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Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 705-715.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
1. Em todas as regiões situadas na retaguarda do inimigo e em todas as zonas de operações, o acento deve recair não sobre o que elas têm de caráter específico mas sim sobre o que têm de idêntico, pois o contrário seria cometer um grave erro. Quer se trate do Norte, Centro ou Sul da China, quer se trate das zonas situadas ao norte ou ao sul do Yangtsé, das regiões de planície, montanha ou lagos, quer se trate do VIII Exercito, do Novo IV Exército ou da Coluna de Guerrilheiros do Sul da China(2), por toda a parte existem traços específicos e também traços idênticos, como a presença do inimigo e a resistência. Assim é que, por toda a parte, podemos e devemos passar à expansão. Essa política de expansão foi já repetidas vezes definida pelo Comité Central. Expansão significa aumentar com audácia, independência e autonomia os nossos efetivos armados, criar resolutamente bases de apoio, passar aí, independentemente e com autonomia, a mobilização das massas, ao estabelecimento de órgãos do poder de frente única anti-japonesa subordinados a direção do Partido Comunista, e avançar por todas as regiões ocupadas pelo inimigo sem observar as restrições impostas pelo Kuomintang, passando por cima dos limites por este traçados, e sem esperar por nomeações da parte do Kuomintang nem contar com os órgãos superiores quanto aos nossos recursos materiais. Na província de Quiansu, por exemplo, a despeito dos ataques verbais e das restrições e pressões por parte dos anti-comunistas como Cu Tchu-tom, Lem Sin e Han Te-tchin(3), devemos estabelecer o mais depressa possível um controle sistemático, e segundo um plano determinado, sobre um máximo de regiões, desde Nanquim, a oeste, até ao litoral, a leste, desde Han-djou, no sul, até Siudjou, no norte; e aumentar com independência e autonomia os efetivos das nossas unidades militares, criar órgãos do poder, birôs fiscais para cobrança de impostos em favor da resistência anti-japonesa, organismos económicos para desenvolvimento da agricultura, da indústria e do comércio, e ainda abrir vários tipos de escolas para formação de quadros em grande número. O Comité Central requeria que, durante este ano, no Quiansu e no Tche-quiam, vocês elevassem a cem mil baionetas os efetivos das forças anti-japonesas que combatem na retaguarda do inimigo e, sem tardança, criassem nessa retaguarda órgãos do poder. Que disposições concretas tomaram já a esse respeito? Vocês já deixaram passar ocasiões favoráveis; se isso se repete ainda este ano as dificuldades que encontrarão hão-de ser bem maiores.
2. No momento em que os anti-comunistas obstinados do Kuomintang se encarniçam na política de conter, limitar e combater o Partido Comunista, com o que preparam uma capitulação frente ao Japão, o acento deve pôr-se não na unidade mas sim na luta, pois, doutro modo, comete-se um erro grave. Assim, tanto no plano teórico como no político e militar, devemos, por princípio, resistir firmemente, adotar uma atitude de luta resoluta contra toda a espécie de leis, ordens, propaganda ou ataques verbais que venham dos anti-comunistas obstinados no intuito de conter, limitar e combater o Partido Comunista. Essa luta deve repousar nos princípios de razão, vantagem e medida, quer dizer, nos princípios de legítima defesa, vitória e trégua, significando que, atualmente, em cada caso concreto, a luta é defensiva, limitada e de caráter temporário. Devemos adotar medidas de taco a taco e combater com firmeza todas as leis, ordens, propaganda e ataques verbais reacionários lançados pelos anti-comunistas obstinados. Por exemplo, eles exigem que os nossos IV e V Destacamentos(4) sejam deslocados para sul e nós objetamos-lhes que tal medida é absolutamente irrealizável; exigem que as unidades de Ie Fei e Tcham Iun-yi(5) se desloquem para sul e nós replicamos com um pedido de autorização de envio de unidades para o norte; acusam-nos de sabotar a conscrição e nós pedimos-lhes autorização para ampliar a zona de recrutamento do Novo IV Exército; pretendem que a nossa propaganda é errada e nós exigimos-lhes a cessação de toda a propaganda anti-comunista e a revogação das leis e ordens que originam fricções; e, quando nos lançam um ataque militar, esmagamos esse ataque com um contra-ataque militar. Temos boas razões para praticar essa política do taco a