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Com o desmoronamento económico de 1929, toda a ordem capitalista mundial foi abalada. A atmosfera está prenhe de uma nova guerra mundial que em breve eclodirá. Mas onde? Com que extensão? Todas estas perguntas permaneceram muito tempo sem resposta. Mesmo após a deflagração «oficial» desta catástrofe, em 1940, ainda não estavam definitivamente esclarecidas. Estas perguntas sem resposta permitem compreender melhor a política externa de Stáline durante os anos 30.
Hitler chega ao poder a 30 de Janeiro de 1933. Só a União Soviética compreende todos os perigos daí decorrentes para a paz mundial. Em Janeiro de 1934, Stáline declarou ao Congresso do Partido que
«a “nova” política» [alemã] lembrava «no fundamental a política do antigo kaiser, que ocupou durante um certo tempo a Ucrânia e iniciou uma campanha contra Leningrado, transformando os países bálticos em cabeça-de-ponte dessa campanha».
E declarou também:
«Se os interesses da URSS exigirem uma aproximação com estes ou aqueles países que não estão interessados em romper a paz, fá-lo-emos sem hesitações.»(1)
Até à chegada de Hitler, era a Inglaterra que dirigia a cruzada contra a União Soviética. Em 1918, Churchill tinha sido o instigador principal da intervenção militar que mobilizou 14 países. Em 1917, a Inglaterra rompeu as suas relações diplomáticas com a União Soviética e decretou um embargo às suas exportações. Em 1931, o Japão invadiu a China do Norte e as suas tropas chegaram à fronteira soviética na Sibéria. Nessa altura, a União Soviética acreditou que estava iminente uma guerra com o Japão. Em 1935, a Itália fascista ocupa a Etiópia. Em face do perigo da expansão fascista, a União Soviética propõe, logo em 1935, um sistema de segurança colectiva na Europa. É com essa perspectiva que conclui tratados de assistência mútua com a França e a Checoslováquia. Trótski difunde folhetos corrosivos contra Stáline, alegando que, com esses tratados, acabava de «trair» o proletariado francês e a revolução mundial... Ao mesmo tempo, vozes autorizadas da burguesia francesa afirmavam que o país não era obrigado a prestar auxílio à União Soviética no caso desta ser atacada...
Em 1936, a Itália e a Alemanha nazi enviam as suas tropas de elite para Espanha para combater o governo republicano legítimo. A França e a Inglaterra adoptam uma política de «não intervenção», dando liberdade de acção aos nazis. Tentam aliciar Hitler e empurrá-lo para Leste. Em Novembro do mesmo ano, a Alemanha e o Japão concluem o Pacto Anti-Komintern, ao qual a Itália se junta pouco depois. A URSS fica cercada.
A 11 de Março de 1938, a Rádio Berlim anunciou uma «revolta comunista na Áustria» e a Wehrmacht precipita-se sobre este país que é anexado dois dias mais tarde. A União Soviética toma a defesa da Áustria e apela à Inglaterra e à França para ponderarem uma defesa colectiva. «Amanhã será talvez tarde de mais», sublinhava a declaração soviética.
Em meados de Maio, Hitler concentra as suas tropas junto da fronteira checoslovaca. A União Soviética, ligada por um tratado de paz a este país ameaçado, concentra mais de 40 divisões na sua fronteira ocidental e mobiliza 330 mil reservistas. Mas em Setembro, a Inglaterra e a França reúnem-se em Munique com as potências fascistas, a Alemanha e a Itália. Nem a Checoslováquia nem a União Soviética foram convidadas. As grandes «democracias» decidem entregar a Hitler a região dos sudetas, parte integrante da Checoslováquia. Imediatamente a seguir a este acto pérfido, a Inglaterra assina, em 30 de Setembro, uma declaração com a Alemanha, onde fica dito que as duas potências exprimem o desejo «de nunca mais entrar de novo em guerra uma com a outra».(2) A França segue este exemplo em Dezembro. Não obstante, a União Soviética propõe a sua ajuda à Checoslováquia em caso de agressão alemã, mas esta oferta é recusada. A 15 de Março de 1939, a Wehrmacht ocupa Praga. Ao desmembrar a Checoslováquia, Hitler oferece um pedaço do bolo ao governo reaccionário polaco que morde a isca com avidez... Uma semana mais tarde, o exército alemão ocupa o território lituano de Klaipeda, importante porto no Báltico. Stáline compreende que o monstro se desloca para Leste e que a Polónia será a próxima vítima.
Em Maio de 1939, o exército japonês agride a Mongólia que estava ligada à União Soviética por um tratado de assistência militar. No mês seguinte, as tropas soviéticas dirigidas por um oficial desconhecido, Júkov, entram em combate com o exército japonês. O confronto militar é de envergadura: o Japão perde mais de 200 aviões e mais de 50 mil soldados são mortos ou feridos. A 30 de Agosto de 1939, as últimas tropas japonesas abandonam a Mongólia.
Dois dias depois outra fronteira da União Soviética fica ao rubro: a Alemanha invade a Polónia. Todos os países sabiam desta agressão iminente: Hitler precisava de «resolver o destino» da Polónia para obter a melhor posição e desencadear a guerra fosse contra a Inglaterra e a França, fosse contra a União Soviética. Recuemos alguns meses atrás.
Em Março de 1939, a União Soviética entabula negociações para formar uma aliança antifascista. A Inglaterra e a França deixam as coisas arrastarem-se, manobrando. Com esta atitude, as duas grandes «democracias» dão a entender a Hitler que poderia marchar contra Stáline sem ser incomodado a Oeste. De Junho a Agosto de 1939 realizam-se conversações secretas anglo-germânicas, durante as quais, em troca da integridade do Império Britânico, os ingleses prometem a Hitler liberdade de acção no Leste. A 29 de Julho, Charles Roden Buxton, do Partido Trabalhista, efectua uma missão secreta junto da embaixada alemã em nome do primeiro-ministro Chamberlain. Consigo levava o seguinte plano:
«A Grã-Bretanha declara-se pronta para concluir com a Alemanha um acordo delimitando as esferas de influência. (...)
«1) A Alemanha compromete-se a não se imiscuir nos assuntos do Império Britânico.
«2) A Grã-Bretanha compromete-se a respeitar integralmente as esferas dos interesses alemães no Leste e ao Sudeste da Europa. Isto terá como consequência que a Grã-Bretanha renunciará às garantias que “acordou” a certos Estados situados na esfera dos interesses alemães. A Grã-Bretanha compromete-se em seguida a trabalhar para que a França repudie a sua aliança com a União Soviética.
«3) A Grã-Bretanha compromete-se a pôr fim às conversações actualmente em curso com a União Soviética com vista à conclusão de um pacto.»(3)
Os serviços de informações soviéticos colocam Stáline a par de todas estas manobras. Em Agosto de 1939, as negociações entre a Inglaterra, a França e a União Soviética entram na sua fase final. Mas as duas potências ocidentais enviam a Moscovo delegações de segundo escalão, sem mandato para concluir um tratado. Vorochílov exige compromissos vinculativos e precisos para que, em caso de nova agressão alemã, os aliados entrem em guerra juntos. Queria saber quantas divisões os ingleses e franceses oporiam a Hitler no caso de agressão à URSS. Mas não recebe resposta. Queria também concluir um acordo com a Polónia para que as tropas soviéticas pudessem enfrentar os nazis sobre território polaco em caso de agressão alemã. A Polónia recusa, tornando assim impossível qualquer acordo militar efectivo. Stáline compreende perfeitamente que a Inglaterra e a França se preparam para um novo Munique e que estão prestes a sacrificar a Polónia na esperança de fazer marchar Hitler contra a União Soviética.
Harold Ickes, secretário de Estado dos Estados Unidos, escreveu então no seu diário:
«A Inglaterra alimentava a esperança de provocar um confronto entre a Rússia e a Alemanha sem ela própria se comprometer. (...) A França deverá igualmente renunciar à Europa Central e Oriental em favor da Alemanha, na esperança de a ver entrar em guerra com a União Soviética. Assim, a França poderia ficar em segurança atrás da linha Maginot.»(4)
A União Soviética vê-se diante do perigo mortal de se constituir uma frente única anti- soviética com todas as potências imperialistas. Com o apoio tácito da Inglaterra e da França, a Alemanha poderia, após a ocupação da Polónia, continuar o seu avanço e desencadear a «guerra-relâmpago» contra a União Soviética, enquanto o Japão atacaria a Sibéria.
Todavia, nesse momento, Hitler tinha já chegado à conclusão de que a França e a Inglaterra tinham menos capacidade e vontade de resistir. Decide, pois, ocupar a Europa Ocidental antes de atacar a URSS. A 20 de Agosto, Hitler propõe à União Soviética um pacto de não agressão. Stáline reage prontamente e, a 23 de Agosto, o pacto é assinado.
A 1 de Setembro, Hitler agride a Polónia. A Inglaterra e a França são apanhadas na sua própria armadilha. Estes dois países haviam facilitado todas as aventuras de Hitler na esperança de utilizá-lo contra a União Soviética. Desde 1933 que não cessavam de louvar os méritos de Hitler no combate ao comunismo. Agora vêem-se obrigados a declarar guerra à Alemanha nazi... mas sem a menor intenção de a travar efectivamente. A sua raiva explode numa virulenta campanha anticomunista sobre o tema: «O bolchevismo é o aliado natural do fascismo». Meio século depois, esta propaganda estúpida continua nos manuais escolares como uma verdade inegável. No entanto, a história mostrou que o pacto germano-soviético constituiu a chave da vitória na guerra antifascista. Isto parece um paradoxo, mas o pacto foi uma reviravolta que permitiu reunir as condições para a derrota alemã.
