para a Guarda Vermelha, é o da dispersão. Actualmente, com o regime reaccionário temporariamente estabilizado, podendo portanto concentrar importantes forças para atacar o Exército Vermelho, a dispersão não seria vantajosa ao nosso exército. A nossa experiência mostra-nos que a dispersão das forças conduziu-nos quase sempre à derrota, enquanto que a concentração das forças para combater um inimigo numericamente inferior, igual ou ligeiramente superior, conduziu-nos frequentemente à vitória. O Comité Central deu-nos instruções no sentido de desenvolvermos a guerra de guerrilhas no interior duma região muito vasta, estendendo-se por vários milhares de lis de largo e de comprido, o que, provavelmente, se deve a uma sobrestimação da nossa força. Para a Guarda Vermelha, a dispersão é uma vantagem, e ela está a usar actualmente esse método para as acções nos diferentes distritos.
O método mais eficaz de propaganda dirigida às forças inimigas é a libertação dos soldados feitos prisioneiros e o tratamento médico aos prisioneiros feridos. Sempre que aprisionamos soldados, comandantes de pelotão, de companhia ou de batalhão inimigos, fazemos imediatamente um trabalho de propaganda entre eles. Nós dividimo-los em grupos, dum lado os que querem ficar e do outro os que querem partir, dando aos do último grupo dinheiro para a viagem e deixando-os partir livremente. Isso destrói imediatamente as calúnias da propaganda mentirosa do inimigo, segundo a qual "os bandidos comunistas matam toda a gente, sem distinção". Referindo-se a tais medidas, a Revista Decendial da Nona Divisão de Iam Tchi-chem afirmou: "Que perversidade!". Os soldados do Exército Vermelho mostram grande solicitude com relação aos prisioneiros e promovem-lhes grandes adeuses de despedida; em cada "adeus de despedida aos novos irmãos" os prisioneiros respondem com discursos de profunda gratidão. O tratamento médico aos inimigos feridos também produz um grande efeito. Os adversários mais inteligentes, como Li Ven-pin, recentemente passaram a imitar-nos o método; já não matam os prisioneiros, e tratam dos feridos. Simplesmente, os nossos soldados voltam a juntar-se a nós logo no primeiro combate, trazendo consigo as armas, facto que já se verificou por duas vezes. Além disso, nós fazemos o máximo que podemos de propaganda escrita, por exemplo, pintamos palavras de ordem. Sempre que chegamos a uma localidade, cobrimos os muros com palavras de ordem. Dada porém a nossa falta de desenhadores, pedimos que o Comité Central e os dois comités provinciais nos enviem uns tantos.
Quanto às bases de apoio militares, a primeira, a das montanhas Tchincam, está situada na fronteira de quatro distritos: Nincam, Lincien, Sueitchuan e Ionsin. A distância entre Maopim, na vertente norte, no distrito de Nincam, e Huam-hao, na vertente sul, em Sueitchuan, é de 90 lis. A distância entre Naxan, na vertente leste, distrito de Ionsin, e Chueicou, na vertente oeste, em Lincien, é de 80 lis. A nossa base descreve um círculo de 550 lis que, começando por Naxan, passa por Lom-iuan-cou (distrito de Ionsin), Sintchem, Maopim, Talom (distrito de Nincam), Chitu, Chueicou, Siatsuen (distrito de Lincien), Im-pansiu, Taiquiapu, Tafen, Tuitzetchien, Huam-hao, Vutouquiam e Tchehao (distrito de Sueitchuan) para voltar de novo a Naxan. Nas montanhas há arrozais e aldeias em Tatsim, Siaotsim, Chantsim, Tchuntsim, Siatsim, Tsepim, Siatchuam, Sindjou, Tsaopim, Bai-nihu e Luofu. Todos esses lugares estavam, em regra, infestados de bandidos e desertores mas, actualmente, passaram a fazer parte da nossa base de apoio. A sua população não chega a 2.000 habitantes e a colheita de cereais não chega a 10.000 dans, de tal maneira que a totalidade dos cereais para o nosso exército tem de ser fornecida pelos distritos de Nincam, Ionsin e Sueitchuan. Todas as passagens estratégicas entre as montanhas estão fortificadas. Nas montanhas encontram-se também o nosso hospital, as oficinas de material para camas e fardamento, as oficinas de material militar e os serviços de retaguarda dos nossos regimentos. Actualmente, os cereais são transportados para as montanhas a partir de Nincam. Se o nosso reabastecimento em víveres estiver suficientemente assegurado, o inimigo nunca poderá penetrar na base de apoio. A segunda base, a das montanhas Quioulom, está situada nas fronteiras dos quatro distritos de Nincam, Ionsin, Lien-hua e Tchalim. Trata-se duma base menos importante que a das montanhas Tchincam, mas constitui a base mais recuada para as forças armadas locais dos quatro distritos, tendo-se igualmente realizado aí um trabalho de fortificação. O aproveitamento das dificuldades de terreno que caracterizam as regiões montanhosas é necessário à existência das bases vermelhas que se encontram cercadas pelo poder branco.
Dum modo geral, mais de 60% das terras estão entre as mãos dos senhores de terras, enquanto que cerca de 40% pertence aos camponeses. No Quiansi, a maior concentração da propriedade verifica-se no distrito de Sueitchuan, onde cerca de 80% das terras estão nas mãos dos senhores de terras. A seguir vem Ionsin com cerca de 70%. Em Van-an, Nincam e Lien-hua há mais camponeses-proprietários, mas os senhores de terras ainda detêm a maior parte das terras, isto é, cerca de 60 % do total, enquanto que os camponeses só possuem uns 40%. No Hunan, cerca de 70 % das terras dos distritos de Tchalim e Lincien pertence aos senhores de terras.
Dada a situação agrária, é possível conquistar o apoio da maioria da população para o confisco e a redistribuição de toda a terra(17). Em termos gerais, a população no campo está dividida em três classes: a classe dos grandes e médios senhores de terras, a classe intermédia dos pequenos senhores de terras e camponeses ricos, e a classe dos camponeses médios e pobres. Os interesses dos camponeses ricos estão muitas vezes ligados aos dos pequenos senhores de terras. As terras dos camponeses ricos formam apenas uma pequena percentagem do total mas, se incluirmos as terras dos pequenos senhores de terras, o total é considerável. Provavelmente, esse é mais ou menos o caso em todo o país. A política agrária que se tem seguido nas regiões de fronteira é a do completo confisco e integral redistribuição das terras; assim é que, nas regiões vermelhas, tanto a classe dos déspotas e nobres, como a classe intermédia, encontram-se simultaneamente atacadas. Essa é a nossa política, mas, na sua execução actual, temos encontrado sérios obstáculos, suscitados pela classe intermédia. Nos primeiros dias da revolução, a classe intermédia capitulou aparatosamente frente à classe dos camponeses pobres, mas, na realidade, ela tem-se servido da sua posição social tradicional e da sua autoridade de clã para intimidar os camponeses pobres, no intuito de adiar a distribuição das terras. Quando já não é possível recuar os prazos, ela oculta as suas propriedades reais ou então guarda as terras férteis para si, abandonando aos outros apenas as terras pobres. Nessa fase, os camponeses pobres, que se encontram sob a influência duma opressão secular e não têm confiança na vitória da revolução, cedem geralmente à argumentação da classe intermédia e não ousam agir vigorosamente contra ela. Nas aldeias, tal acção contra a classe intermédia só se realiza quando a revolução atinge o auge, por exemplo, quando o poder político é controlado em um ou mais distritos, quando o exército reaccionário sofre várias derrotas e a potência do Exército Vermelho é repetidamente demonstrada. É assim que, na parte sul do distrito de Ionsin, onde a classe intermédia é mais numerosa, constataram-se os casos mais graves de atraso na redistribuição das terras e dissimulação da superfície real das propriedades. Com efeito, a redistribuição das terras só começou após a grande vitória do Exército Vermelho em Lom-iuan-cou, a 23 de Junho, quando os órgãos do poder no sub-distrito puniram alguns indivíduos que tinham retardado essa redistri-buição. A organização patriarcal feudal está ainda amplamente generalizada em cada distrito; frequentemente, toda uma aldeia, ou mesmo várias, tem o mesmo nome de família. Assim, torna-se necessário um período bastante longo para que se conclua o processo de diferenciação de classes, e se vença o espírito patriarcal nas aldeias.
