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Logo no dia que se seguiu ao Incidente de Lucouquiao(2), no dia 8 de Julho portanto, o Comité Central do Partido Comunista da China publicou um manifesto chamando a totalidade da nação à resistência. Nesse manifesto dizia-se:
“Compatriotas! Pepim e Tientsim estão em perigo! O Norte da China está em perigo! A nação chinesa está em perigo! Só nos resta uma saída: resistência por parte da totalidade da nação. Nós exigimos que se oponha sem demora uma resistência resoluta às tropas de agressão japonesas e se apreste tudo, imediatamente, para enfrentar as maiores eventualidades. É preciso que, do topo à base, a nação inteira rejeite de pronto toda a ideia de vida numa paz humilhante com o agressor japonês. Compatriotas, aclamemos e apoiemos a resistência heróica das tropas de Fom Tche-an! Aclamemos e apoiemos a declaração das autoridades do Norte da China, que exprime a vontade de defender a Pátria até à morte! Exijamos que o general Som Tche-iuan ponha imediatamente em pé de guerra a totalidade do XXIX Corpo de Exército(3) e o envie a guerrear na frente. Exijamos que o Governo Central de Nanquim ajude realmente o XXIX Corpo de Exército; anule sem tardança a interdição estabelecida contra os movimentos patrióticos das massas do país e deixe desenvolver-se a vontade de resistência do povo; mobilize sem demora todas as forças de terra, mar e ar para o combate; e, a fim de consolidar a retaguarda, elimine sem demora os traidores, os vende-pátrias e os agentes japoneses dissimulados pelo país. Apelamos para que a totalidade do povo apoie com todas as forças a guerra sagrada de legítima defesa contra o Japão. As nossas palavras de ordem são: Defender pelas armas Pepim, Tientsim e o Norte da China! Lutar até à última gota de sangue pelo solo da pátria! Que a totalidade do povo, do governo e das forças armadas se una e construa uma grande muralha inexpugnável — a Frente Única Nacional — para resistir à agressão japonesa! Que o Kuomintang e o Partido Comunista cooperem estreitamente para rechaçar os novos ataques dos agressores japoneses! Expulsemos da China os invasores japoneses!”
Essa foi uma declaração de linha política.
No dia 17 de Julho, em Luxan, o Sr. Tchiang Kai-chek fez uma declaração em que definiu a linha política para a preparação da resistência. Desde há anos, essa foi a primeira declaração justa do Kuomintang sobre questões de política externa. Por isso foi favoràvelmente acolhida por nós e por todos os compatriotas. Quatro condições se formulavam aí para sanar o Incidente de Lucouquiao:
Na conclusão da declaração dizia-se:
“Relativamente ao Incidente de Lucouquiao, o governo adoptou uma linha política e uma posição que há-de manter com firmeza, do princípio ao fim. Estamos conscientes de que a entrada em guerra da totalidade da nação impõe-nos a obrigação de ir até ao último sacrifício, não havendo a menor esperança de encontrar vias fáceis de saída. Uma vez começada a guerra, toda a gente, do Norte ou do Sul, velhos ou novos, tem o dever de resistir ao invasor e defender o solo pátrio.”
Foi, também, uma declaração de linha política.
Há pois duas declarações políticas de alcance histórico, feitas pelo Kuomintang e pelo Partido Comunista, a propósito do Incidente de Lucouquiao. Essas declarações têm de comum o facto de preconizarem uma resistência resoluta ao invasor e combaterem o compromisso e a concessão.
Trata-se duma linha política para enfrentar a invasão japonesa, e é a política correcta.
Mas existe igualmente a possibilidade de adoptar-se outra linha. Desde há um mês que os traidores e os elementos pró-japoneses desenvolvem intensa actividade na região Pepim-Tientsim; procuram levar as autoridades de Pepim e Tientsim a curvar-se ante as exigências japonesas e abalam a política de resistência resoluta, no intuito de fazer prevalecer o compromisso, a concessão. São indícios de perigo muito grave.
Essa linha de compromisso e concessão é diametralmente oposta à linha de resistência resoluta. Se tal linha não for ràpidamente rechaçada, Pepim, Tientsim e o Norte da China cairão nas mãos do inimigo e a nação inteira ficará gravemente ameaçada. Todos devem manter-se muito vigilantes.
