Conjurar o Perigo de Capitulação, Lutar por uma Viragem Favorável na Situação

Mao Tsetung

28 de Janeiro de 1940


Primeira Edição: Diretiva interna do Partido, redigida pelo camarada Mao Tsetung em nome do Comité Central do Partido Comunista da China.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 629-634.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

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O desenrolar atual dos acontecimentos confirma a justeza das apreciações feitas em distintas ocasiões pelo Comité Central. A linha da capitulação, defendida pelos grandes senhores de terras e pela grande burguesia, e a linha da resistência prosseguida pelo proletariado, campesinato, pequena burguesia urbana e média burguesia, são antagónicas; as duas estão em luta, atualmente, as duas linhas coexistem, são possíveis duas perspectivas. A esse respeito, todos os camaradas do Partido precisam de compreender que os sérios casos de capitulação, anti-comunismo e regressão, manifestados em diferentes zonas, não devem ser tomados isoladamente. Há que entender-lhes a gravidade, combatê-los com firmeza e não se deixar abater pelo respectivo impacto. Se, contra tais casos, não possuímos esse espírito nem justa política de luta resoluta, se deixamos os obstinados kuomintanistas prosseguir na ação de “limitação militar do Partido Comunista” e “limitação política do Partido Comunista”, se somos governados exclusivamente pelo receio de ruptura da Frente Única, a Guerra de Resistência fica comprometida, a capitulação e o anti-comunismo estendem-se por todo o país e a Frente Única corre o risco de romper-se. Importa estar bem consciente de que, tanto no interior do país como no plano internacional, existem ainda muitas condições objetivas favoráveis aos nossos esforços de prosseguimento da resistência, unidade e progresso. Por exemplo, a política do Japão frente a China mantém-se muito dura; não obstante certa atenuação das contradições que existem entre a Inglaterra, Estados Unidos e França, por um lado, e o Japão por outro, não houve um verdadeiro reajustamento; além disso, as posições da Inglaterra e da França no Oriente encontram-se enfraquecidas pela guerra na Europa. É pois difícil convocar uma reunião tipo Munique no Extremo Oriente. Ademais, a União Soviética ajuda ativamente a China. São circunstâncias internacionais que tornam difícil, para o Kuomintang, uma capitulação ou um compromisso, ou mesmo o desencadeamento duma guerra anti-comunista em escala nacional. Mais exemplos: o Partido Comunista, o VIII Exército e o Novo IV Exército opõem-se resolutamente a capitulação e prosseguem com firmeza uma política de resistência e unidade; as classes intermédias também são contra a capitulação e, enfim, embora no seio do Kuomintang os capitulacionistas e os obstinados detenham o poder, eles não constituem mais que uma minoria. Essas são circunstâncias interiores que tornam difícil ao Kuomintang a capitulação, o compromisso ou a guerra anti-comunista em escala nacional. Em tais circunstâncias, a tarefa do Partido consiste, por um lado, em ripostar energicamente a ofensiva militar e política dos capitulacionistas e obstinados e, por outro lado, em desenvolver ativamente, no conjunto do país, a Frente Única que engloba os partidos, órgãos governativos, as forças armadas, a população civil e a juventude estudantil; e ainda em fazer todo o possível por juntar a si a grande maioria do Kuomintang, as camadas intermédias e os simpatizantes dentro dos exércitos que combatem o agressor japonês, aprofundar o movimento de massas, ganhar os intelectuais, consolidar as bases de apoio anti-japonesas, desenvolver as forças armadas anti-japonesas e os órgãos do poder anti-japonês, consolidar-se e progredir. Agindo simultaneamente nessas duas direções, nós conseguiremos conjurar o perigo de capitulação, criado pelos grandes senhores de terras e grande burguesia, e provocar uma viragem favorável na situação. É por isso que a orientação geral da política atual do Partido consiste em lutar energicamente por essa viragem, ao mesmo tempo que se redobra de vigilância para enfrentar qualquer eventualidade (no momento, não se trata senão de incidentes de carácter limitado e local).

