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Na Guerra de Resistência contra o Japão, a guerra regular desempenha o papel principal e a guerra de guerrilhas o papel auxiliar. Tal ponto já foi corretamente esclarecido. Por que motivo pois levantamos a questão da estratégia, se afinal só existem problemas táticos na guerra de guerrilhas?
Se a China fosse um pequeno país onde o papel da guerra de guerrilhas se resumisse a prestar um apoio direto e a curta distância as campanhas do exército regular, claro que só se levantariam problemas táticos e não estratégicos. Por outro lado, se a China fosse um país tão forte como a União Soviética e o invasor inimigo pudesse ser rapidamente repelido, ou, no caso em que essa repulsão tivesse de levar algum tempo, se o invasor não pudesse ocupar vastas regiões, igualmente a guerra de guerrilhas teria de desempenhar um simples papel de apoio no decorrer das campanhas, não envolvendo, evidentemente, problemas estratégicos mas apenas problemas táticos.
No caso da China, porém, que não é um país pequeno nem tão forte como a União Soviética, mas antes um país simultaneamente grande e fraco, a questão da estratégia na guerra de guerrilhas deve levantar-se. O fato de esse país grande e fraco estar a ser atacado por um país pequeno mas forte, e num momento em que o país grande e fraco atravessa uma era de progresso, origina todo o problema. Em tais circunstâncias, extensas regiões têm caído sob a ocupação inimiga, e a guerra transformou-se numa guerra prolongada. O inimigo está ocupando áreas imensas do nosso grande país. Todavia, o Japão é um pequeno país, não dispõe de forças suficientes e tem de deixar muitos espaços vazios no interior das zonas ocupadas, de tal maneira que a nossa guerra de guerrilhas anti-japonesa deve consistir, no essencial, não numa ação no interior das linhas, em coordenação com as campanhas do exército regular, mas sim numa ação independente no exterior das linhas; além disso, a China atravessa uma fase de progresso, quer dizer, ela dispõe dum poderoso exército e de imensas massas populares, dirigidos pelo Partido Comunista, razão por que, longe de ser em pequena escala, a nossa guerra de guerrilhas anti-japonesa deverá ser uma guerra em grande escala. Daí nasce todo um conjunto de problemas, tais como a defensiva estratégica, a ofensiva estratégica, etc. O caráter prolongado da guerra e o encarniçamento que lhe é inerente impõem a guerra de guerrilhas a realização de muitas tarefas não usuais; daí a existência de certos problemas como o das bases de apoio, o do desenvolvimento da guerra de guerrilhas em guerra de movimento, etc. Por todas essas razões, na China. a guerra de guerrilhas anti-japonesa rompeu os limites da tática para bater a porta da estratégia, requerendo, assim, um exame do ponto de vista estratégico. O que merece a nossa particular atenção é o fato de essa guerra de guerrilhas, tão ampla quanto prolongada, constituir algo de inteiramente novo em toda a história das guerras da Humanidade. Isso está intimamente ligado ao fato de nos encontrarmos agora na terceira-quarta década do séc. XX e dispormos do Partido Comunista e do Exército Vermelho. Nisso está o nó da questão. Provavelmente, o nosso inimigo acarinha ainda os lindos sonhos de comparar-se aos Iuans que conquistaram a China da dinastia dos Sum, aos Tsins que subjugaram a China dos Mim, aos ingleses que ocuparam a América do Norte e a índia, aos conquistadores latinos que dominaram a América Central e do Sul, etc., etc. Tais sonhos, porém, não têm valor prático com relação a China de hoje, pois, atualmente, existem nesta certos fatores que não existiam naqueles momentos históricos, um dos quais é a guerra de guerrilhas, que constitui algo de absolutamente novo. Se o inimigo desprezar esse fato, pagará duramente as respetivas consequências.
São essas as razões por que a nossa guerra de guerrilhas anti-japonesa, não obstante desempenhar um papel auxiliar no conjunto da Guerra de Resistência, deve ser examinada do ponto de vista da estratégia.
Então, porque não aplicar a guerra de guerrilhas os princípios estratégicos gerais da Guerra de Resistência?
Em boa verdade, a questão da estratégia da guerra de guerrilhas anti-japonesa está intimamente ligada a questão da estratégia da Guerra de Resistência considerada no seu conjunto, já que as duas têm muitos pontos comuns. Por outro lado, a guerra de guerrilhas é diferente da guerra regular, apresenta as suas próprias peculiaridades, e, consequentemente, há muitos elementos específicos na questão da estratégia da guerra de guerrilhas. Sem modificações, é impossível aplicar os princípios estratégicos da Guerra de Resistência em geral a guerra de guerrilhas, que possui as suas caraterísticas próprias.
Antes de discutir em termos concretos a questão da estratégia da guerra de guerrilhas, torna-se necessário dizer algumas palavras acerca do problema fundamental da guerra.
Todos os princípios que comandam a ação militar derivam de um só princípio fundamental: fazer os maiores esforços para conservar as próprias forças e destruir as do inimigo. Numa guerra revolucionária, tal princípio está diretamente ligado aos princípios políticos fundamentais. Por exemplo, o princípio político fundamental da Guerra de Resistência da China contra o Japão, isto é, o seu objetivo político, consiste em repelir o imperialismo japonês e construir uma China nova, independente, livre e feliz. No domínio militar, tal princípio significa o uso da força armada para a defesa da Pátria e para a expulsão dos invasores japoneses. Para atingir esse fim, a ação das unidades armadas deverá ser de forma a que se faça o máximo por conservar as próprias forças e, ao mesmo tempo, destruir as forças do inimigo. Como se justifica então o encorajamento ao sacrifício heroico na guerra? Cada guerra tem um preço que, por vezes, é extremamente elevado. Acaso estará isso em contradição com o princípio de “conservar as próprias forças”? Em rigor não há qualquer contradição. Para falar mais exatamente, o sacrifício e a auto-conservação opõem-se e completam-se mutuamente. É que o sacrifício é necessário, não apenas para a destruição do inimigo, mas também para a nossa própria conservação, na medida em que uma “não-conservação” parcial e temporária de si próprio (sacrifício, preço a pagar) se torna necessária para garantir uma conservação permanente do conjunto das forças próprias. Desse princípio fundamental resulta toda a série de princípios que comandam a ação militar, a começar pelos do tiro (cobrir-se para conservar-se e fazer o melhor uso possível do poder de fogo, a fim de destruir o inimigo) até aos princípios de estratégia; todos eles são inspirados por esse princípio fundamental, e todos se destinam a garantir a respetiva aplicação, quer se trate de princípios de ordem técnica, quer se trate de princípios relativos a tática, as campanhas ou a estratégia. O princípio da conservação das próprias forças e destruição das do inimigo é a base de todos os princípios militares.
Vejamos agora que política ou que princípios devem ser adotados na guerra de guerrilhas contra o Japão, a fim de atingirmos o objetivo da conservação de nós próprios e destruição do inimigo. Uma vez que, na Guerra de Resistência (e em todas as demais guerras revolucionárias), as unidades de guerrilhas geralmente surgem a partir do nada e crescem indo duma pequena a uma grande força, elas devem conservar-se a si próprias e, além disso, expandir-se. Assim, a questão está em saber que política ou que princípios importa adotar para atingir o objetivo de conservação e ampliação das nossas próprias forças e destruição das do inimigo.
Dum modo geral, os princípios mais importantes são os seguintes:
Esses seis pontos constituem o conjunto do programa estratégico para a guerra de guerrilhas contra o Japão, e são os meios necessários para a conservação e expansão das nossas forças, para a destruição e expulsão do inimigo, para a coordenação com a guerra regular e para a conquista da vitória final.
Este assunto pode ser tratado em quatro partes:
Vejamos o primeiro ponto.
Se consideramos a Guerra de Resistência como um todo, o fato de o Japão ser um país forte que ataca e a China, um país fraco que se defende, faz com que a nossa guerra seja, estrategicamente, uma guerra defensiva e prolongada. Pelo que respeita às linhas de operações, o inimigo opera no exterior das linhas e nós, no interior. Esse é um aspeto da situação. Há, porém, um outro aspeto que é justamente o inverso. As forças inimigas, embora fortes (em armas, em certas qualidades dos seus homens e em alguns outros fatores), são reduzidas em número, enquanto que as nossas forças, embora fracas (igualmente em armas, em certas qualidades dos seus homens e em alguns outros fatores), são muito grandes em número. Isso, acrescido ao fato de o inimigo ser uma nação estrangeira que invade o nosso país, enquanto que nós resistimos a invasão no nosso próprio território, determina a estratégia seguinte: é possível e necessário usar a ofensiva nas campanhas e nos combates, durante a defensiva estratégica; empreender campanhas e combates de decisão rápida numa guerra prolongada no plano estratégico; e realizar campanhas e combates no exterior das linhas numa guerra estrategicamente no interior das linhas. Tal é o princípio estratégico a adotar na Guerra de Resistência, considerada no seu conjunto. Isso é válido tanto para a guerra regular como para a guerra de guerrilhas. A guerra de guerrilhas só é diferente no grau e na forma. Na guerra de guerrilhas, a ofensiva, toma geralmente a forma de ataques de surpresa. Muito embora os ataques de surpresa possam e devam ser usados também na guerra regular, o seu grau de surpresa é menor. Na guerra de guerrilhas, a necessidade de conseguir uma decisão rápida é muito grande; e a nossa linha exterior de cerco ao inimigo, nas campanhas e nos combates, é muito pequena. Tudo isso a distingue da guerra regular.
Assim, conclui-se que, na sua ação, as unidades de guerrilhas devem concentrar ao máximo as suas forças, atuar em segredo e velozmente, atacando o inimigo de surpresa e procurando a decisão rápida no combate, assim como devem evitar absolutamente a defesa passiva, as demoras e a dispersão das forças para o combate. Claro que a guerra de guerrilhas inclui não somente a defensiva estratégica mas também a defensiva tática. Esta última compreende, entre outras questões, ações de contenção e proteção durante os combates, a organização da defesa nos desfiladeiros, nos pontos estratégicos, ao longo dos cursos de água e nas aldeias, a fim de desgastar e esgotar o inimigo, assim como as ações de cobertura em caso de retirada. Contudo, a ofensiva deve ser o princípio fundamental da guerra de guerrilhas, a qual tem um caráter mais ofensivo do que a guerra regular. Além disso, a ofensiva deve tomar a forma de ataques de surpresa, sendo inadmissível — na guerra de guerrilhas mais ainda do que na guerra regular — expor-se, demonstrando ostensivamente a sua força. Do fato de o inimigo ser forte e nós fracos resulta, necessariamente, que na ação de guerrilhas em geral, mais ainda do que na guerra regular, os combates devem ser decididos rapidamente, embora, em algumas ocasiões, tenham também de prolongar-se por vários dias, como, por exemplo, num assalto contra uma pequena força inimiga isolada e privada de ajuda exterior. Em virtude da sua dispersão caraterística, a guerra de guerrilhas pode estender-se por toda a parte e, em muitas das suas tarefas, como seja o flagelar, deter e sabotar o inimigo, bem como na realização do trabalho de massas, o princípio é o da dispersão das forças. Todavia, um destacamento ou formação de guerrilhas deve concentrar as suas forças principais sempre que esteja empenhado em destruir o inimigo e, especialmente, quando lute para romper um ataque inimigo. “Concentrar uma grande força para golpear uma pequena força do inimigo” continua a ser um dos princípios da ação militar, na guerra de guerrilhas.