Com efeito, a União Soviética concluiu este pacto com a clara consciência de que, mais cedo ou mais tarde, a guerra com a Alemanha nazi seria inevitável. Uma vez que tinha sido a Alemanha a propor um acordo à URSS, Stáline extorquiu a Hitler o máximo de concessões a fim de obter as melhores posições para a guerra que se avizinhava. O Pravda de 23 de Setembro de 1939 escreveu:
«A única coisa ainda possível é proteger da invasão alemã a Ucrânia Ocidental, a Bielorrússia Ocidental (duas regiões que tinham sido separadas da União Soviética em 1920) e os países bálticos. O governo soviético fez a Alemanha assumir o compromisso de que não transporá a linha formada pelos rios Narev, Bug e Vístula.(5)
No Ocidente, aqueles que continuam a simpatizar com a política anticomunista de Hitler escrevem agora: «O fascismo e o bolchevismo, estes dois totalitarismos, dividiram entre si a Polónia». Porém, o avanço das tropas soviéticas correspondeu aos interesses das massas populares dos territórios em causa, já que lhes permitiam desenvencilhar-se dos fascistas, dos grandes proprietários fundiários e dos capitalistas. Este avanço correspondeu também aos interesses do conjunto do movimento antifascista mundial. Os burgueses mais realistas viram claramente que, ao avançar as suas tropas, a União Soviética obteve uma melhor posição de partida para a guerra. Churchill declarou a 1 de Outubro de 1939:
«O facto de os exércitos russos se colocarem nesta linha é claramente necessário para a segurança da Rússia face à ameaça nazi. Em todo caso a linha existe e está criada uma frente no Leste que a Alemanha nazi não ousa atacar.»(6)
Depois de se terem iludido com a esperança de verem o exército nazi precipitar-se através da Polónia contra a União Soviética, a França e a Inglaterra tiveram de declarar guerra à Alemanha. Mas sobre a Frente Ocidental, nenhuma bomba perturbará a tranquilidade dos nazis. Em contrapartida, uma verdadeira guerra política interna é desencadeada contra os comunistas. Em 26 de Setembro, o PCF é proibido e milhares de seus membros são lançados nas prisões. Henri de Kerillis escreveu:
«Uma tempestade indescritível revolveu as consciências burguesas. O espírito de cruzada resfolegou em fúria. Não se ouvia senão um grito: guerra à Rússia. Foi neste momento que o delírio anticomunista atingiu o seu paroxismo.»(7)
No mesmo momento, Stáline comenta com grande perspicácia a Júkov:
«O governo francês com Daladier à cabeça e o governo inglês de Chamberlain não querem envolver-se seriamente na guerra contra Hitler. Esperam ainda impelir Hitler para uma guerra contra a União Soviética. Se se recusaram em 1939 a constituir connosco um bloco anti-hitleriano, foi porque não queriam atar as mãos de Hitler, não queriam forçá-lo a renunciar à sua agressão contra a União Soviética. Mas nada resultará de tudo isso. Terão de pagar eles próprios pela sua política de visão curta.»(8)
Consciente de que a guerra com a Alemanha era inevitável, o governo soviético preocupa-se seriamente com a segurança de Leningrado, situada a 32 quilómetros da fronteira finlandesa. Em 14 de Outubro de 1939, Stáline e Mólotov enviam ao governo finlandês um memorando sobre o problema da defesa de Leningrado. A União Soviética pretende assegurar «a possibilidade de bloquear a entrada do Golfo da Finlândia». Solicita que a Finlândia lhe ceda, por arrendamento, o pequeno porto de Hanko e quatro pequenas ilhas. Para permitir a defesa de Leningrado, pede igualmente uma parte do istmo da Carélia pertencente à Finlândia. Em troca, a URSS ofereceu à Finlândia uma parte da Carélia soviética, duas vezes maior.(9)
Instigada pela Alemanha, a Finlândia recusa. A 30 de Novembro de 1939, a URSS declara-lhe guerra. Alguns dias mais tarde, Hitler dá as suas instruções para a próxima guerra contra a União Soviética. Entre outras coisas refere:
«Nos flancos da nossa operação, poderemos contar com a intervenção activa da Roménia e da Finlândia na guerra contra a Rússia soviética.»(10)
A Inglaterra e a França, até aqui preocupadas em não se envolverem numa «guerra alheia», lançam-se agora numa guerra de sangue e ferro... contra a ameaça bolchevique! Em três meses, a Inglaterra, a França, os Estados Unidos e a Itália fascista enviam 700 aviões, 1500 canhões e seis mil metralhadoras para a Finlândia, «vítima da agressão».(11)
O general francês Weygand desloca-se à Síria e à Turquia para preparar um ataque contra a União Soviética a partir do Sul. O plano do Estado-Maior General francês prevê o bombardeamento dos poços petrolíferos de Baku. Nessa altura, o general Serrigny escreve:
«Na realidade, Baku, com a sua produção de 23 milhões de toneladas de petróleo, domina a situação. Se conseguirmos conquistar o Cáucaso ou se as suas refinarias fossem simplesmente incendiadas pela nossa força aérea, o monstro afundar-se-ia exangue.»(12)
Apesar de não ter disparado nem uma bala contra os nazis aos quais tinha declarado guerra, o governo francês reúne um corpo de expedicionários de 50 mil homens para combater os vermelhos! Chamberlain declara que a Inglaterra enviará 100 mil soldados.(13a) Estas tropas não chegaram à Finlândia porque entretanto o Exército Vermelho derrotou o exército finlandês: em 14 de Março de 1939 é assinado um acordo de paz. Mais tarde, já em plena guerra, uma publicação gaulista, que apareceu no Rio de Janeiro, afirmará:
«No final do Inverno de 1939-40 malogrou-se o complot político e militar de Chamberlain e de Daladier, que tinha por objectivo provocar uma reviravolta contra a União Soviética e de pôr fim ao conflito entre a aliança franco-inglesa e a Alemanha através de um compromisso e de uma aliança anti-Komintern. Este complot consistia em enviar um corpo de expedição franco-inglês para ajudar os finlandeses, cuja intervenção teria provocado um estado de guerra com a União Soviética.»(13)
O pacto germano-soviético e a derrota da Finlândia prepararam as condições da vitória do Exército Vermelho contra os nazis. Estes dois acontecimentos tiveram quatro consequências primordiais.
Impediram a formação de uma frente unida das potências imperialistas contra a União Soviética socialista. Um ataque alemão em 1939 teria certamente arrastado uma intervenção japonesa na Sibéria. Agora, pelo contrário, a URSS pôde assinar um pacto de não agressão com o Japão que foi mantido até à derrota do fascismo.
A França e a Inglaterra, que tinham recusado ao longo da década de 30 um sistema de segurança colectiva, foram obrigadas a entrar numa aliança militar efectiva com a União Soviética no momento em que a Alemanha rompeu o pacto germano-soviético.
A União Soviética pôde avançar suas defesas em 150 a 300 quilómetros. Este factor teve uma grande influência na defesa de Leningrado e de Moscovo no final de 1941. A União Soviética ganhou 21 meses de paz que lhe permitiram reforçar de uma forma decisiva a sua indústria de Defesa e as suas forças armadas.
Quando Khruchov tomou o poder, inflectiu completamente a linha do Partido. Para o fazer, precisou de denegrir Stáline e a sua política marxista-leninista. Numa série de calúnias inverosímeis, chegou ao ponto de negar os imensos méritos de Stáline na preparação e condução da guerra antifascista. Khruchov pretendeu que, nos anos 193641, Stáline havia preparado mal o país para a guerra. Eis as suas palavras:
«Stáline apresentou a tese de que a tragédia vivida pelo nosso povo no período inicial da guerra tinha sido alegadamente o resultado do ataque “surpresa” dos alemães contra a União Soviética. Mas isto, camaradas, não corresponde de modo nenhum à realidade. Logo que Hitler chegou ao poder na Alemanha, colocou de imediato a tarefa de liquidar o comunismo. (...) Numerosos factos do período anterior à guerra demonstram de forma eloquente que Hitler dirigiu todos os seus esforços para desencadear a guerra contra o Estado soviético.»(14)
«Se a nossa indústria tivesse sido mobilizada de forma adequada e no tempo requerido para fornecer ao Exército o armamento e os equipamentos necessários, as nossas perdas nesta dura guerra teriam sido infinitamente menores. (... ) O nosso exército estava mal equipado. (...) A ciência e tecnologia soviéticas realizaram antes da guerra excelentes protótipos de tanques e peças de artilharia. Mas a produção em série de tudo isto não foi organizada (...).(15)
Que os participantes do XX Congresso tenham podido escutar estas calúnias sem que protestos indignados tivessem disparado de todos os lados diz muito sobre a degenerescência política já em curso. Todavia, na sala encontravam-se dezenas de marechais e generais que sabiam a que ponto aquelas palavras eram ridículas. Mas na altura ninguém abriu a boca. O seu profissionalismo estrito, o exclusivismo militar, a negação da luta política no interior do Exército, a rejeição da direcção ideológica e política do Partido sobre o Exército: tudo isso aproximou-os do revisionismo de Khruchov.
