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Desde o último Inverno, os quadros superiores do nosso Partido estão estudando o problema das duas linhas da história do Partido. Isso permitiu-lhes elevar consideravelmente o nível político. Muitas questões foram levantadas pelos camaradas ao longo desse estudo; sobre algumas questões importantes, o Birô Político do Comitê Central chegou às conclusões seguintes:
1. Sobre a atitude a adoptar no estudo da nossa experiência histórica. O Comitê Central sustenta que devemos ajudar os quadros a adquirir, do ponto de vista ideológico, uma compreensão perfeita das questões relativas à história do Partido e que devemos ao mesmo tempo adoptar uma política de indulgência nas decisões que tomamos com relação aos camaradas que cometeram erros no passado, a fim de que, por um lado, os quadros compreendam a fundo a experiência histórica do nosso Partido e não voltem a cair nos erros do passado e, por outro lado, para que possamos unir todos os camaradas para a obra comum. O nosso Partido, ao longo da sua história, travou grandes lutas contra as linhas erradas de Tchen Tu-siu e Li Li-san; essas lutas eram absolutamente necessárias. Contudo, registaram-se falhas nos métodos usados. Por um lado, os quadros do Partido não foram levados a compreender a fundo, do ponto de vista ideológico, as causas desses erros, as circunstâncias em que foram cometidos e as medidas detalhadas para corrigi-los, de tal modo que erros de idêntica natureza voltaram a repetir-se. Por outro lado, insistiu-se demasiado nas responsabilidades pessoais de cada um; e também não conseguimos unir maior número de pessoas para a obra comum. Que essas duas falhas nos sirvam de advertência. Desta vez, no exame das questões relativas à história do Partido, devemos concentrar a nossa atenção não sobre as responsabilidades pessoais de certos camaradas, mas sobre a análise das circunstâncias em que os erros foram cometidos, sobre o que eram esses erros, suas origens sociais, históricas e ideológicas; há que proceder segundo o princípio de “tirar lições dos erros passados para evitar erros no futuro e tratar a doença para salvar o doente”, a fim de atingir-se o duplo objetivo de esclarecimento ideológico e unidade entre os camaradas. A circunspeção com que resolvemos os casos dos camaradas interessados, não os descuramos nem lhes causamos prejuízo, é uma prova da vitalidade e florescimento do nosso Partido.
2. Toda a questão, seja qual for, deve ser tratada de modo analítico, havendo que evitar de rejeitar tudo em bloco. Por exemplo, a linha seguida pela direção central, durante o período que vai da Quarta Sessão Plenária(1) à Reunião de Tsuen-yi, deve ser analisada sob dois aspetos. Há que notar, por um lado, que a tática política e militar e a política de quadros, adotadas pelo órgão dirigente central nesse período, estavam erradas nos seus aspetos principais e, por outro lado, salientar que os camaradas que cometeram erros não estavam em divergência conosco sobre questões tão fundamentais como a luta contra Tchiang Kai-chek, a prossecução da revolução agrária e a luta armada do Exército Vermelho. O próprio aspeto tático exige aliás uma análise. Sobre a questão agrária, por exemplo, o erro desses camaradas foi adoptar uma política ultra-esquerda por força da qual não se atribuía qualquer parcela de terra aos senhores de terras e se distribuíam as terras más aos camponeses ricos; mas eles estavam de acordo conosco sobre o confisco das terras dos senhores de terras, para distribuí-las aos camponeses com pouca ou nenhuma terra. A análise concreta duma situação concreta, disse Lénine, é “o mais essencial, a alma viva do Marxismo”(2). Muitos dos nossos camaradas, que não possuem um espírito analítico, não procuram analisar nem estudar de maneira repetida e aprofundada as coisas ou fenômenos complexos, preferindo chegar a conclusões simplistas, absolutamente afirmativas ou absolutamente negativas. O fato de não haver artigos analíticos nos nossos jornais e de o hábito de análise não ser suficientemente cultivado no seio do Partido mostra que tais insuficiências continuam a existir entre nós. Há que remediar de agora em diante esse estado de coisas.
3. Sobre a discussão dos documentos do VI Congresso do Partido. Importa notar que esse congresso adoptou uma linha justa no essencial, pois definiu a revolução atual como uma revolução democrático-burguesa e a situação da época como um intervalo entre dois períodos de auge revolucionário, condenou o oportunismo e o putchismo e promulgou o Programa em Dez Pontos(3). Tudo isso foi justo. Mas o Congresso teve também os seus defeitos. Citemos entre tais lacunas ou erros, o de não ter posto em evidência o caráter extremamente prolongado da revolução chinesa e a enorme importância das bases rurais nessa revolução. Seja como for, porém, o Congresso desempenhou um papel progressista na história do nosso Partido.
