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Primeira Edição: Teses do relatório apresentado em Novembro de 1937 pelo camarada Mao Tsetung, na conferência de militantes ativos do Partido, em Ien-an. A partir daí, no seio do Partido, os oportunistas de direita opuseram-se imediatamente a essas teses, sendo apenas em Outubro de 1938 que, por ocasião da Sexta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso Nacional do Partido, se corrigiu no essencial o desvio direitista.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 77-99.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
1. Nós aprovamos qualquer resistência, mesmo parcial, contra o ataque imperialista japonês, na medida em que uma resistência parcial representa um progresso com relação a não resistência, na medida em que reveste certo caráter revolucionário, e também porque é uma guerra pela defesa da pátria.
2. Mas como já sublinhámos (tanto na conferência de militantes ativos do Partido, realizada em Abril deste ano, em Ien-an, como posteriormente, em Maio, na conferência nacional do Partido, e ainda na resolução adotada em Agosto pelo Birô Político do Comité Central(1), uma resistência parcial, feita exclusivamente pelo governo, com afastamento das massas populares, só pode desembocar na derrota. Isso é assim porque tal guerra não é revolucionária nacional no pleno sentido da expressão, não é uma guerra das massas populares.
3. O que preconizamos é uma guerra revolucionária nacional no sentido pleno da expressão, uma guerra que implique a mobilização da totalidade do povo, dizendo doutro modo, somos pela resistência geral. Só uma guerra assim será das massas populares e poderá assegurar a defesa da pátria.
4. A resistência parcial preconizada pelo Kuomintang também é uma guerra nacional e tem, em certa medida, um caráter revolucionário, mas esse caráter está longe de ser completo. Uma resistência parcial conduz inevitavelmente a derrota, não pode de modo algum garantir a defesa da pátria.
5. Nisso reside a divergência de princípio entre a posição do Partido Comunista e a posição atual do Kuomintang, relativamente a Guerra de Resistência. Se os comunistas esquecerem isso não poderão dirigir adequadamente tal guerra, ficarão incapazes de triunfar do caráter parcial que o Kuomintang lhe confere e rebaixar-se-ao até ao abandono dos próprios princípios, colocando o Partido Comunista no nível do Kuomintang. Isso seria um crime contra a causa sagrada da guerra revolucionária nacional e da defesa da pátria.
6. Uma guerra revolucionária nacional no pleno sentido da expressão, uma resistência geral, exige a realização do Programa em Dez Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria proposto pelo Partido Comunista, tanto como um governo e um exército que apliquem integralmente esse programa.
7. Após a queda de Xangai e Tai-iuan, a situação apresenta-se como segue:
Esse é um dos aspetos da situação.
Eis o outro:
É o outro aspeto da situação.
8. Por consequência, estamos agora num período de transição entre a resistência parcial e a resistência geral; a primeira já não pode prosseguir e a segunda ainda não começou. Esse estádio, essa época morta, constitui um período de transição muito crítico.
9. Durante esse período, a resistência parcial pode tomar uma das três direções seguintes:
A primeira é a cessação da resistência parcial, substituída pela resistência geral. E o que exige a maioria do povo, mas o Kuomintang ainda não se decidiu a isso.
A segunda é a cessação da resistência, substituída pela capitulação. E o que exigem os agressores japoneses, os traidores e os elementos pró-japoneses, mas a maioria do povo chinês opõe-se a isso.
A terceira é a coexistência da resistência e da capitulação na China. Esse caso poderá produzir-se assim que os agressores japoneses, os traidores e os elementos pró-japoneses, incapazes de orientar as coisas na segunda direção, ponham em prática o seu pérfido plano de ruptura da frente anti-japonesa na China. Eles estão a manobrar atualmente nesse sentido. Esse perigo é muito grave.