A classe intermédia, que foi objecto de ataques no período de expansão da revolução, vira imediatamente a casaca assim que se desencadeia o terror branco. Nos distritos de Ionsin e Nincam, foram justamente os pequenos senhores de terras e os camponeses ricos que serviram de guias às tropas reaccionárias no incêndio às casas dos camponeses revolucionários. Sob instruções dos reaccionários, os pequenos senhores de terras e os camponeses ricos incendiaram casas e prenderam gente, dando provas duma audácia pouco comum. Quando o Exército Vermelho regressou à região de Nincam, Sintchem, Cutchem e Lonchi, milhares de camponeses fugiram com os reaccionários até Ionsin, enganados que estavam pela propaganda destes últimos, segundo a qual o Partido Comunista massacrá-los-ia uns após outros. Só depois do nosso trabalho de propaganda, sob as palavras de ordem de "não matar os camponeses trânsfugas" e "boas vindas aos camponeses trânsfugas que regressam para fazer a colheita", é que, pouco a pouco, foi regressando um certo número de camponeses.
Durante o período de refluxo da revolução em todo o país, o problema mais difícil que encontram as bases revolucionárias é manter a classe intermédia.
A principal razão da sua traição reside na dureza excessiva dos golpes que a revolução lhe infligiu. Todavia, quando a revolução está em auge por todo o país, os camponeses pobres sentem-se suficientemente apoiados para agir com mais coragem e a classe intermédia amedronta-se demais para tentar atitudes hostis. Quando a guerra entre Li Tsum-jen e Tam Chem-tchi ameaçava atingir o Hunan, os pequenos senhores de terras do distrito de Tchalim tentaram fazer as pazes com os camponeses, chegando alguns até a oferecer-lhes carne de porco pelo ano novo (muito embora nessa época o Exército Vermelho tivesse já saído de Tchalim para Sueitchuan). Mas tudo isso acabou com o fim da guerra. Agora, nas regiões brancas, com as vagas da contra-revolução rolando por todo o país, a classe intermédia, que sofrera os golpes da revolução, coloca-se quase inteiramente sob a dependência da classe dos déspotas e nobres. A classe dos camponeses pobres está isolada. Esse é de facto um problema dos mais sérios(18).
A oposição entre as regiões vermelhas e as regiões brancas transforma-as em dois países inimigos. Em consequência do bloqueio rigoroso estabelecido pelo adversário, e em resultado da nossa atitude inadequada em relação à pequena burguesia, o comércio entre essas duas regiões distintas ficou quase inteiramente interrompido; os artigos e os produtos de primeira necessidade, como o sal, os tecidos e os medicamentos, tornaram-se raros e encareceram, e os produtos agrícolas, como a madeira, o chá e os óleos comestíveis, já não podem ser enviados para as regiões brancas, de maneira que o dinheiro deixou de ser recebido pelos camponeses, influindo tudo isso sobre o conjunto da população. Os camponeses pobres podem ainda suportar tais dificuldades, mas a classe intermédia, quando já não aguenta, capitula diante da classe dos déspotas e nobres. Na China, se as cissões e as guerras cessarem no campo dos déspotas, nobres e caudilhos militares, se a revolução não progredir em todo o país, as bases vermelhas de pequena importância serão submetidas a uma pressão económica extremamente forte e a sua existência prolongada tornar-se-á problemática. Com efeito, a classe intermédia não é a única a não poder suportar semelhante pressão económica; chegará talvez um momento em que até os próprios operários, camponeses pobres e Exército Vermelho não poderão aguentá-la mais. Nos distritos de Ionsin e Nincam, não havia sal, e os tecidos e os medicamentos tinham desaparecido completamente; quanto ao resto, nem vale a pena falar. Actualmente, é possível encontrar sal à venda, mas extremamente caro, continuando a faltar tecidos e medicamentos. Não há sempre maneira de enviar para o exterior a madeira, o chá e os óleos comestíveis que se encontram em abundância em Nincam, no oeste de Ionsin e no norte do Sueitchuan (todas essas regiões fazem actualmente parte da nossa base revolucionária)(19).
Para a distribuição das terras toma-se como unidade a circunscrição. Nas regiões muito montanhosas onde há poucas terras aráveis, por exemplo no sector de Siaoquiam, distrito de Ionsin, três ou quatro circunscrições são tomadas como uma só unidade. Esses casos, porém, são extremamente raros. As terras são repartidas em partes iguais por todos os habitantes da aldeia — homens e mulheres, jovens e velhos. Actualmente, porém, segundo as modalidades estabelecidas pelo Comité Central, nós adoptámos o critério da capacidade de trabalho: os que são capazes de trabalhar recebem duas vezes mais terras do que os que não são(20).
Essa questão não foi ainda examinada em detalhe. Entre os camponeses-proprietários, os camponeses ricos fazem a exigência seguinte: no momento da redistribuição das terras, há que tomar como critério as forças produtivas, quer dizer, há que dar mais terras àqueles que têm mais força de trabalho e mais capitais (instrumentos agrícolas, etc). Os camponeses ricos acham que tanto a redistribuição das terras por partes iguais como a que tem em conta a capacidade de trabalho são-lhes desvantajosas. Eles dizem-se prontos a fornecer um maior esforço, o qual, acrescido aos seus capitais, permitir-lhes-ia a obtenção de melhores colheitas. É por isso que não estão de acordo que se lhes atribua uma porção de terra igual a que se atribui aos camponeses em geral, sem aproveitar o seu esforço particular e o seu excedente de capitais (deixados assim sem utilização). Aqui, nós continuamos a conformar-nos às modalidades fixadas pelo Comité Central. A questão, porém, ainda exige exame, pelo que vos será enviado um relatório assim que tenhamos chegado a conclusões.
O imposto lançado sobre a terra no distrito de Nincam eleva-se a vinte por cento da colheita, o que ultrapassa em cinco por cento a taxa prevista pelo Comité Central. Seria inoportuno modificá-lo agora, estando a cobrança em curso; a taxa será pois diminuída no próximo ano. Além disso, a parte dos distritos de Sueitchuan, Lincien e Ionsin que pertence à nossa base revolucionária forma uma região montanhosa onde os camponeses levam uma vida muito dura, razão por que convém não lançar aí esse imposto. Nós tomamos aos déspotas locais das regiões brancas as somas necessárias para cobrir as despesas do governo e da Guarda Vermelha. Pelo que respeita ao abastecimento do Exército Vermelho, provisoriamente nós obtemos arroz por meio do imposto lançado sobre a terra no distrito de Nincam; com relação ao dinheiro, faz-se igualmente com que paguem os déspotas locais. Em Outubro, durante uma incursão de guerrilhas no distrito de Sueitchuan, nós recolhemos mais de dez mil yuan. Esse dinheiro permitirá que nos aguentemos um certo tempo; depois, ver-se-á.