Assim, é também evidente que se consideramos a Guerra de Resistência como um todo, só poderemos atingir o objetivo da nossa defensiva estratégica, e derrotar finalmente o imperialismo japonês, através do efeito acumulado de muitas campanhas e combates ofensivos, tanto na guerra regular como na guerra de guerrilhas, isto é, depois de alcançarmos muitas vitórias nessas ofensivas. Somente através da acumulação dos efeitos de muitas campanhas e combates de decisão rápida, isto é, do efeito cumulativo de muitas vitórias alcançadas através duma decisão rápida nas campanhas e combates ofensivos, é que poderemos atingir o objetivo da prolongação estratégica da guerra, o qual significa ganhar tempo para aumentar a nossa capacidade de resistir, enquanto aceleramos ou esperamos as modificações da situação internacional e o colapso interno do inimigo, a fim de podermos desencadear a nossa contra-ofensiva estratégica e expulsar os invasores japoneses da China. Nós devemos concentrar forças superiores e empreender ações no exterior das linhas em cada campanha e cm cada combate, seja na fase da defensiva estratégica, seja na fase da contra-ofensiva estratégica, a fim de cercar e destruir as forças inimigas — cercar uma parte se não é possível cercar a totalidade, destruir uma parte das forças cercadas se não é possível destruir a totalidade, e infligir-lhes pesadas perdas se não é possível capturá-las em massa. Só através do efeito cumulativo de muitos desses combates de aniquilamento poderemos modificar a relação de forças entre o inimigo e nós, romper completamente o seu cerco estratégico, isto é, romper completamente o seu plano de ação nas linhas exteriores e, finalmente, em coordenação com as forças internacionais e com a luta revolucionária do povo japonês, cair de todos os lados sobre o imperialismo nipónico e dar-lhe o golpe de misericórdia. Tais resultados deverão ser alcançados principalmente através da guerra regular, enquanto que a guerra de guerrilhas dá uma contribuição secundária. O que é comum a ambas, porém, é a acumulação de muitas pequenas vitórias para perfazer uma grande vitória. Nisso está o grande papel estratégico da guerra de guerrilhas no conjunto da Guerra de Resistência.
Passemos agora a questão da iniciativa, flexibilidade e plano na guerra de guerrilhas.
O que é a iniciativa na guerra de guerrilhas?
Em qualquer guerra, os adversários lutam pela iniciativa, seja no campo de batalha, na frente, numa zona de guerra ou em toda a guerra, já que a iniciativa representa liberdade de ação para um exército. Qualquer exército que, perdendo a iniciativa, se vê forçado a manter-se numa posição passiva, deixa de ser livre e corre o perigo de exterminação ou derrota. Naturalmente, tomar a iniciativa é mais difícil na defensiva estratégica e na ação nas linhas interiores do que na ação ofensiva nas linhas exteriores. O imperialismo japonês, porém, apresenta dois pontos fracos fundamentais, que são o volume reduzido das suas tropas e o fato de lutar em território estrangeiro. Além disso, a subestimação da força da China e as contradições internas entre os caudilhos militares japoneses deram lugar a muitos erros por parte do comando japonês, tais como o reforço, pedaço a pedaço, dos seus efetivos, a falta de coordenação estratégica, a ausência, por vezes, duma direção principal de ataque, o não aproveitamento de certas oportunidades em algumas ações e o insucesso na liquidação de tropas já cercadas, tudo isso podendo considerar-se como um terceiro ponto fraco do imperialismo japonês. Assim, a despeito da vantagem de se encontrar na ofensiva e operar nas linhas exteriores, os caudilhos militares japoneses estão perdendo gradualmente a iniciativa, em razão da sua insuficiência de tropas (pequeno território, população reduzida, recursos escassos, país imperialista feudal, etc.), em virtude de lutarem em território estrangeiro (a sua guerra é imperialista, bárbara, etc.) e em resultado da incompetência do seu comando. atualmente, o Japão não quer nem pode terminar a guerra, e não parou ainda a sua ofensiva estratégica. Mas como a situação geral indica, a sua ofensiva está confinada a certos limites, o que é uma consequência inevitável daqueles seus três pontos fracos. Ele não pode avançar indefinidamente, a ponto de tragar a China inteira. Já há indícios de que o Japão se verá um dia numa posição completamente passiva. Por outro lado, a China, que no começo da guerra se encontrava numa posição de grande passividade, está agora, depois que ganhou experiência, a passar para a nova política de guerra de movimento, uma política de ofensiva, de procura da decisão rápida e ação nas linhas exteriores durante as campanhas e os combates, o que, juntamente com a política de desenvolver por toda a parte a guerra de guerrilhas, a ajuda a fazer passar progressivamente a iniciativa para o seu lado.
A questão da iniciativa é ainda mais importante na guerra de guerrilhas. Com efeito, na maioria dos casos, as unidades de guerrilhas encontram-se em circunstâncias muito difíceis, isto é, operam sem retaguardas, enfrentando com fracas forças um poderoso inimigo, sem experiência (nos casos em que as unidades são de recente organização), vivendo isoladas, etc. Contudo, a iniciativa pode lograr-se na guerra de guerrilhas sob a condição essencial de se explorarem os três pontos fracos do inimigo. Tirando proveito da insuficiência de tropas do inimigo (considerada a guerra no seu conjunto), as unidades de guerrilhas podem ocupar com audácia um vasto território para as suas ações; tirando proveito do fato de o inimigo ser estrangeiro e prosseguir uma política bárbara em extremo, as unidades de guerrilhas podem conquistar plenamente o apoio de milhões e milhões de pessoas; tirando proveito da incompetência do comando inimigo, as unidades de guerrilhas podem dar livre expansão a todos os recursos do seu génio. Embora o exército regular também deva explorar todos esses pontos fracos do inimigo, como uma vantagem para derrotá-lo, importa particularmente as unidades de guerrilhas realizar essa exploração. Os pontos fracos das unidades de guerrilhas podem ser gradualmente eliminados no decurso da luta. Mais, esses pontos fracos, por vezes, constituem precisamente a condição para se conquistar a iniciativa. Por exemplo, é justamente por serem pequenas e fracas que as unidades de guerrilhas podem aparecer e desaparecer, como por magia, na sua ação por detrás das linhas do inimigo, sem que este possa fazer seja o que for contra elas, as quais, em consequência, gozam duma grande liberdade de ação, que jamais poderão desfrutar os enormes exércitos regulares.
Quando o inimigo realiza um ataque convergente a partir de várias direções, as unidades de guerrilhas têm muita dificuldade em manter a iniciativa, podem perdê-la muito facilmente. Em tais casos, se não se aprecia corretamente a situação e se se tomam disposições erradas, corre-se o risco de se cair na passividade e não poder então romper o cerco inimigo. Isso pode dar-se mesmo quando o inimigo está na defensiva e nós na ofensiva. Efetivamente, a iniciativa é o resultado duma apreciação correta da situação (a nossa e a do inimigo) e da adoção de disposições justas nos planos político e militar. Uma apreciação pessimista da situação, em desacordo com as condições objetivas, e a adoção de medidas de caráter não ativo que se lhe segue, provoca indubitavelmente a perda da iniciativa e leva a uma situação de passividade. Por outro lado, uma apreciação exageradamente otimista da situação, em desacordo com as condições objetivas, e a adoção de disposições aventureiras (riscos não necessários) que se lhe segue, provoca também uma perda da iniciativa e leva, por fim, a uma posição semelhante a dos pessimistas. A iniciativa não é o dom natural dum génio, mas sim algo que um chefe inteligente alcança através dum estudo realizado com modéstia, duma correta apreciação das condições objetivas, e através da adoção de disposições militares e políticas justas. Por consequência, a iniciativa não é qualquer coisa já feita, mas sim algo cuja obtenção requer um esforço consciente.
Quando uma unidade de guerrilhas é levada a uma situação de passividade, em virtude de apreciações e disposições incorretas, ou em razão duma pressão irresistível, a tarefa desse momento consiste em esforçar-se por sair daí. A maneira de sair depende das circunstâncias. Em muitos casos é preciso “retirar-se”. Saber retirar-se é uma das caraterísticas da unidade de guerrilhas. Retirar-se é o método principal para sair duma situação de passividade e reconquistar a iniciativa. Mas não é o único método. Acontece frequentes vezes que o momento em que o inimigo se mostra mais enérgico e nós experimentamos as maiores dificuldades, é precisamente aquele em que as coisas começam a mudar a nosso favor e em desfavor do inimigo. Frequentemente, o regresso a uma situação favorável e a retomada da iniciativa são o resultado dum esforço para “aguentar ainda um pouco mais”.
Passemos agora a flexibilidade.
A flexibilidade é uma expressão concreta da iniciativa. «A flexibilidade na utilização das forças ainda é mais indispensável na guerra de guerrilhas do que na guerra regular.
Um comandante da guerra de guerrilhas deve compreender que a flexibilidade na utilização das suas forças constitui o meio mais importante para mudar a situação existente entre nós e o inimigo, e conquistar a iniciativa. Dada a natureza da guerra de guerrilhas, as forças devem ser utilizadas com flexibilidade, segundo as tarefas estabelecidas e de acordo com determinadas circunstâncias, tais como a situação do inimigo, o terreno e a população local. A dispersão, a concentração e a deslocação constituem as principais formas do emprego dessas forças. Ao utilizar as suas forças, o comando das guerrilhas é como um pescador servindo-se da sua rede, isto é, sabe lançá-la e puxá-la. Ao lançar a rede, o pescador deve conhecer a profundidade das águas, a velocidade da corrente e a existência ou inexistência de obstáculos; igualmente, ao dispersar as suas unidades, o comando das guerrilhas deve cuidar por que não sofra perdas motivadas pela ignorância da situação ou por ações incorretas. Exatamente como o pescador, para puxar a rede, deve conservar com firmeza as extremidades da corda nas suas mãos, também o comando das guerrilhas deve manter ligações e comunicações com todas as suas forças e ter em mãos uma parte razoável das forças principais. Exatamente como na pesca é necessária uma mudança frequente de posição, também na guerra de guerrilhas se impõe uma deslocação constante das unidades. Dispersão, concentração e deslocação são os três caminhos para uma utilização flexível das forças, na guerra de guerrilhas.