10. A julgar pela situação presente, os fatores internos e internacionais que impedem que o espírito de capitulação leve a melhor são predominantes. Tais fatores são, entre outros, a persistência do Japão na sua política de subjugar a China, persistência que não deixa a esta outra alternativa senão bater-se; a existência do Partido Comunista e do VIII Exército; o querer do povo chinês; o querer da maioria dos membros do Kuomintang; o medo da Inglaterra, Estados Unidos e França de verem os seus interesses prejudicados em resultado duma capitulação pelo Kuomintang; a existência da União Soviética e respetiva política de ajuda a China; a grande esperança que, não sem razão, o povo chinês deposita na União Soviética. A utilização judiciosa e coordenada de todos esses fatores permitir-nos-á tanto eliminar os fatores de capitulação e ruptura como ainda varrer todos os fatores que retêm o país no estádio de resistência parcial.
11. Sendo assim, a perspetiva de passar da resistência parcial a resistência geral existe. Lutar por essa perspetiva constitui uma tarefa urgente, comum a totalidade dos membros do Partido Comunista da China, dos elementos progressistas no Kuomintang e do povo chinês.
12. A guerra revolucionária nacional da China contra o Japão atravessa atualmente uma crise muito grave. Esse período pode prolongar-se, mas é possível sair-se dele com relativa rapidez. Os fatores decisivos são, no plano interior, a cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista, a modificação da política do Kuomintang com base nessa cooperação, o poderio das massas operárias e camponesas e, no plano exterior, a ajuda da União Soviética.
13. É tanto necessária como possível uma reforma do Kuomintang nos planos político e de organização(2). Isso resulta principalmente da pressão exercida pelo Japão, da política de frente única do Partido Comunista da China, do querer do povo chinês e do crescimento das forças novas no interior do Kuomintang. A nossa tarefa é esforçar-nos por levar este a realizar essa reforma, a qual deve servir de base a reestruturação do governo e do exército. Tal reforma necessita evidentemente do acordo do Comité Executivo Central do Kuomintang, nós apenas estamos em posição de poder propo-la.
14. Reestruturação do governo. Nós propusemos a convocação duma assembleia nacional provisória, o que também é necessário e possível. Não há quaisquer dúvidas de que essa reforma exige igualmente o acordo do Kuomintang.
15. A tarefa de reestruturação do exército consiste em criar novas unidades e reorganizar as antigas. Se for possível pôr de pé, em seis meses ou um ano, um exército de duzentos e cinquenta mil a trezentos mil homens, animado de espírito político novo, a situação começará a mudar nos campos de batalha da Guerra de Resistência. Esse novo exército exercerá influência em todas as forças armadas de tipo antigo e uni-las-á a sua volta. Nisso está a base militar que há-de permitir a passagem a contra-ofensiva estratégica na Guerra de Resistência contra o Japão. Essa reestruturação exige do mesmo modo acordo do Kuomintang. O VIII Exército desempenhará o papel de exemplo nessa reestruturação Esse exército deve aumentar os seus efetivos.
16. Em 1927 o capitulacionismo de Tchen Tu-siu conduziu a revolução a derrota. Que nenhum membro do Partido esqueça essa lição histórica paga com o nosso próprio sangue.
17. No que respeita a linha para uma frente única nacional anti-japonesa, o perigo principal no interior do Partido era, antes do Incidente de Lucouquiao, o oportunismo de “esquerda”, quer dizer, a atitude de “porta fechada”. Isso explica-se sobretudo pelo fato de o Kuomintang não resistir na altura ao Japão.
18. Depois do Incidente de Lucouquiao, o perigo principal no seio do Partido já não é o desvio de “esquerda”, a atitude de “porta fechada”, mas sim o oportunismo de direita, quer dizer, o capitulacionismo. A razão principal está no fato de o Kuomintang ter passado a resistência contra o Japão.
19. Já no mês de Abril, na conferência de militantes ativos do Partido realizada em Ien-an, e de novo em Maio, na conferência nacional do Partido, mas sobretudo em Agosto, por ocasião da reunião do Birô Político do Comité Central (reunião de Luo-tchuan), nós fizemos a pergunta seguinte: será o proletariado quem dirigirá a burguesia no seio da Frente Única ou será esta quem dirigirá o proletariado? Será o Kuomintang que puxará pelo Partido Comunista ou será este que puxará pelo Kuomintang? Se se considera a tarefa política concreta que agora se impõe, essa questão equivale ao seguinte: Jiá que elevar o Kuomintang ao nível do Programa em Dez Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria, ao nível da resistência geral, que preconiza o Partido Comunista, ou há que baixar o Partido Comunista ao nível da ditadura dos senhores de terras e da burguesia exercida pelo Kuomintang, ao nível da resistência parcial?