Todos os grandes chefes militares, Júkov, Vassiliévski, Rokossóvski, não aceitaram nunca a necessidade da depuração do Exército em 1937-1938. Não tinham tão pouco compreendido as razões políticas do processo de Bukhárine. Por tudo isto, apoiaram Khruchov quando este substituiu o marxismo-leninismo pelas teses rebuscadas dos mencheviques, trotskistas e bukharinistas. Isto explica por que os marechais engoliram as mentiras de Khruchov sobre a II Guerra Mundial. Mentiras que refutariam mais tarde nas suas memórias quando estas questões já não estavam no centro da luta política e se tinham tornado puramente académicas.
Nas suas Memórias publicadas em 1970, Júkov sublinha a justo título, face às alegações de Khruchov, que a verdadeira política de defesa começou com a decisão de Stáline de lançar a industrialização em 1928.
«Era possível adiar por cinco ou sete anos o desenvolvimento acelerado da indústria pesada para assim proporcionar ao povo, mais cedo e em maior quantidade, objectos de consumo corrente. Não seria isso tentador?»(16)
Stáline preparou a defesa da União Soviética construindo mais de nove mil empresas industriais entre 1928 e 1941 e tomando a decisão estratégica de implantar no Leste do país uma poderosa base industrial completamente nova.(17) A propósito da política de industrialização, Júkov presta homenagem «à sagacidade e clarividência» de Stáline que foram «sancionadas de forma definitiva pelo julgamento supremo da história» no decurso da guerra.(18)
Em 1921 foi preciso começar do zero em quase todos os domínios da produção militar. Durante o primeiro e segundo planos quinquenais, o Partido previu uma taxa de crescimento para a indústria militar superior aos demais ramos da indústria.(19) Vejamos dois números significativos dos dois primeiros planos. A produção anual de tanques, que era de 740 unidades em 1930, alcançou as 2271 unidades em 1938.(20) No mesmo período, a construção de aviões aumentou de 860 para 5500 unidades por ano.(21)
No decurso do terceiro plano quinquenal, entre 1938 e 1940, o conjunto da produção industrial progrediu 13 por cento ao ano, mas a produção da indústria da defesa aumentou 39 por cento.(22)
A trégua obtida graças ao pacto germano-soviético foi explorada por Stáline para impulsionar ao máximo a produção militar. Júkov testemunha-o:
«Para que as fábricas de Defesa de alguma importância pudessem receber tudo o que precisavam, delegados do Comité Central, organizadores experimentados e especialistas conhecidos foram nomeados para liderar as respectivas organizações do Partido. Devo dizer que Ióssif Stáline prestou uma ajuda considerável, ocupando-se ele próprio das empresas que trabalhavam para a Defesa. Ele conhecia bem dezenas de directores de fábricas, de organizadores do Partido, engenheiros principais, avistava-se com eles frequentemente e conseguia obter, com a perseverança que o caracterizava, a execução dos planos traçados».(23)
As entregas militares efectuadas entre 1 de Janeiro de 1939 e 22 de Junho de 1941 são impressionantes. A artilharia recebeu 92 578 peças, entre as quais 29 637 canhões de campanha e 52 407 morteiros. Os novos morteiros de 82 e 120 milímetros foram introduzidos ainda antes da guerra começar.(24)
A Força Aérea recebeu 17 745 aviões de combate, dos quais 3719 novos modelos. No domínio da aviação:
«As medidas tomadas entre 1939 e 1941 criaram as condições necessárias para obter rapidamente no decurso da guerra a superioridade quantitativa e qualitativa.»(25)
O Exército Vermelho recebeu mais de sete mil tanques. Em 1940 iniciou-se a produção do tanque médio T-34 e do tanque pesado KV, ambos superiores aos tanques alemães. Foram produzidas 1851 unidades até ao momento em que deflagrou a guerra.(26)
A propósito destas realizações, exprimindo indirectamente o seu desprezo pelas acusações de Khruchov, Júkov faz uma reveladora autocrítica:
«Lembrando-me do que nós, militares, exigíamos à indústria nos últimos meses de paz e a forma como o exigíamos, reconheço que não levávamos suficientemente em conta as possibilidades económicas reais do país.»(27)
A preparação militar propriamente dita foi também impulsionada com o máximo vigor por Stáline. Os confrontos militares com o Japão, em Maio-Agosto de 1939, e com a Finlândia, entre Dezembro de 1939 e Março de 1940, estão directamente ligados à resistência antifascista. Estas experiências de combate foram analisadas em profundidade para suprir lacunas e falhas do Exército Vermelho.
Em Março de 1940, uma reunião do Comité Central examinou as operações contra a Finlândia.
«Os debates foram muito violentos. A instrução e a formação das nossas tropas foram severamente criticadas», afirma Júkov.(28)
Em Maio, Júkov foi recebido por Stáline que lhe declarou:
«Você tem agora experiência de combate. Assuma o comando da região de Kíev e utilize a sua experiência para a instrução das tropas.»(29)
Aos olhos de Stáline, Kíev revestia-se um significado militar particular. Era ali que ele esperava o golpe principal no momento da agressão alemã.
«Stáline estava persuadido de que os nazis iriam, em primeiro lugar, tentar ocupar a Ucrânia e a Bacia do Don, para assim privarem o nosso país dessas regiões económicas importantes, apoderando-se do trigo ucraniano, do carvão do Donbass e mais tarde do petróleo do Cáucaso. Na Primavera de 1941, durante o estudo do plano operacional, I.V. Stáline notou: “Sem estes recursos de importância vital, a Alemanha fascista não poderá conduzir uma guerra prolongada”.»(30)
No Verão e no Outono de 1940, Júkov submeteu as suas tropas a uma intensa preparação de combate. Constata que dispõe de jovens oficiais e de generais capazes e fá-los assimilar as lições tiradas das operações alemães contra a França.(31)
De 23 de Dezembro de 1940 a 13 de Janeiro de 1941, os oficiais superiores reúnem-se numa grande conferência. No centro dos debates: a futura guerra com a Alemanha. A experiência acumulada pelos fascistas com grandes corpos blindados é estudada com uma atenção particular. No dia seguinte ao final da conferência teve lugar um grande exercício operacional e estratégico sobre o mapa, ao qual Stáline assistiu. Júkov escreveu:
«A situação estratégica assentava em acontecimentos que se supunha que poderiam desenvolver-se na nossa fronteira ocidental, caso a Alemanha atacasse a União Soviética.»(32)
Júkov dirige a agressão alemã, Pavlov, a resistência soviética.
«O exercício foi abundante em peripécias dramáticas para a parte “vermelha”. As situações que se apresentaram após 22 de Junho de 1941 assemelharam-se muito às deste exercício», observa Júkov.
Pavlov perdeu a guerra contra os nazis. Stáline admoestou-o energicamente:
«O comandante das tropas de uma região deve possuir a arte militar e saber encontrar a solução em qualquer situação. Esse não foi o seu caso.»(33)
A construção de sectores fortificados ao longo da nova fronteira ocidental foi iniciada em 1940. Nas vésperas do começo da guerra tinham sido construídas perto de 2500 instalações em betão e 140 mil homens trabalhavam diariamente. «E Stáline pressionava-nos para terminar», afirma Júkov.(34)
A XVIII Conferência do Partido, de 15 a 20 de Fevereiro de 1941, foi integralmente consagrada à preparação da indústria e dos transportes na perspectiva da guerra. Delegados vindos de toda a União Soviética elegem vários militares para membros suplentes do Comité Central.(35)
Em começos de Março de 1941, Timochénko e Júkov pedem a Stáline que convoque os reservistas da infantaria. Stáline começa por recusar receando dar um pretexto aos alemães para provocarem a guerra. Mas em finais do mesmo mês aceita convocar cerca de 800 mil reservistas que foram enviados para as fronteiras.(36) Em Abril, o Estado-Maior General informa Stáline de que as tropas das regiões militares do Báltico, da Bielorrússia, de Kíev e de Odessa não eram suficientes para responder ao ataque. Stáline decide fazer avançar para as fronteiras 28 divisões, agrupadas em quatro exércitos, sublinhando a necessidade de proceder com extrema prudência para não provocar os nazis.(37)
Em 5 de Maio de 1941, no grande palácio do Krémline, Stáline fala diante dos oficiais formados nas academias militares. O seu tema central foi:
«Os alemães estão errados ao acreditarem que o seu exército é invencível.»(38)
Todos estes factos permitem refutar as críticas maledicentes habitualmente lançadas contra Stáline:
«Ele preparou o exército para a ofensiva, mas não para a defensiva»; ««Ele confiava no pacto germano-soviético e em Hitler, o seu cúmplice»; «ELe Pensava que não haveria uma guerra com os nazis».
Estas calúnias visam obscurecer as proezas históricas dos comunistas e, consequentemente, aumentar o prestígio dos seus adversários.