Dum modo geral, a dispersão das unidades de guerrilhas ou, como também se diz, “a divisão do todo em partes”, usa-se principalmente:
Todavia, quaisquer que sejam as circunstâncias, ao dispersarmos as forças para a ação, devemos ter em conta o seguinte:
A concentração das forças ou, como também se diz, “a integração das partes no todo”, é o método que geralmente se usa para destruir o inimigo quando ele está na ofensiva e, algumas vezes, para destruir parte das forças estacionárias do inimigo, quando ele se encontra na defensiva. A concentração das forças não significa uma concentração absoluta, mas sim a concentração das forças principais, para o uso numa direção importante, enquanto se retém ou envia parte das forças sobre outras direções, a fim de conter, flagelar, sabotar o inimigo, ou realizar um trabalho de massas.
Embora a dispersão e a concentração flexíveis das forças, de acordo com as circunstâncias, seja o método principal na guerra de guerrilhas, devemos também saber como deslocar (ou transferir) as nossas forças com flexibilidade. Quando se sente seriamente ameaçado pelas guerrilhas, o inimigo envia tropas para combatê-las, para eliminá-las. Nesse caso, as unidades de guerrilhas devem considerar a situação em que se encontram: se aconselhável, elas devem lutar onde se encontram; se não, devem deslocar-se rápida e oportunamente para outro lugar. Por vezes, a fim de esmagar uma a uma as unidades do inimigo, as unidades de guerrilhas que aniquilaram determinadas forças inimigas em determinado lugar, devem deslocar-se imediatamente para um outro ponto, de modo a eliminarem outras forças; por vezes, quando não se julga aconselhável combater em determinado ponto, as unidades de guerrilhas devem romper imediatamente o contacto com o inimigo e ir combater noutro lugar. Quando as forças do inimigo representam uma ameaça particularmente séria, as unidades de guerrilhas não devem ficar muito tempo num mesmo lugar, mas sim deslocar-se com a rapidez do vento e da torrente. Em geral, as deslocações devem ser realizadas em segredo e rapidamente. Devem usar-se constantemente estratagemas para enganar, engodar e confundir o inimigo, como por exemplo, fazer demonstrações a leste enquanto se ataca a oeste, aparecer quer no norte quer no sul, tão depressa atacar como retirar, empreender ações noturnas, etc.
A flexibilidade na dispersão, na concentração e nas deslocações das forças, constitui a expressão concreta da iniciativa na guerra de guerrilhas, enquanto que a rigidez e a inércia conduzem inevitavelmente a passividade e causam perdas escusadas. Contudo, um comandante revela-se inteligente, não precisamente pela sua compreensão da importância da flexibilidade no emprego das forças, mas sim por sabê-las efetivamente dispersar, concentrar e deslocar a tempo, segundo a situação concreta. Essa sagacidade que permite dar-se conta da situação e escolher o momento justo para agir não se adquire facilmente; só podem adquiri-la os que estudam com modéstia, investigando e meditando persistentemente. Uma apreciação prudente das circunstâncias torna-se necessária, a fim de evitar que a flexibilidade se transforme em ação impulsiva.
Passemos enfim ao plano.
Sem um plano, as vitórias na guerra de guerrilhas são impossíveis. Pensar que a guerra de guerrilhas pode ser conduzida ao acaso indica ligeireza ou ignorância a respeito dessa guerra. A ação para toda uma zona de guerrilhas ou a ação dum só destacamento ou formação de guerrilhas, deve ser precedida dum plano tão minucioso quanto possível. Isso constitui a preparação prévia de cada ação. Informar-se sobre a situação, definir as tarefas, dispor as forças, realizar a preparação militar e política, assegurar os abastecimentos, pôr em ordem o equipamento e armamento, assegurar-se da ajuda popular, etc. — tudo isso faz parte do trabalho do comando das guerrilhas, trabalho que deve considerar-se e realizar-se com cuidado e consciência, controlando-se os respetivos resultados. Sem isso não pode haver iniciativa, flexibilidade ou ofensiva. É verdade que as condições da guerra de guerrilhas não permitem um alto grau de planificação como o da guerra regular, sendo por isso um erro tentar uma planificação muito minuciosa para esse tipo de guerra. Todavia, é necessário elaborar um plano tão minucioso quanto o permitam as condições objetivas, já que, compreenda-se, a luta contra o inimigo não é brincadeira alguma.
Tudo o que dissemos acima serve para explicar o primeiro dos princípios estratégicos da guerra de guerrilhas, isto é, o princípio do uso da iniciativa, flexibilidade e plano na condução duma ação ofensiva durante a guerra defensiva, na ação de decisão rápida no decurso da guerra prolongada, e na ação no exterior das linhas na guerra no interior das linhas. Tal é o problema estratégico central da guerra de guerrilhas. A solução desse problema constitui garantia importante de vitória da guerra de guerrilhas, do ponto de vista da sua direção militar.
Embora se tenham tratado aqui várias questões, todas elas giram a roda da ofensiva nas campanhas e nos combates. A iniciativa só pode ser definitivamente alcançada depois da vitória na ofensiva. Toda a ação ofensiva deve ser empreendida por nossa livre iniciativa e não por compulsão. A flexibilidade no emprego das forças gira a roda do esforço para passar a ofensiva, assim como a elaboração dum plano é necessária principalmente para assegurar o sucesso da ação ofensiva. A defesa tática é destituída de sentido se não desempenha o seu papel de apoiar, direta ou indiretamente, uma ofensiva. A decisão rápida refere-se a duração da ofensiva e as linhas exteriores definem a respetiva esfera. A ofensiva é o único meio de destruir o inimigo e o principal meio de conservar as próprias forças, enquanto que a pura defesa e a retirada só podem desempenhar um papel temporário e parcial na conservação das nossas próprias forças, sendo de todo inúteis para a destruição do inimigo.
O princípio acima indicado é fundamentalmente o mesmo para a guerra regular e para a guerra de guerrilhas, diferindo simplesmente no grau da sua forma de realização, num ou noutro caso. Na guerra de guerrilhas, porém, é ao mesmo tempo importante e necessário não perder de vista essa diferença. É precisamente essa diferença na forma que distingue os métodos de ação da guerra de guerrilhas dos da guerra regular. Se confundimos as duas formas, a vitória na guerra de guerrilhas torna-se impossível.
O segundo problema da estratégia da guerra de guerrilhas é o da sua coordenação com a guerra regular. É uma questão de clarificação das relações entre a guerra de guerrilhas e a guerra regular no plano da ação militar e a luz da natureza da ação concreta das guerrilhas. A compreensão de tais relações é muito importante para derrotar com eficácia o inimigo.
Há três espécies de coordenação entre a guerra de guerrilhas e a guerra regular:
Tomada no seu conjunto, a guerra de guerrilhas, que por detrás das linhas inimigas debilita e contém o inimigo, dificulta os seus transportes, eleva o moral das forças regulares e do povo em todo o país, etc., está coordenada estrategicamente com a guerra regular. Vejamos o caso da guerra de guerrilhas nas três províncias do Nordeste. Claro que a questão da coordenação não surgia antes da Guerra de Resistência a escala nacional; contudo, desde que esta começou, a significação de tal coordenação tornou-se evidente. Cada soldado inimigo que as guerrilhas matam aí, cada cartucho que fazem gastar ao inimigo e cada soldado inimigo que impedem de avançar para o sul da Grande Muralha, pode ser contado como uma contribuição a força total da resistência anti-japonesa. Além disso, é evidente que essas ações estão tendo um efeito desmoralizador sobre o conjunto do exército inimigo e em todo o Japão, enquanto que produzem um efeito exaltante no conjunto do nosso exército e do nosso povo. A significação da coordenação estratégica é ainda mais evidente na ação de guerrilhas ao longo das vias férreas de Pepim-Sui-iuan, Pepim-Hancou, Tientsim-Pucou, Ta-tom-Pudjou, Tchentim-Tai-iuan e Xangai-Handjou. O papel das unidades de guerrilhas não se limita a coordenação com as forças regulares durante a nossa defensiva estratégica e enquanto o inimigo está na ofensiva estratégica, nem a coordenação com as forças regulares para desorganizar a defesa do inimigo quando este conclua a sua ofensiva estratégica e passe a consolidação dos territórios ocupados; tal papel abrange também a coordenação com as forças regulares para expulsar as forças inimigas e recuperar os territórios perdidos, no momento em que as nossas forças regulares lancem a sua contra-ofensiva estratégica. Não se deve, pois, subestimar a grande importância da coordenação estratégica da guerra de guerrilhas com a guerra regular. Essa importância deve ser claramente compreendida tanto pelo comando das unidades de guerrilhas como pelo comando das forças regulares.
Além disso, a guerra de guerrilhas também se coordena com a guerra regular no decurso das campanhas. Por exemplo, na campanha de Sincou, a norte de Tai-iuan, as guerrilhas desempenharam um papel notável quanto a coordenação, tanto ao norte como ao sul de Iemenquan, destruindo a via férrea de Tatom-Pudjou e as estradas da passagem de Pinsinquan e Ianfuancou. Para citar outro exemplo, depois que o inimigo ocupou Funlintu, a guerra de guerrilhas (realizada principalmente pelas tropas regulares) que já se tinha expandido por toda a província de Xansi, desempenhou um papel ainda mais importante ao coordenar-se com as campanhas defensivas a oeste do rio Amarelo, na província de Xensi, e a sul do mesmo rio, na província de Honan. De novo, quando o inimigo atacou o sul do Xantum, a guerra de guerrilhas nas cinco províncias do Norte da China prestou uma grande contribuição, coordenando-se com as campanhas do nosso exército na região atacada. Ao cumprirem uma tarefa deste tipo, o comando de cada base de guerrilhas na retaguarda do inimigo e o comando das formações de guerrilhas para aí enviadas temporariamente, devem dispor corretamente as suas forças e, adotando diferentes táticas, de acordo com o momento e o lugar, avançar energicamente contra os pontos mais vitais e vulneráveis do inimigo, a fim de enfraquecê-lo, contê-lo, dificultar os seus transportes e elevar o moral dos nossos exércitos em campanha nas linhas interiores, cumprindo desse modo a sua missão na coordenação com as campanhas. Se cada zona de guerrilhas ou se cada unidade de guerrilhas age por si só, sem prestar atenção a coordenação com as campanhas das forças regulares, o seu papel na coordenação estratégica perde uma grande parte do seu significado, mesmo que, na estratégia geral, apresente ainda alguma importância. Todos os comandos das guerrilhas devem prestar uma séria atenção a esse assunto. Para atingir o objetivo de coordenação nas campanhas, é absolutamente necessário equipar todas as unidades importantes e todas as formações de guerrilhas com meios de comunicação por rádio.