taco. Quando uma ação se justifica, o dever de tomar iniciativas incumbe tanto ao Comité Central do nosso Partido como a qualquer das unidades do nosso exército. Excelentes exemplos disso são os fornecidos por Tcham Iun-yi e Li Sien-nien, ao protestarem energicamente junto dos superiores respetivos, Li Pin-sien e Li Tsum-jen(6). Só tomando essa atitude resoluta ante os obstinados e apelando para os princípios de razão, vantagem e medida na luta, podemos intimidámos a ponto de não ousarem maltratar-nos. Só isso poderá refrear a atividade de contenção, limitação e combate ao Partido Comunista; forçá-los a reconhecer-nos estatuto legal e impedi-los de arriscar com ligeireza uma ruptura. E por isso que a. luta constitui a via principal para eliminar o perigo de capitulação, provocar uma viragem favorável na situação e consolidar a cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista. Pelo que respeita ao nosso Partido e ao nosso exército, só a luta tenaz contra os obstinados pode possibilitar a elevação do moral e permitir a exacerbação da coragem entre as nossas fileiras, a união dos nossos quadros e o aumento das nossas forças; é o único processo de reforçar o exército e consolidar o Partido. Nas relações com as forças intermédias, só a luta tenaz contra os obstinados poderá conquistar para a nossa causa os hesitantes e apoiar os que simpatizam connosco — não existe outro processo. Do mesmo modo, a luta é a única política que faz com que a totalidade do Partido e do exército permaneça mentalmente preparada para afrontar as eventualidades de importância nacional e adote, no seu trabalho, as medidas necessárias para fazer face a tudo isso. Doutro modo repetem-se os erros de 1927(7).
3. Na apreciação da situação atual, precisamos de compreender que se, por um lado, está consideravelmente aumentado o perigo de capitulação, por outro é ainda possível eliminá-lo. Os atuais conflitos militares ainda têm um caráter local, não nacional; são ações de reconhecimento estratégico por parte do adversário(8), não anunciam já qualquer grande campanha de “exterminação dos comunistas”. São gestos que preparam a capitulação, não são já os sinais duma capitulação iminente. A nossa tarefa é aplicar com firmeza e energia a tripla política do Comité Central, única justa, que consiste em “desenvolver as forças progressistas”, “ganhar as forças intermédias” e “isolar as forças obstinadas”, a fim de eliminar o perigo de capitulação e provocar uma viragem favorável na situação. Corre-se um grande perigo se não se assinalam e corrigem os desvios de “esquerda” e direita operados na apreciação da situação e na definição das tarefas.
4. As batalhas de legítima defesa travadas pelos IV e V Destacamentos contra os ataques de Han Te-tchin e Li Tsum-jen, no leste de Anghuei, as da coluna de Li Sien-nien contra os ataques dos obstinados no centro e leste de Hupei, a luta resoluta do destacamento de Pem Siue-fum na região a norte do rio Huai, a expansão das forças de Ie Fei ao norte do Yangtsé e a deslocação de mais de vinte mil homens do VIII Exército em direção do sul, para atingirem a região norte do rio Huai, o leste de Anghuei e o norte de Quiansu(9), foram absolutamente necessárias e justas; eram medidas indispensáveis para que Cu Tchu-tom não se arriscasse a atacar-vos no sul do Anghuei e no sul do Quiansu. Por outras palavras, quanto mais êxitos obtemos no norte do Yangtsé e mais desenvolvemos aí as nossas forças, tanto mais Cu Tchu-tom hesitará em arriscar-se em ações inconsideradas no sul do Yangtsé e tanto mais fácil vos será cumprir o vosso papel no sul do Anghuei e do Quiansu. Do mesmo modo, quanto mais o VIII Exército, o Novo IV Exército e a Coluna de Guerrilheiros do Sul da China se desenvolvem no Noroeste, no Norte, no Centro e no Sul da China, e quanto mais o Partido Comunista se desenvolve no país, mais oportunidades haverá para eliminar o perigo de capitulação e provocar uma viragem favorável na situação, e tanto mais fácil será para o nosso Partido cumprir o seu papel em todos os pontos do país. Seria falso julgar de modo contrário e adotar uma tática oposta, quer dizer, pensar que quanto mais desenvolvemos as nossas forças tanto mais os obstinados tendem a capitular, ou que quanto mais concessões fazemos mais eles resistem aos invasores japoneses, ou ainda considerar que o momento de ruptura a escala nacional já chegou e a cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista não é mais possível.