Júkov, que desempenhou um papel essencial na tomada do poder por Khruchov entre 1953 e 1957, teve o cuidado nas suas Memórias de desmentir de forma contundente o «relatório secreto» de Khruchov. Sobre a preparação do país para a guerra, conclui o seguinte:
«A obra de defesa nacional, nas suas linhas e orientações fundamentais e essenciais, foi conduzida da maneira adequada. Durante anos foi feito tudo ou quase tudo o que podia ser feito, tanto no sector económico como no sector social. Quanto ao período que se estende de 1939 até meados de 1941, é uma época em que o povo e o Partido desenvolveram esforços particularmente importantes para reforçar a defesa, esforços que exigiam a utilização de todas as forças e de todos os meios. Uma indústria desenvolvida, uma agricultura colectivizada, a instrução pública alargada ao conjunto da população, a unidade da nação, o poder do Estado socialista, o nível elevado de patriotismo do povo, uma direcção que, através do Partido, estava pronta para realizar a unidade entre a frente e a retaguarda, todo este conjunto de factores constituiu a causa primeira da grande vitória que iria coroar a nossa luta contra o fascismo. Só o facto de a indústria soviética ter podido produzir uma quantidade colossal de armamentos — perto de 490 mil canhões e morteiros, mais de 102 mil tanques e canhões autopropulsionados, mais de 137 mil aviões de combate — prova que os fundamentos da economia, do ponto de vista militar, haviam sido lançados de forma adequada e sólida. (...) Em tudo o que era essencial e fundamental, o Partido e o povo souberam preparar a defesa da pátria. Ora é o essencial e o fundamental que, no fim de contas, decidem o destino de um país em guerra.»(39)
Para atacar o imenso prestígio de Stáline, que foi incontestavelmente o maior chefe militar da guerra antifascista, os seus inimigos gostam de discorrer sobre o «erro monumental» que cometeu ao não ter previsto a data exacta da agressão. Khruchov, no seu «relatório secreto», afirma:
«Documentos agora publicados mostram que, logo em 3 de Abril de 1941, Churchill avisou pessoalmente Stáline através do embaixador inglês na URSS, Cripps, de que as tropas alemãs tinham começado a reagrupar-se, preparando o ataque à União Soviética. (...) Contudo, Stáline não tomou em consideração estas advertências.»(40)
Khruchov prosseguiu dizendo que adidos militares soviéticos em Berlim haviam relatado rumores segundo os quais o ataque contra a URSS começaria no dia 14 de Maio ou a 15 de Junho.
«Apesar de todas estas indicações extraordinariamente importantes, não foram tomadas medidas suficientes para preparar bem o País para a defesa e excluir a possibilidade de um ataque de surpresa. (...) Quando os exércitos fascistas já tinham invadido o território soviético, foi dada ordem de Moscovo para não responder aos tiros. (... ) Na véspera da invasão do exército hitleriano do território da União Soviética, um alemão atravessou a nossa fronteira e informou que as tropas alemãs tinham recebido a ordem de iniciar a ofensiva contra a União Soviética na madrugada de 22 de Junho, às três horas. Stáline foi imediatamente informado disso, mas até a este sinal não foi dada atenção.»(41)
Esta versão é difundida por toda a literatura burguesa e revisionista. Elleinstein, por exemplo, escreve que
«no sistema ditatorial e pessoal que Stáline tinha instaurado ninguém ousava corrigir este erro de julgamento.»(42)
Que se pode dizer a respeito do primeiro dia da guerra? Stáline sabia perfeitamente que a guerra seria de uma crueldade extrema, que os fascistas exterminariam impiedosamente os comunistas soviéticos e que, com um terror sem precedentes, reduziriam os povos soviéticos à escravidão.
A Alemanha hitleriana tinha-se reforçado com todo o potencial económico europeu. Cada mês, cada semana de paz permitia um reforço notável de defesa da União Soviética. O marechal Vassiliévski escreveu:
«A direcção política do país via a aproximação da guerra e empreendia o máximo de esforços para atrasar a data da entrada da União Soviética no conflito. Era uma linha sábia e realista. A sua aplicação exigia antes de tudo uma hábil condução das relações diplomáticas com os países capitalistas particularmente agressivos.» O exército recebeu instruções muito estritas para «não empreender nenhuma acção que os dirigentes hitlerianos pudessem utilizar para agravar a situação e para provocações militares.»(43)
Desde o mês de Maio de 1941 que a situação nas fronteiras se tornara muito tensa. Era preciso manter o sangue frio e não se deixar levar por provocações alemãs. Vassiliévski diz a este propósito:
«A colocação das tropas em estado de alerta na zona de fronteira é em si um acontecimento excepcional. Um estado de alerta prematuro das Forças Armadas pode causar tanto mal como o seu atraso. Da política hostil de um Estado vizinho até a guerra há frequentemente uma distância enorme.»(44)
Hitler não tinha conseguido invadir a Inglaterra nem abalá-la. O império britânico continuava a ser a primeira potência no mundo. Stáline sabia que Hitler evitaria a todo o custo uma guerra em duas frentes. Havia bons argumentos para crer que Hitler faria tudo para vencer a Inglaterra antes de abrir as hostilidades contra a URSS.
Desde há vários meses que Stáline recebia informações dos serviços secretos soviéticos anunciando a agressão alemã dentro de uma ou duas semanas. Muitas dessas informações eram intoxicação emanada dos britânicos ou dos americanos que queriam lançar os lobos fascistas contra o país socialista.
Cada medida de reforço da defesa das fronteiras soviéticas era explorada pelos meios de direita nos Estados Unidos para anunciar um ataque iminente da URSS contra a Alemanha.(45) Júkov anotou:
«Na Primavera de 1941 havia nos países ocidentais uma profusão de informações de carácter provocador relativas a preparativos militares importantes que a União Soviética teria empreendido contra a Alemanha.»(46)
A direita anglo-americana empurrava assim os fascistas contra a URSS.
Além disso, Stáline não tinha nenhuma garantia quanto à atitude inglesa e norte-americana em caso da agressão nazi contra a URSS. Em Maio de 1941, Rudolf Hess, o número dois do partido nazi, deslocou-se a Inglaterra. Sefton Delmer, que dirigia uma estação de rádio inglesa especializada em emissões de intoxicação dirigidas à Alemanha, anota no seu livro:
«Hess declarou que o objectivo da sua viagem era oferecer a paz aos ingleses “sob quaisquer que fossem as condições”, contando que a Grã-Bretanha aceitasse participar no ataque à Rússia ao lado da Alemanha. (...) “Uma vitória da Inglaterra aliada aos russos”, afirmou Hess, “significaria a vitória dos bolcheviques. Isso levaria, mais cedo ou mais tarde, à ocupação da Alemanha e do resto da Europa pelos russos”.»(47)
Na Inglaterra, a tendência para um entendimento com Hitler contra a URSS tinha raízes profundas. Um acontecimento recente testemunhou-o uma vez mais. Em começos de 1993 rebentou uma controvérsia na Grã-Bretanha a propósito do livro The End of Glory (O Fim da Glória), uma biografia de Churchill, da autoria de John Charmley. Alan Clarc, um antigo ministro da Defesa de Margaret Thatcher, veio a público declarar que Churchill teria feito melhor se houvesse concluído a paz com a Alemanha na Primavera de 1941. A Alemanha nazi e a Rússia bolchevique ter-se-iam devorado mutuamente e a Inglaterra teria podido manter o seu Império!(48)
Retornemos ao início de 1941. Stáline recebia então no seu gabinete numerosas informações vindas do todo o mundo anunciando um ataque iminente da Alemanha contra a Inglaterra. Quando, ao mesmo tempo, Stáline via relatórios provenientes da Inglaterra que anunciavam uma agressão iminente dos nazis contra a União Soviética, devia perguntar-se: em que medida se tratará de intoxicação inglesa, visando desviar da Grã-Bretanha um ataque nazi?
Após a guerra soube-se que o marechal Keitel, cumprindo uma instrução de Hitler de 3 de Fevereiro de 1941, organizou o que considerou ser «a manobra de contra-informação mais importante da história». Júkov escreveu:
«(O exército alemão) imprimiu em grandes quantidades toda uma série de materiais relativos à Inglaterra. Intérpretes de inglês foram afectados às unidades. Preparava-se o “isolamento” de certos distritos costeiros da Mancha, do Pas-de-Calais e da Noruega. Fazia-se circular informações sobre um corpo aerotransportado inexistente. Foram instaladas ao longo das costas baterias de foguetes fictícios. (... ) A propaganda alemã, tendo cessado os seus ataques habituais contra a União Soviética, encarniçava-se agora unicamente contra a Inglaterra.»(49)
Tudo isso explica a extrema prudência demonstrada por Stáline. Ele não foi de nenhum modo o ditador cego pintado por Elleinstein, mas antes um chefe comunista extremamente lúcido que pesava todas as possibilidades. Júkov testemunha:
«Uma vez Stáline disse-me: “Um homem fez-nos chegar informações muito importantes sobre as intenções do governo hitleriano, mas nós temos algumas dúvidas”... Talvez falasse de R. Sorge.»(50)
Segundo Júkov, os serviços de informações soviéticos tiveram a sua parte de responsabilidade no erro de apreciação da data da agressão. A 20 de Março de 1941, o general Gólikov, chefe dos serviços, entregou a Stáline um relatório contendo informações de importância excepcional. Indicavam nomeadamente que a agressão se situaria entre 15 de Maio e 15 de Junho. Mas nas suas conclusões, Gólikov notava que se tratava de «uma intoxicação proveniente dos serviços secretos britânicos ou talvez alemães». Gólikov estimava que a agressão teria lugar «no momento seguinte à vitória da Alemanha sobre a Inglaterra.»(51)
A 13 de Junho, Timochénko pede a Stáline para colocar as tropas em estado de alerta. «Nós reflectiremos», respondeu Stáline. No dia seguinte, Timochénko e Júkov voltam à carga. Stáline disse-lhes:
«Propõem-me que efectue a mobilização. Mas isso é a guerra! Compreendem?»