O poder popular foi estabelecido por toda a parte à escala do distrito, do sub-distrito e da circunscrição, mas a sua denominação não corresponde ao que ele é na realidade. Em muitos pontos, não existem conselhos de representantes dos operários, camponeses e soldados. Os comités executivos de circunscriçao, de sub-distrito e mesmo de distrito, são eleitos numa espécie de comícios de massas. Esses comícios, convocados à pressa, não permitem o exame das questões e não podem servir para educar politicamente as massas. Por outro lado, em tais comícios, os intelectuais e os arrivistas levam facilmente a melhor. Em alguns pontos, os conselhos de representantes foram convocados mas não são considerados senão como órgãos provisórios, com a função essencial de eleger os comités executivos; após as eleições, todo o poder fica concentrado nas mãos dos comités e não se fala mais dos conselhos de representantes. Claro que não se pode dizer que não exista um só conselho de representantes dos operários, camponeses e soldados digno desse nome; simplesmente, os que existem são em número muitíssimo reduzido. Isso explica-se precisamente pela insuficiência da propaganda e do trabalho de educação relativo a esse novo sistema político. As más tradições da época feudal, com os seus métodos ditatoriais e arbitrários, estão profundamente enraizadas no espírito das massas e até dos simples membros do Partido, não podendo ser extirpadas de um só golpe. As pessoas querem resolver os problemas sem dores de cabeça, de modo que o sistema democrático, com todas as suas complicações, de maneira nenhuma lhes agrada. O sistema do centralismo democrático não se estabelecerá verdadeiramente por toda a parte, no interior das organizações de massas, senão quando tiver provado a sua eficácia na luta revolucionária, e quando as massas tiverem compreendido que ele pode mobilizar com o maior êxito as forças do povo e prestar-lhes a maior ajuda possível no combate.
Actualmente, nós estamos elaborando em detalhe a lei orgânica dos conselhos de representantes em todos os escalões (conformemente às grandes linhas definidas pelo Comité Central) e estamos a corrigir gradualmente os erros do passado. No Exército Vermelho, em todos os escalões, os conselhos de representantes dos soldados estão em vias de transformasse em órgãos de funcionamento regular; nós corrigimos o nosso antigo erro de ter apenas comités de soldados e não conselhos de representantes dos soldados.
O que as massas populares entendem geralmente por "Governo dos Operários, Camponeses e Soldados" é o comité executivo, pois elas desconhecem ainda o poder do conselho de representantes e consideram que só o comité representa o poder real. Os comités executivos que não têm conselhos de representantes sobre que apoiar-se resolvem frequentemente as questões sem ter em conta as opiniões das massas; por todo o lado se pode constatar como eles são indecisos e inclinados ao compromisso quanto aos problemas de confisco e distribuição das terras, como esbanjam e desviam os fundos e como, por medo às forças brancas, não ousam combatê-las ou apenas o fazem com hesitações. Além disso, os comités executivos reúnem muito raramente em sessão plenária, sendo o seu comité permanente quem decide e resolve todos os assuntos. Nos comités de sub-distrito e de circunscrição, o próprio comité permanente também se reúne raramente, sendo os assuntos decididos e resolvidos directamente pelo presidente, secretário, tesoureiro ou pelo comandante do destacamento da Guarda Vermelha (ou do destacamento de insurreição), quatro homens que trabalham em permanência no comité. Vê-se assim que, mesmo no trabalho dos órgãos governamentais, o centralismo democrático não entrou ainda nos hábitos.
Inicialmente, os pequenos senhores de terras e os camponeses ricos fazem todos os seus esforços para entrar nos comités governamentais, sobretudo à escala da circunscrição. Eles arvoram braçadeiras vermelhas, mostram-se atarefados, infiltram-se por astúcia nos comités governamentais, tomam tudo nas mãos e reduzem os membros que são camponeses pobres ao papel de simples figurantes. Esses indivíduos só poderão ser eliminados dos referidos comités se forem desmascarados no decorrer da luta e se os camponeses pobres se levantarem contra eles. Se bem que não se tenham generalizado, deram-se no entanto alguns casos desses em muitas localidades.
O Partido goza duma autoridade considerável junto das massas, mas a autoridade dos órgãos governamentais está longe de ser suficiente. Isso resulta do facto de, ao quererem simplificar o seu trabalho, os órgãos do Partido resolverem directamente um grande número de questões, passando por cima dos órgãos do poder. Semelhantes casos são muito frequentes. As organizações do Partido e da Liga da Juventude não existem em todos os órgãos do poder e, quando existem, não são suficientemente utilizadas. No futuro, o Partido deve desempenhar o papel dirigente nos órgãos do poder; salvo no domínio da propaganda, a política e as medidas adoptadas pelo Partido devem realizar-se por intermédio dos órgãos governamentais. Há que evitar a má prática do Kuomintang de ditar as suas ordens directamente ao governo.
No período que precedeu e seguiu o Incidente de 21 de Maio, as organizações do Partido nos distritos da região de fronteira estavam, por assim dizer, inteiramente nas mãos dos oportunistas. Por ocasião da ofensiva da contra-revolução, raramente se lutou contra ela de maneira resoluta. Em Outubro do último ano, quando o Exército Vermelho (Iº Regimento da Iª Divisão do I Corpo do Exército Revolucionário dos Operários e Camponeses) chegou aos distritos da região de fronteira, não havia ali mais do que membros isolados do Partido, que se tinham escondido para escaparem às perseguições, e as organizações do Partido tinham sido completamente destruídas pelo inimigo. De Novembro último a Abril, procedeu-se à respectiva reconstituição e, a partir de Maio, elas registaram um grande desenvolvimento. Ainda mesmo neste último ano era possível encontrar por todo o lado manifestações de oportunismo no seio do Partido: assim que o inimigo se aproximava, um certo número de membros, que acusavam falta de firmeza na luta, iam esconder-se lá longe, nas montanhas, chamando a isso "pôr-se em emboscada"; outros, embora muito activos, lançavam-se em rebeliões sem senso. Tudo isso não era mais do que uma manifestação da ideologia pequeno-burguesa. À medida que a luta, ao prolongar-se, foi temperando as pessoas, e graças à educação dada pelo Partido, os casos desse tipo diminuíram. Essas manifestações da ideologia pequeno-burguesa também se verificavam no Exército Vermelho. Sempre que o inimigo atacava, o que se propunha era lutar desesperadamente ou, então, fugir. Frequentemente, essas duas ideias eram apresentadas pelo mesmo indivíduo, durante as discussões sobre a acção militar. Foi somente depois duma luta prolongada no interior do Partido e depois que se aprenderam as lições dos factos objectivos — por exemplo, quando a luta desesperada provocou perdas e quando a fuga levou à derrota — que a situação melhorou progressivamente.