4. A direção central provisória formada em Xangai, em 1931, e a Quinta Sessão Plenária(4) que esta convocou a seguir, eram ou não legais? O Comitê Central estima que ambas eram legais mas importa sublinhar que o processo de eleição era defeituoso, havendo que reter isso como lição da história.
5. Sobre a questão das fações na história do Partido. Convém indicar que em consequência de várias modificações ocorridas depois da Reunião de Tsuen-yi, as fações que existiam no passado e desempenharam um papel nefasto na história do Partido, desapareceram. No nosso estudo atual sobre as duas linhas no seio do Partido, torna-se absolutamente necessário mostrar que elas realmente existiram e desempenharam esse papel nefasto. Mas seria falso pensar que existem ainda fações com os errôneos programas políticos e formas de organização do passado, depois de todas as modificações registadas no seguimento das inúmeras lutas que se desenrolaram no seio do Partido: em Janeiro de 1935, na Reunião de Tsuen-yi; em Outubro de 1938, na Sexta Sessão Plenária do Comitê Central eleito pelo VI Congresso; em Setembro de 1941, na Reunião Ampliada do Birô Político(5); durante o movimento de retificação realizado em todo o Partido em 1942, e no movimento começado no Inverno de 1943 para estudo das lutas que opuseram as duas linhas no interior do Partido. As velhas fações desapareceram. O que ficou são sobrevivências das concepções dogmáticas e empíricas que, aliás, podemos eliminar, prosseguindo em profundidade o nosso movimento de retificação. Atualmente, porém, constata-se quase em todo o nosso Partido um fenômeno grave: o particularismo montanhês(6), tendência que se carateriza pela cegueira política. Por exemplo, há uma falta de compreensão, respeito e solidariedade entre r os camaradas de diversas unidades, que se origina em diferenças relativas ao passado de luta, diferenças entre as regiões onde trabalham (entre tal e tal base de apoio, entre as regiões ocupadas pelos japoneses e as regiões controladas pelo Kuomintang e as bases revolucionárias) e diferenças entre os seus departamentos de trabalho (entre tal e tal unidade do exército, entre tal trabalho e tal outro); esse fenômeno parece banal mas, na realidade, prejudica seriamente a unidade do Partido e o reforço da sua capacidade de combate. As raízes sociais e históricas do particularismo montanhês residem no fato de, na China, a pequena burguesia ser particularmente numerosa e as nossas bases rurais terem estado, desde há muito, isoladas umas das outras pelo inimigo; a causa subjetiva é a insuficiência de educação no interior do Partido. Assinalar essas causas, persuadir os nossos camaradas a eliminar a cegueira e a elevar o nível de consciência política, eliminar o que os separa ideologicamente, promover a compreensão e respeito mútuos, de modo a realizar a grande unidade de todo o Partido, tal é a importante tarefa que se nos impõe hoje em dia.
A clara compreensão dessas questões por todos os membros do Partido assegurará não só o sucesso do estudo que fazemos atualmente como também a vitória da revolução chinesa.
A situação atual apresenta duas caraterísticas: uma é o reforço da frente antifascista e o declínio da frente fascista e a outra, no próprio seio da frente antifascista, é o crescimento das forças populares e o declínio das forças anti-povo. A primeira caraterística é evidente e constata-se facilmente. Hitler será brevemente vencido e os agressores japoneses correm também para a derrota. A segunda caraterística não está ainda tão evidente, nem todos podem distingui-la facilmente, mas está a tornar-se cada dia mais manifesta, tanto na Europa, na Inglaterra e nos Estados Unidos, como na China.
Deve explicar-se o crescimento das forças populares na China com o nosso Partido ocupando o centro do quadro.