5. Durante a Guerra de Resistência contra o Japão, a nossa política para o conjunto do país é uma política de frente única nacional anti-japonesa. A criação de bases democráticas anti-japonesas na retaguarda do inimigo constitui também parte dessa política. Vocês devem executar com firmeza as decisões do Comité Central sobre a questão do poder.
6. Nas regiões dominadas pelo Kuomintang, a nossa política é diferente da que aplicamos nas zonas de operações e nas regiões situadas na retaguarda do inimigo. Aí, a política deve consistir em trabalhar encobertos, com efetivos reduzidos mas eficazes, permanecer muito tempo na clandestinidade, acumular forças a espera do momento oportuno; há que guardar-se de toda a precipitação e não agir a descoberto Segundo os princípios de razão, vantagem e medida a nossa tática na luta contra os obstinados deve consistir em combater em terreno sólido e seguro, bem como em acumular forças, a coberto das leis e ordens kuomintanistas que possam servir-nos e de tudo o que for permitido pelos costumes sociais. Os membros do nosso Partido que se veem forçados pelo Kuomintang a ingressar neste último partido, devem aceder; devemos entrar em grande número nas organizações locais de pao-tsia, nas organizações de educação, nas organizações económicas e militares, e desenvolver amplamente o trabalho de frente única no “Exército Central” e entre as “tropas mistas”(10), quer dizer, arranjar amizades no seu seio. Em todas as regiões dominadas pelo Kuomintang, a política fundamental do Partido consiste igualmente em desenvolver as forças progressistas (organizações do Partido e movimentos de massas), ganhar as forças intermédias (burguesia nacional, nobres esclarecidos, “tropas mistas”, elementos intermédios do Kuomintang(11), elementos intermédios do “Exército Central”(12), a camada superior da pequena burguesia e os vários pequenos partidos e grupos, ou seja, um total de sete categorias) e isolar as forças obstinadas, a fim de eliminar o perigo de capitulação e provocar uma viragem favorável na situação. E ao mesmo tempo, precisamos estar inteiramente preparados para fazer face a qualquer eventualidade em escala local ou nacional. Nas regiões sob controle do Kuomintang, as organizações do nosso Partido devem manter-se rigorosamente secretas. Os efetivos do Birô do Sudeste(13), comités de província, comités especiais, comités de distrito e comités de sub-distrito (desde os secretários do Partido aos cozinheiros) devem passar todos por um controle severo e minucioso; é inadmissível que, nos órgãos dirigentes dos diversos escalões, haja indivíduos que suscitem um mínimo sequer de suspeita. Os nossos quadros devem ser protegidos no máximo; aqueles que, trabalhando em situação legal ou semi-legal, se encontrarem em risco de ser presos ou assassinados pelo Kuomintang, devem ser enviados para outras regiões, postos a salvo, ou transferidos para o exército. A nossa política, nas regiões ocupadas pelos japoneses (por exemplo em Xangai, Nanquim, Vuhu, Vuci e outras cidades, quer grandes, quer médias, quer pequenas, bem como no campo), é no essencial a mesma que seguimos nas regiões sob dominação do Kuomintang.
7. A presente diretiva tática foi definida pelo Birô Político do Comité Central na sua última sessão; os camaradas do Birô do Sudeste e da Sub-Comissão Militar são chamados a discuti-la, transmiti-la a todos os quadros do Partido e do exército e executá-la resolutamente.
8. São responsáveis pela transmissão da presente diretiva os camaradas Siam Im, para o sul do Ang-huei, e Tchen Yi, para o sul do Quiansu; a transmissão e a discussão devem concluir-se em um mês, a contar da recepção do presente telegrama. O camarada Siam Im fica responsabilizado por, conformemente a linha do Comité Central, tomar todas as medidas necessárias para a organização do trabalho do Partido e do exército, devendo informar o Comité Central sobre os respetivos resultados.