A economia da região de fronteira é de tipo agrícola e, em certos pontos, en-contra-se ainda no estádio do pilão (nas regiões montanhosas, para o descasque de arroz, utiliza-se geralmente o pilão manual, em madeira; nos vales, usa-se frequentemente o pilão de pé, em pedra). Por toda a parte, a organização social tem por unidade de base o clã, que agrupa as famílias que têm um mesmo apelido. Nas organizações do Partido no campo, acontece frequentemente que os membros que têm o mesmo apelido agrupam-se em uma célula, em virtude do lugar onde habitam; a reunião de célula não é então mais do que um conselho de clã. Em tais circunstâncias, torna-se muito difícil formar um "partido bolchevique de combate". As pessoas não compreendem muito bem como, para o Partido Comunista, não existem fronteiras de país ou de província; igualmente elas não compreendem que, para este, não existem limites de distrito, sub-distrito ou circunscrição. O regionalismo afecta fortemente as relações entre os distritos, entre os sub-distritos e até entre as circunscrições dum mesmo distrito. Para eliminar o regionalismo, os argumentos podem dar, no máximo, certos resultados limitados, mas a opressão pelas forças brancas, que não se limita apenas a uma única região, faz muito. Por exemplo, só quando as "campanhas conjuntas de aniquilamento", realizadas pela contra-revolução nas duas províncias, derem ao povo o sentido do interesse comum na luta, é que será possível eliminar progressivamente o regionalismo. É graças a muitas lições desse tipo que as manifestações de regionalismo tendem a diminuir.
Nos distritos da região de fronteira, existe ainda um problema particular: é o fosso que separa a população autóctone da população originária doutras regiões. Entre os antigos habitantes da região e os que, há alguns séculos, vieram do Norte para aí se estabelecerem, existe um fosso profundo e até mesmo uma violenta hostilidade, cujas razões são históricas e que degenera, por vezes, em luta encarniçada. Esses imigrantes doutras regiões, disseminados pelas fronteiras do Fuquien e do Cuantum, ao longo dos limites do Hunan com o Quiansi, até ao sul do Hupei, chegam a vários milhões. Empurrados para as montanhas e oprimidos pelos autóctones que ocupam as planícies, eles estão, desde o início, privados de direitos políticos. Se acolheram com alegria a revolução nacional de 1926-1927, foi porque acreditavam que iam começar tempos melhores. A revolução, porém, fracassou e eles continuam oprimidos pelos autóctones. Na nossa região, nos distritos de Nincam, Sueitchuan, Lincien e Tchalim, choca-se sempre com o problema das relações entre os autóctones e a população que veio de fora; a questão surge com uma acuidade particular no distrito de Nincam. Em 1926-1927, os elementos revolucionários da população autóctone do distrito de Nincam juntaram-se aos elementos originários doutras regiões e, sob a direcção do Partido Comunista, derrubaram o poder político dos déspotas e nobres autóctones e tomaram o poder em todo o distrito. Em Junho do último ano, o governo de Quiansi, dirigido por Tchu Pei-te, voltou-se contra a revolução e, em Setembro, os déspotas e nobres serviram de guias ao exército de Tchu Pei-te na sua "expedição punitiva" contra Nincam e provocaram novos conflitos entre os autóctones e os elementos vindos de fora. Logicamente, o fosso entre autóctones e originários doutras regiões não deveria existir nas fileiras das classes exploradas, dos operários e camponeses e muito menos ainda nas filas do Partido Comunista. Contudo, na realidade, sob o efeito de preconceitos muito antigos, esse fosso continua a existir. Foi assim que, em Agosto, por ocasião da nossa derrota na região de fronteira, os déspotas e os nobres autóctones voltaram a Nincam com as tropas reaccionárias, propagando o rumor de que os originários das outras regiões iam matar os autóctone?. Face a isso, a maioria dos camponeses autóctones passou-se para o campo oposto, arvorando braçadeiras brancas e servindo de guia às tropas brancas no incêndio de casas e rusgas nas montanhas. Em contrapartida, quando, em Outubro e Novembro, o Exército Vermelho esmagou as tropas brancas, os camponeses autóctones fugiram com os reaccionários, e os camponeses originários doutras regiões apossaram-se dos bens dos camponeses autóctones. Essa situação reflectiu-se no seio do Partido onde, muitas vezes, deu lugar a conflitos sem sentido. As nossas medidas para chegar a uma solução consistem por um lado em propagar as palavras de ordem seguintes: ''Não matar os camponeses trânsfugas" e "Os camponeses trânsfugas, assim que regressem, receberão terras como os demais camponeses". Tudo isso era para ajudá-los a libertar-se da influência dos déspotas e nobres, bem como para ajudá-los a regressar tranquilamente às suas casas. Por outro lado, as medidas adoptadas consistem em ordenar, por intermédio dos nossos governos de distrito, que os camponeses originários doutras regiões restituam os bens confiscados aos seus respectivos proprietários e, ainda por seu intermédio, em afixar avisos dizendo que os camponeses autóctones serão protegidos. No seio do Partido, o nosso trabalho de educação deve ser reforçado, a fim de assegurar a coesão entre os membros do Partido que pertençam a este ou àquele dos dois grupos.
No momento do avanço da revolução (Junho), muitos arrivistas, aproveitando-se do facto de o recrutamento dos membros do Partido se fazer às claras, conseguiram infiltrar-se nas nossas fileiras: os efectivos do Partido na região de fronteira ultrapassaram rapidamente os dez mil. Como os responsáveis das células e dos comités de sub-distrito eram, na sua maioria, membros novos, não foi possível realizar uma boa educação política no seio do Partido. Com o terror branco, os elementos arrivistas viraram a casaca e entregaram os nossos camaradas aos reaccionários, o que arrastou o desmoronamento duma grande parte das organizações do Partido nas regiões brancas. Depois de Setembro, nós começámos uma depuração enérgica do Partido, e a qualidade de membro foi submetida a condições rigorosas, no que respeita à situação de classe. Nos distritos de Ionsin e Nincam, as organizações do Partido foram todas dissolvidas, efectuando-se uma reinscrição dos aderentes. O número de membros do Partido diminuiu então consideravelmente, mas a capacidade de combate deste ficou aumentada. Antigamente, todas as organizações do Partido agiam às claras mas, depois de Setembro, começámos a criar organizações clandestinas, capazes de actuar mesmo após a chegada das forças reaccionárias. Ao mesmo tempo, esforçámo-nos por todos os meios em penetrar nas regiões brancas, a fim de actuarmos no próprio campo do inimigo. Todavia, as condições para um estabelecimento das organizações do Partido ainda não existem nas cidades vizinhas; primeiro, porque o inimigo é relativamente forte nas cidades e, segundo, porque quando as nossas tropas ocuparam essas cidades, elas prejudicaram fortemente os interesses da burguesia, de tal maneira que os membros do Partido encontram dificuldades em manter-se aí. Actualmente, nós estamos a. corrigir esses erros e esforçamo-nos por criar organizações nas cidades, mas não obtivemos, até agora, mais do que fracos resultados.