20. Por que devemos levantar essa questão assim em toda a sua acuidade? Eis as razões:
Por um lado, em virtude do espírito de compromisso da burguesia chinesa; superioridade material do Kuomintang; ataques caluniosos e ofensivos contra o Partido Comunista e vociferações sobre o tema “cessação da luta de classes”, contidos na declaração e nas resoluções da Terceira Sessão Plenária do Comité Executivo Central do Kuomintang; esperança profunda do Kuomintang quanto a uma “capitulação do Partido Comunista” e grande propaganda que faz nesse sentido; tentativas de Tchiang Kai-chek para controlar o Partido Comunista; política do Kuomintang no sentido de limitar e enfraquecer o Exército Vermelho; política do Kuomintang no sentido de limitar e enfraquecer as bases democráticas anti-japonesas; plano tramado em Julho, durante o curso de instrução do Kuomintang em Luxan(3), no sentido de “reduzir de dois quintos as forças do Partido Comunista na Guerra de Resistência contra o Japão”; tentativas kuomintanistas de sedução dos quadros do Partido Comunista, oferecendo-lhes honrarias e fortuna, vinho e mulheres; capitulação política de certos elementos radicais pequeno-burgueses (representados por Tcham Nai-tchi(4)); etc.
Por outro lado, em virtude da diferença de nível teórico entre os membros do Partido Comunista; falta, em muitos deles, de experiência da cooperação praticada pelos dois partidos na Expedição do Norte; presença no nosso Partido dum grande número de membros de origem pequeno-burguesa; relutância de certos membros do Partido em continuar a levar uma vida de duro combate; existência, no seio da Frente Única, duma tendência a acomodação sem princípios ante o Kuomintang; manifestação dum novo caudilhismo militar no seio do VIII Exército; questão da participação do Partido Comunista no governo do Kuomintang; formação duma tendência a acomodação nas bases democráticas anti-japonesas; etc.
A gravidade da situação que acabámos de evocar sob dois aspetos, obriga-nos a levantar em toda a acuidade a questão de saber quem há-de dirigir, tanto como a combater resolutamente o capitulacionismo.
21. No decurso destes últimos meses, sobretudo desde o começo da resistência, o Comité Central e as organizações do Partido em todos os escalões combateram sem o menor equívoco, e com determinação, as tendências capitulacionistas e tomaram as medidas necessárias para impedir que estas e outras se verificassem no futuro. Foram bons os resultados obtidos.
O Comité Central fez circular um projeto de resolução(5) sobre a questão da participação no governo.
No seio do VIII Exército já começou a luta contra as tendências ao novo caudilhismo militar. Depois que o Exército Vermelho mudou de nome, em alguns essas tendências manifestaram-se pela recusa a uma rigorosa subordinação a direção do Partido Comunista, pela busca do heroísmo individual, pela vaidade ao obter-se uma nomeação pelo Kuomintang (quer dizer, ao aceder-se ao exercício de funções oficiais), etc. Esse novo caudilhismo militar tem a mesma origem (rebaixamento do Partido Comunista ao nível do Kuomintang) e leva aos mesmos resultados (separação das massas) que o velho caudilhismo militar expresso em ofensas corporais, injúrias, violações da disciplina, etc., mas é tanto mais perigoso quanto é certo que surge num período de frente única entre o Kuomintang e o Partido Comunista; devemos pois dedicar-lhe uma atenção especial e combatê-lo resolutamente. Já restabelecemos o sistema de comissários políticos, suprimido em consequência duma intervenção do Kuomintang, tanto como a denominação “departamento político” que, pela mesma razão, havia sido substituída pela de “serviço de instrução política”. Nós formulámos e aplicámos resolutamente o novo princípio estratégico de “guerra de guerrilhas realizada com independência e autonomia nas regiões de montanha”, o que, basicamente, assegura ao VIII Exército sucesso nas suas operações militares e cumprimento das outras tarefas. Rejeitámos a exigência kuomintanista de envio, como quadros, dos seus próprios membros para o seio do VIII Exército e mantivemos o princípio de direção, sem partilha, do Partido Comunista sobre esse exército. Do mesmo modo, nas bases revolucionárias anti-japonesas, adotamos o princípio de “independência e autonomia no seio da Frente Única”. Ultrapassámos a tendência ao “parlamentarismo”(6) (é evidente que não se trata do parlamentarismo da II Internacional, inexistente no Partido Comunista da China) e prosseguimos, sem relaxar, a luta contra os bandidos, espiões inimigos e sabotadores.