Júkov replica que, segundo os serviços de informações, as divisões alemãs tinham sido completadas. Stáline retorquiu:
«Não podemos acreditar em tudo o que dizem os serviços de informações.»
Nesse momento preciso, Stáline recebe um telefonema de Khruchov.
«Pelas suas respostas, compreendemos que se tratava de agricultura. “Muito bem”, disse Stáline. Khruchov pintou-lhe sem dúvida em cor-de-rosa as perspectivas de uma bela colheita.»(52)
Da parte de Júkov, esta observação é de uma fina perfídia. Sabemos que Khruchov apontou a «falta de vigilância» e «irresponsabilidade» de Stáline. Mas, no mesmo momento em que Júkov, Timochénko e Stáline avaliavam as possibilidades de uma agressão iminente, o vigilante Khruchov falava de legumes e cereais...
Na noite de 21 de Junho, um desertor alemão relata que o ataque começaria na noite seguinte. Timochénko, Júkov e Vatútine são chamados a Stáline, que lhes pergunta:
«E se os generais alemães nos enviaram este desertor para provocar um conflito?»
Timochénko responde: ««Ele diz a verdade».
Stáline: «Que vamos fazer?»
Timochénko: «É preciso colocar as tropas em alerta.»
Após uma breve discussão, os militares redigiram um texto ao qual Stáline faz algumas correcções. Eis o essencial:
«Ordeno:
A transmissão para as regiões foi realizada pouco depois da meia-noite. Estávamos já em 22 de Junho de 1941.
A propósito dos primeiros meses da guerra, Khruchov escreveu:
«(...) Depois dos primeiros graves reveses e derrotas nas frentes, Stáline pensou que tinha chegado o fim. (...) Durante muito tempo, ele não dirigia efectivamente as operações militares e deixou em geral de trabalhar, só retomando a direcção quando alguns membros do Politburo iam ter com ele e lhe diziam que era impreterível tomar esta ou aquela medida.(54) (...) Foi feita uma tentativa de convocar um plenário do CC em Outubro de 1941, altura em que os membros do Comité Central de todo o país foram especialmente chamados a Moscovo. (...) Stáline nem sequer quis encontrar-se e conversar com os membros do Comité Central. Este facto mostra a que ponto Stáline estava desmoralizado nos primeiros meses da guerra (...)»(55).
Elleinstein acrescenta:
«De 22 de Junho a 3 de Julho, Stáline desapareceu totalmente. Bebendo muita vodka, andou embriagado durante quase 11 dias.»(56).
Voltemos pois agora ao nosso Stáline, perdido de bêbado durante 11 dias e desmoralizado durante mais quatro meses. Naquele dia 22 de Junho de 1941, assim que, às 3,40 horas da madrugada, Júkov comunica que os aviões alemães tinham bombardeado cidades fronteiriças, Stáline diz-lhe para convocar o Bureau Político. Os seus membros reuniram-se às 4,30 horas da madrugada. Vatútine informa-os de que as unidades terrestres alemãs tinham tomado a ofensiva. Pouco depois é anunciada a declaração de guerra alemã.
Stáline compreende melhor que ninguém a selvajaria a que o seu país iria ser submetido. Manteve um longo silêncio, Júkov recorda este instante dramático:
«Stáline era um homem voluntarioso, sem medo na cara, como se costuma dizer. Só o vi uma única vez bastante abatido. Foi no alvorecer de 22 de Junho de 1941: a sua convicção na possibilidade de evitar a guerra acabava de ser destruída.»(57).
Júkov propõe então atacar imediatamente as unidades inimigas. Stáline diz-lhe para redigir uma directiva que é enviada às 7,15 horas. Todavia a ordem «já não correspondia à realidade e não foi aplicada», anota Júkov.(58) A afirmação de Khruchov segundo a qual Stáline ordenara que não se respondesse ao fogo alemão é portanto uma patranha.(59)
E se ficou abalado no momento em que lhe foi comunicado o rebentamento da guerra,
«após o 22 de Junho de 1941 e durante todo o curso da guerra, Ióssif Stáline assegurou a direcção firme do país, da guerra e das nossas relações internacionais».(60)
Além disso, neste mesmo 22 de Junho, Stáline tomou decisões de grande importância. Júkov testemunha-o:
«Pelas 13 horas do dia 22 de Junho, Stáline chamou-me: “Os nossos comandantes de frente não têm experiência suficiente na condução das operações militares e, manifestamente, vários estão desorientados. O Bureau Político decidiu enviá-lo a si para a Frente Sudoeste na qualidade de representante da Stavka. Para a Frente Oeste, enviaremos o marechal Chápochnikov e o marechal Kulik».(61) A Stavka era o colégio dos chefes militares e políticos junto do comandante supremo Stáline.
Ao final do dia, Júkov encontra-se já em Kíev. É informado de que Stáline acaba de emitir uma directiva para lançar operações de contra-ofensiva. Júkov julga-a prematura, visto que o Estado-Maior General ainda não dispunha de informações sobre o que se passava realmente nas frentes. Não obstante, em 24 de Junho, Júkov lança os 8.° e 5.º corpos mecanizados na ofensiva. Este foi «um dos primeiros contra-ataques desencadeados com sucesso.»(62)
Com razão, Júkov chama a atenção para a «grandiosa batalha das fronteiras no período inicial da guerra» que, afirma, está pouco estudada. Não sem motivos. Por conveniência das suas intrigas políticas, Khruchov precisou de pintar este período como uma sucessão de erros criminosos da parte de Stáline, que teria desorganizado completamente a defesa. Ora, ante a guerra-relâmpago dos nazis, a desorganização, as derrotas, as perdas importantes eram em grande parte inevitáveis. O facto maior era que, nas circunstâncias extremamente difíceis em que se encontravam, o exército e seus quadros dirigentes ofereceram uma resistência encarniçada, implacável e, através de combates heróicos, começaram a criar desde os primeiros dias as condições da derrota da guerra-relâmpago. E tudo isto foi possível, em grande parte, graças à direcção enérgica de Stáline.
Logo em 26 de Junho, Stáline tomou a decisão estratégica de constituir uma frente de reserva, colocada a cerca de 300 quilómetros atrás da frente de batalha, para travar o inimigo se, por infelicidade, este conseguisse furar a defesa. Nesse mesmo dia, a Frente Ocidental foi rompida e os nazis precipitam-se sobre Minsk, capital da Bielorrússia. À noite, Stáline convoca Timochénko, Júkov e Vatútine e diz-lhes:
«Reflictamos juntos e digam o que se pode fazer na situação criada».
Júkov relata:
«Todas as nossas propostas foram aprovadas por Stáline: criar nos itinerários em direcção a Moscovo uma posição de defesa escalonada em profundidade, exaurir o inimigo e, após travá-lo nas linhas de defesa, montar uma contra-ofensiva assim que as forças necessárias estiverem reunidas graças ao Extremo-Oriente e a novas formações.»(63)
Em 29 de Junho é decretada uma série de medidas. Stáline anunciou-as ao povo no seu célebre discurso difundido pela rádio, em 3 de Julho de 1941. O seu conteúdo marcou todos os soviéticos pela sua simplicidade e pela sua vontade bravia de vencer. Stáline diz nomeadamente:
«O inimigo é cruel, implacável. Tem como objectivo apoderar-se das nossas terras, regadas com o nosso suor, apoderar-se do nosso trigo e do nosso petróleo, frutos do nosso trabalho. Tem como objectivo restaurar o poder dos latifundiários, restaurar o tsarismo, destruir a cultura nacional e os estados nacionais dos russos, ucranianos, bielorrussos, lituanos, letões, estónios, uzbeques, tártaros, moldavos, georgianos, arménios, azéris e outros povos livres da União Soviética, germanizá-los, transformá- los em escravos dos príncipes e barões alemães. Trata-se, deste modo, da vida e da morte do Estado Soviético, da vida e da morte dos povos da União Soviética, da liberdade dos povos da União Soviética ou da sua subjugação. (...) É preciso que nas nossas fileiras não haja lugar para choramingas e cobardes, alarmistas e desertores, que a nossa gente não conheça o medo na luta e marche com abnegação para nossa guerra patriótica libertadora contra os fascistas escravizadores. O grande Lénine, ao fundar o nosso Estado, disse que a principal qualidade dos soviéticos deve ser a coragem, a bravura, a intrepidez na luta, o seu empenho em bater-se ao lado do povo contra os inimigos da nossa Pátria. (...) O Exército Vermelho, a Armada Vermelha e todos os cidadãos da União Soviética devem defender cada palmo de terra soviética, combater até à última gota de sangue pelas nossas cidades e aldeias. (...) Devemos reforçar a retaguarda do Exército Vermelho, subordinando aos interesses desta tarefa todo o nosso trabalho, assegurar a laboração intensiva de todas as empresas; produzir mais espingardas, metralhadoras, canhões, balas, obuses, aviões. (...) Devemos organizar uma luta impiedosa contra todos os desorganizadores da retaguarda, os desertores, os alarmistas, os propagadores de boatos, eliminar os espiões, os diversionistas, os pára-quedistas inimigos. (... ) Em caso de retirada forçada das unidades do Exército Vermelho, é preciso levar todo o material circulante ferroviário, não deixar ao inimigo nem uma só locomotiva, nem um só vagão, não deixar ao inimigo nem um só quilograma de trigo, nem um só litro de combustível. (... ) Nas regiões ocupadas pelo inimigo, é preciso formar destacamentos de resistentes montados e pedestres, formar grupos de sabotagem para lutar contra as unidades inimigas, para fomentar a guerra de resistência por onde quer se que vá. (... ) Avante, até à nossa vitória.»(64)
Em 10 de Julho começa a batalha de Smolensk. Após a tomada desta cidade estratégica, os nazis pensam poder abalançar-se sobre Moscovo, situada a menos de 300 quilómetros. A batalha de Smolensk prolongou-se durante dois meses!