O birô de célula passou a chamar-se comité de célula. Acima da célula existe um comité de sub-distrito e acima do comité de sub-distrito existe um comité de distrito. Ali onde as circunstâncias particulares o exigem, cria-se um comité de região especial, como elo entre os comités de sub-distrito e os de distrito. É o caso, por exemplo, das duas regiões especiais, uma controlando o norte e a outra, o sudeste do mesmo distrito de Ionsin. Em toda a região de fronteira, existem cinco comités de distrito, em Nincam, Ionsin, Lien-hua, Sueitchuan e Lincien. Antigamente, existia ainda um comité de distrito em Tchalim, mas, como o trabalho aí não avançava, a maior parte das múltiplas organizações criadas durante o Inverno e a Primavera últimos foi destruída pelas forças brancas, limitando-se o trabalho do comité, nos últimos seis meses, às regiões montanhosas contíguas aos distritos de Nincam e Ionsin. Foi por isso que o Comité de distrito de Tchalim foi transformado em comité de região especial. Para atingir os distritos de Iucien e Anjen, há que passar por Tchalim; nós enviámos gente para lá que voltou sem ter obtido sucesso. Quanto ao Comité de distrito de Van-an, com o qual tivemos em Janeiro último uma reunião conjunta, no Sueitchuan, acontece que ficou cortado de nós pelas forças brancas durante mais de meio ano. Apenas conseguimos restabelecer o contacto uma vez, em Setembro, quando, durante as acções de guerrilhas, o Exército Vermelho atingiu Van-an. Houve oitenta camponeses revolucionários que, juntamente com os nossos destacamentos, abandonaram essa região e chegaram às montanhas Tchincam, onde passaram a constituir a Guarda Vermelha de Van-an. No distrito de Anfu não existem organizações do Partido. O distrito de Qui-an é vizinho do de Ionsin, mas o Comité de distrito em Qui-an apenas contactou por duas vezes connosco e não nos prestou qualquer ajuda, facto que muito nos surpreende. Na zona de Chatien, distrito de Cueitum, a redistribuição das terras foi realizada por duas vezes, em Março e Agosto, tendo-se criado organizações do Partido que se encontram sob a autoridade do Comité Especial para o sul do Hunan, o qual tem como centro Lon-cicheltum. Os comités de distrito estão sob a autoridade do Comité Especial da Região Fronteiriça Hunan-Quiansi. A 20 de Maio, na aldeia de Maopim, distrito de Nincam. realizou-se a primeira conferência da organização do Partido da região de fronteira. Essa conferência elegeu o primeiro comité especial, composto de vinte e três membros, tendo como secretário Mao Tsetung. Em Julho, o Comité Provincial do Partido no Hunan enviou Iam Cai-mim como secretário interino. Em Setembro, Iam Cai-mim adoeceu e essa função foi atribuída a Tan Tchen-lin. Em Agosto, quando o destacamento principal do Exército Vermelho se dirigiu para o sul do Hunan e as forças brancas começaram a exercer uma forte pressão sobre a região de fronteira, realizámos uma reunião extraordinária em Ionsin. Quando o Exército Vermelho regressou a Nincam, em Outubro, a segunda conferência da organização do Partido da região de fronteira foi convocada para Maopim. Nessa conferência, que se iniciou no dia 14 de Outubro e durou três dias, adoptou-se a resolução "Os Problemas Políticos e as Tarefas da Organização do Partido na Região de Fronteira" e tomaram-se várias decisões. A conferência elegeu o segundo comité especial, composto de dezanove membros: Tan Tchen-lin, Tchu Te, Tchen Yi, Lom Tchao-tchin, Tchu Tchan-tchie, Liu Tien-tsien, Iuan Pan-tchu, Tan Se-tsum, Tan Pim, Li Tchiué-fei, Som Yi-iue, Iuan Ven-tsai, Vam Tsuo-num, Tchen Djem-jen, Mao Tsetung, Uan Si-sien, Vam Tsuo, Iam Cai-mim e Ho Tim-im. Elegeram-se cinco membros para o comité permanente, ficando Tan Tchen-lin (operário) como secretário, e Tchen Djem-jen (intelectual) como secretário adjunto. No dia 14 de Novembro reuniu-se o Sexto Congresso da Organização do Partido no IV Corpo do Exército Vermelho, o qual elegeu um comité do exército composto de vinte e três membros e um comité permanente de cinco membros, sendo Tchu Te o secretário. O Comité Especial e o Comité do Exército dependem do Comité da Frente. Reorganizado em 6 de Novembro, este compreende cinco membros designados pelo Comité Central: Mao Tsetung, Tchu Te, o secretário da organização local do Partido (Tan Tchen-lin), um camarada operário (Som Tchiao-chem), um camarada camponês (Mao Co-ven), sendo Mao Tsetung o secretário. No seio do Comité da Frente foram criados, provisoriamente, um secretariado, uma secção de propaganda, uma secção de organização, uma comissão para o movimento dos operários e pequenos funcionários, e uma comissão militar. O Comité da Frente dirige as organizações locais do Partido. A necessidade da existência dum comité especial do Partido subsiste, pois acontece que, por vezes, o Comité da Frente se desloca com as tropas. Nós estamos conscientes de que a direcção ideológica do proletariado é de importância capital. As organizações do Partido nos distritos da região de fronteira compõem-se quase inteiramente de camponeses e, sem uma direcção ideológica do proletariado, elas podem embrenhar-se numa via falsa. Além de ser necessário prestar uma grande atenção ao movimento dos operários e pequenos funcionários nas sedes de distrito e nas vilas, nós devemos aumentar a percentagem dos operários nos órgãos do poder. É igualmente indispensável aumentar a percentagem de representantes dos operários e camponeses pobres em todos os órgãos de direcção do Partido.
Nós estamos inteiramente de acordo com as decisões da Internacional Comunista sobre a China. Actualmente, a China ainda não está, de facto, senão na etapa da revolução democrática burguesa. O programa duma revolução democrática consequente na China compreende, em política exterior, a derrocada do imperialismo e a libertação nacional total, enquanto que, em política interior, compreende a liquidação do poderio e da influência da burguesia compradora nas cidades, a conclusão da revolução agrária, a abolição das relações feudais no campo e a derrocada do governo dos caudilhos militares. Só por meio dessa revolução democrática se poderá estabelecer uma base real para a passagem ao socialismo. Nos combates travados em diversos pontos desde há um ano, nós sentimos profundamente o refluxo da revolução em todo o país. Por um lado, vemos que o poder vermelho subsiste em uns tantos pequenos territórios e, por outro, vemos que o povo ainda se encontra privado dos direitos democráticos fundamentais: os operários, os camponeses e, inclusivamente, os círculos democráticos da burguesia não têm liberdade de palavra nem de reunião; quanto à adesão ao Partido Comunista, ela é considerada como o maior dos crimes. Quando o Exército Vermelho chega a um lugar, ele encontra as massas numa morna inacção; só depois dum trabalho de propaganda é que se vêem as populações começar a agir. Sejam quais forem as forças inimigas que se nos oponham, nós devemos dar-lhes um encarniçado combate; por assim dizer, não houve a nosso favor um só exemplo de deserção ou amotinação no seio do exército inimigo. A situação é a mesma para o VI Corpo do adversário, muito embora seja este quem tenha recrutado o maior número de "amotinados", após o Incidente de 21 de Maio. Nós sentimos profundamente o nosso isolamento mas esperamos sair-nos dele a todo o momento. Para que a revolução entre num período de avanço impetuoso à escala nacional, torna-se necessário desencadear uma luta política e económica pela democracia, luta em que também participará a pequena burguesia urbana.