Podem distinguir-se três etapas no desenvolvimento do nosso Partido durante a Guerra de Resistência. A primeira vai de 1937 a 1940. Em 1937 e 1938, ou seja, durante os dois primeiros anos dessa etapa, os militaristas japoneses consideravam seriamente o Kuomintang e faziam pouco caso do Partido Comunista, pelo que lançavam as suas forças principais contra a frente do Kuomintang; na sua política relativamente a este último, a ofensiva militar constituía o elemento principal e a ação política para incitá-lo a capitular era o elemento secundário. Quanto às bases anti-japonesas dirigidas pelo nosso Partido, dispensavam-lhes pouca importância, julgando que não representavam mais que um punhado de comunistas empenhados em ações de guerrilhas. Mas depois de ocuparem Vuhan, em Outubro de 1938, os imperialistas japoneses começaram a mudar de política, tomando a sério o Partido Comunista e fazendo pouco caso do Kuomintang; com relação a este, a ação política para incitá-lo a capitular transformou-se no elemento essencial e a ofensiva militar no elemento secundário. Ao mesmo tempo, deslocaram pouco a pouco as suas forças principais, para lançá-las contra os comunistas, dando-se conta de que já não era o Kuomintang, mas sim o Partido Comunista, que deviam recear. Em 1937 e 1938, o Kuomintang despendia mais esforços na Guerra de Resistência e as suas relações com o nosso Partido ainda eram relativamente boas; apesar das inúmeras restrições, ele deixava ao movimento popular anti-japonês uma maior liberdade de ação. Mas depois da queda de Vuhan, as suas derrotas na guerra e a sua hostilidade crescente ao Partido Comunista levaram-no a tornar-se cada vez mais reacionário, mais ativo na luta anticomunista e mais passivo na Guerra de Resistência. Em consequência dos reveses sofridos na guerra civil, o Partido Comunista não tinha em 1937 mais do que cerca de quarenta mil membros organizados e um exército que dificilmente excedia trinta mil homens. Era por isso que os militaristas japoneses lhe atribuíam tão pouca importância. Mas em 1940 os efetivos do Partido atingiam já os oitocentos mil membros, o nosso exército chegou a cerca de quinhentos mil homens e a população das bases de apoio perfazia um total de perto de cem milhões de habitantes, se contamos todos os que só a nós pagavam impostos em cereais e ainda os que deviam, além disso, pagá-los também às autoridades japonesas e fantoches(7). Em poucos anos o nosso Partido estendeu tanto o teatro de operações formado pelas regiões libertadas que conseguimos impedir, durante cinco anos e meio, toda a ofensiva estratégica das forças principais do invasor japonês contra a frente do Kuomintang, conseguimos atrair sobre nós essas forças, e fazer sair o Kuomintang da situação crítica reinante no seu próprio teatro de operações e sustentar uma guerra de resistência prolongada. Mas, durante essa primeira etapa, certos camaradas no nosso Partido cometeram um erro: subestimaram o imperialismo japonês (foi assim que ignoraram o caráter prolongado e cruel da guerra, preconizaram a primazia da guerra de movimento realizada com grandes formações e minimizaram o papel da guerra de guerrilhas), contaram com o Kuomintang e, por falta de lucidez, não souberam aplicar uma política independente (donde o seu capitulacionismo frente ao Kuomintang e a sua hesitação em mobilizar com audácia as massas para criar bases democráticas anti-japonesas na retaguarda do inimigo e aumentar amplamente os efetivos das forças armadas dirigidas pelo nosso Partido). Por outro lado, os novos membros, recrutados em grande número pelo Partido, não tinham experiência e as nossas bases de apoio, de estabelecimento recente por detrás das linhas inimigas, não estavam ainda consolidadas. Durante essa etapa, manifestou-se uma certa suficiência no nosso Partido, em resultado do desenrolar dos acontecimentos, da expansão do nosso Partido e nossas forças armadas, e muitos dos nossos membros encheram-se de orgulho. Não obstante, nessa etapa vencemos o desvio de direita no Partido e aplicamos uma política independente; não somente golpeamos o imperialismo japonês, criamos bases de apoio e desenvolvemos o VIII Exército e o Novo IV Exército, nós também derrotamos a primeira campanha anticomunista do Kuomintang.