«Ela desempenhou um papel importante no período inicial da Grande Guerra Patriótica. (...) Os nazis perderam aqui 250 mil soldados e oficiais. (...) Nós ganhámos tempo para preparar reservas estratégicas e tomar medidas defensivas na direcção de Moscovo.»(65)
Vassiliévski faz o seguinte comentário:
«A batalha de Smolensk marcou o início da derrota da “guerra-relâmpago”. (...) Ela constituiu uma excelente escola, é verdade que a alto preço, de aprendizagem da arte militar pelos soldados e os oficiais soviéticos, uma escola preciosa para o comando soviético, incluindo para o Comandante Supremo Stáline.»(66)
Em 30 de Setembro, os nazis iniciam a ofensiva final para tomar Moscovo. Os 450 mil habitantes da capital, 75 por cento dos quais mulheres, são mobilizados para edificar fortificações e defesas antitanque. As tropas do general Panfílov travam batalhas memoráveis na defesa da Estrada de Volokolamsk, imortalizadas no romance homónimo de Aleksandr Bek. (67) Moscovo é bombardeada pela aviação alemã. Os nazis estão a 80 quilómetros. Uma parte da administração é evacuada. O pânico começa a apoderar-se dos habitantes. Mas Stáline decide permanecer em Moscovo. As batalhas tornam-se cada vez mais encarniçadas e, no início de Novembro, a ofensiva nazi é travada. Após consultar Júkov, Stáline toma a decisão de organizar a tradicional parada militar de 7 de Novembro na Praça Vermelha. É um verdadeiro desafio às tropas nazis campeadas às portas de Moscovo. Stáline pronuncia um discurso que é difundido para todo o país.
«O inimigo está às portas de Leningrado e de Moscovo. Ele esperava logo no primeiro ataque que o nosso exército entrasse em debandada e que o nosso país se ajoelhasse. Mas o inimigo enganou-se cruelmente. (...) O nosso país, todo o nosso país, organizou-se num único campo para em conjunto com o nosso exército e nossa marinha concretizar a derrota dos invasores alemães. (... ) Será que se pode duvidar de que nós podemos e devemos vencer os invasores alemães?
«O inimigo não é assim tão forte quanto o apresentam alguns intelectuais assustados. O diabo não é tão feio como o pintam. (...)
«Camaradas soldados e marinheiros, comandantes e funcionários políticos, homens e mulheres resistentes! O mundo inteiro tem os olhos postos em vós como a força capaz de destruir as hordas espoliadoras dos invasores alemães. Os povos escravizados da Europa, caídos sob o jugo alemão, têm os olhos postos em vós como os seus libertadores. Cabe-vos a vós uma grandiosa missão libertadora. Sejam dignos dessa missão. (...) Que a bandeira vitoriosa do grande Lénine vos envolva a todos!»(68)
Em 15 de Novembro, os nazis lançam a sua segunda ofensiva contra Moscovo. No dia 25, algumas unidades avançadas penetram nos arredores a Sul de Moscovo. Mas, em 5 de Dezembro, o ataque é contido. Durante este tempo, novas tropas vindas de todo o país acercam-se de Moscovo. Mesmo nos momentos mais dramáticos, Stáline guardara estas forças estratégicas de reserva. Rokossóvski escreve:
«Isso exigia um cálculo rigoroso e um enorme domínio de si próprio.»(69)
Após ter consultado todos os comandantes, Stáline decidiu lançar um grande contra-ataque, que teve início em 5 de Dezembro, no qual 720 mil soldados vermelhos fazem recuar 800 mil nazis de 100 até 300 quilómetros.
«Pela primeira vez, as “invencíveis” tropas alemãs foram batidas, e batidas seriamente. Diante de Moscovo, os fascistas perderam mais de 500 mil homens, 1300 tanques, 2500 canhões, mais de 15 mil veículos automóveis e muito outro material. O exército de Hitler não havia conhecido ainda tais perdas.»(70)
Muitos consideram a batalha de Moscovo como a verdadeira viragem da guerra antifascista. Ela teve lugar menos de seis meses após o início da guerra-relâmpago. A vontade inquebrantável de Stáline, a sua enorme capacidade de organização e o seu domínio dos grandes problemas estratégicos muito contribuíram para isso.
Quando se fala da II Guerra Mundial, é preciso sempre recordar que, de facto, não houve apenas uma, mas várias guerras. A guerra conduzida pelos imperialismos anglo-americano e francês contra o seu concorrente alemão não tinha muito em comum com a guerra nacional antifascista da União Soviética. A guerra no Ocidente foi uma guerra entre dois exércitos burgueses. No combate contra a invasão hitleriana, a classe dirigente francesa não queria nem podia mobilizar e armar as massas trabalhadoras para uma luta de morte contra o nazismo. Após a derrota das suas tropas, Pétain, o herói da I Guerra Mundial, assinou o acto de capitulação e entrou de pé ligeiro na colaboração. Quase em bloco, a grande burguesia francesa colocou-se sob as ordens de Hitler, tentando tirar o melhor partido da Nova Europa alemã. A guerra no Ocidente foi, de algum modo, uma guerra mais ou menos «civilizada» entre burgueses «civilizados».
Nada de comparável com a União Soviética. O povo soviético teve de fazer face a uma guerra com uma natureza totalmente diferente. E um dos méritos de Stáline foi tê-lo compreendido a tempo e se ter preparado consequentemente.
Antes do início da operação Barbarossa, Hitler havia já claramente esboçado o cenário. O general Halder incluiu no seu Diário apontamentos de um discurso que Hitler pronunciou diante dos seus generais em 30 de Maio de 1941. O führer falava da futura guerra contra a União Soviética.
«Luta de duas ideologias. Caracterização esmagadora do bolchevismo: é como um crime associal. O comunismo é um perigo horrível para o futuro. (...) Trata-se de uma luta de extermínio. Se nós não encararmos a questão sob este ângulo, abateremos certamente o inimigo, mas daqui a 30 anos o inimigo comunista erguer-se-á de novo contra nós. Nós não fazemos a guerra para guardarmos o nosso inimigo. (...) Luta contra a Rússia: destruição dos comissários bolcheviques e da inteligentsia comunista.»(71)
Note-se que já se trata aqui da «solução final» — mas não contra os judeus. As primeiras ameaças de «guerra de extermínio» e de «destruição física» foram dirigidas contra os comunistas soviéticos. E, efectivamente, os bolcheviques, os soviéticos foram as primeiras vítimas do extermínio em massa.
O general Nagel escreveu em Setembro de 1941:
«Contrariamente à alimentação de outros prisioneiros (ou seja, ingleses e americanos), não temos qualquer obrigação de alimentar prisioneiros bolcheviques.»(72)
Nos campos de concentração de Auschwitz e de Chelmno,
«os prisioneiros soviéticos foram os primeiros, ou estiveram entre os primeiros, a ser deliberadamente mortos com injecções letais e com gás.»(73)
O número de prisioneiros de guerra soviéticos mortos nos campos de concentração, «durante a deslocação» ou em «circunstâncias diversas» cifra-se em três milhões 289 mil homens! Quando surgiam epidemias em barracões soviéticos, os guardas nazis só lá entravam «com equipas de lança-chamas» para, «por razões de higiene, queimarem moribundos e mortos juntamente com as suas camas de trapos infestadas de bicharada». Pode ter havido cinco milhões de prisioneiros assassinados, se se levar em conta os soldados soviéticos que foram «simplesmente abatidos no local» no momento em que se rendiam.(74)
Deste modo, as primeiras e também as mais vastas campanhas de extermínio foram dirigidas contra os povos soviéticos, nos quais se incluía o povo judaico soviético. Os povos da URSS foram os que mais sofreram e os que contaram maior número de mortos — 23 milhões — mas deram também provas da mais bravia determinação e do mais ardente heroísmo.
Até à agressão contra a União Soviética não houve grandes massacres de populações judaicas. Até esse momento os nazis não haviam ainda encontrado resistência séria em nenhuma parte. Mas mal deram os seus primeiros passos em solo soviético, esses nobres alemães defrontaram-se com adversários que combatiam até à última gota de sangue. Desde as primeiras semanas que os alemães sofreram perdas severas, e isso contra uma raça inferior, contra os eslavos, e pior ainda, contra os bolcheviques. A fúria exterminadora dos nazis nasceu das suas primeiras perdas maciças. Foi quando começou a sangrar sob os golpes do Exército Vermelho que a besta fascista concebeu a «solução final» para o povo soviético.