Enfim, a coordenação com as forças regulares nos combates, isto é, no campo de batalha, constitui tarefa de todas as unidades de guerrilhas que agem nas proximidades dum campo de batalha nas linhas interiores. Evidentemente, isto só vale para as unidades de guerrilhas que operam não longe das forças regulares ou para as forças regulares enviadas temporariamente em cumprimento de missões de guerrilhas. Em tais casos, as unidades de guerrilhas devem cumprir quaisquer tarefas que lhes sejam ordenadas pelo comando das forças regulares, e que, geralmente, consistem em conter determinadas forças inimigas, dificultar os seus transportes, efetuar reconhecimentos ou servir de guia as forças regulares. Ainda que não recebam tais ordens, as unidades de guerrilhas devem realizar essas tarefas de sua própria iniciativa. É intolerável a atitude duma unidade de guerrilhas que fica de braços cruzados, não se movendo nem lutando, ou deslocando-se mas sem dar combate.
O terceiro problema estratégico da guerra de guerrilhas contra o Japão é o da criação de bases de apoio, cuja necessidade e importância resultam da natureza prolongada e do encarniçamento da guerra. Dado que a recuperação dos nossos territórios perdidos só será possível quando a contra-ofensiva estratégica se realizar a escala nacional, até esse momento a frente inimiga há-de penetrar profundamente na parte central do nosso país, e cortá-lo-á em dois, de norte a sul. Uma parte, a menor ou mesmo a maior parte do nosso território, cairá em mãos inimigas e transformar-se-á na sua retaguarda. Nós devemos estender a guerra de guerrilhas por todo esse vasto território ocupado pelo inimigo, transformar a sua retaguarda em frente de combate e forçá-lo a bater-se sem descanso no interior de todo o território ocupado. Até ao momento em que desencadeemos a contra-ofensiva estratégica e recuperemos os territórios perdidos, torna-se necessário prosseguir com tenacidade a guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo. Embora não seja possível determinar com precisão o tempo que durará esse período, não há dúvidas de que será bastante longo. Isso significa que a nossa guerra será de longa duração. Ao mesmo tempo, a fim de proteger os seus interesses nas zonas ocupadas, o inimigo não vacilará em intensificar dia a dia a luta contra as guerrilhas, tentando exterminá-las com toda a ferocidade, especialmente depois de ter concluído a sua ofensiva estratégica. Com o encarniçamento da guerra, acrescido ao seu caráter prolongado, tornar-se-á impossível sustentar uma guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo, se não se contar com bases de apoio.
Em que consistem, pois, as bases de apoio na guerra de guerrilhas? Elas consistem em bases estratégicas sobre que se apoiam as guerrilhas ao cumprirem as suas tarefas estratégicas e ao realizarem o objetivo de conservação e expansão de si mesmas, de aniquilamento e repulsão do inimigo. Sem essas bases estratégicas, nada haveria em que pudéssemos apoiar-nos para cumprir as nossas tarefas estratégicas e atingir o objetivo da guerra. Como as forças de guerrilhas estão separadas da retaguarda geral do país, uma das caraterísticas da guerra de guerrilhas na retaguarda inimiga consiste em combater sem retaguarda. Mas as guerrilhas não podem manter-se por longo tempo nem ampliar-se se não tiverem bases de apoio que constituam a sua própria retaguarda.
A História registou muitas guerras camponesas do tipo bando rebelde errante, mas nenhuma delas teve êxito. Na nossa época de comunicações e técnica avançadas, seria ainda mais ilusório imaginar que se pode conquistar a vitória usando os métodos dos bandos rebeldes errantes. Contudo, a mentalidade de bando rebelde errante existe ainda hoje entre os camponeses empobrecidos, cujas concepções, refletindo-se na mente dos comandos das guerrilhas, assumem a forma de negação da necessidade de bases de apoio ou subestimação da respetiva importância. Assim, começar por eliminar no espírito do comando das guerrilhas essa mentalidade de bando rebelde errante é uma condição prévia para a definição da política de criação de bases de apoio. A questão de saber se é ou não necessário dispor de bases de apoio e se devemos ou não atribuir-lhes importância, por outras palavras, o conflito entre a ideia de bases de apoio e a de combate nos termos dos bandos rebeldes errantes surge em todas as guerras de guerrilhas e, até certo ponto, a nossa guerra de guerrilhas contra o Japão não constitui exceção. Em consequência, a luta contra a mentalidade de bando rebelde errante é um processo imprescindível. Só depois de essa mentalidade ter sido completamente eliminada, e formulada e aplicada efetivamente a política de criação de bases de apoio, é que existem as condições favoráveis a manutenção duma guerra de guerrilhas de longa duração.
Uma vez aclarada a necessidade e importância das bases de apoio, passemos aos problemas que daí decorrem, os quais devem ser compreendidos e resolvidos ao estabelecerem-se as ditas bases. Esses problemas são os seguintes:
As bases de apoio na guerra de guerrilhas contra o Japão são principalmente de três tipos:
A vantagem da criação de bases de apoio nas regiões montanhosas é conhecida de todos, e as bases que foram, estão sendo ou serão criadas em Tcham-pai(2), Vutai(3), Taiham(4), Tai(5), Ien(6) e Mao(7) são todas desse tipo. Todas elas são zonas em que a guerra de guerrilhas anti-japonesa pode manter-se por longo tempo e constituem importantes bastiões para a Guerra de Resistência. Nós devemos desenvolver a guerra de guerrilhas e criar bases de apoio em todas as regiões montanhosas situadas por detrás das linhas inimigas.
As planícies são, evidentemente, menos adequadas que as montanhas; todavia, não é de maneira alguma impossível desenvolver aí a guerra de guerrilhas e estabelecer nelas bases de apoio. A grande amplidão da guerra de guerrilhas nas planícies do Hopei e nas planícies do norte e noroeste do Xantum, prova que e possível desenvolver a guerra de guerrilhas nas planícies. Embora ainda não exista a prova da possibilidade da criação, nas planícies, de bases de apoio de longa duração, já se provou que é possível criar aí bases de apoio temporárias, e deve ser possível criar bases de apoio para pequenas unidades ou para servirem conforme as estações. Como por um lado o inimigo não tem tropas em número suficiente a sua disposição e prossegue uma política de brutalidade sem par, e, por outro lado, como a China dispõe dum vasto território e duma população numerosa que resiste ao Japão, as condições objetivas para o desenvolvimento da guerra de guerrilhas e a criação de bases de apoio temporárias nas planícies estão, por consequência, reunidas. Se a isso acrescentarmos um comando militar correto, deve ser possível criar nas planícies bases de apoio duradouras, embora móveis, para pequenas unidades de guerrilhas(8). Falando dum modo geral, quando o inimigo tiver concluído a sua ofensiva estratégica e passar a fase da consolidação dos territórios ocupados, não há dúvidas de que lançará ataques ferozes contra todas as bases de apoio das guerrilhas e, as que se encontrarem nas planícies, hão-de receber, naturalmente, os primeiros golpes. As grandes formações de guerrilhas que operam nas planícies serão então incapazes de manter-se por longo tempo lutando nessas regiões, tendo por consequência de deslocar-se gradualmente para as montanhas, segundo as circunstâncias, como por exemplo, das planícies do Hopei para as montanhas Vutai e Taiham, das planícies do Xantum para a montanha Tai e para a península do Xantum oriental. No caso da nossa guerra nacional, porém, não é impossível deixar um bom número de pequenas unidades de guerrilhas dispersas pelos diversos distritos das extensas planícies, as quais adotarão um método móvel de luta, transladando as suas bases dum lugar para outro. É inteiramente possível realizar uma guerra de guerrilhas de temporada, aproveitando a “cortina verde” das altas plantações no Verão e beneficiando dos rios gelados no Inverno. Como o inimigo não tem, presentemente, os excedentes de forças necessários para ocupar-se das guerrilhas, e nem os terá no futuro de modo a poder fazê-lo completamente, é-nos absolutamente necessário definir por agora uma política de desenvolvimento amplo da guerra de guerrilhas e de criação de bases de apoio temporárias nas planícies, e, para futuro, orientarmo-nos resolutamente no sentido duma guerra de guerrilhas com base em pequenas unidades ou, pelo menos, no sentido duma guerra de guerrilhas de temporada, assim como estabelecer bases de apoio móveis.
Objetivamente, as possibilidades de desenvolver a guerra de guerrilhas e criar bases de apoio são maiores nas regiões de rios, lagos e estuários do que nas regiões de planície, mas menores do que nas regiões de montanha. Tanto os inúmeros combates dramáticos travados pelos “piratas” e “bandidos da água”, de que a nossa história está cheia, como a guerra de guerrilhas mantida por vários anos, na época do Exército Vermelho, a volta do lago Hom, comprovam a possibilidade do desenvolvimento da guerra de guerrilhas e da criação de bases de apoio nas regiões de rios, lagos e estuários. Porém, os partidos políticos e as massas que resistem ao Japão continuam a dispensar pouca atenção a esse ponto. Embora não existam ainda condições subjetivas nessas regiões, não há dúvida que devemos examinar muito atentamente essa possibilidade e meter-nos ao trabalho. Como um aspeto do desenvolvimento da nossa guerra de guerrilhas a escala nacional, nós devemos organizar adequadamente as guerrilhas no lago Hontsé, norte do rio Yangtsé, no lago Tai, sul do Yangtsé, e em todas as regiões de rios, lagos e estuários das áreas ocupadas pelo inimigo ao longo do Yangtsé e nas costas marítimas, assim como devemos criar, aí e nas regiões próximas, bases de apoio de caráter permanente. Passar por alto esse aspeto equivale a prover o inimigo de todas as facilidades em transporte por água, e constitui uma falha do nosso plano estratégico na Guerra de Resistência, falha que deve ser remediada a tempo.
Na guerra de guerrilhas por detrás das linhas inimigas há uma diferença entre zonas de guerrilhas e bases de apoio. Os territórios cercados pelo inimigo e cujas partes centrais não se encontram ocupadas por ele, ou, tendo sido ocupadas, já se encontram libertadas, como por exemplo certos distritos da região montanhosa de Vutai (isto é, da região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei) assim como certos setores das regiões montanhosas de Taiham e Tai, constituem por si mesmos bases de apoio a partir das quais as unidades de guerrilhas podem facilmente desenvolver a guerra de guerrilhas. A situação é diferente, porém, em outros pontos dessas mesmas regiões, como por exemplo nos setores leste e norte da região montanhosa de Vutai, isto é, parte do Hopei ocidental e parte do sul de Tchahar, assim como em muitos outros pontos a leste de Paotim e a oeste de Tsandjou. Quando a guerra de guerrilhas começou, as guerrilhas não puderam ocupar completamente esses lugares, ficando assim exclusivamente limitadas a fazer incursões frequentes; tais regiões são dominadas pelas guerrilhas enquanto estas aí se encontram, mas caem em poder do regime títere quando elas se retiram, não constituindo por isso bases de apoio, mas unicamente aquilo a que se pode chamar zonas de guerrilhas. Essas zonas de guerrilhas transformar-se-ão em bases de apoio depois que passem por certas etapas indispensáveis da guerra de guerrilhas, isto é, quando nelas já tenham sido liquidados ou derrotados efetivos importantes do inimigo, destruído o regime títere, despertada a atividade popular, constituídas organizações de massas anti-japonesas, desenvolvidas as forças armadas populares e estabelecido o poder político anti-japonês. Por expansão das nossas bases de apoio entendemos o acrescentamento de bases como essas as que já estão criadas.