Em Si-an, corrigimos a tendência sem princípios para a acomodação, relativamente as nossas relações com o Kuomintang, e voltámos a desenvolver a luta de massas.
No Cansu oriental a situação é, no geral, a mesma que em Si-an.
Em Xangai, criticámos a linha de Tcham Nai-tchi de “menos apelos e mais sugestões” e começámos a corrigir a tendência a acomodação no nosso trabalho para a salvação da pátria.
No Sul, as regiões de guerrilhas constituem uma parte das conquistas dos nossos dez anos de luta sangrenta contra o Kuomintang, são pontos de apoio estratégicos da guerra revolucionária nacional contra o Japão em várias províncias, pontos que o Kuomintang tentou destruir, mesmo depois do Incidente de Si-an, por meio de campanhas de “cerco e aniquilamento”, e procurou enfraquecer, após o Incidente de Lucouquiao, recorrendo a sua nova tática de “atrair o tigre para fora da montanha”. Nessas regiões tivemos o especial cuidado de:
Nas colunas do Quiefantchoucan(8) mantivemos com firmeza uma atitude de crítica rigorosa.
22. Para que a resistência possa prosseguir e terminar pela vitória final, para que a resistência parcial se transforme em resistência geral, precisamos de ater-nos firmemente a linha de frente única nacional anti-japonesa e ampliar e consolidar essa frente. Em nenhum caso se deverão tolerar pontos de vista tendentes a romper a Frente Única entre o Kuomintang e o Partido Comunista. Devemos continuar a premunir-nos contra o desvio de “esquerda” que é a atitude de “porta fechada”. Mas, ao mesmo tempo, devemos observar estritamente o princípio de independência e autonomia em todo o trabalho respeitante a Frente Única. A nossa Frente Única com o Kuomintang e outros grupos políticos repousa na aplicação dum programa definido. Sem essa base não poderia haver Frente Única, a cooperação converter-se-ia em atitude sem princípios, uma expressão do capitulacionismo. Por isso é que a chave da vitória na guerra revolucionária nacional contra o Japão consiste em explicar, aplicar e defender o princípio de “independência e autonomia no seio da Frente Única”.
23. Para que agimos assim? Por um lado, para conservar as posições que conquistámos. Essas posições servem de ponto de partida para a nossa estratégia; perdê-las significaria o fim de tudo. Por outro lado, e esse é o objetivo principal, agimos assim para ampliar as nossas posições, para atingirmos um objetivo positivo: “mobilizar as massas aos milhões para a Frente Única Nacional Anti-japonesa, para abater o imperialismo japonês”. A conservação e a ampliação das nossas posições estão indissoluvelmente ligadas. Nos últimos meses, influenciados por nós, uniram-se em número crescente elementos da ala esquerda da pequena burguesia; no campo do Kuomintang, as forças novas crescem; a luta das massas populares ganhou desenvolvimento na província de Xansi; e desenvolveram-se as organizações do Partido em diferentes lugares.
24. Contudo, deve admitir-se plenamente que, no conjunto do país, a organização do nosso Partido permanece débil, no geral. Do mesmo modo, no conjunto do país, a potência de que dispõem as massas é muito fraca, dado que as massas de base, operários e camponeses, ainda não estão organizadas. Por um lado, isso é um resultado da política de controle e opressão realizada pelo Kuomintang e, por outro, da insuficiência do nosso trabalho, inclusivamente da ausência total deste. Nisso reside a debilidade essencial do nosso Partido na atual guerra revolucionária nacional contra o Japão. Se não a vencermos será impossível derrotar o imperialismo japonês. Para atingir esse objetivo torna-se indispensável aplicar o princípio de “independência e autonomia no seio da Frente Única” e liquidar o capitulacionismo ou tendência a acomodação.