Agora que Uam Tsim-vei tornou público o seu pacto de traição(1) e Tchiang Kai-chek publicou a mensagem a nação, está fora de dúvida que a agitação em favor da paz há-de resultar golpeada e as forças da resistência anti-japonesa hão-de desenvolver-se; por outro lado, a “limitação militar do Partido Comunista” e a “limitação política do Partido Comunista” prosseguirão, novos incidentes locais vão registar-se e, para atacar-nos, é possível que o Kuomintang insista sobre a pretensa “unificação para a luta contra o inimigo exterior”. A explicação de tudo isso está no fato de as forças da resistência ao Japão e do progresso não poderem, num futuro próximo, desenvolver-se suficientemente de modo a esmagarem por completo as forças da capitulação e regressão. A nossa política exige que, em todos os pontos do país onde existam organizações do Partido Comunista, façamos os maiores esforços por ampliar a propaganda contra o pacto de traição concluído por Uam Tsim-vei. Na sua mensagem, Tchiang Kai-chek declara-se disposto a prosseguir na resistência ao Japão, mas não sublinha a necessidade de reforçar a unidade nacional nem indica qualquer política que permita perseverar na resistência e no progresso. Ora, sem tal política, é impossível continuar a guerra. Assim é que, na campanha contra Uam Tsim-vei, devemos sublinhar os pontos seguintes:

  1. apoiar a política nacional de resistência até ao fim e opor-se ao pacto de traição de Uam Tsim-vei;
  2. unir o povo do país inteiro e abater o traidor Uam Tsim-vei e respectivo governo central fantoche;
  3. apoiar a cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista; abater a política anti-comunista de Uam Tsim-vei;
  4. a oposição ao Partido Comunista é conspiração de Uam Tsim-vei para dividir a Frente Única Anti-japonesa; há que abater os traidores camuflados do tipo Uam Tsim-vei;
  5. reforçar a unidade nacional, eliminar as fricções internas;
  6. introduzir reformas políticas no país, desenvolver o movimento em favor do regime constitucional, instaurar a democracia;
  7. anular a interdição dos partidos políticos, reconhecer estatuto legal aos partidos e grupos anti-japoneses;
  8. garantir ao povo a liberdade de palavra e de reunião, no interesse da luta contra os invasores e os traidores;
  9. consolidar as bases de apoio anti-japonesas, lutar contra as conspirações e atos de sabotagem dos traidores como Uam Tsim-vei;
  10. apoiar as tropas que se batem realmente bem na Guerra de Resistência, assegurar o pleno reabastecimento da frente;
  11. desenvolver as atividades culturais ao serviço da Guerra de Resistência, proteger a juventude progressista, proibir a manifestação de opiniões dos traidores.

Todas essas palavras de ordem devem ser levadas ao público. Além disso, impõe-se, por toda a parte, publicar um grande número de artigos, manifestos, panfletos e brochuras, bem como organizar conferências, ao mesmo tempo que se lançam palavras de ordem adaptadas as circunstâncias locais.

No dia 1 de Fevereiro vai convocar-se em Ien-an um grande mítin de protesto contra o pacto de traição concluído por Uam Tsim-vei. Na primeira ou segunda década de Fevereiro organizar-se-ão mais mítins de massas por toda a parte, em combinação com os diversos sectores da população e com os kuomintanistas anti-japoneses, de modo a provocar-se por todo o país um poderoso movimento contra a capitulação, contra os traidores e contra as fricções.


Notas de rodapé:

(1) Trata-se dum pacto secreto de traição, intitulado “Programa de Reajustamento das Relações Nipo-Chinesas”, concluído por Uam Tsim-vei com os agressores japoneses, em fins de 1939. Ei-lo nas suas grandes linhas:

  1. O Nordeste da China é cedido ao Japão; as regiões mongóis (na época compreendiam as províncias de Sui-iuan e Tchahar, bem como a parte setentrional da província de Xansi), o Norte da China, o baixo Yangtsé e as ilhas do Sul da China, são reconhecidas como “zonas de colaboração estreita entre o Japão e a China”, devendo ser ocupadas, em permanência, por tropas japonesas.
  2. Todos os órgãos do poder fantoche, desde o governo central a administração local, passam a funcionar sob fiscalização de conselheiros ou funcionários japoneses.
  3. As tropas e a polícia do governo fantoche são treinadas por instrutores japoneses e o respectivo armamento é fornecido pelo Japão.
  4. A política financeira e económica, a indústria, a agricultura e os meios de comunicação do governo fantoche ficam sob controle japonês; o Japão pode explorar livremente todos os recursos naturais da China.
  5. Proibição de toda a atividade anti-japonesa. (retornar ao texto)
    Inclusão 28/01/2014