Na guerra de guerrilhas, em certos lugares, como por exemplo o Hopei oriental, o campo inteiro de ação tem constituído, desde o começo, uma zona de guerrilhas. De há muito que o regime títere estava ali estabelecido, existindo, simultaneamente, forças armadas populares provenientes de levantamentos locais, assim como destacamentos de guerrilhas enviados a partir das montanhas Vutai. A princípio, o quanto as guerrilhas puderam fazer foi escolher boas posições para usá-las como retaguardas ou bases de apoio temporárias. Só depois de as forças inimigas serem destruídas e o trabalho de mobilização das massas atingir pleno desenvolvimento é que a situação caraterística de zona de guerrilhas deixará de existir, transformando-se o território em base de apoio relativamente estável.
A transformação duma zona de guerrilhas em base de apoio constitui pois um árduo processo, e depende do grau de destruição das forças inimigas e do grau de mobilização das massas dessa área.
Muitas regiões permanecerão por longo tempo no estado de zonas de guerrilhas. Em tais regiões, o inimigo não poderá estabelecer um regime títere estável, por mais esforços que faça por mantê-las sob seu controle, enquanto que, por nosso turno, não seremos capazes de atingir o objetivo de estabelecer o poder político anti-japonês, ainda que façamos todo o possível por desenvolver a guerra de guerrilhas. Exemplos disso temos no que acontece nas regiões ocupadas pelo inimigo ao longo das vias férreas, nas regiões vizinhas das grandes cidades e em certas regiões de planície.
Quanto as grandes cidades, estações de caminhos de ferro e certas regiões de planície que o inimigo controla com forças importantes, a situação é tal que a guerra de guerrilhas só pode estender-se até as suas proximidades, não pode penetrar no seu interior, pois nesses pontos existem regimes títeres relativamente estáveis. A situação é outra, portanto.
Os erros da nossa direção ou uma forte pressão exercida pelo inimigo podem provocar a inversão do estado de coisas descrito acima, isto é, uma base de apoio pode transformar-se numa zona de guerrilhas e uma zona de guerrilhas pode transformar-se numa área sob ocupação relativamente estável do inimigo. Tais transformações são possíveis e exigem uma especial atenção por parte do comando das guerrilhas.
Assim, como resultado da guerra de guerrilhas e da nossa luta contra o inimigo, o conjunto dos territórios por ele ocupados pode dividir-se nas três categorias seguintes: primeiro, bases de apoio anti-japonesas controladas pelas nossas unidades de guerrilhas e pelos nossos órgãos do poder político; segundo, áreas controladas pelo imperialismo japonês e pelos seus regimes títeres; terceiro, zonas intermédias disputadas por ambas as partes, isto é, zonas de guerrilhas. O comando das guerrilhas tem o dever de expandir ao máximo os territórios da primeira e terceira categorias e reduzir ao mínimo os da segunda categoria. Essa é a tarefa estratégica da guerra de guerrilhas.
As condições fundamentais para a criação de bases de apoio são a existência de forças armadas anti-japonesas, a utilização dessas forças armadas para a derrota do inimigo e a mobilização das massas populares. Assim, o problema da criação de bases de apoio é, antes de tudo, um problema de criação de forças armadas. Os dirigentes duma guerra de guerrilhas devem dedicar toda a sua energia a criação de uma ou várias unidades de guerrilhas e a transformação gradual dessas forças em formações de guerrilhas, no próprio decorrer da luta, inclusivamente em unidades ou formações regulares. A criação de forças armadas é a chave da criação das bases de apoio; se não há forças armadas, ou se as forças armadas existentes são fracas, nada se pode fazer.
Eis a primeira condição.
A segunda condição indispensável para a criação de bases de apoio é serem as forças armadas utilizadas em coordenação com o povo, para infligir derrotas ao inimigo. Todos os territórios sob controle do inimigo são bases inimigas e não bases de apoio para a guerra de guerrilhas, donde se conclui que tais territórios não podem ser transformados em bases de apoio enquanto o inimigo não for derrotado. A menos que destrocemos os ataques do inimigo e o derrotemos, os próprios territórios controlados pelas guerrilhas cairão sob o controle inimigo, tornando-se então igualmente impossível a criação de bases de apoio.
A terceira condição indispensável para a criação de bases de apoio é o uso de toda a nossa potência, incluindo as nossas forças armadas, a fim de levantar as massas para a luta contra o Japão. É no decurso dessa luta que devemos armar o povo, isto é, organizar corpos de auto-defesa e unidades de guerrilhas. É ainda no decurso dessa luta que devemos criar organizações de massas e integrar os operários, camponeses, jovens, mulheres, crianças, comerciantes e membros das profissões liberais — de acordo com o seu grau de consciência política e entusiasmo pela luta — nas várias organizações necessárias a luta contra o Japão, assim como expandir gradualmente tais organizações. Sem organização, o povo não pode concretizar a sua força na luta contra o Japão. No decorrer dessa luta, devemos eliminar os traidores declarados e encobertos, tarefa que só pode ser levada a bom termo confiando-se na força do povo. Nessa luta, é particularmente importante mobilizar o povo para que estabeleça ou consolide os órgãos locais do poder político anti-japonês. Com o apoio das grandes massas populares, devemos transformar e consolidar os antigos órgãos do poder político chinês nas zonas em que não tenham sido destruídos pelo inimigo, e, nas zonas em que o tenham sido, devemos restabelecê-los com base nos esforços das próprias massas populares. Eles são órgãos do poder político para aplicar a política de frente única nacional anti-japonesa, devem unir todas as forças do povo a fim de lutar contra o nosso único inimigo, o imperialismo japonês e os seus lacaios, os traidores e os reacionários.
As bases de apoio para a guerra de guerrilhas só podem ser realmente criadas com a realização gradual dessas três condições básicas, isto é, depois da criação das forças armadas anti-japonesas, depois de o inimigo ter sofrido derrotas e depois de o povo ter sido mobilizado.
Além disso, deve mencionar-se também a questão das condições geográficas e económicas. No que respeita a condições geográficas, nós já falámos das três categorias diferentes de bases, ao tratarmos dos tipos de bases de apoio; agora, apenas mencionaremos a exigência mais importante, isto é, a necessidade dum vasto território. Nas zonas cercadas por todos os lados pelo inimigo, ou simplesmente cercadas por três pontos, as regiões de montanhas oferecem naturalmente as melhores condições para a criação de bases de apoio que possam manter-se por longo tempo; todavia, o principal é que exista espaço suficiente para as manobras das guerrilhas, isto é, que o território seja vasto. Com um vasto território, a guerra de guerrilhas pode ser desenvolvida e mantida mesmo nas planícies, isto para não falar das regiões de rios, lagos e estuários. Dum modo geral, a vastidão do nosso território e a insuficiência de forças por parte do inimigo fazem com que a guerra de guerrilhas na China beneficie já dessa condição. Essa é uma condição importante, primária mesmo, do ponto de vista das possibilidades de realização duma guerra de guerrilhas, de tal maneira que os países pequenos como a Bélgica, que não contam com essa condição, têm poucas ou nenhumas possibilidades de realizá-la. Na China, porém, tal condição não é coisa por que se tenha de lutar, nem representa um problema a resolver; é algo que já existe naturalmente, esperando apenas que seja explorado.
Quanto a sua natureza, as condições económicas assemelham-se as condições geográficas. Como estamos a tratar da criação de bases de apoio por detrás das linhas inimigas, e não num deserto, pois aí não pode encontrar-se o inimigo, cada zona em que este pode penetrar tem, de há muito, uma população constituída por chineses, assim como uma base económica de subsistência, de tal maneira que a questão da busca de condições económicas na criação das bases de apoio não se levanta. Independentemente de considerações económicas, nós devemos fazer o máximo por desenvolver a guerra de guerrilhas e criar bases de apoio, permanentes ou temporárias, em todos os pontos habitados por chineses e penetrados pelo inimigo. Do ponto de vista político, porém, as condições económicas apresentam um problema, o problema da política económica, que é de importância vital na criação de bases de apoio. A política económica das bases de apoio das guerrilhas deve seguir os princípios de frente única nacional anti-japonesa de repartição equitativa das cargas fiscais e proteção do comércio. Nem os órgãos locais do poder político nem as unidades de guerrilhas devem violar esses princípios, pois de contrário a criação das bases de apoio e a manutenção da guerra de guerrilhas serão afetadas negativamente. A repartição equitativa das cargas fiscais significa que “os que têm dinheiro contribuem com dinheiro”, enquanto que os camponeses devem, até certo limite, abastecer as unidades de guerrilhas em cereais. A proteção do comércio significa que as unidades de guerrilhas devem ser altamente disciplinadas e que o confisco de empresas comerciais, excetuadas as pertencentes a traidores reconhecidos, deve ser estritamente proibido. Essa não é uma questão fácil, mas tal política foi estabelecida e tem de ser posta em prática.
A fim de encerrar o inimigo invasor no interior os seus raros pontos de apoio, isto é, no interior as grandes cidades e ao longo das principais vias de comunicação, as guerrilhas devem fazer o máximo por estender tanto quanto possível a guerra, a partir das bases de apoio, e fazer pressão sobre todos os pontos de apoio do inimigo, ameaçando-lhe a existência, abatendo-lhe o moral e expandindo, ao mesmo tempo, essas bases de apoio. Isso é essencial. Há que lutar contra o espírito conservador na condução da guerra de guerrilhas. Com origens no desejo duma vida fácil ou na sobrestimação da força do inimigo, o espírito conservador só pode causar perdas a Guerra de Resistência e é prejudicial tanto a guerra de guerrilhas como as próprias bases de apoio. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer-nos da consolidação das bases de apoio, cujas tarefas principais são a mobilização e a organização das massas, assim como a preparação de unidades de guerrilhas e de forças armadas locais. Tal consolidação é necessária ao prosseguimento da guerra prolongada e a expansão das próprias bases de apoio, já que, sem consolidação, nenhuma expansão vigorosa é possível. Se nos preocupamos unicamente com a expansão e nos esquecemos da consolidação durante a guerra de guerrilhas, seremos incapazes de resistir aos ataques do inimigo e, consequentemente, não só perderemos a possibilidade de expandir as bases de apoio como também poremos em perigo a sua própria existência. O princípio correto é expandir ao mesmo tempo que se consolida, o que é um bom método para assegurar a possibilidade de progredir com êxito na ofensiva e defender-se com sucesso na retirada. Numa guerra de longa duração, o problema da consolidação e expansão das bases de apoio surge, constantemente, em relação a cada unidade de guerrilhas. A solução concreta deve depender das circunstâncias. Em certo momento, a prioridade deve ser dada a expansão, isto é, a ampliação do território das zonas de guerrilhas e ao aumento das unidades de guerrilhas. Em outras ocasiões, a prioridade deve ser dada a consolidação, isto é, a organização das massas populares e a preparação de tropas. Como a expansão e a consolidação diferem em natureza, e as disposições militares e as demais tarefas diferem consequentemente, uma solução eficaz do problema só será possível se concedermos a prioridade ora a uma ora a outra, de acordo com o tempo e as circunstâncias específicas.