25. Mais atrás falamos sobre o capitulacionismo de classe. Tal capitulacionismo conduz o proletariado a acomodar-se ao reformismo burguês e a inconsequência da burguesia. Se não vencemos essa tendência é-nos impossível fazer com sucesso a guerra revolucionária nacional contra o Japão, transformar a resistência parcial em resistência geral e defender a Pátria.
Mas há ainda um outro tipo de capitulacionismo — o capitulacionismo nacional — que leva a China a satisfazer os interesses do imperialismo japonês, faz dela uma colónia do imperialismo japonês e reduz os chineses a situação de escravos. Atualmente, essa tendência manifesta-se no grupo de direita dentro da Frente Única Nacional Anti-Japonesa.
26. O grupo de esquerda na Frente Única Nacional Anti-Japonesa compõe-se das massas dirigidas pelo Partido Comunista, as quais abrangem o proletariado, o campesinato e a pequena burguesia urbana. A nossa tarefa é fazer tudo para ampliá-lo e consolidá-lo. O cumprimento dessa tarefa constitui uma condição essencial para reformar o Kuomintang, o governo e o exército, fundar uma república democrática unificada, transformar a resistência parcial em resistência geral e abater o imperialismo japonês.
27. O grupo do centro, no seio da Frente Única Nacional Anti-Japonesa, compõe-se da burguesia nacional e da camada superior da pequena burguesia. Os elementos de que os grandes jornais de Xangai são os porta-vozes orientam-se agora para a esquerda(9), uma parte dos membros do Fucinche começou já a hesitar, tal como aconteceu com uma parte do Grupo C.C.(10) As forças armadas que resistem ao Japão receberam sérias lições e algumas delas começaram a introduzir reformas ou preparam-se para fazê-lo. A nossa tarefa consiste em levar o grupo do centro a progredir e a mudar de posição.
28. No seio da Frente Única Nacional Anti-Japonesa, o grupo de direita compõe-se dos grandes senhores de terras e da grande burguesia; constitui o quartel general do capitulacionismo nacional. Essa gente tende forçosamente a capitular, receia que a guerra lhes destrua os haveres e que as massas se levantem. Muitos deles já são traidores, muitos transformaram-se em pró-japoneses e outros estão a ponto de vir a sê-lo, enquanto que muitos estão hesitantes; só um reduzido número dá provas de firmeza, por motivos particulares. Alguns participam agora na Frente Única Nacional, mas fazem-no por coação, contra vontade. De modo geral não hão-de esperar muito para romper com a Frente Única. Com efeito, muitos dos piores elementos dentre os grandes senhores de terras e grande burguesia manobram para provocar a ruptura da dita frente. São uma fábrica de rumores. Boatos como “o Partido Comunista revolta-se”, “o VIII Exército bate em retirada”, hão-de multiplicar-se com o tempo. A nossa tarefa consiste pois em combater com firmeza o capitulacionismo nacional e, nessa luta, ampliar e consolidar o grupo de esquerda, bem como levar o grupo do centro a progredir e a mudar de posição.
29. No fundo, o capitulacionismo de classe é a reserva que alimenta o capitulacionismo nacional na guerra revolucionária nacional contra o Japão. Essa é a tendência mais prejudicial, favorece o campo da ala direita e encaminha a guerra para a derrota. Para garantir a libertação da nação chinesa, a emancipação das massas trabalhadoras da China e intensificar a luta contra o capitulacionismo nacional, devemos combater o capitulacionismo de classe no seio do Partido Comunista e entre o proletariado, estendendo esse combate a todos os domínios do nosso trabalho.