Os anos 1941 e 1942 constituem a segunda etapa. Com vista à preparação e prossecução da guerra contra a Inglaterra e os Estados Unidos, os imperialistas japoneses intensificaram a aplicação da política que tinham adoptado após a queda de Vuhan, fazendo incidir os ataques principais sobre o Partido Comunista e não mais sobre o Kuomintang; concentraram efetivos ainda maiores, dentre as suas forças principais, à volta de cada base de apoio dirigida pelo Partido Comunista, realizaram sucessivas campanhas de “limpeza” e aplicaram a sua política brutal de “queimar tudo, matar tudo e pilhar tudo”, centrando os ataques no nosso Partido. Assim, este último viveu nesses dois anos uma situação extremamente difícil. As nossas bases de apoio reduziram-se, a população diminuiu para menos de cinquenta milhões, o VIII Exército ficou reduzido a pouco mais de trezentos mil homens, as nossas perdas em quadros foram muito pesadas e as nossas finanças e economia muito duramente afetadas. Simultaneamente, o Kuomintang, sentindo-se com as mãos livres, atacou o nosso Partido por todos os processos, desencadeou uma segunda campanha anticomunista e conjugou os seus ataques com os dos imperialistas japoneses. Mas a situação difícil educou-nos, a nós comunistas, e aprendemos muito. Aprendemos a combater as campanhas de “limpeza” lançadas pelo inimigo, a sua política de “desgaste”(8), a sua campanha de “reforço da segurança pública”(9), a sua política de “queimar tudo, matar tudo e pilhar tudo” e de arrancar aos nossos retratações políticas. Aprendemos, ou começamos a aprender, a prática do “sistema dos três terços” nos órgãos do poder da frente única, a prática da política agrária, a realização do movimento de retificação dos três estilos — estilo de estudo, estilo do Partido nas suas relações internas e externas e estilo dos nossos escritos —, a prática da política de “menos tropas mas melhores e uma administração simplificada”, assim como a da unificação da direção, a realização do movimento de “apoio ao governo e preocupação pelo povo”, enfim, o desenvolvimento da produção; e eliminamos vários defeitos, entre os quais essa suficiência manifestada em muitos camaradas no decorrer da primeira etapa. Embora tendo sofrido pesadas perdas durante essa segunda etapa, nós aguentamo-nos; por um lado repelimos os ataques do invasor japonês e, por outro lado, rechaçamos a segunda campanha anticomunista do Kuomintang. Em resultado dos ataques do Kuomintang ao Partido Comunista e das lutas que em legítima defesa tivemos de sustentar contra a sua política anticomunista, surgiu novamente no Partido uma forma de desvio esquerdista; por exemplo, acreditando numa ruptura próxima da cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista, lançaram-se excessivos ataques contra os senhores de terras e não se cuidou de unir os não-comunistas. Mas também vencemos esse desvio. Na luta contra as fricções criadas pelo Kuomintang, afirmamos o princípio de razão, vantagem e medida; no trabalho da frente única, sublinhamos a necessidade de unidade e luta e busca da unidade através da luta, o que nos permitiu manter a frente única nacional anti-japonesa nas nossas bases de apoio e no conjunto do país.
A terceira etapa vai de 1943 até hoje. As nossas medidas políticas tornaram-se mais eficazes; em particular, o movimento de retificação dos três estilos e o desenvolvimento da produção deram resultados tão radicais que o nosso Partido atingiu no plano ideológico e material uma posição inexpugnável. Além disso, aprendemos, ou começamos a aprender, a fazer o controle dos quadros e a lutar contra os agentes secretos. Foi nessas circunstâncias que as nossas bases de apoio tornaram a expandir-se, a sua população ascendeu a mais de oitenta milhões de habitantes — se contamos todos os que só a nós pagam impostos em cereais e ainda os que devem, além disso, pagá-los também às autoridades japonesas e fantoches — o nosso exército viu os seus efetivos subirem a quatrocentos e setenta mil homens e a milícia popular a dois milhões e duzentos e setenta mil, tendo o nosso Partido elevado o seu número de membros para mais de novecentos mil.
Em 1943, os militaristas japoneses não fizeram grandes alterações na política com a China e continuaram a dirigir contra o Partido Comunista os ataques principais. Há mais de três anos, isto é, a partir de 1941, que mais de sessenta por cento das tropas japonesas na China caem com todo o seu peso sobre as bases anti-japonesas dirigidas pelo nosso Partido. Durante esses três anos e tal, as forças kuomintanistas deixadas na retaguarda inimiga — várias centenas de milhares de homens — foram incapazes de resistir aos golpes do imperialismo japonês; cerca de metade rendeu-se e metade quase foi aniquilada; só um pequeno número de homens sobreviveu, mas bateu em retirada. As tropas que capitularam frente ao inimigo voltaram-se em seguida contra o nosso Partido, o qual teve portanto de resistir a mais de noventa por cento das tropas fantoches. O Kuomintang teve de resistir a menos de quarenta por cento das forças japonesas e a menos de dez por cento das tropas fantoches. Ao longo dos cinco anos e meio que transcorreram após a queda de Vuhan em Outubro de 1938, os militaristas japoneses não lançaram qualquer ofensiva estratégica contra a frente do Kuomintang; apenas se registaram umas quantas operações relativamente importantes (no Tchequiam-Quiansi, em Tchancha, no ocidente de Hupei, no sul do Honan e em Tchante), que no fundo não foram senão puras incursões, ficando concentrado o essencial da sua atenção sobre as bases anti-japonesas dirigidas pelo nosso Partido. Em tal situação, a política adoptada pelo Kuomintang foi “retirar-se para a montanha” e “ver os outros pelejar”, contentando-se com parar os golpes quando o inimigo atacava e cruzar os braços quando este se retirava. Em 1943, o Kuomintang passou a uma politica interna ainda mais reacionária e lançou a terceira campanha anticomunista que, igualmente, fizemos fracassar.