Tomando a Guerra de Resistência no seu conjunto, não há dúvida de que estamos estrategicamente cercados pelo inimigo, já que ele se encontra na ofensiva estratégica e opera no exterior das linhas, enquanto que nós estamos na defensiva estratégica e operamos no interior das linhas. Esse é o primeiro tipo de cerco que o inimigo nos impõe. Por outro lado, nós cercamos cada uma das colunas inimigas que, das linhas exteriores, avançam sobre nos por rotas separadas, na medida em que adotamos uma política de ofensiva no exterior das linhas durante as campanhas e os combates, usando forças numericamente superiores contra essas colunas. Esse é o primeiro tipo de cerco que impomos ao inimigo. Além disso, se consideramos as bases de apoio das guerrilhas na retaguarda do inimigo, cada base, tomada isoladamente, está cercada por todos os lados, como acontece com a região montanhosa de Vutai, ou simplesmente cercada por três lados, como é o caso na região noroeste de Xansi. Esse é o segundo tipo de cerco que o inimigo nos impõe. Contudo, se se considera o conjunto das bases de apoio da guerra de guerrilhas nas suas relações com a frente das forças regulares, pode ver-se que, por nosso turno, cercamos uma grande quantidade de forças inimigas. Na província de Xansi, por exemplo, cercámos a via férrea de Tatom-Pudjou por três lados (os flancos leste e oeste e o fim da linha, no sul) e cercámos por todos os lados a cidade de Tai-iuan; e muitos mais exemplos podemos encontrar nas províncias de Hopei, Xantum e outras. Esse é o segundo tipo de cerco que impomos ao inimigo. Assim, há dois tipos de cerco que as forças do inimigo podem realizar contra nós e dois tipos de cerco que podemos realizar contra o inimigo — o que, em linhas gerais, se assemelha a uma partida de Veitchi(9). As campanhas e os combates travados pelas duas partes lembram a tomada recíproca das peças no jogo, assim como o estabelecimento de pontos de apoio pelo inimigo e a criação de bases de apoio por nós se assemelham as jogadas para dominar os espaços no tabuleiro. É justamente nessa questão de “dominar os espaços” que se revela o importante papel estratégico das bases de apoio das guerrilhas na retaguarda do inimigo. Nós levantamos esta questão com respeito a Guerra de Resistência a fim de que as autoridades militares nacionais e os dirigentes da guerra de guerrilhas nas diferentes regiões, inscrevam na agenda o desenvolvimento da guerra de guerrilhas por detrás das linhas inimigas, assim como a criação de bases de apoio onde seja possível fazê-lo, realizando tudo isso como sendo uma tarefa estratégica. Se, no plano internacional, conseguimos criar uma frente anti-japonesa na região do Pacífico, tendo a China como uma das unidades estratégicas e a União Soviética e talvez outros países mais, como outras unidades estratégicas, disporemos de um tipo mais de cerco contra o inimigo sobre os tipos de que ele dispõe contra nós, e criamos uma linha exterior de ação na região do Pacífico, a partir da qual poderemos cercar e destruir o Japão fascista. atualmente, essa questão ainda é de importância prática insignificante, mas trata-se duma perspetiva que não se deve pôr de parte.
O quarto problema da estratégia da guerra de guerrilhas diz respeito a defensiva e a ofensiva estratégicas. Trata-se do problema de saber como deve ser aplicada, na prática, a política de guerra ofensiva que mencionámos na discussão do primeiro problema, quer quando estamos na fase defensiva, quer quando nos encontramos na fase ofensiva da nossa guerra de guerrilhas contra o Japão.
No decorrer da defensiva estratégica e da ofensiva estratégica (mais exatamente, da contra-ofensiva estratégica) a escala nacional, desenvolvem-se, no interior de cada base de apoio ou a volta dela, defensivas e ofensivas estratégicas de pequena escala. Por defensiva estratégica, nós entendemos a situação e as diretivas estratégicas que prevalecem quando o inimigo está na ofensiva e nós na defensiva. Por ofensiva estratégica, entendemos a situação e as diretivas estratégicas que prevalecem quando o inimigo está na defensiva e nós na ofensiva.
Depois de a guerra de guerrilhas ter começado e ter atingido um certo desenvolvimento, o inimigo atacará inevitavelmente as bases de apoio, em particular na fase em que a sua ofensiva estratégica a escala do nosso país estiver concluída e em que ele se dedicar a consolidar as regiões ocupadas. É necessário reconhecer a inevitabilidade desses ataques, pois, de outro modo, o comando das guerrilhas será apanhado desprevenido e, em face dos pesados ataques do inimigo, ficará alarmado, confundido, e as suas forças serão indubitavelmente derrotadas.
A fim de liquidar as guerrilhas e as respetivas bases de apoio, o inimigo recorre frequentemente a ataques convergentes. Por exemplo, em cada uma das quatro ou cinco “expedições punitivas” contra a região montanhosa de Vutai, o inimigo realizou um avanço planeado em três, quatro e até seis ou sete colunas, simultaneamente. Quanto maior for a escala do combate das guerrilhas, quanto mais importante for a posição das bases de apoio, e quanto maior for a ameaça para os centros estratégicos e linhas de comunicação vitais do inimigo, tanto mais encarniçados serão os seus ataques contra a guerrilha e respetivas bases de apoio. Assim, quanto mais encarniçados forem os ataques do inimigo contra um ponto, tanto maior será a indicação sobre o sucesso da luta das respetivas guerrilhas e sobre a eficácia da coordenação dessa luta com a guerra regular.
Quando o inimigo lança um ataque convergente em várias colunas, a orientação a seguir pelas guerrilhas deve ser a de esmagar esse ataque por meio dum contra-ataque. Tal ataque pode ser facilmente esmagado, se cada coluna inimiga que avança é constituída simplesmente por uma só unidade, grande ou pequena, sem unidades de apoio e incapaz de guarnecer com tropas a rota de avanço, bem como de construir blocausses ou estradas para veículos motorizados. Quando lança um ataque convergente, o inimigo está na ofensiva e opera nas linhas exteriores, enquanto que nós estamos na defensiva e operamos no interior das linhas. Pelo que respeita as nossas disposições, devemos usar as forças secundárias para fixar as várias colunas inimigas, enquanto que a nossa força principal deve ser lançada em ataques de surpresa (emboscadas, principalmente) nas campanhas e nos combates, contra uma só das colunas inimigas, golpeando-a enquanto ela se encontra em movimento. Embora forte, o inimigo debilita-se em virtude dos repetidos ataques de surpresa, chegando frequentemente a retirar-se ainda a meio do caminho; nessa altura, as unidades de guerrilhas podem realizar novos ataques de surpresa, durante a perseguição, o que enfraquece ainda mais o inimigo. Geralmente, o inimigo ocupa as capitais de distrito ou as vilas das nossas bases de apoio, antes de concluir a sua ofensiva ou antes de começar a retirar; em consequência, devemos cercar essas cidades e vilas, cortar-lhes os abastecimentos e destruir-lhes as vias de comunicação, de maneira a que, quando ele não possa manter-se e comece a retirar, nós possamos aproveitar a oportunidade para perseguir e atacar. Depois de esmagar uma coluna, devemos deslocar rapidamente as nossas forças para esmagar mais outra e, dessa maneira, esmagando-as uma a uma, destroçar o ataque convergente.
Uma grande base de apoio como a das montanhas Vutai forma uma “região militar” que, por sua vez, se divide em quatro, cinco e até mais “sub-regiões”, dispondo cada uma de forças próprias que operam independentemente. Pela aplicação das táticas descritas acima, tais forças têm esmagado em geral os ataques inimigos simultânea ou sucessivamente.
Nos planos de ação contra um ataque convergente do inimigo, nós dispomos geralmente as nossas forças principais no interior das linhas. Quando dispomos de forças suficientes, porém, devemos aplicar as nossas forças secundárias (tais como as unidades de guerrilhas dos distritos ou sub-distritos, ou até mesmo parte das forças principais) no exterior das linhas, a fim de destruir as comunicações do inimigo e conter os seus reforços. Se o inimigo permanece muito tempo na nossa base de apoio, podemos inverter os planos acima indicados, isto é, deixar algumas das nossas forças na base de apoio, para conter o inimigo, e empregar as nossas forças principais no ataque a região donde ele tenha vindo e intensificar aí as nossas ações de forma a que este se veja obrigado a retirar e a atacar as nossas forças principais; a essa tática chama-se “salvar o Estado de Tchao, cercando o Estado de Vei”(10).
No decorrer da ação contra um ataque convergente, os corpos locais de auto-defesa anti-japonesa, todas as organizações de massas, devem mobilizar-se para a ação e, por todos os meios, ajudar as nossas tropas e combater o inimigo. Na luta contra o inimigo é importante decretar o estado de sítio local e, tanto quanto possível, “reforçar os muros e limpar os campos”. A primeira medida destina-se a eliminar os traidores e evitar que o inimigo receba informações, destinando-se a segunda a apoiar a nossa ação (reforçar os muros) e evitar que o inimigo consiga alimentos (limpar os campos). “Limpar os campos” significa proceder a colheita assim que o grão esteja maduro.
Quando o inimigo se retira, geralmente incendeia as casas das cidades e vilas que ocupou, assim como as das aldeias ao longo da sua rota, a fim de destruir as bases de apoio da guerra de guerrilhas; ao proceder assim, porém, ele priva-se de alojamento e alimentação na sua próxima ofensiva, prejudicando-se a si próprio. Esse é um caso concreto que mostra bem o que entendemos por: uma só e mesma coisa tem dois aspetos contraditórios.
O comando das guerrilhas nunca deve pensar em abandonar a sua base de apoio e mudar-se para uma outra, enquanto não se provar, depois de repetidas ações, que é completamente impossível esmagar ali mesmo o pesado ataque convergente do inimigo. Em tais circunstâncias devemos estar prevenidos contra o pessimismo. Desde que os chefes não cometam erros em matéria de princípios, é normalmente possível esmagar os ataques convergentes e manter-se nas bases de apoio situadas nas regiões de montanhas. Somente nas regiões de planície é que, ante um pesado ataque convergente, o comando das guerrilhas deve considerar outras medidas, a luz das circunstâncias concretas, nomeadamente o deixar nesse mesmo local um grande número de pequenas unidades para que realizem uma ação em ordem dispersa, enquanto se deslocam provisoriamente as formações importantes de guerrilhas para determinada região montanhosa, de tal maneira que estas possam regressar e retomar as suas atividades na planície, uma vez que se retirem as forças principais do inimigo.