Oficiais e soldados patriotas do XXIX Corpo de Exército, uni-vos, combatei o compromisso e a concessão e oponde resoluta resistência!
Compatriotas de Pepim, de Tientsim e de todo o Norte da China, uni-vos, combatei o compromisso e a concessão e apoiai a resistência resoluta!
Compatriotas de toda a China, uni-vos, combatei o compromisso e a concessão e apoiai a resistência resoluta!
Sr. Tchiang Kai-chek e todos vós, kuomintanistas patriotas, nós esperamos que se atenham com firmeza à vossa linha política, cumpram as vossas promessas, combatam o compromisso e a concessão, mostrem-se resolutos na resistência e respondam assim, com actos, ao insulto do inimigo.
Que todas as forças armadas do país, incluído o Exército Vermelho, adiram à declaração do Sr. Tchiang Kai-chek, combatam o compromisso e a concessão e realizem uma resistência resoluta!
Nós, comunistas, agimos com todo o coração e sinceridade, aplicamos com lealdade o nosso próprio manifesto e apoiamos firmemente a declaração do Sr. Tchiang Kai-chek. Com os membros do Kuomintang, com todos os compatriotas, defenderemos o solo da pátria até à última gota do nosso sangue, combateremos toda a hesitação, oscilação, compromisso e concessão e faremos resolutamente a resistência armada.
Para que atinja o seu objectivo, a linha de resistência resoluta exige toda uma série de medidas.
Que medidas? Eis as mais importantes:
Podemos chamar Programa em Oito Pontos a todo esse conjunto de medidas elaborado com vistas à resistência resoluta.
É preciso que a linha de resistência resoluta se acompanhe dessa série de medidas, pois doutro modo a resistência ao Japão nunca vencerá, este seguirá na sua agressão contra a China que, votada à impotência, dificilmente escapará à sorte da Abissínia.
Todos os que defendem com sinceridade a linha de resistência resoluta devem aplicar esse conjunto de medidas. E quando se quiser avaliar se alguém está de boa fé no seu querer resistir resolutamente, haverá que ver se está ou não disposto a aceitar e aplicar essa série de medidas.
Mas há uma outra série de medidas que se opõe, ponto por ponto, à série que acabámos de enunciar.
É da linha política que decorrem as medidas práticas. Quando se adopta uma linha de não resistência, todas as medidas que se tomam são uma expressão disso. A esse respeito temos as lições dos seis últimos anos. Mas se, pelo contrário, a linha adoptada é a da resistência resoluta, torna-se impossível não aplicar a série de medidas que a esta corresponde, é impossível não pôr em prática o Programa em Oito Pontos que expusemos atrás.
E quais são as perspectivas? Essa questão preocupa-nos a todos.
Se se adoptar a primeira linlia, se se aplicar a primeira série de medidas, a perspectiva que se nos abre será seguramente a da expulsão dos imperialistas japoneses e constituição duma China livre e emancipada. Acaso será possível duvidar-se disso? Penso que não.
Mas se se adoptar a segunda linha, se se aplicar a segunda série de medidas, teremos com certeza diante de nós a perspectiva da ocupação da China pelos imperialistas japoneses, a subjugação do povo chinês, que se verá reduzido à situação de escravo, de besta de carga. Acaso será possível duvidar-se disso? Também penso que não.
Há pois que adoptar a primeira linha, aplicar a primeira série de medidas, buscar a primeira perspectiva.
Há que combater a segunda linha, rejeitar a segunda série de medidas, afastar a segunda perspectiva.
Que todos os patriotas no Kuomintang e todos os comunistas se unam, ponham resolutamente em prática a primeira linha, apliquem a primeira série de medidas, busquem a primeira perspectiva, combatam firmemente a segunda linha, rejeitem a segunda série de medidas e afastem a segunda perspectiva.
Que os cidadãos patriotas, exércitos, partidos e grupos patrióticos de todo o país se unam, ponham resolutamente em prática a primeira linha, apliquem a primeira série de medidas, busquem a primeira perspectiva, combatam firmemente a segunda linha, rejeitem a segunda série de medidas e afastem a segunda perspectiva!