Notas de rodapé:
(1) Trata-se da “Resolução sobre a Situação atual e as Tarefas do Partido”, adotada em 25 de Agosto de 1937 na reunião do Birô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, em Luotchuan, no norte do Xensi. Eis o texto integral:
“1) A provocação militar dos agressores japoneses em Lucouquiao e a ocupação de Pepim e Tientsim, representam apenas o começo da invasão da China em grande escala, ao sul da Grande Muralha. Eles já começaram a mobilização nacional para a guerra. A sua propaganda segundo a qual “não desejam uma expansão posterior” não passa duma cortina de fumaça para cobrir maiores ataques.
2) O governo de Nanquim, sob pressão dos ataques dos invasores japoneses e ante a indignação popular, começa a decidir-se pela resistência. A organização da defesa nacional por todo o país e a resistência efetiva em distintos pontos já começaram. A guerra geral entre a China e o Japão tornou-se inevitável. A resistência de 7 de Julho, em Lucouquiao, marca o ponto de arranque da Guerra de Resistência da China a escala nacional.
3) Assim, a situação política da China entrou numa nova fase, a fase da efetiva resistência. A fase da preparação para a resistência já passou. Na fase atual, a tarefa central consiste em mobilizar todas as forças da nação para a vitória na Guerra de Resistência. A conquista da democracia, que não pôde atingir-se na etapa precedente em razão da má vontade do Kuomintang e da mobilização insuficiente das massas populares, deve realizar-se ao longo da luta pela vitória na resistência.
4) Na nova etapa, as nossas divergências e polémica com o Kuomintang e outros grupos políticos anti-japoneses não respeitam mais a questão de saber se há ou não que resistir aos agressores, mas sim a de saber como conquistar a vitória.
5)
A chave da vitória na guerra está em desenvolver a resistência que já começou numa guerra geral de toda a nação. A vitória final só pode ser ganha por meio dessa guerra geral de resistência de toda a nação. O Programa em Dez Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria, hoje proposto pelo nosso Partido, indica de modo concreto a via que conduz a vitória final.
6) A resistência comporta atualmente um imenso perigo. Isso resulta do fato de o Kuomintang ainda se recusar a fazer participar a totalidade do povo na guerra. Com efeito, o Kuomintang considera a guerra como assunto que interessa exclusivamente ao governo; teme e limita em todas as ocasiões a participação do povo na guerra e opõe-se a união do governo e do exército com o povo; não reconhece ao último os direitos democráticos de resistência ao Japão e salvação da pátria, recusa-se a reorganizar em termos radicais a máquina governativa, de modo a transformar o governo atual num governo de defesa nacional, num governo da totalidade da nação. Uma resistência feita assim pode dar resultados parciais, mas não pode seguramente levar a vitória final. Pelo contrário, corre o risco de terminar por uma pesada derrota.
7) O fato de existirem sérias debilidades na Guerra de Resistência pode conduzir a muitos reveses, retiradas, cissões internas, traições, compromissos temporários e parciais, bem como a outras situações desfavoráveis no decurso dessa guerra. Assim, há que prever uma guerra árdua e prolongada. Todavia, nós confiamos em que, com os esforços do nosso Partido e do conjunto do povo do país, a resistência agora começada varrerá todos os obstáculos do seu caminho e continuará a avançar e a desenvolver-se. Devemos vencer todas as dificuldades e lutar resolutamente pela realização do Programa em Dez Pontos proposto pelo nosso Partido e destinado a garantir a vitória na resistência. Devemos opor-nos com firmeza a toda a política errada que vá contra esse programa e combater esse derrotismo nacional feito de pessimismo e desespero.