De 1943 à Primavera deste ano, os agressores japoneses não cessaram de perder terreno no teatro do Pacífico, enquanto que os Estados Unidos intensificaram a sua contraofensiva; agora, a oeste, Hitler cambaleia sob os golpes poderosos do Exército Vermelho soviético. Para evitar a morte, os imperialistas japoneses conceberam a ideia de forçar as vias férreas Pepim-Hancou e Cantão-Hancou em todo o seu comprimento, e, vendo que a sua política de incitamento do Kuomintang de Tchuntchim à capitulação ainda não dera resultado, concluíram ser necessário vibrar outro golpe; por isso elaboraram para este ano o plano de ofensiva de grande envergadura contra a frente do Kuomintang. A campanha de Honan(10) prossegue há mais de um mês. O inimigo não empenhou nela mais que umas quantas divisões, mas mesmo assim as tropas do Kuomintang, constituídas por várias centenas de milhares de homens, debandaram sem dar batalha; só as tropas mistas foram capazes de opor certa resistência. Entre as forças comandadas por Tam En-po, os oficiais estão isolados dos soldados e as tropas isoladas da população; é a desordem completa, mais de dois terços dos efetivos perderam-se. Do mesmo modo, as divisões que Hu Tsum-nan enviou para o Honan ruíram ao primeiro embate. Toda essa situação resulta exclusivamente da política reacionária seguida com rigor pelo Kuomintang nos últimos anos. Durante os cinco anos e meio após a queda de Vuhan, o teatro de operações das regiões libertadas dirigidas pelo Partido Comunista assumiu a pesada tarefa de resistir às forças principais do invasor e dos fantoches; embora sejam possíveis certas mudanças no futuro, estas só poderão ser passageiras, pois o Kuomintang, que se encontra num estado de degeneração extrema em resultado da sua política reacionária de resistência passiva ao Japão e luta ativa contra os comunistas, sofrerá de certeza graves reveses. Isso tornará ainda mais pesada a tarefa do nosso Partido no combate ao invasor e seus fantoches. O que o Kuomintang ganhou, por ficar a olhar para os acontecimentos de braços cruzados durante cinco anos e meio, foi a perda da sua capacidade de combate. O que o Partido Comunista ganhou por lutar duramente durante cinco anos e meio, foi o reforço da sua capacidade de combate. Isto é o que decidirá do destino da China.
Como os camaradas podem constatar, nos sete anos que transcorreram desde Julho de 1937, as forças democráticas populares dirigidas pelo nosso Partido passaram sucessivamente pelas três fases seguintes: ascenso, descenso, novo ascenso. Repelimos os ataques brutais do invasor japonês, criamos extensas bases revolucionárias, desenvolvemos consideravelmente o Partido e o exército, derrotamos três grandes campanhas anticomunistas lançadas pelo Kuomintang e superamos as concepções erradas, de direita e de “esquerda”, no seio do Partido; o Partido ganhou rica e preciosa experiência. Tal é o balanço do nosso trabalho nos últimos sete anos.
A tarefa atual é prepararmo-nos para assumir responsabilidade ainda maior. Devemos preparar-nos para expulsar da China o agressor japonês, sejam quais forem as circunstâncias. Para que o Partido possa assumir tal responsabilidade, precisamos de desenvolver e consolidar ainda mais o Partido, o exército e as bases de apoio, preocupar-nos com o trabalho nas grandes cidades e ao longo das principais vias de comunicação e fazer com que o trabalho nas cidades ganhe a mesma importância que o das bases de apoio.