Dum modo geral, os japoneses não podem adotar a regra da guerra de blocausses, usada pelo Kuomintang nos tempos da guerra civil, dada a contradição entre a insuficiência das suas forças e a vastidão do território da China. Contudo, devemos contar com a possibilidade de o inimigo a usar em certa medida, contra aquelas bases de apoio das guerrilhas que ameaçam particularmente as suas posições vitais, mas, mesmo nessas circunstâncias, devemos estar preparados para manter a guerra de guerrilhas em tais regiões. Nós já fizemos a experiência da manutenção da guerra de guerrilhas durante a guerra civil, assim, não pode existir a menor dúvida de que seremos ainda mais capazes de mantê-la numa guerra nacional. Embora em matéria de correlação de forças o inimigo tenha a possibilidade de empregar, contra certas bases de apoio, forças de longe superiores, tanto em qualidade como em quantidade, permanece sem solução a contradição nacional entre nós e o inimigo, assim como continuam inevitáveis as debilidades do seu comando. As nossas vitórias baseiam-se no trabalho profundo entre as massas e nas táticas flexíveis que comandam a nossa ação.
Depois de esmagarmos uma ofensiva inimiga e antes que o inimigo inicie uma nova, este encontra-se na defensiva estratégica e nós na ofensiva estratégica.
Nessa altura, a orientação da nossa ação não consiste em atacar forças inimigas entrincheiradas em posições defensivas e que nós não estamos seguros de poder vencer, mas sim em aniquilar ou expulsar sistematicamente as pequenas unidades do inimigo e as forças armadas dos traidores, nas regiões em que somos suficientemente fortes para fazê-lo, assim como em ampliar as áreas por nós ocupadas, mobilizar as massas para a luta contra o Japão, recompletar e treinar as nossas tropas e formar novas unidades de guerrilhas. Se o inimigo ainda se mantêm na defensiva quando essas tarefas já estão bem encaminhadas, podemos ampliar ainda mais as zonas recém-conquistadas, atacar as cidades e as vias de comunicação mal guarnecidas, ocupando-as por muito ou pouco tempo, de acordo com as circunstâncias. Todas essas são tarefas da nossa ofensiva estratégica e têm como finalidade explorar a vantagem de o inimigo estar na defensiva, para desenvolvermos efetivamente as nossas forças militares e a força das massas, reduzirmos com eficácia as forças do inimigo e prepararmo-nos para esmagá-lo metódica e vigorosamente, quando lance uma nova ofensiva.
O repouso e o treino das nossas tropas são necessários, e o melhor momento para isso é o período em que o inimigo está na defensiva. Não se trata de abandonar tudo para descansar e proceder ao treino, mas sim de encontrar uma ocasião para repousar e treinar-se enquanto se realiza a ampliação das áreas que ocupamos, se aniquilam as pequenas unidades do inimigo e se levanta o povo para a luta. Geralmente, esse é também o momento em que se resolvem os difíceis problemas do abastecimento em alimentos, vestuário, mantas, etc.
Esse é também o momento em que se destroem em grande escala as linhas de comunicação do inimigo, em que se paralisam os seus transportes e se dá um apoio direto as forças regulares em campanha.
Nesses períodos, nas bases de apoio das guerrilhas, nas zonas de guerrilhas e no seio das unidades de guerrilhas, o moral é elevado e as regiões devastadas pelo inimigo vão-se restabelecendo e renascem para a vida. As populações das áreas ocupadas pelo inimigo sentem-se muito entusiasmadas, e a fama das ações das guerrilhas corre por toda a parte. No campo do inimigo e dos seus cães de fila, os traidores, o pânico e a desintegração aumentam, ao mesmo tempo que cresce o ódio as guerrilhas e as bases de apoio, e se intensificam os preparativos para acabar com elas. Durante a ofensiva estratégica, pois, é inadmissível que o comando das guerrilhas fique inchado com as vitórias, despreze o inimigo e esqueça o reforço da unidade das suas próprias fileiras e a consolidação das bases de apoio e das suas próprias forças. Nessa altura, ele deve vigiar cuidadosamente cada um dos movimentos do inimigo, buscando os indícios da sua nova ofensiva, de maneira a que, quando esta se verifique, possa concluir em boa ordem a sua ofensiva estratégica, passar a defensiva estratégica e esmagar então a ofensiva do inimigo.
O quinto problema da estratégia da guerra de guerrilhas contra o Japão é o da sua passagem a guerra de movimento, desenvolvimento igualmente Possível e necessário em razão do caráter prolongado e encarniçado da guerra. Se a China pudesse, rapidamente, derrotar os invasores japoneses e recuperar os territórios perdidos, e se a guerra não fosse nem prolongada nem encarniçada, tal passagem não seria necessária. Mas como, pelo contrário, ela é prolongada e encarniçada, a guerra de guerrilhas não pode adaptar-se a um tal tipo de guerra, a menos que se transforme em guerra de movimento. Dado que a guerra é prolongada e encarniçada, é possível as unidades de guerrilhas adquirirem a têmpera necessária e transformarem-se gradualmente em unidades regulares, de maneira a que a sua forma de combate se vá tornando cada vez mais regular, e a guerra de guerrilhas passe a guerra de movimento. A possibilidade e a necessidade de tal desenvolvimento devem ser claramente reconhecidas pelos comandos das guerrilhas, se eles desejam persistir e realizar sistematicamente a política de passagem da guerra de guerrilhas a guerra de movimento.
Em muitos pontos, como por exemplo, a região montanhosa de Vutai, a atual guerra de guerrilhas deve o seu desenvolvimento ao envio de fortes destacamentos pelas forças regulares. Aí, a ação apresenta, desde o início, elementos da guerra de movimento, muito embora tenha, em geral, o caráter duma ação de guerrilhas. Esses elementos da guerra de movimento desenvolver-se-ão gradualmente com o desenrolar da guerra. Nisso reside a vantagem da presente guerra de guerrilhas anti-japonesa, vantagem que tanto possibilita o seu rápido desenvolvimento como a sua rápida elevação para um nível superior; assim, as condições da atual guerra de guerrilhas são de longe superiores as que existiam nas três províncias do Nordeste.
Para transformar as unidades que fazem a guerra de guerrilhas em unidades regulares capazes de fazer uma guerra de movimento, são necessárias duas condições: aumento dos seus efetivos e elevação da sua qualidade. Quanto a quantidade, além da mobilização direta do povo para que se incorpore nas forças armadas, podem conseguir-se efetivos maiores pela fusão das pequenas unidades; quanto a elevação da qualidade, ela depende do esforço para temperar os combatentes e melhorar as armas no próprio decorrer da guerra.
Ao proceder-se a fusão das pequenas unidades, devemos guardar-nos contra o regionalismo, que concentra a atenção exclusivamente nos interesses locais e impede a centralização, guardando-nos, ao mesmo tempo, contra o espírito puramente militar, que não leva em conta os interesses locais.
O regionalismo existe entre as unidades de guerrilhas locais e entre os governos locais, que se preocupam exclusivamente com os interesses locais, esquecendo os interesses gerais, ou preferem agir cada um por si, por não estarem acostumados a atuar coletivamente. Os comandos das principais unidades de guerrilhas ou das formações de guerrilhas devem ter isso em conta e adotar o sistema de fusão gradual, parte por parte, das unidades locais, permitindo as autoridades locais que mantenham algumas das suas forças e continuem a expandir a sua guerra de guerrilhas; os comandos devem levar essas unidades a realizar, primeiro, uma ação em conjunto, e só depois a sua fusão, sem quebrar a respetiva organização originária e conservando os respetivos quadros, de maneira que as pequenas unidades se integrem suavemente nas grandes formações.
Oposto ao regionalismo, o espírito puramente militar constitui o ponto de vista errado dos que, no seio das forças principais, procuram unicamente aumentar as suas próprias forças e descuram o auxílio as forças armadas locais. Eles não veem que a passagem da guerra de guerrilhas a guerra de movimento não significa o abandono da guerra de guerrilhas, mas sim a formação gradual, no decorrer dum grande desenvolvimento da guerra de guerrilhas, duma força principal capaz de realizar a guerra de movimento, uma força a volta da qual devem existir ainda numerosas unidades de guerrilhas, realizando uma ampla ação de guerrilhas. Essas unidades de guerrilhas constituem poderosos auxiliares das forças principais e funcionam como reservas inesgotáveis para o constante crescimento destas últimas. É por isso que os dirigentes das forças principais que cometeram o erro de descurar os interesses das populações e dos governos locais, em resultado duma visão puramente militar, devem esforçar-se por corrigi-lo, a fim de que tanto a expansão das forças principais como a multiplicação das unidades armadas locais recebam a devida atenção.
Para elevar a qualidade das unidades de guerrilhas é imprescindível elevar o seu nível político e de organização, melhorar o seu equipamento, técnica, táticas e disciplina, de maneira que, pouco a pouco, elas sigam por si mesmas o exemplo do exército regular e reduzam os seus hábitos de guerrilha. Do ponto de vista político, é necessário fazer com que os comandantes e os combatentes compreendam a necessidade da elevação das unidades de guerrilhas ao nível de forças regulares, encorajá-los a trabalhar nesse sentido e assegurar a realização desse objetivo pelo trabalho político. No domínio da organização, é necessário preencher gradualmente todas as condições duma força regular, nos seguintes aspetos: órgãos militares e políticos, quadros militares e políticos, métodos de trabalho correspondentes, um sistema permanente de abastecimento, serviços sanitários, etc. No que respeita ao equipamento, é necessário adquirir armas melhores e mais variadas, assim como aumentar o material necessário as comunicações. Quanto a técnica e as táticas militares, é necessário elevar as unidades de guerrilhas ao nível requerido pelas forças regulares. No que se refere a disciplina, é imperioso cuidá-la de modo que sejam observados regulamentos uniformes, observadas todas as ordens sem qualquer falha, e eliminada toda a negligência e indisciplina. O cumprimento de todas essas tarefas exige um esforço prolongado que não pode ser realizado do dia para a noite; contudo, é nesse sentido que importa agir. Só assim poderá criar-se uma força regular em cada base de apoio e chegar-se a uma guerra de movimento que vibre golpes ainda mais eficazes no inimigo. Nos pontos para onde seja possível enviar destacamentos e quadros das forças regulares, esse objetivo pode ser atingido mais facilmente. Daqui se conclui que todas as forças regulares têm o dever de ajudar as unidades de guerrilhas a transformar-se em unidades regulares.