No que respeita à nossa política em relação à pequena burguesia, nós aplicámo-la relativamente bem até Fevereiro do ano corrente. Em Março, o representante do Comité Especial do Partido para o sul do Hunan veio a Nincam e criticou-nos por, segundo ele, termos feito um pronunciado desvio à direita, termos incendiado pouco e termos procedido a muito poucas execuções, bem como por não termos aplicado a política de "proletarização dos pequeno-burgueses, para constrangê-los a fazer a revolução". Em resultado disso, a direcção do Comité da Frente foi reorganizada e a nossa política mudou. Em Abril assim que o exército chegou à região de fronteira, nós incendiámos e executámos pouco, como no passado, mas procedemos, com rigor extremo, ao confisco dos bens dos negociantes médios, na cidade, assim como à arrecadação de contribuições impostas aos pequenos senhores de terras e aos camponeses ricos, no campo. A palavra de ordem do Comité Especial do Partido para o sul do Hunan: "Todas as empresas para os operários" também foi amplamente difundida. Essa política ultra-esquerdista, que golpeava a pequena burguesia, empurrou a maior parte desta para o campo dos déspotas e nobres. Essa fracção da pequena burguesia arvorou braçadeiras brancas e deu-nos combate. Nos últimos tempos, com as modificações progressivas da nossa política, a situação foi melhorando aos poucos. Nós obtivemos bons resultados, sobretudo no distrito de Sueitchuan, onde os comerciantes da sede do distrito e os dos burgos já não nos temem nem nos evitam; um bom número deles até diz bem do Exército Vermelho. A feira de Tsaolin, que se abre às doze horas em cada três dias, atrai actualmente cerca de vinte mil pessoas, facto que nunca se havia produzido. Isso prova que a nossa política tomou uma direcção justa. Os impostos e as contribuições exigidos às populações pelos déspotas e nobres eram muito pesados: o destacamento de pacificação(21) de Sueitchuan cobrava cinco portagens num percurso de setenta lis, entre Huam-hao e Tsaolin, e nenhum produto agrícola estava isento disso. Nós desmantelámos esse destacamento e suprimimos as referidas imposições, em resultado do que nos assegurámos do apoio de todos os camponeses e comerciantes médios e pequenos.
Dado que o Comité Central nos diz que publiquemos um programa político tendo em conta os interesses da pequena burguesia, nós propomos-lhe que elabore, como guia geral para as direcções locais, um programa político para o conjunto da revolução democrática, tendo em conta os interesses dos operários e incluindo a revolução agrária e a libertação nacional.
Um traço específico da revolução na China, país onde predomina a economia agrícola, é o recurso à acção militar para desenvolver a insurreição. Nós sugerimos ao Comité Central que consagre a maior atenção ao problema militar.
O território que vai desde o norte do Cuantum, ao longo da fronteira do Hunan com o Quiansi, até ao sul do Hupei, faz inteiramente parte das montanhas Luociao. Nós percorremos toda essa cadeia de montanhas, e a comparação entre as suas diferentes partes mostrou que a parte central, à volta de Nincam, constituía a região mais favorável ao estabelecimento da nossa base revolucionária armada. A parte norte apresenta um relevo que se presta menos ao ataque ou à defesa do que a parte central; além disso, está muito próxima dos grandes centros políticos. Se não prevemos a ocupação rápida de Tchancha ou de Vuhan, corre-se um grande risco ao desdobrar a maior parte das nossas forças no território que agrupa os distritos de Liuiam, Lilim, Pinsiam e Toncu. Na parte sul, o relevo é mais favorável do que na parte norte, mas aí nós dispomos duma base de massas que não é tão boa como a da parte central; as nossas possibilidades de aí exercer uma influência política sobre o Hunan e o Quiansi são mais limitadas que no centro, onde cada uma das nossas acções pode ter influência sobre as regiões setentrionais das duas províncias. As vantagens da parte central das montanhas Luociao são as seguintes:
A desvantagem da parte central consiste no facto de ter de fazer face a grandes dificuldades económicas, sobretudo a falta de dinheiro líquido, o que se explica pela circunstância dessa base existir há muito tempo e o inimigo ter concentrado à volta dela importantes forças de "cerco e aniquilamento".
No espaço de algumas semanas, em Junho e Julho, o Comité do Partido no Hunan modificou por três vezes a sua posição sobre o plano de acção na nossa região. Primeiro, foi Iuan Te-chem que veio ver-nos. Ele aprovou o nosso plano relativo ao estabelecimento do poder político na parte central das montanhas Luociao. Depois, tivemos uma segunda visita, Tu Siu-quim e Iam Cai-mim, os quais propuseram que o Exército Vermelho se dirigisse sem hesitações para o sul do Hunan, não deixando mais duma força de duzentas espingardas que, com os destacamentos da Guarda Vermelha, teriam de assegurar a defesa da região de fronteira: essa era, segundo eles, a linha "absolutamente justa". Posteriormente, apenas dez dias depois, vimos regressar Iuan Te-chem. Na carta que nos trazia, além das numerosas censuras que nos eram feitas, pedia-se que nos dirigíssemos com o Exército Vermelho para o leste do Hunan, o que, diziam mais uma vez, era a linha "absolutamente justa", segundo a qual se tornava necessário agir, e "sem a menor hesitação". Com instruções assim tão categóricas, estávamos diante dum dilema: não obedecer, seria violar instruções; obedecer, seria correr seguramente para a derrota. Quando da recepção da segunda carta, convocou-se uma sessão conjunta do Comité do Exército, do Comité Especial e do Comité do Partido do distrito de Ionsin. A marcha sobre o sul do Hunan foi declarada perigosa e decidiu-se que não se aplicariam as instruções do comité provincial. Alguns dias mais tarde, Tu Siu-quim e Iam Cai-mim, agarrando-se obstinadamente ao ponto de vista do comité provincial e aproveitando o estado de espírito dos soldados do 29º Regimento, os quais desejavam regressar às suas aldeias de origem, levaram o Exército Vermelho a atacar Tsendjou, o que redundou numa derrota, tanto para a região fronteiriça como para o Exército Vermelho. O Exército Vermelho perdeu cerca de metade dos seus efectivos, enquanto que na região fronteiriça foram incendiadas inúmeras casas e massacrada uma quantidade enorme de pessoas. Um após outro, o adversário ocupou os diversos distritos e, até hoje, ainda não conseguimos recuperá-los todos. Quanto a um avanço sobre o leste do Hunan, de nenhuma maneira deveriam empenhar-se nisso as forças principais do Exército Vermelho, enquanto não se produzir uma cissão no regime dos déspotas e nobres no Hunan, no Hupei e no Quiansi. Se não nos tivéssemos deslocado no mês de Julho para o sul do Hunan, não só poderíamos ter evitado a derrota de Agosto, na região fronteiriça, como também teríamos aproveitado o combate entre o VI Corpo do Kuomintang e as tropas de Vam Tchiun em Tchanchu, no Quiansi, para esmagar as forças do adversário em Ionsin, e ocupar os distritos de Qui-an e Anfu, facto que teria permitido às nossas unidades de vanguarda que atingissem Pinsiam e estabelecessem contacto com o V Corpo do Exército Vermelho, em acção na parte norte da cadeia de montanhas Luociao. Mas mesmo nesse caso, nós deveríamos ter mantido como nosso grande quartel general Nincam, e não enviar para o leste do Hunan mais do que simples destacamentos de guerrilhas. Uma vez que ainda não tinham começado os combates no campo dos déspotas e nobres, e dado que forças importantes do inimigo ainda se encontravam nos distritos de Pinsiam, Tchalim e lucien, na fronteira do Hunan, a transferência das nossas forças principais para o Norte teria sido seguramente explorada pelo adversário. O Comité Central exige-nos que consideremos a marcha para o leste ou sul do Hunan, mas a realização desse plano apresentaria graves perigos. É verdade que nós não tentámos realizar a variante do leste, mas a experiência do sul do Hunan foi plenamente convincente. Essa experiência amarga merece não ser esquecida.