8) De concerto com as massas populares e as forças armadas dirigidas pelo Partido, os comunistas devem apressar-se a tomar lugar na primeira linha, tornar-se, a escala nacional, no núcleo da resistência ao Japão e desenvolver por todos os meios o movimento de massas anti-japonês. Os comunistas não devem relaxar um só momento nem deixar passar a menor oportunidade de fazer propaganda entre as massas, organizá-las e armá-las. Se sabemos realmente levar as massas por milhões para a Frente Única Nacional, a nossa vitória na Guerra de Resistência contra o Japão é certa.” (retornar ao texto)
(2) No começo da Guerra de Resistência contra o Japão, sob pressão popular, tanto o Kuomintang como Tchiang Kai-chek prometeram realizar diversas reformas, promessas que não tardaram a trair, umas atrás das outras. A “possibilidade” de ver o Kuomintang proceder as reformas a que a totalidade do povo aspirava não se converteu em realidade. Como disse depois o camarada Mao Tsetung no seu relatório “Sobre o Governo de Coalizão”:
“Nessa altura, todo o povo, incluídos os comunistas e demais democratas, depositou grandes esperanças no governo do Kuomintang, quer dizer, esperou que este se aproveitasse da oportunidade, nesse momento em que a Nação estava em perigo e o povo pleno de entusiasmo, para introduzir reformas democráticas e pôr em prática os Três Princípios do Povo revolucionários do Dr. Sun Yat-sen. As esperanças, porém, caíram por terra”. (retornar ao texto)
(3) Curso organizado por Tchiang Kai-chek, em Luxan, província de Quiansi, a fim de formar para o Kuomintang e respetivo governo, o pessoal dos escalões superior e médio que iria constituir a ossatura do regime reacionário. (retornar ao texto)
(4) Tcham Nai-tchi sustentava que se necessitava de “menos apelos e mais sugestões”. Mas se o Kuomintang oprimia o povo, não fazia de fato sentido contentar-se com “sugestões”; havia que lançar “apelos” diretos as massas para que se levantassem contra ele. Doutro modo teria sido impossível prosseguir a Guerra de Resistência e combater a política reacionária kuomintanista. Tcham Nai-tchi não tinha portanto razão. Aos poucos, posteriormente, ele passou a compreender esse erro. (retornar ao texto)
(5) Trata-se do “Projeto de Resolução do Comité Central do Partido Comunista da China sobre a Questão da Participação do Partido Comunista no Governo”, elaborado a 25 de Setembro de 1937. Eis o texto integral:
“1) A situação atual da Guerra de Resistência exige, imperiosamente, que se forme um governo de frente única nacional anti-japonesa representativo da totalidade da nação, pois só um governo assim pode conduzir com eficácia a guerra revolucionária nacional contra o Japão e vencer o imperialismo japonês. O Partido Comunista está pronto a participar nesse governo, isto é, assumir nele responsabilidades administrativas, direta e abertamente, e desempenhar aí um papel ativo. Mas um tal governo ainda não existe. O governo atual é um governo de ditadura de um só partido, o Kuomintang.
2) O Partido Comunista não participará nesse governo a menos que ele deixe de ser uma ditadura de um só partido, o Kuomintang, e se transforme num governo de frente única representativo da totalidade da nação, quer dizer, só na condição de: a) o governo kuomintanista aceitar o essencial do Programa em Dez Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria, proposto pelo nosso Partido, e promulgar um programa de governo em acordo com o conteúdo deste; b) passar a demonstrar com atos a sua sinceridade, fazer esforços para realizar esse programa e obter resultados apreciáveis; c) reconhecer a legalidade das organizações do Partido Comunista e reconhecer a este a liberdade para mobilizar, organizar e educar as massas.
3) Enquanto o Comité Central do Partido não se tiver decidido a participar no Governo Central, os membros do Partido Comunista não devem, em regra, entrar em qualquer governo local, conselho ou comité administrativo anexo aos organismos administrativos do Governo Central ou local. Na verdade, tal participação não faria mais do que apagar os traços que distinguem os comunistas e prolongar a ditadura do Kuomintang, prejudicando-se até o esforço tendente a criação dum governo democrático unificado.
4)
Mas os membros do Partido Comunista podem participar nos governos locais de certas regiões particulares, por exemplo nas regiões de operações militares, na medida em que as velhas autoridades, impossibilitadas de governar como no passado, aceitam no conjunto a aplicação da política proposta pelo Partido Comunista, e onde este tenha liberdade de agir legalmente, na medida também em que a participação do Partido Comunista no poder se imponha ao povo e ao governo como uma necessidade na situação crítica do momento. Mais do que noutros pontos, nas regiões ocupadas pelo agressor o Partido Comunista deve converter-se abertamente no organizador do poder de frente única anti-japonesa.
