O Movimento de 4 de Maio

Mao Tsetung

Maio de 1939


Primeira Edição: Artigo escrito pelo camarada Mao Tsetung, para os jornais de Ien-an, em celebração do XX aniversário do Movimento de 4 de Maio.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 385-389.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

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Desenrolado há vinte anos, o Movimento de 4 de Maio marcou, na China, uma nova etapa da revolução democrático-burguesa contra o imperialismo e o feudalismo. Convertido em movimento em favor duma reforma cultural, o Movimento de 4 de Maio não era mais do que uma das formas daquela revolução. Em resultado da formação e desenvolvimento, nessa época, de novas forças sociais, formou-se um campo poderoso na revolução democrático-burguesa da China contra o imperialismo e o feudalismo, o campo formado pela classe operária, pela massa dos estudantes e pela nascente burguesia nacional. Mas foram as centenas de milhares de estudantes que marcharam heroicamente na vanguarda na época do Movimento de 4 de Maio. O Movimento de 4 de Maio representava portanto um passo em frente com relação a Revolução de 1911.

Se se considera a partir do seu período preparatório, vê-se que a revolução democrático-burguesa da China já franqueou várias etapas no decurso do seu desenvolvimento: Guerra do Ópio, Guerra do Reino Celestial dos Taipins, Guerra Sino-Japonesa de 1894(1), Movimento Reformista de 1898, Movimento de Ihotuan, Revolução de 1911, Movimento de 4 de Maio, Expedição do Norte e Guerra Revolucionária Agrária. A Guerra de Resistência contra o Japão, atualmente em curso, constitui mais uma outra etapa no desenvolvimento dessa revolução, a etapa mais grandiosa, mais vigorosa e mais dinâmica. A revolução democrático-burguesa não poderá ser considerada vitoriosa senão quando as forças imperialistas estrangeiras e as forças feudais internas forem basicamente derrubadas, e se criar um Estado democrático independente. Desde a Guerra do Ópio, as sucessivas etapas da revolução possuem as suas caraterísticas particulares. O que constitui nelas a diferença mais importante é o situarem-se antes ou depois da formação do Partido Comunista. Tomadas no seu conjunto, porém, todas essas etapas revestem o caráter duma revolução democrático-burguesa. O objetivo de tal revolução é estabelecer um regime social ainda desconhecido na história da China, o regime democrático; este tem como predecessor a sociedade feudal (que se transformou nos últimos cem anos numa sociedade semi-colonial e semi-feudal) e, por sucessor, a sociedade socialista. Se se pergunta a razão por que um comunista deve lutar primeiro pela instauração do regime democrático-burguês e só depois pela instauração do regime socialista, nós respondemos que é porque os comunistas seguem a via inexorável da História.

A realização da revolução democrática na China está dependente de certas forças sociais, que são a classe operária, o campesinato, os intelectuais e a burguesia progressista, por outras palavras, os operários, camponeses, soldados, intelectuais e homens de negócio revolucionários, sendo os operários e os camponeses as forças basilares da revolução e a classe operária a classe dirigente da revolução. Sem essas forças revolucionárias basilares e sem a classe operária a dirigir a revolução, será impossível levar a bom termo a revolução democrática anti-imperialista e anti-feudal. Hoje, os principais inimigos da revolução são os imperialistas japoneses e os traidores e a política fundamental na revolução é a formação duma frente única nacional anti-japonesa, formada pela totalidade dos operários, camponeses, soldados, intelectuais e homens de negócios que se opõem a agressão japonesa. A vitória final na Guerra de Resistência contra o Japão será conquistada quando essa Frente Única se tiver consolidado e desenvolvido apreciavelmente.

No movimento da revolução democrática chinesa, os intelectuais foram os primeiros a tornar-se politicamente conscientes. A Revolução de 1911 e o Movimento de 4 de Maio demonstraram claramente isso, e na época do Movimento de 4 de Maio os intelectuais eram mais numerosos e mais conscientes, politicamente, que no tempo da Revolução de 1911. Contudo, se os intelectuais não se ligam as massas de operários e camponeses, não poderão chegar a coisa alguma. O critério decisivo para determinar se um intelectual é revolucionário, não revolucionário ou contra-revolucionário, consiste em saber se ele quer ligar-se, e se liga de fato, as massas operárias e camponesas. Só isso constitui a linha de demarcação, e não o palavreado sobre os Três Princípios do Povo ou sobre o Marxismo. O verdadeiro revolucionário é aquele que quer ligar-se e se liga de fato as massas operárias e camponesas.

Vinte anos se perfazem agora desde o Movimento de 4 de Maio, e já transcorreram cerca de dois anos depois que começou a Guerra de Resistência contra o Japão. Sobre a juventude e sobre os círculos culturais do país recai uma pesada responsabilidade na revolução democrática e na Guerra de Resistência. Eu espero que eles acabarão por entender o caráter e as forças motrizes da revolução chinesa, que se ligarão nas suas atividades as massas operárias e camponesas e se lançarão entre os operários e camponeses, convertendo-se em propagandistas e organizadores. O dia em que a totalidade do povo se levantar num só impulso, será o dia da vitória da Guerra de Resistência. Esforçai-vos pois, juventude de todo o nosso país!


Notas de rodapé:

(1) A causa próxima da guerra foi a agressão dos japoneses a Coreia e ás provocações destes contra as tropas terrestres e marítimas chinesas. As tropas chinesas bateram-se heroicamente. A China foi, porém, derrotada em virtude da corrupção do governo dos Tsins e da falta de preparação deste para resistir firmemente a agressão. O governo dos Tsins concluiu pois com o Japão o humilhante Tratado de Ximonoseque, pelo qual a China lhe cedia Taiwan e as ilhas de Penghu, pagava uma indemnização militar de 200.000.000 de liam de prata, permitia a instalação de fábricas japonesas na China, franqueava-lhe os portos comerciais de Chachi, Tchuntchim, Sudjou, Handjou, etc., e convertia a Coreia num Estado-apêndice controlado pelas forças japonesas. (retornar ao texto)

Inclusão 09/08/2012
Última alteração 01/12/2012