Quanto às bases de apoio, os nossos esforços permitiram-nos ampliá-las extensamente na primeira etapa, sem que pudéssemos no entanto consolidá-las, razão por que se reduziram no decurso da segunda etapa, assim que sofreram violentos golpes do inimigo. Na segunda etapa, todas as bases anti-japonesas dirigidas pelo nosso Partido passaram por séria prova, de tal maneira que se registaram nelas grandes progressos relativamente à primeira etapa; os quadros e os membros do Partido deram um grande passo, quanto a nível ideológico e político, e aprenderam muita coisa que antes ignoravam. Mas o esclarecimento ideológico e o estudo da nossa política exigem tempo, e nós temos ainda muito que aprender. O Partido ainda não está suficientemente forte, suficientemente unido e consolidado, não podendo portanto assumir uma responsabilidade maior do que a que assume atualmente. Daqui em diante, a questão está em desenvolver e consolidar ainda mais o nosso Partido, o nosso exército e as nossas bases de apoio no desenrolar contínuo da Guerra de Resistência. Isso constitui o primeiro ponto indispensável na nossa preparação ideológica e material para a gigantesca tarefa do futuro. Sem tal preparação, não poderemos expulsar o invasor japonês nem libertar a totalidade da China.
O nosso trabalho nas grandes cidades e ao longo das principais vias de comunicação foi sempre muito insuficiente. Se não nos esforçamos agora por reunir à volta do Partido as dezenas de milhões de homens que constituem as massas trabalhadoras e os demais elementos da população, oprimidos pelos imperialistas japoneses no interior das grandes cidades e ao longo das principais linhas de comunicação, e se não preparamos insurreições armadas das massas, as nossas tropas e as nossas bases rurais ficarão impossibilitadas de coordenar-se com as cidades e terão de enfrentar incontáveis dificuldades. Por mais de dez anos vivemos nas regiões rurais e tivemos de encorajar os camaradas a conhecer bem o campo e a edificar bases de apoio rurais. No decorrer desse período, a tarefa de preparar insurreições nas cidades, tal como fora decidido pelo VI Congresso do Partido, não foi executada, nem podia sê-lo. Mas, agora, a situação é diferente e a resolução do VI Congresso há de ser executada depois do VII Congresso. Este reunir-se-á provavelmente dentro em breve e há de discutir a questão do reforço do nosso trabalho nas cidades e da conquista da vitória em escala nacional.
A conferência industrial da região fronteiriça Xensi-Cansu-Ninsia, atualmente reunida, reveste grande importância. Em 1957 a região fronteiriça tinha apenas setecentos operários; em 1942 esse número passou a sete mil e, agora, chegou a doze mil. Essas cifras não devem de modo algum considerar-se com ligeireza. Enquanto estamos nas bases de apoio temos de aprender a administrar bem a indústria, o comércio e as comunicações das grandes cidades, pois doutro modo não saberemos o que fazer quando chegar o momento. Assim, o segundo ponto indispensável da nossa preparação ideológica e material é tomar medidas com vista a insurreições armadas nas grandes cidades e ao longo das principais linhas de comunicação e aprender a administrar a indústria e o comércio. Sem essa preparação seremos igualmente incapazes de expulsar o invasor japonês e libertar a totalidade da China.
Para conquistar novas vitórias devemos apelar para que os quadros se desembaracem das trouxas e ponham a máquina a andar. “Desembaraçar-se das trouxas” significa libertar o espírito daquilo que o atravanca. Muitas coisas podem converter-se em fardos, em cargas, se nos aferramos a elas cega e inconscientemente. Vejamos alguns exemplos: quem tenha cometido erros pode começar a sentir que esses erros vão pesar-lhe eternamente, e ficar por consequência desencorajado; quem não tenha cometido erros pode começar a sentir-se infalível, convertendo-se então num vaidoso. A falta de sucesso no trabalho pode conduzir ao pessimismo e ao abatimento, enquanto que o êxito pode provocar vaidade e arrogância. Um camarada que tenha curta história de luta pode, por esse fato, começar a furtar-se às responsabilidades, ao passo que um veterano pode começar a julgar-se infalível em virtude do seu longo passado de luta. Um camarada operário ou camponês, orgulhoso