No momento actual, ainda não se produziu uma cissão no regime da classe dos déspotas e nobres, e as forças inimigas, que cercam a região de fronteira e se entregam a "expedições punitivas" contra nós, continuam a ultrapassar, no todo, os efectivos de dez regimentos. Contudo, se no futuro conseguirmos resolver o problema do dinheiro líquido (os cereais e as roupas já não constituem um grande problema) poderemos, apoiados nas bases que estabelecemos durante o nosso trabalho na região fronteiriça, vencer essas forças e mesmo vencer forças inimigas ainda maiores. A partida do Exército Vermelho pode arrastar novas e imediatas devastações para a região fronteiriça, como aconteceu no mês de Agosto. Mesmo se os destacamentos da Guarda Vermelha não forem totalmente aniquilados, as organizações do Partido e a nossa base de massas serão submetidas a uma destruição selvagem e, excepto em certos sectores, montanhosos, da base revolucionária, deveremos passar em todo o lado, nas planícies, à clandestinidade, como em Agosto e em Setembro. Mas se, pelo contrário, o Exército Vermelho permanece aqui, nós podemos, apoiados nas bases que lançámos, estender progressivamente o nosso território em todas as direcções, sendo encorajantes as perspectivas a esse respeito. Pelo que respeita ao Exército Vermelho, ele só pode desenvolver-se na medida em que dê um combate prolongado ao adversário na região que rodeia as montanhas Tchincam, onde existe uma base de massas, isto é, nos quatro distritos de Nincam, Ionsin, Lincien e Sueitchuan. Para isso, ele deverá explorar as divergências de interesses entre os grupos inimigos no Hunan e no Quiansi e a impossibilidade em que se encontra o adversário de concentrar as suas forças, em virtude de ter de proteger-se por todos os lados contra o risco dum ataque. Nós podemos aumentar progressivamente as forças do Exército Vermelho, recorrendo a uma táctica justa e não dando combate a não ser quando estamos seguros de vencer, de fazer prisioneiros e capturar material inimigo. Considerado o trabalho preparatório realizado entre as massas populares da região fronteiriça, desde Abril até Julho, o Exército Vermelho poderia ter aumentado seguramente as suas forças, em Agosto, se não tivesse deixado o seu destacamento principal partir para o sul do Hunan. Apesar dessa falta, o Exército Vermelho conseguiu voltar à região fronteiriça, onde o relevo e a população lhe são favoráveis; desta maneira, as perspectivas não são assim tão más. Ele não poderá aumentar o seu armamento e formar bons combatentes se não estiver decidido a lutar, se não tiver a coragem de se empenhar em combates prolongados numa região como a de fronteira. Faz já um ano que a bandeira vermelha flutua sobre a região fronteiriça; ela suscita o ódio da classe dos déspotas e nobres do Hunan, Hupei, Quiansi e mesmo do país inteiro; mas, ao mesmo tempo, ela transforma-se progressivamente na esperança das massas de operários, camponeses e soldados das províncias vizinhas. O facto de os caudilhos militares considerarem a campanha de "exterminação dos bandidos" na região de fronteira como uma das suas tarefas maiores e fazerem declarações como: "Nós gastámos um milhão de yuan durante um ano de campanha de exterminação dos bandidos" (Lu Ti-pim), "Eles são vinte mil e armados com cinco mil espingardas" (Vam Tchiun), fez com que a atenção dos seus soldados e oficiais subalternos, que não encontram uma saída para a sua situação, se fosse dirigindo progressivamente sobre nós. Assim, esses soldados e oficiais hão-de vir em número cada vez maior para o nosso lado, o que constituirá uma outra fonte de crescimento para os efectivos do Exército Vermelho. Além disso, o facto de a bandeira vermelha continuar a flutuar na região de fronteira, testemunha, não apenas a força do Partido Comunista, mas ainda a falência das classes dominantes, o que é de grande importância na situação política em todo o país. Eis a razão por que temos sempre sustentado que é absolutamente indispensável e justo instaurar e estender o nosso poder político pela parte central das montanhas Luociao.
Notas:
(1) Guerra desenrolada em Outubro de 1927. (retornar ao texto)
(2) Guerra desenrolada em Novembro — Dezembro de 1927. (retornar ao texto)
(3) O sistema de conselhos de representantes dos soldados e comités de soldados foi posteriormente abolido. Contudo, a partir de 1947, foi introduzido o sistema de conferências de miiitares e comités de soldados dirigidos pelos quadros do exército. (retornar ao texto)
(4) Trata-se das tropas que originariamente estavam sob comando dos camaradas Ie Tim (ver nota 14) e Ho Lom, que se tinham sublevado em Nantcham, no dia 1 de Agosto de 1927. Após a derrota dessas tropas na ofensiva contra Tchao-djou e Xantou, uma parte delas, comandada pelos camaradas Tchu Te, Tchen Yi e outros, retirou-se do Cuantum em direcção ao sul do Hunan, via Quiansi, a fim de passar à guerra de guerrilhas. Em Abril de 1928, essas unidades chegaram às montanhas Tchincam e juntaram-se às unidades comandadas pelo camarada Mao Tsetung. (retornar ao texto)
(5) Na sua maioria, os quadros do Regimento de Guardas do Governo Nacional de Vutcham, na época da revolução em 1927, eram membros do Partido Comunista. Depois que Uam Tsim-vei e outros traíram a revolução, esse regimento, no final de Julho de 1927, saiu de Vutcham para juntar-se às forças da Insurreição de Nantcham. A meio do caminho, porém, tendo sabido que as unidades sublevadas haviam partido para o Sul, o regimento dirigiu-se para o distrito de Siouchuei, onde se juntou aos destacamentos camponeses dos distritos de Pinquiam e Liuiam, província de Hunan. (retornar ao texto)
(6) Durante a Primavera de 1927, na região de Pinquiam e Liuiam, província de Hunan, formaram-se vários destacamentos de camponeses armados, relativamente possantes. No dia 21 de Maio, Chiu Quei-siam organizou um motim contra-revolucionário em Tchancha e massacrou barbaramente as massas revolucionárias. No dia 31 de Maio, os destacamentos camponeses marcharam sobre Tchancha para vibrarem um golpe nos contra-revolucionários, mas a sua progressão foi impedida pelo oportunista Tchen Tu-siu, e arrepiaram caminho. Desses destacamentos camponeses resultou, a breve trecho, a formação de um regimento independente que passou à guerra de guerrilhas. Após a Insurreição de Nantcham, a 1 de Agosto de 1927, na região de Siouchuei, Toncu, Pinquiam e Liuiam, esses destacamentos operaram uma junção com o antigo Regimento de Guardas do Governo Nacional de Vutcham. Em coordenação com as forças armadas dos mineiros de Pinsiam, eles desencadearam a Insurreição da Colheita de Outono. Em Outubro, conduzidos pelo camarada Mao Tsetung, os destacamentos insurreccionais chegaram às montanhas Tchincam. (retornar ao texto)