Em 26 de Novembro de 1941, o 30.° Corpo do exército nazi, que ocupava um vasto território soviético, ordenou que «todos os indivíduos que tinham familiares resistentes», «todos os indivíduos suspeitos de terem relações com os resistentes», «todos os membros do Partido e do Komsomol, assim como os estagiários», «todos os antigos membros do Partido» e «todos os indivíduos que exercessem funções oficiais» fossem encerrados em campos de concentração como reféns.(75) Por cada soldado alemão morto, os nazis decidiram matar pelo menos dois reféns.
A 1 de Dezembro de 1942, numa discussão com Hitler sobre a guerra dos resistentes soviéticos, o general Jodl resumiu a posição alemã nesses termos:
«No combate, as nossas tropas podem fazer o que querem: enforcar os resistentes, pendurá-los mesmo com a cabeça para baixo ou esquartejá-los.»(76)
A bestialidade com que os nazis perseguiram e liquidaram todos os membros do Partido, todos os resistentes, todos os responsáveis do Estado Soviético e os seus familiares permite-nos compreender melhor o sentido da grande depuração dos anos 1937-1938. Nos territórios ocupados, os contra-revolucionários irredutíveis que não haviam sido liquidados em 1937-1938 colocaram-se ao serviço dos hitlerianos, informando-os sobre todos os bolcheviques, as suas famílias, os seus companheiros de luta.
À medida em que a guerra no Leste adquiriu um carácter cada vez mais encarniçado, a loucura assassina dos nazis contra todo um povo intensificou-se. Himmler, dirigindo-se aos dirigentes das SS em Junho de 1942, falou de uma «guerra de extermínio» entre duas «raças e povos» que se envolveram num combate «incondicional». De um lado há
«uma matéria bruta, uma massa, homens primitivos ou melhor sub-homens dirigidos pelos comissários políticos», do outro lado, «nós, os alemães».(77)
Um terror sanguinário nunca antes praticado: tal foi a arma utilizada pelos nazis para levarem os soviéticos à capitulação moral e política.
«Durante os combates pela tomada de Khárkov», dizia Himmler, «a nossa reputação de provocar o medo e de semear o terror precedia-nos. É uma arma extraordinária que devemos continuar a reforçar.»(78)
E os nazis reforçaram o terror.
Em 23 de Agosto de 1942, às 18 horas em ponto, mil aviões começaram a largar bombas incendiárias sobre Stalingrado. Nesta cidade, onde viviam 600 mil habitantes, havia muitos edifícios em madeira, reservatórios de combustíveis, reservas de carburantes nas fábricas. Eriómenko, que comandou a frente de Stalingrado, escreveu:
«Stalingrado ficou imersa em clarões de chamas, rodeada de fumo e de fuligem. Toda a cidade ardia. Enormes nuvens de fumo e de fogo redemoinhavam sobre as fábricas. Os reservatórios de petróleo pareciam vulcões expelindo a sua lava. Centenas de milhares de habitantes pacíficos pereciam. O coração apertava-se-me de compaixão pelas vítimas inocentes do canibalismo fascista.»(79)
É preciso ter uma visão clara destas realidades insuportáveis para compreender certos aspectos daquilo a que a burguesia chama «o stalinismo». Durante a depuração, burocratas incorrigíveis, derrotistas e capitulacionistas foram atingidos; muitos entre eles foram enviados para a Sibéria. Um Partido minado pelo derrotismo e pelo espírito de capitulação jamais teria podido mobilizar e disciplinar o povo para se opor ao terror nazi. E foi isso que fizeram os soviéticos nas cidades sitiadas, em Leningrado e em Moscovo. E mesmo no braseiro de Stalingrado, os homens que sobreviveram nunca se renderam e participaram finalmente na contra-ofensiva!
No momento da agressão alemã, em Junho de 1941, o general do exército Pávlov, que comandava a Frente Ocidental revelou incompetência grave e negligência. Em 28 de Junho, a perda de Minsk, a capital bielorrussa, foi a consequência. Stáline convocou Pávlov e o seu Estado-Maior a Moscovo. Júkov anota que, «por proposta do Conselho Militar da Frente Ocidental», foram levados a julgamento e fuzilados.(80) Elleinstein apressa-se a dizer que, deste modo, «Stáline continuava a aterrorizar o seu círculo».(81) Ora, ante a barbárie nazi, a direcção soviética devia exigir uma atitude inquebrantável e uma firmeza a toda prova e qualquer acto de irresponsabilidade grave tinha de ser punido com o rigor necessário.
Quando a besta fascista começou a receber feridas mortais, tentou recobrar coragem num banho de sangue, praticando o genocídio contra o povo soviético caído nas suas garras. Himmler declarou a 16 de Dezembro de 1943 em Weimar:
«Quando era obrigado a dar ordem para marchar sobre uma aldeia contra os resistentes e os comissários judeus, dava sistematicamente ordem para matar igualmente as mulheres e as crianças desses resistentes e desses comissários. Seria um covarde e um criminoso perante os nossos descendentes se deixasse crescer as crianças cheias de ódio daqueles sub-homens abatidos no combate do homem contra o sub- homem. Nós devemos ter sempre consciência do facto de que nos encontramos num combate racial primitivo, natural e original.»(82)
O chefe das SS fez noutro discurso em Khárkov, no dia 24 de Abril de 1943:
«Por que meio conseguiremos arrancar ao Russo o máximo de homens, mortos ou vivos? Conseguí-lo-emos matando-os, fazendo-os prisioneiros, fazendo-os trabalhar verdadeiramente e só entregando (certos territórios) ao inimigo depois de os termos esvaziado completamente dos seus habitantes. Entregar homens ao Russo seria um erro grosseiro.»(83)
Esta realidade de terror inaudito que os nazis praticaram na União Soviética, contra o primeiro país socialista, contra os comunistas, é quase sistematicamente ocultada ou minimizada na literatura burguesa. Este silêncio tem um objectivo muito preciso. Às pessoas que ignoram os crimes monstruosos cometidos contra os soviéticos, é mais fácil fazer-lhes engolir a ideia de que Stáline foi, também ele, um ditador comparável a Hitler. A burguesia escamoteia o verdadeiro genocídio anticomunista para poder blasonar mais livremente aquilo que tem em comum com o nazismo: o ódio irracional ao comunismo, o ódio de classe ao socialismo. E para ocultar o maior genocídio da guerra, a burguesia aponta exclusivamente a luz contra um outro genocídio, o dos judeus.
Num livro notável, Arno J. Mayer, cujo pai era sionista de esquerda, mostra que o extermínio dos judeus só começou a partir do momento em que os nazis sofreram pela primeira vez duras perdas. Foi em Junho-Julho de 1941 contra o Exército Vermelho. A bestialidade exercida contra os comunistas e em seguida as derrotas inesperadas que abalaram o sentimento de invencibilidade dos Übermenschen, criaram o ambiente que permitiu o holocausto.
«O genocídio judeu foi forjado no fogo de uma guerra formidável para conquistar à Rússia um «espaço vital» ilimitado, para esmagar o regime soviético e liquidar o bolchevismo internacional. (...) Sem a operação Barbarossa não teria havido nem poderia haver a catástrofe judaica, a “solução final”.»(84)
É depois de serem confrontados com a realidade das derrotas na frente russa que os nazis decidem, durante a conferência de Wannsee, em 20 de Janeiro de 1942, uma «solução global e definitiva» do «problema judaico».
Desde há longos anos que os nazis proclamavam o seu ódio ao «judaico-bolchevismo», sendo o bolchevismo, segundo eles, a pior invenção dos judeus. A resistência bravia dos bolcheviques impedia os nazis de liquidarem o seu inimigo principal. É então que dirigiram as suas frustrações contra os judeus, que exterminariam num gesto de vingança cega.
Como a grande burguesia judaica tinha uma posição conciliadora com o Estado nazi — e mesmo cúmplice em certos casos — a maioria dos judeus entregou-se com resignação aos seus carrascos. Mas os judeus comunistas, que agiam num espírito internacionalista, combateram de armas na mão os nazis e levaram uma parte da esquerda judaica para a resistência. A grande massa dos judeus pobres foi morta em câmaras de gás. Mas muitos ricos conseguiram fugir para os Estados Unidos. Terminada a guerra, colocaram-se ao serviço do imperialismo norte-americano e de Israel, a sua cabeça-de-ponte no Médio Oriente. Falam profusamente do holocausto dos judeus, mas numa óptica pró-israelita; ao mesmo tempo, exprimem com largueza os seus sentimentos anticomunistas e insultam assim a memória dos judeus comunistas que realmente enfrentaram os nazis.
Por fim, uma palavra sobre a maneira como Hitler preparou o espírito dos nazis para massacrar indiferentemente 23 milhões de soviéticos. Para transformar os seus homens em máquinas de matar, inculcou-lhes que um bolchevique não passava de um sub-homem, um animal.