pela sua origem de classe, pode começar a olhar de cima para um intelectual, enquanto que este, em virtude dos quantos conhecimentos que possui, pode começar a manifestar desdém pelo camarada operário ou camponês. Toda a qualificação profissional pode converter-se num capital que conduz à arrogância, vaidade e desprezo pelos outros. A própria idade que se tem pode passar a constituir motivo para orgulho: os jovens que se julgam inteligentes e capazes podem começar a desprezar os velhos, e estes, julgando-se cheios de experiência, podem começar a desprezar os jovens. Tudo isso pode constituir uma carga, um fardo, se não se possui espírito crítico. Uma importante razão por força da qual certos camaradas se colocam acima das massas, se isolam destas e cometem erros atrás de erros, está no fato de carregarem ainda essas trouxas. Assim, constitui condição prévia e indispensável para ligar-se às massas e cometer cada vez menos erros, examinar as trouxas que se carregam, desembaraçar-se delas e libertar pois o espírito. Por várias ocasiões, na história do nosso Partido, se manifestou séria vaidade nas nossas fileiras, pagando nós caro por isso. Primeiro foi durante a primeira metade de 1927. O Exército da Expedição do Norte tinha chegado a Vuhan, e certos camaradas ficaram tão inchados, tão vaidosos, que esqueceram que o Kuomintang se aprestava para atacar-nos. O resultado foi o erro da linha de Tchen Tu-siu, que conduziu à derrota da revolução. A segunda vez foi em 1930. Aproveitando-se da guerra de grande envergadura que Tchiang Kai-chek fazia a Fom Iu-siam e Ien Si-xan(11), o Exército Vermelho ganhou algumas batalhas, e, de novo, certos camaradas incharam e ficaram vaidosos. O resultado foi o erro da linha de Li Li-san, que causou por seu turno perdas às forças revolucionárias. A terceira vez foi em 1931. O Exército Vermelho tinha esmagado a terceira campanha de “cerco e aniquilamento” lançada pelo Kuomintang, e, logo a seguir, ante o ataque nipônico, o povo da China desencadeou o impetuoso movimento anti-japonês; certos camaradas incharam e envaideceram outra vez. O resultado foi um erro de linha ainda mais grave, que nos custou cerca de noventa por cento das forças revolucionárias que havíamos formado com tanto esforço. A quarta vez foi em 1938. Tinha-se iniciado a Guerra de Resistência e estabelecido a Frente Única; e de novo certos camaradas houve que incharam e se puseram vaidosos, o que os levou a um erro algo semelhante à linha de Tchen Tu-siu. E o trabalho revolucionário voltou a sofrer enormemente nos setores em que se sentiu mais intensamente o efeito do erro ideológico desses camaradas. Em todo o Partido, os camaradas devem pois extrair uma lição desses exemplos de vaidade e erro. Recentemente, nós fizemos reimprimir o ensaio de Cuo Mo-jou sobre Li Tse-tchem(12), a fim de que os camaradas retirem um ensinamento dessa história e para que ninguém repita o erro de se envaidecer nos momentos de vitória.
“Pôr a máquina a andar” significa usar utilmente o órgão do pensamento. Certos camaradas, embora nenhuma trouxa lhes atravanque o espírito e não obstante o mérito de estarem ligados às massas, não sabem refletir ou não se dispõem a usar o cérebro para pensar intensamente, do que resulta não conseguirem cumprir as tarefas. Outros recusam-se a servir-se do cérebro porque levam trouxas que lhes embotam a inteligência. Lénine e Estáline aconselhavam com frequência as pessoas a saber refletir corretamente, e nós damos igual conselho. A função especial dessa máquina que é o cérebro é pensar. Mêncio dizia que o “trabalho do espírito é pensar.”(13) Ele definiu corretamente as funções do cérebro. Devemos usar sempre o cérebro e refletir bem sobre todas as coisas. Há um ditado que diz que “basta um franzir de sobrolho para que um estratagema venha à mente” ou, por outras palavras, muita reflexão engendra sabedoria. Para nos desembaraçarmos do vício de agir às cegas, tão generalizado no nosso Partido, devemos encorajar os camaradas a refletir, a dominar o método de análise e a cultivar o hábito de analisar. Há muito pouco desse hábito no nosso Partido. Se nos desembaraçarmos das trouxas e pusermos a máquina a andar, se marcharmos com cargas ligeiras e soubermos refletir, venceremos seguramente.