Notas de rodapé:
(1) Diretiva, para o Birô do Sudeste, redigida pelo camarada Mao Tsetung em nome do Comité Central do Partido Comunista da China. Na época em que foi redigida, o camarada Siam Im, membro do Comité Central do Partido Comunista e secretário do Birô do Sudeste, cairá em graves erros desviacionistas de direita. Não executava com firmeza a política do Comité Central; não ousava mobilizar com audácia as massas populares; não ousava alargar as regiões libertadas nem aumentar as forças armadas do povo nas regiões ocupadas pelo Japão, e subestimava a gravidade da ofensiva reacionária do Kuomintang, o que redundou numa falta de preparação moral e numa ausência das medidas de organização necessárias para repeli-la. Quando a diretiva chegou ao Birô do Sudeste, o camarada Tchen Yi, membro desse Birô e comandante do I Destacamento do Novo IV Exército, lançou-se imediatamente na respetiva execução, enquanto o camarada Siam Im insistia em não querer aplicá-la. Nada fazendo para ripostar aos eventuais ataques reacionários do Kuomintang, encontrou-se numa posição de fraqueza e impotência assim que Tchiang Kai-chek provocou o Incidente do Sul de Anghuei, em Janeiro de 1941, no qual foram praticamente aniquilados nove mil homens das nossas forças, tendo o próprio camarada Siam Im encontrado a morte as mãos dos reacionários. (retornar ao texto)
(2) Nome genérico dado a vários destacamentos de guerrilhas anti-japonesas, dirigidos pelo Partido Comunista da China no sul do país. (retornar ao texto)
(3) Cu Tchu-tom, Lem Sin e Han Te-tchin, generais reacionários enviados pelo governo kuomintanista para o Quian-su, Tchequiam, Quiansi e sul do Anghuei. (retornar ao texto)
(4) Referência aos IV e V Destacamentos do Novo IV Exército, empenhados, na época, em criar bases de apoio anti-japonesas na região do rio Huai, fronteira do Quiansu com o Anghuei. (retornar ao texto)
(5) Unidades do Novo IV Exército que, comandadas pelos camaradas Ie Fei e Tcham Iun-yi, estavam então empenhadas numa guerra de guerrilhas contra os invasores japoneses e na criação de bases de apoio anti-japonesas no norte do Yangtsé (Quiansu central e leste do Anghuei). (retornar ao texto)
(6) Em Março-Abril de 1940, Li Pin-sien, governador kuomintanista da província de Anghuei, e Li Tsum-jen, comandante da V Zona de Guerra (caudilhos militares da camarilha do Cuansi), passaram a importantes ataques contra as unidades do Novo IV Exército que se encontravam na região fronteiriça Anghuei-Hupei. O camarada Tcham Iun-yi, que comandava as unidades do Novo IV Exército na região a norte do Yangtsé, e o camarada Li Sien-nien, que comandava a Coluna de Assalto do Hupei-Honan, protestaram energicamente contra esses crimes sabotadores da Guerra de Resistência e rechaçaram os ataques de Li Pin-sien e Li Tsum-jen. (retornar ao texto)
(7) Erros oportunistas de direita de Tchen Tu-siu. (retornar ao texto)
(8) Trata-se dos kuomintanistas obstinados encabeçados por Tchiang Kai-chek. (retornar ao texto)
(9) Em Janeiro de 1940, para reforçar o Novo IV Exército que combatia os invasores japoneses na região a norte do rio Huai, no leste do Anghuei e no norte de Quiansu, o Comité Central do Partido Comunista da China transferiu para o sul mais de vinte mil homens que se encontravam no Norte da China e pertenciam ao VIII Exército. Essas forças conseguiram atingir o norte de Quiansu. (retornar ao texto)
(10) O grupo de Tchiang Kai-chek dava as suas próprias forças o nome de “Exército Central” e chamava “tropas mistas” as forças dos outros grupos do Kuomintang. Estas últimas eram objeto de medidas discriminatórias por parte da camarilha de Tchiang Kai-chek e, em comparação com o “Exército Central”, encontravam-se inferiormente abastecidas. (retornar ao texto)
(11) Trata-se de grupos e indivíduos kuomintanistas que, em determinado período, não assumiram em termos relativos uma atitude ativa ou até se mantiveram neutros, em matéria de oposição ao Partido Comunista. (retornar ao texto)
(12) “Exército Central” do Kuomintang era uma força dirigida pessoalmente por Tchiang Kai-chek. Durante a resistência ao Japão, alguns dos oficiais e unidades desse exército passaram, isoladamente e em certa medida, a uma atitude passiva ou neutral em matéria de combate ao Partido Comunista. Por “elementos intermédios do Exército Central” designam-se justamente esses elementos. (retornar ao texto)
(13) De 1938 a 1941, esse birô era o órgão que, em representação do Comité Central do Partido Comunista da China, dirigia os trabalhos relativos ao Sudeste (províncias de Quiansu, Tchequiam, Anghuei, Quiansi, Hupei e Hunan). (retornar ao texto)
Inclusão | 22/10/2014 |