O último problema da estratégia da guerra de guerrilhas contra o Japão diz respeito as relações de comando. A solução correta desse problema constitui um dos requisitos para desenvolver com êxito a guerra de guerrilhas.
Como as unidades de guerrilhas são uma forma inferior de organização das forças armadas que se carateriza pela dispersão na ação, os métodos de comando na guerra de guerrilhas não permitem um grau tão alto de centralização como na guerra regular. Qualquer tentativa para aplicar a guerra de guerrilhas os métodos de comando da guerra regular, fará com que a grande flexibilidade da primeira fique inevitavelmente restringida e sabotará a sua vitalidade. Um comando altamente centralizado está em contradição direta com a grande flexibilidade da guerra de guerrilhas, não devendo nem podendo, por consequência, ser-lhe aplicado.
Todavia, a guerra de guerrilhas não pode ser desenvolvida com sucesso sem uma certa centralização do seu comando. Quando a guerra regular e a guerra de guerrilhas, já ampliadas, se desenrolam ao mesmo tempo, as suas ações devem ser adequadamente coordenadas; daí a necessidade dum comando que coordene as duas guerras, isto é, um comando estratégico unificado, quanto a ações militares, assegurado pelo Estado Maior Geral do país e pelos comandantes da zona de guerra. Numa zona de guerrilhas ou numa base de apoio das guerrilhas onde se encontram muitas unidades de guerrilhas, há normalmente uma ou mais formações de guerrilhas (algumas vezes há formações de tropas regulares) que constituem a força principal e ainda um bom número doutras unidades de guerrilhas, grandes e pequenas, que representam a força suplementar, assim como muitas unidades armadas compostas de indivíduos não desligados da produção; em tais pontos, as forças inimigas formam geralmente um dispositivo único para concertar a sua ação contra as guerrilhas. Consequentemente, surge o problema do comando único, do comando centralizado, nessa zona ou base de guerrilhas.
De tudo isso resulta que, em oposição a absoluta centralização ou descentralização, o princípio de comando na guerra de guerrilhas deve ser o comando centralizado em estratégia e descentralizado nas campanhas e nos combates.
A centralização do comando em estratégia inclui a planificação de conjunto e a direção geral da guerra de guerrilhas pelo Estado, a coordenação da guerra de guerrilhas com a guerra regular em cada zona de guerra, e a direção unificada de todas as forças armadas anti-japonesas em cada zona de guerrilhas ou base de apoio. Aí, a falta de harmonia, de unidade e de centralização são prejudiciais, pelo que devem ser feitos todos os esforços no sentido de assegurar essa harmonia, unidade e centralização. Nas questões gerais, isto é, nas questões de estratégia, os escalões inferiores devem informar os escalões superiores e seguir as respetivas instruções, de modo a assegurar a ação concertada. Contudo, a centralização deve parar aí, sendo igualmente prejudicial ultrapassar esse ponto e interferir nas questões de detalhe dos escalões inferiores, como seja a questão das disposições específicas para uma campanha ou combate. Isso é assim porque esses detalhes devem ser estabelecidos a luz das condições concretas, as quais variam de momento a momento e de lugar para lugar, e estão para além do conhecimento dos altos escalões de comando, situados a distância. Isso é o que se entende por princípio de descentralização do comando nas campanhas e combates. Esse mesmo princípio aplica-se geralmente na guerra regular, em especial quando as comunicações não são perfeitas. Numa palavra, nós somos pela guerra de guerrilhas realizada com independência e autonomia, sob um comando estratégico unificado.
Como uma base de apoio de guerrilhas constitui uma região militar dividida em algumas sub-regiões, cada uma das quais compreende vários distritos, divididos por sua vez nuns quantos sub-distritos, as relações entre os vários escalões, desde os quartéis generais da região militar e das sub-regiões até as autoridades dos distritos e sub-distritos, são de subordinação sucessiva, devendo cada uma das forças armadas, de acordo com a sua natureza, situar-se sob o comando direto dum desses escalões. Segundo o princípio que acaba de ser enunciado, nas relações de comando entre esses escalões, as questões de política geral devem ser centralizadas nos escalões mais altos, enquanto que a ação concreta deve ser levada a cabo a luz das circunstâncias específicas, pelos escalões inferiores, os quais devem ter o direito de agir independentemente e com autonomia. Se um comando mais alto tem alguma coisa a dizer sobre a ação concreta empreendida por um comando inferior, pode e deve fazê-lo sob a forma de “diretivas” e nunca sob a forma de “ordens” para cumprir a risca. Quanto mais vasta é a região, quanto mais complexa é a situação e quanto maior for a distância entre os comandos superiores e inferiores, mais aconselhável se torna dar uma maior independência e autonomia aos comandos inferiores, na sua ação concreta, imprimindo-se assim a essa ação um caráter mais regional, e adaptando-a melhor as exigências das condições locais, de tal maneira que os comandos inferiores, bem como o pessoal local, possam desenvolver a sua capacidade para trabalhar com independência, enfrentar as situações complicadas e ampliar com êxito a guerra de guerrilhas. Se uma unidade ou formação está empenhada numa ação conjunta, o princípio a aplicar é o da centralização nas relações internas de comando, já que a situação e clara para os comandos superiores; mas se essa unidade ou formação se divide, para passar a uma ação em dispersão, há que aplicar-se o princípio da centralização nas questões gerais e o da descentralização nos detalhes, pois, nessa altura, a situação concreta não pode ser claramente conhecida pelos comandos superiores.
A falta de centralização, nos casos em que esta é necessária, significa não cumprimento do dever por parte dos comandos superiores e usurpação da autoridade por parte dos comandos inferiores, o que não pode ser tolerado nas relações entre comandos superiores e inferiores, especialmente na esfera militar. Se a descentralização não se realiza nos casos devidos, isso significa que houve uma monopolização do poder por parte dos comandos superiores e falta de iniciativa por parte dos comandos inferiores, o que tão-pouco pode ser tolerado nas relações entre os comandos superiores e inferiores, especialmente na direção da guerra de guerrilhas. Os princípios acima indicados constituem a única política correta para resolver o problema das relações de comando.
Notas:
(1) No começo da Guerra de Resistência contra o Japão, muitos indivíduos, tanto dentro como fora do Partido, reduziam a importância do papel estratégico da guerra de guerrilhas e depositavam exclusivamente as suas esperanças na guerra regular, em particular na ação do exército do Kuomintang.
O camarada Mao Tsetung refutou esse ponto de vista e escreveu o presente artigo a fim de mostrar a via correta para o desenvolvimento da guerra de guerrilhas anti-japonesa. Como resultado desse trabalho, o VIII Exército e o Novo IV Exército, que apenas tinham um pouco mais de 40.000 homens no começo da Guerra de Resistência, em 1937, cresceram a ponto de se transformarem num grande exército de um milhão de homens, no momento da rendição do Japão, em 1945, criaram um grande número de bases revolucionárias e desempenharam um importante papel nessa guerra, fazendo com que Tchiang Kai-chek, ao longo de todo esse período, não ousasse capitular diante do Japão nem desencadeasse a guerra civil a escala nacional. Em 1946, quando Tchiang Kai-chek a desencadeou, o Exército Popular de Libertação, formado pelo VIII Exército e pelo Novo IV Exército, era já suficientemente forte para fazer face a tal ofensiva. (retornar ao texto)
(2) Tchampai é uma cadeia de montanhas situada na região fronteiriça do Nordeste da China. Depois do Incidente de 18 de Setembro de 1951, essa região transformou-se numa base de apoio das guerrilhas anti-japonesas dirigidas pelo Partido Comunista da China. (retornar ao texto)
(3) Vutai é uma cadeia de montanhas situada na fronteira Xansi-Tchahar-Hopei. Em Outubro de 1937, o VIII Exército, dirigido pelo Partido Comunista da China, procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do Xansi-Tchahar-Hopei, tendo como centro a região montanhosa de Vutai. (retornar ao texto)
(4) Taiham é uma cadeia de montanhas situada na fronteira Xansi-Hopei-Pim-iuan. Em Novembro de 1937, o VIII Exército procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do sudeste de Xansi, tendo como centro a região montanhosa de Taiham. (retornar ao texto)
(5) Tai é uma das principais montanhas das cadeias Tai e Yi no Xantum central. No Inverno de 1937, as unidades de guerrilhas dirigidas pelo Partido Comunista da China procederam a criação da base de apoio anti-japonesa do Xantum central, tendo a região montanhosa de Tai e Yi como centro. (retornar ao texto)
(6) Ien é uma cadeia de montanhas situada na região fronteiriça Hopei-Jehol. No Verão de 1938, o VIII Exército procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do Hopei oriental, tendo como centro a região montanhosa de Ien. (retornar ao texto)
(7) As montanhas Mao estão situadas no sul de Quiansu. Em Junho de 1938, o Novo IV Exército, dirigido pelo Partido Comunista da China, procedeu a criação da base de apoio anti-japonesa do sul do Quiansu, tendo por centro a região montanhosa de Mao. (retornar ao texto)
(8) A experiência ganha na Guerra de Resistência contra o Japão provou que era possível estabelecer nas planícies bases de apoio duráveis e que, em muitos pontos, era possível estabelecer bases de apoio permanentes. Isso em virtude da sua vastidão e densidade de população, da justeza das medidas políticas do Partido Comunista da China, da mobilização em grande escala do povo, da insuficiência de tropas do inimigo e em resultado de outros fatores. Em diretivas ulteriores, o camarada Mao Tsetung afirmou mais concretamente essa possibilidade. (retornar ao texto)
(9) Veitchi é um velho jogo chinês em que cada um dos dois jogadores tenta cercar as peças do adversário no tabuleiro. Quando uma ou mais peças são cercadas, contam-se como mortas” (capturadas). Todavia, se ainda há um número suficiente de casas brancas entre as peças cercadas, estas consideram-se “vivas” (não capturadas). (retornar ao texto)
(10) No ano 353 A.C., o Estado de Vei sitiou a cidade de Hantan, capital do Estado de Tchao. O rei de Tsi ordenou aos seus generais, Tien Tchi e Suen Pin, que socorressem o Estado de Tchao. Sabendo que as tropas de elite de Vei haviam sido deslocadas para Tchao, e que o Estado de Vei se encontrava fragilmente defendido, o general Suen Pin atacou o Estado de Vei, cujas tropas foram obrigadas a retirar-se de Tchao para vir em socorro do seu próprio território. Explorando a vantagem de as tropas de Vei se encontrarem esgotadas, as tropas de Tsi atacaram-nas e derrotaram-nas em Cueilim (nordeste do atual distrito de Hotsé, em Pin-iuan). Dessa maneira se levantou o cerco da capital do Estado de Tchao. Desde então, os estrategas chineses resumem todas as táticas semelhantes com a expressão: “Salvar o Estado de Tchao, cercando o Estado de Vei”. (retornar ao texto)
Inclusão | 29/12/2012 |