Viva a guerra revolucionária nacional!
Viva a libertação da nação chinesa!
Notas:
(1) A 7 de Julho de 1937, os imperialistas japoneses provocaram um incidente em Lucouquiao, visando anexar a China pela força. Unânime, o povo chinês exigiu que se opusesse resistência armada ao Japão. Dez dias, porém, se passaram antes que Tchiang Kai-chek fizesse uma declaração pública em Luxan, anunciando a resistência ao Japão. Tchiang Kai-chek acabou por decidir-se forçado pela pressão da totalidade do povo e ainda porque a agressão japonesa vibrava um sério golpe nos interesses dos imperialistas ingleses e norte-americanos na China, tanto como nos interesses dos grandes senhores de terras e da grande burguesia que ele directamente representava. Ao mesmo tempo, porém, o governo tchiangkaichekista continuava em negociações com os agressores japoneses, chegando mesmo a aprovar o pretenso acordo de solução pacífica que estes haviam concluído com certas autoridades locais. Foi preciso que se produzisse o grande ataque dos agressores japoneses contra Xangai, em 15 de Agosto, colocando-o na impossibilidade de manter a dominação sobre o Sudeste da China, para que Tchiang Kai-chek se sentisse constrangido a resistir ao Japão. Mas as negociações de paz que prosseguia em segredo com o Japão mantiveram-se até 1944. Durante a Guerra de Resistência contra o Japão, Tchiang Kai-chek renegou por inteiro tudo quanto havia declarado em Luxan: “Uma vez começada a guerra, toda a gente, do Norte ou do Sul, velhos ou novos, tem o dever de resistir ao invasor e defender o solo pátrio”. Opôs-se à guerra total do povo baseada na mobilização geral e adoptou uma política reaccionária de resistência passiva ao Japão e combate activo ao Partido Comunista e ao povo. As duas linhas políticas, as duas séries de medidas e as duas perspectivas de que fala o camarada Mao Tsetung no presente artigo, traduzem justamente a luta entre a linha do Partido Comunista e a linha de Tchiang Kai-chek ao longo da Guerra de Resistência contra o Japão. (retornar ao texto)
(2) Lucouquiao encontra-se a um pouco mais de dez quilómetros a sudoeste de Pequim. No dia 7 de Julho de 1937, o exército invasor japonês lançou um ataque contra as forças armadas chinesas que aí estavam de guarnição, as quais, influenciadas pelo ardor anti-japonês da totalidade do povo do país, passaram à resistência. A partir desse momento, começou a heróica Guerra de Resistência do povo chinês, que iria durar oito anos. (retornar ao texto)
(3) O XXIX Corpo de Exército constituía originariamente uma das unidades do Exército Kuomintanista do Noroeste comandado por Fom lu-siam. Esse corpo de exército estava, na altura, estacionado nas províncias de Hopei e Tchahar, sob comando de Som Tche-iuan, sendo uma das divisões chefiada por Fom Tche-an. (retornar ao texto)
(4) No dia 31 de Janeiro de 1931, o governo kuomintanista promulgou a “Lei de emergência para repressão das actividades contra a República”. A inculpação “actividades contra a República” servia de pretexto à perseguição e massacre dos patriotas e revolucionários. Essa lei estabelecia medidas de repressão que eram duma brutalidade extrema. (retornar ao texto)
(5) O “Regulamento sobre a censura da imprensa” (“Disposições gerais para a censura da imprensa”) foi adoptado pelo governo kuomintanista em Agosto de 1934, no intuito de abafar a voz do povo. Nele se estabelecia que os “manuscritos destinados à publicação pela imprensa deviam ser submetidos a censura”. Nas regiões controladas pelo Kuomintang, todo o material destinado à publicação em jornais tinha que passar prèviamente pelo censor kuomintanista, o qual podia alterá-lo ou retê-lo arbitràriamente. (retornar ao texto)
(6) Ver “As Tarefas do Partido Comunista da China no Período da Resistência ao Japão”, ponto 8, Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo I. (retornar ao texto)
Inclusão | 05/08/2012 |