(7) Nos começos de 1928, quando o camarada Tchu Te dirigia a guerra de guerrilhas revolucionária no sul do Hunan, constituíram-se destacamentos camponeses nos distritos de Itchan, Tsendjou, Lei-iam, Ioncim e Tsecim, regiões onde se havia já estabelecido uma base para o movimento camponês. Posteriormente, sob a direcção do camarada Tchu Te, os destacamentos atingiram as montanhas Tchincam e juntaram-se às tropas do camarada Mao Tsetung. (retornar ao texto)
(8) Chueicouxan, distrito de Tchannim, província do Hunan, é uma região montanhosa onde existem importantes jazidas de chumbo. Desde 1922 que os mineiros de Chueicouxan tinham organizado, sob direcção do Partido Comunista, um sindicato; eles combateram a contra-revolução durante anos. Depois da Insurreição da Colheita de Outono, em 1927, numerosos foram os mineiros que se incorporaram no Exército Vermelho. (retornar ao texto)
(9) As minas de carvão de An-iuan, distrito de Pinsiam, província do Quiansi, faziam parte do complexo siderúrgico Han-Ie-Pim. Nessa época, havia 12.000 mineiros em An-iuan. Desde 1921 que o Comité Provincial do Partido Comunista da China no Hunan tinha enviado para ali vários quadros, a fim de que trabalhassem no seio dos mineiros, sendo posteriormente criada uma organização do Partido e um sindicato. (retornar ao texto)
(10) A partir de 1929, os representantes do Partido no Exército Vermelho passaram a chamar-se comissários políticos. Depois, a partir dc 1931, os comissários políticos nas companhias passaram a chamar-se instrutores políticos. (retornar ao texto)
(11) Era apenas uma medida provisória para cobrir uma parte das despesas do exército. Quando o exército cresceu e o território se alargou, tornou-se ao mesmo tempo possível e necessário fixar contribuições por parte da população, de maneira a garantir a manutenção das tropas. (retornar ao texto)
(12) Essa regra praticou-se durante muito tempo no seio do Exército Vermelho, o que então era muito necessário. Mais tarde, porém, foram introduzidas algumas diferenciações, em ligação com os cargos. (retornar ao texto)
(13) Aqui, o camarada Mao Tsetung sublinha muito particularmente a necessidade dum regime democrático no exército revolucionário, pois, sem isso, seria impossível, nos primeiros tempos do Exército Vermelho, despertar o entusiasmo revolucionário dos camponeses incorporados pela primeira vez no exército, bem como dos soldados que, capturados ao exército branco, se tinham juntado às nossas fileiras; e do mesmo modo seria impossível, para os nossos quadros, desembaraçarem-se dos hábitos militaristas característicos do exército reaccionário. Claro que o regime democrático no exército não se admitia fora dos limites traçados pela disciplina militar; ele devia contribuir para o reforço e não para o relaxamento de tal disciplina. É assim que, ao mesmo tempo que se encorajava o espírito democrático indispensável no exército, tornava-se necessário lutar contra as infracções à disciplina engendradas por um espírito ultra-democrático, e cujas manifestações constituíram um sério problema no período inicial do Exército Vermelho. Sobre a luta travada pelo camarada Mao Tsetung contra o ultra-democratismo no exército, ver "Sobre a Eliminação das Concepções Erradas no Seio do Partido". (retornar ao texto)
(14) As unidades sob o comando do camarada Ie Tim constituíam, em 1926, por alturas da Expedição do Norte, em cujos combates se ilustraram, um regimento independente em que a ossatura era formada por comunistas. Depois da tomada de Vutcham pelo exército revolucionário, essas unidades aumentaram e transformaram-se na 24ª Divisão e, após a Insurreição de Nantcham, passaram a formar o XI Corpo. (retornar ao texto)
(15) Com efeito, o que convinha era manter no Exército Vermelho uma proporção de membros do Partido sensivelmente igual ao terço dos efectivos totais; essa foi a proporção que depois se atingiu praticamente, tanto no Exército Vermelho como no Exército Popular de Libertação. (retornar ao texto)
(16) No dia 21 de Maio de 1927, instigados por Tchiang Kai-chek e Uam Tsim-vei, os comandantes dos exércitos contra-revolucionários do Kuomintang no Hunan — Chiu Quei-siam, Ho Quiem e outros — fizeram uma incursão, em Tchancha, contra a União Sindical do Hunan, a Associação Camponesa do Hunan e todas as organizações revolucionárias. Eles entregaram-se a uma repressão selvagem contra os comunistas e as massas de operários e camponeses revolucionários. Esses acontecimentos, conhecidos sob o nome de Incidente de 21 de Maio, foram o sinal da coalizão aberta dos contra-revolucionários do Kuomintang em Vuhan, dirigidos por Uam Tsim-vei, com os contra-revolucionários de Nanquim, comandados por Tchiang Kai-chek. (retornar ao texto)
(17) Trata-se duma disposição da Lei Agrária introduzida em 1928 na região fronteiriça Hunan-Quiansi. Posteriormente, o camarada Mao Tsetung indicou que o confisco de todas as terras, e não apenas o das terras dos senhores de terras, era um erro devido à falta de experiência na luta agrária. Em Abril de 1929, na Lei Agrária do distrito de Sincuo, a fórmula "confisco de todas as terras" foi substituída pela fórmula "confisco das terras públicas e das terras dos senhores de terras". (retornar ao texto)
(18) Avaliando quão importante era conquistar a classe intermédia das regiões rurais, o camarada Mao Tsetung corrigiu rapidamente a política errada que vibrava a esta golpes muito violentos. Os pontos de vista do camarada Mao Tsetung com respeito à política relativa à classe intermédia estão igualmente expostos nas teses que apresentou ao Sexto Congresso da Organização do Partido no IV Corpo do Exército Vermelho, em Novembro de 1928, teses onde se realçam, em particular, os pontos seguintes: "interdição de passar inconsideradamente a incêndios e a execuções", "defesa dos interesses dos comerciantes médios e pequenos"; no apelo lançado pelo IV Corpo do Exército Vermelho, em Janeiro de 1929, o qual dizia nomeadamente: "Desde que obedeçam às autoridades, é necessário deixar que os comerciantes das cidades que tenham acumulado certa riqueza se consagrem às suas actividades"; na Lei Agrária do distrito de Sincuo, em Abril de 1929 (ver nota 17), etc. (retornar ao texto)
(19) Com o desenvolvimento da guerra revolucionária, a ampliação da base de apoio e a aplicação da política de protecção da indústria e do comércio pelo governo revolucionário, essa situação podia modificar-se, o que mais tarde se verificou efectivamente. Nessa questão, o essencial era proteger resolutamente a indústria e o comércio nacionais e lutar contra a política ultra-esquerdista. (retornar ao texto)
(20) O método de distribuição das terras segundo a capacidade de trabalho não era conveniente. Na realidade, nos territórios vermelhos, durante muito tempo, o princípio aplicado foi o da repartição por igual das terras, por cada habitante. (retornar ao texto)
(21) São as forças armadas contra-revolucionárias locais. (retornar ao texto)
Notas do Tradutor:
(1*) Medida chinesa correspondente a 500 metros. (retornar ao texto)
Inclusão | 29/08/2011 |
Última alteração | 08/08/2012 |