5) Antes que o Partido Comunista entre oficialmente no governo, os seus membros estão, em princípio, autorizados a entrar em órgãos representativos como a Assembleia Nacional, para a elaboração duma constituição democrática e duma política de salvação nacional. Essa a razão por que o Partido Comunista deve esforçar-se por conseguir a eleição dos seus membros para tal assembleia, servir-se dessa tribuna para dar a conhecer os seus pontos de vista e, através disso, mobilizar o povo, organizá-lo a sua volta e acelerar a formação dum governo democrático unificado.
6) O Comité Central e os comités locais do Partido Comunista podem, na base dum programa comum definido, e segundo o princípio de igualdade plena, criar com o Comité Executivo Central e os comités locais do Kuomintang organizações de frente única, como os vários comités unidos (Cuominquemintonmenghuei, Comités para os Movimentos de Massa, Comités de Mobilização nas Zonas de Operações, etc.); é por meio de tais ações em comum com o Kuomintang que o Partido Comunista deve chegar a cooperação dos dois partidos.
7) Assim que o Exército Vermelho renuncie a sua denominação, passando a formar parte do Exército Revolucionário Nacional, e os órgãos do poder vermelho mudem o nome para Governo da Região Especial, os seus representantes poderão, em virtude do estatuto legal que terão adquirido, participar em todas as organizações militares e em todas as organizações de massas que servem a causa da resistência ao Japão para a salvação da pátria.
8) É de todo necessário que se mantenha a direção, independente em absoluto, que o Partido Comunista exerce nas unidades que, originariamente, formavam o Exército Vermelho e em todos os destacamentos de guerrilhas, não se admitindo dos comunistas a menor hesitação de princípio frente a tal problema.” (retornar ao texto)
(6) Opinião de certos camaradas do Partido, propondo, na altura, que se reorganizasse o poder político das bases de apoio revolucionárias — sistema das assembleias populares — a imagem do sistema parlamentar dos Estados burgueses. (retornar ao texto)
(7) Quando o Exército Vermelho Central se deslocou para norte, em Outubro de 1934, os destacamentos de guerrilhas do Exército Vermelho mantiveram-se em quatorze regiões de oito províncias meridionais (Quiansi, Fuquien, Cuantum, Hunan, Hupei, Honan, Tchequiam e Anghuei), prosseguindo aí uma guerra de guerrilhas em condições extremamente duras. Assim que estalou a Guerra de Resistência contra o Japão, esses destacamentos, agindo conformemente as diretivas do Comité Central do Partido Comunista da China, iniciaram negociações com o Kuomintang no sentido da cessação da guerra civil, fundiram-se em um só exército (o Novo IV Exército, que perseverou na resistência ao Japão nas regiões do norte e sul do Yangtsé) e avançaram para a frente de combate da resistência ao Japão. Tchiang Kai-chek utilizou insidiosamente essas negociações para liquidar os destacamentos de guerrilhas. Ho Mim era um dos dirigentes das guerrilhas que operavam em uma dessas quatorze regiões — a região fronteiriça Fuquien-Cuantum. Como não se guardou contra a conspiração de Tchiang Kai-chek, mais de mil guerrilheiros sob seu comando foram cercados e desarmados pelo Kuomintang assim que se reagruparam. (retornar ao texto)
(8) Órgão do Comité Central do Partido Comunista da China, fundado em Ien-an, em 1937. Deixou de publicar-se em 1941, com a aparição do Quiefanjepao. (retornar ao texto)
(9) Alusão a fração da burguesia nacional que tinha por porta-voz jornais como o Chempao. (retornar ao texto)
(10) O Fucinche e o Grupo C.C. eram duas organizações fascistas do Kuomintang, encabeçadas por Tchiang Kai-chek e Tchen Li-fu, respetivamente, e que representavam os interesses da oligarquia dos grandes senhores de terras e da grande burguesia. Essas organizações contavam ainda um bom número de elementos pequeno-burgueses incorporados a força ou por ardis. A parte dos membros do Fucinche que aqui se menciona abrangia sobretudo os oficiais dos escalões médio e inferior do exército kuomintanista. A parte do Grupo C.C. de que aqui se trata formava-se sobretudo de membros que não ocupavam postos dirigentes. (retornar ao texto)
Inclusão | 12/11/2014 |