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Primeira Edição: Publicado originalmente em Mundial, em Lima, Peru. 9 de março de 1928
Fonte: Nova Cultura - https://www.novacultura.info/post/2021/10/15/mariategui-estudantes-e-professores
Tradução: I. Dias
Transcrição: Igor Dias
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Os catedráticos inseguros de sua capacidade intelectual, possuem um tema predileto: o da disciplina; recordam o movimento de reforma universitária de 1919 como um motim. Este movimento não foi para eles um protesto contra a vigência de métodos arcaicos, nem uma denúncia do atraso científico e tecnológico da educação universitária, mas sim uma violenta ruptura da obediência e do acatamento devidos pelos alunos aos seus professores. Em todas as agitações estudantis sucessivas, estes catedráticos encontram o rastro do espírito estrondoso e turbulento de 1919. A Universidade - segundo seu muito subjetivo critério - não se pode reformar sem disciplina.
Mas o conceito de disciplina é um conceito que entende e se define a seu modo. O autêntico professor não se preocupa em demasia com a disciplina. Os estudantes o respeitam e o escutam, sem que sua autoridade necessite jamais refugiar-se nas regras e nem que seja exercida do alto de um palanque. Na biblioteca, no claustro, no pátio da Universidade, rodeado familiarmente de alunos, é sempre o professor. Sua autoridade é um fato moral. Somente os catedráticos medíocres - e, em particular, os que não possuem senão um título convencional ou hereditário - se inquietam tanto pela disciplina, supondo-a como uma relação rigorosa e automática que estabelece inapelavelmente a hierarquia material ou escrita.
Não quero defender a juventude universitária - a respeito da qual, ao contrário do que se poderia pensar, eu sou um pouco tendencioso e brando -; mas posso contribuir livremente para o meu testemunho de que a defesa, no que diz respeito à questão da disciplina, declarando que nunca ouvi dos estudantes julgamentos desrespeitosos sobre um professor de fato respeitável. (Exceções ou discrepâncias individuais não contam. Refiro-me a um julgamento mais ou menos coletivo). Sei também que quando formulada em 1919 a lista de professores repudiados - apesar da atmosfera exaltada e das assembleias tumultuosas, não era o propósito para avaliações mensuradas - os estudantes cuidaram para não exagerar em suas sentenças. As acusações sempre tiveram o consenso mínimo de 90% dos estudantes de cada classe. Na maioria dos casos, elas foram votadas por unanimidade e aclamadas. Os líderes da Reforma eram todos distinguidos por uma ponderação escrupulosa. Eles não tinham a intenção de purgar a Universidade dos medíocres, mas somente dos péssimos. A sanção que encontraram no governo e no Congresso, todas as acusações de então, evidencia que não eram contestáveis nem discutíveis.
O tópico da disciplina é, pois, um tópico barato e equivocado.
E do mesmo gênero são as críticas que, de maneira simples e interessante, são pronunciadas sobre a influência que possuem na crise universitária outros relaxamentos ou deficiências do espírito estudantil.
Contra tudo o que capciosamente se insinue ou se suspeite, a crise dos professores ocupa hierarquicamente o primeiro plano. Sem professores autênticos, sem direções austeras e elevadas, a juventude não estará bem encaminhada. O estudante de mentalidade e espírito limitados e medíocres vê o professor como seu modelo ou seu manequim; com um professor desprovido de desinteresse e idealismo, o estudante não pode aprender ou estimar nem uma ou outra coisa. Antes bem, é costume despreza-los prematuramente como supérfluos, inúteis e embaraçantes. Um professor – ou melhor, um catedrático – em que seus discípulos descobrem uma fina camada de cultura profissional e nada mais, carece de autoridade e de aptidão para inculcar e ensinar-lhes com amplitude e profundidade. Seu exemplo, pelo contrário, persuade o discípulo negligente da conveniência de limitar seus esforços, primeiro à aquisição rotineira de grau e depois à possessão de um automóvel ao acúmulo de uma fortuna, e – se possível – à conquista de uma cátedra – posição de luxo, capricho da academia. A vida e a personalidade egoístas, burocráticas, tímidas, do professor decorativo, afortunado, influem inevitavelmente na ambição, no horizonte e no programa do estudante de tipo médio. Professores estéreis produzem discípulos estéreis.
Eu sei bem que isso não imuniza completamente a juventude contra críticas ou reprovações. A universidade não é obrigatória e exclusivamente seu único ambiente moral e mental. Todas as intelectualidades investigadoras, todos os espíritos curiosos podem - se o quiserem - ser fecundos pelo pensamento mundial, pela ciência estrangeira. Uma das características fisionômicas de nossa época é, justamente, a circulação universal, veloz e fluida das ideias. A intelectualidade trabalha, nesta época, sem limitações de fronteira nem de distância. Não nos faltam, enfim, professores latino-americanos a quem possamos de maneira útil dirigir nossa atenção. A juventude – seus próprios movimentos o comprovam e declaram – não vive com falta de estímulos intelectuais nem de auspícios ideológicos. Nada a isola das grandes inquietudes humanas. Não foram extra-universitárias as maiores figuras da cultura peruana?
Os estudantes, depois das honrosas jornadas da reforma, parecem haver recaído no conformismo. Se alguma crítica cause abalo, certamente não é a que balbuciam, repreendidos e incomodados, os professores que exigem o estabelecimento de uma disciplina singular, fundada no gregarismo e obediência passivos.
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