Notas de rodapé:
(1) Quarta Sessão Plenária do Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da China. A sessão realizou-se em Janeiro de 1931. (retornar ao texto)
(2) Ver V. I. Lénine, “O Comunismo”. Criticando o dirigente comunista húngaro Bela Kun, Lenine dizia: "Ele descurava aquilo que é o mais essencial, a alma viva do Marxismo, a análise concreta duma situação concreta." (retornar ao texto)
(3) Em Julho de 1928, o VI Congresso do Partido Comunista da China adoptou um programa em dez pontos: 1) derrubar a dominação do imperialismo; 2) confiscar as empresas e bancos do capital estrangeiro; 3) unificar a China e reconhecer o direito de auto-determinação nacional; 4) derrubar o governo dos caudilhos militares do Kuomintang; 5) estabelecer o poder das assembleias dos delegados dos operários, camponeses e soldados; 6) instituir a jornada de oito horas de trabalho, aumentar os salários, estabelecer o socorro para os desempregados, assistência social, etc; 7) confiscar todas as terras da classe dos senhores de terras e distribuir terras aos camponeses; 8) melhorar as condições de vida dos soldados, distribuir-lhes terras e dar-lhes trabalho; 9) abolir todas as taxas e outras contribuições exorbitantes e adoptar um imposto progressivo único; 10) união com o proletariado mundial e com a URSS. (retornar ao texto)
(4) Quinta Sessão Plenária do Comitê Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da China. A sessão realizou-se em Janeiro de 1934. (retornar ao texto)
(5) A reunião examinou a questão da linha política seguida pelo Partido nos diversos períodos da sua história, particularmente no decurso da Segunda Guerra Civil Revolucionária. (retornar ao texto)
(6) O particularismo montanhês era uma tendência para a formação de fações que resultou sobretudo das condições duma guerra de guerrilhas prolongada, em que as bases revolucionárias rurais estavam dispersas e isoladas umas das outras. As primeiras bases de apoio foram, na maioria, estabelecidas nas montanhas. Cada uma considerava-se unidade à parte, semelhante a um maciço isolado; daí a expressão particularismo montanhês para designar essa tendência errada. (retornar ao texto)
(7) Nas regiões relativamente estáveis das bases de apoio, a população só pagava impostos em cereais ao governo democrático anti-japonês. Mas nas regiões periféricas dessas bases e nas zonas de guerrilhas, submetidas constantemente à fustigação pelo inimigo, as populações eram muitas vezes obrigadas a realizar outro pagamento em cereais às autoridades japonesas e fantoches. (retornar ao texto)
(8) Após o fracasso das suas grandes ofensivas contra as bases de apoio, os imperialistas japoneses passaram do método de “engolir” rápido ao método do “desgaste” lento e progressivo do território dessas bases. Com a consolidação metódica dos territórios conquistados, o lançamento de ataques cuidadosamente preparados e a ocupação de setor após setor, tentavam reduzir o território das bases de apoio anti-japonesas e alargar o das regiões que controlavam. (retornar ao texto)
(9) Em Março de 1941, o invasor japonês e os traidores chineses no Norte da China anunciaram uma “campanha de reforço da segurança pública” que envolvia buscas, estabelecimento do sistema de caução solidária pao-tsia, controle de identidades em cada lar e organização de tropas fantoches, tudo para eliminar as forças anti-japonesas. (retornar ao texto)
(10) Em Março de 1944, o agressor japonês desencadeou a campanha de Honan onde engajou cinquenta a sessenta mil homens. Os quatrocentos mil homens do exército kuomintanista, comandados por Tchiam Tim-ven, Tam En-po e Hu Tsum-nan, debandaram literalmente diante do invasor. Trinta e oito distritos, entre os quais Tchendjou e Luoiam, caíram uns após outros nas mãos do inimigo. Tam En-po perdeu duzentos mil homens. (retornar ao texto)
(11) Guerra de grande envergadura entre caudilhos militares, ao longo das vias férreas Lom-hai e Tientsim-Pucou. Essa guerra durou seis meses, de Maio a Outubro de 1930, e as perdas sofridas pelas duas partes elevaram-se a trezentos mil homens. (retornar ao texto)
(12) Ensaio escrito por Cuo Mo-jou em 1944, sob o título Tricentenário da Insurreição de 1644, em comemoração da vitória do levantamento camponês comandado por Li Tse-tchem, nos últimos anos da dinastia Mim. Aí se explica que o exército insurreto foi vencido em 164; porque, após a entrada em Pequim, em 1644, alguns dos seus chefes corromperam-se numa vida de luxo e devassidão, e estalou uma luta facionária entre as suas fileiras. O ensaio saiu a público em Tchuntchim, no Singbuajepao, e foi editado mais tarde, em brochura, em Ien-an e outras localidades das regiões libertadas. (retornar ao texto)
(13) Extraído de Mêncio, Livro XI, “Caotse”, parte I. (retornar ao texto)
Inclusão | 04/01/2015 |