«Hitler advertia as suas tropas de que a força inimiga era “largamente composta de animais e não de soldados”, condicionados a combaterem com uma ferocidade animal.»(85)
Para incitar as tropas alemãs ao extermínio dos comunistas, Hitler dizia-lhes que Stáline e os demais dirigentes soviéticos eram
«criminosos cobertos de sangue que (tinham) matado e exterminado milhões de intelectuais russos, com a sua sede selvagem de sangue (...) (e) que tinham exercido a tirania mais cruel de todos os tempos».(86) «Na Rússia, o Judeu sanguinário e tirânico matou, por vezes com torturas desumanas, ou exterminou pela fome, com uma selvajaria verdadeiramente fanática, cerca de 30 milhões de homens.»(87)
Assim, na boca de Hitler, a mentira dos «30 milhões de vítimas de stalinismo» serviu para preparar psicologicamente a barbárie nazi e o genocídio dos comunistas e resistentes soviéticos.
Notemos de passagem que Hitler pôs primeiro esses «30 milhões de vítimas» na conta de Lénine. De facto, essa mentira repugnante figurava já no Mein Kampf, escrito em 1926, bem antes da colectivização e da depuração! Atacando o judaico-bolchevismo, Hitler escreveu:
«Com uma ferocidade fanática, o Judeu matou na Rússia cerca de 30 milhões de homens, por vezes sob torturas desumanas.»(88)
Meio século mais tarde, Brzezinski, o ideólogo oficial do imperialismo norte-americano retomou, palavra por palavra, todas estas infâmias nazis:
«É absolutamente razoável (!) estimar as vítimas de Stáline no mínimo em 20 e talvez 40 milhões.»(89)
A agressão nazi fez cair sobre a União Soviética uma avalanche de ferro e fogo, ultrapassando de longe todos os horrores que o mundo havia até aí conhecido. Nunca ao longo da história da humanidade uma experiência tão aterradora, de uma violência tão impiedosa, fora antes imposta a um povo, aos seus quadros e à sua direcção. Em tais condições era impossível estar-se com rodeios, enganar-se a si próprio, fugir à situação através de artifícios e de palavras ocas. O momento da verdade tinha chegado para Stáline, dirigente supremo do Partido e do país. A guerra iria medir a sua força moral e política, a sua vontade e resistência, as suas capacidades intelectuais e organizativas.
Ao mesmo tempo, todas as «verdades» sobre Stáline, reveladas de forma interesseira tanto pelos nazis como pela direita mais respeitável, iam ser testadas: a guerra diria fatalmente qual a verdade daquele Stáline «ditador», cujo «poder pessoal» não suportava «a menor contradição», daquele «déspota» que não ouvia a razão, do homem «de uma inteligência medíocre», etc.. Meio século após a guerra, estas calúnias apregoadas à época pelos piores inimigos do socialismo tornaram-se de novo «verdades» primordiais. Com o tempo, a burguesia internacional conseguiu impor nos meios intelectuais o monopólio da sua verdade de classe. Ora a II Guerra Mundial já nos tinha fornecido todo o material necessário para denunciar essa «verdade» mentirosa, tão importante para salvar o sistema de exploração e de pilhagem.
Comecemos por essa primeira «verdade», aparentemente incontestável: Stáline, o homem só, o ditador que impunha a sua vontade pessoal e exigia uma submissão total à sua pessoa. É Khruchov quem a fornece:
«O poder pessoal de Stáline teve consequências especialmente graves durante a grande guerra patriótica».(90) «Stáline age sozinho por todos, não ouvindo nem se aconselhando com ninguém»(91). «Ele não agia mediante a persuasão, a explicação, o trabalho meticuloso com as pessoas, mas através da imposição das suas orientações, exigindo a submissão incondicional à sua opinião. Aquele que se opunha a isso ou tentava demonstrar o seu ponto de vista, a sua razão, estava condenado à exclusão do colectivo dirigente, seguindo-se a sua destruição moral e física.»(92) «Essa suspeição doentia conduziu-o a uma desconfiança infundada (...) criou-se um ambiente no qual as pessoas não podiam manifestar a sua vontade.»(93)
Elleinstein segue os passos de Khruchov. Alegremente, denuncia «os caprichos do ditador» que «desconfiava de todos os seus subordinados».
«(...) Os erros de comando de Stáline, com consequências trágicas, foram tornados possíveis antes de mais pela ditadura soviética».(94)
Vassiliévski, inicialmente adjunto de Júkov, o chefe do Estado-Maior General, e, a partir de Maio de 1942, ele próprio chefe do Estado-Maior General, trabalhou ao lado de Stáline durante toda a guerra.
«Para a preparação desta ou aquela decisão de ordem operacional ou para examinar outros problemas importantes, Stáline chamava personalidades responsáveis directamente relacionadas com a questão em exame. (...) O comandante supremo convocava periodicamente certos membros da Stavka que comandavam as tropas e membros dos conselhos militares das frentes para a preparação, exame ou aprovação desta ou aquela decisão. (... ) O esboço preliminar de uma decisão estratégica e do seu plano de execução era elaborado num círculo restrito de participantes, habitualmente membros do Bureau Político e do Comité de Estado para a Defesa. (...) Com frequência, esse trabalho exigia vários dias durante os quais Stáline tinha normalmente entrevistas com os comandantes e membros dos conselhos militares das frentes para receber as informações e os conselhos necessários.»
Anotemos que o Comité de Estado para a Defesa, dirigido por Stáline, estava incumbido da direcção do país e concentrava nas suas mãos toda a autoridade.
Vassiliévski continua:
«O Bureau Político e a direcção das Forças Armadas apoiavam-se sempre na razão colectiva. Eis por que as decisões estratégicas, tomadas pelo comandante supremo e elaboradas colectivamente, respondiam sempre, em geral, à situação concreta na frente, e as exigências apresentadas aos executantes eram realistas.»(95)
Na opinião de Vassiliévski, o estilo de trabalho de Stáline melhorou ainda por ocasião da batalha de Stalingrado e, depois, durante as grandes ofensivas contra os nazis.
«O mês de Setembro de 1942, quando se criou uma situação extremamente difícil que exigia uma direcção flexível e qualificada das operações militares, marca o ponto de viragem de uma profunda conversão de Stáline como comandante supremo. (...) Ele foi obrigado a apoiar-se constantemente na experiência colectiva dos chefes militares. Desde esse período, podia-se ouvir com frequência dele próprio estas palavras: “Por que diabo não o disse antes?” Desde então, antes de tomar uma decisão sobre esta ou aquela questão importante relativa à condução da luta armada, Stáline aconselhava- se, discutia-a com a participação do seu adjunto, dos responsáveis pelo Estado-Maior General, das principais direcções do Comissariado do Povo para a Defesa, dos comandantes de frentes, assim como dos comissários encarregados da indústria e da defesa.»
Ao longo de toda a guerra, o general do exército Chtemiénko trabalhou no Estado-Maior General, inicialmente como chefe da direcção de operações, depois como vice-chefe do Estado-Maior.
«Devo dizer que Stáline não decidia e não gostava de decidir sozinho questões importantes da guerra. Ele compreendia perfeitamente a necessidade do trabalho colectivo neste domínio complexo, reconhecia as pessoas que tinham autoridade neste ou naquele problema militar, levava em conta a sua opinião e retribuía a cada um o que lhe era devido.»(96)
Júkov relata numerosas discussões muito vivas e sublinha a forma como eram resolvidas:
«Muito frequentemente, nas sessões do Comité de Estado para a Defesa, explodiam vivas discussões no decurso das quais as opiniões eram explicitadas de maneira precisa e clara. (...) Se não se chegava a um entendimento, era constituída no local uma comissão de representantes das partes opostas que ficava encarregada de preparar um texto consensual. No decurso da guerra, o Comité de Estado para a Defesa adoptou cerca de dez mil resoluções e despachos de carácter militar e económico.»(97)
A imagem que Khruchov quis dar de Stáline, «o homem só que não conta com ninguém», é perfeitamente desmentida por um episódio da guerra, ocorrido nos começos de Agosto de 1941, e que dizia respeito ao próprio Khruchov e ao comandante Kirponoss. É Vassiliévski que o conta, pensando sem dúvida naquela passagem do «relatório secreto» onde Khruchov diz:
«No momento da guerra, nós não tínhamos sequer uma quantidade suficiente de espingardas (...).»(98)
Stáline tinha dado o seu acordo a Khruchov sobre uma ofensiva que seria desencadeada em 5 de Agosto de 1941. Mas, ao mesmo tempo, disse-lhe para preparar a linha de defesa que ele, Stáline, havia proposto. E explicou:
«Na guerra é preciso esperar não somente o bom, mas também o mau e até mesmo o pior. É a única forma de não se deixar apanhar desprevenido.»
Khruchov fez todo tipo de pedidos desmedidos, aos quais o quartel-general não podia responder. Stáline disse-lhe:
«Não é razoável pensar que as coisas vos serão servidas já prontas de fora. Aprendam a aprovisionar-se e completar-se pelos vossos próprios meios. Criem unidades de reserva nos exércitos, adaptem certas fábricas à produção de espingardas, metralhadoras, mexam-se. (...) Leningrado já conseguiu iniciar a produção de baterias lança-foguetes multitubos, as katiúcha (...).
«— Camarada Stáline, todas vossas instruções serão executadas. Infelizmente, nós não conhecemos a construção desses engenhos. (...)
«— Tem pessoas consigo que possuem os projectos, e existem modelos há muito tempo. A falta deve-se à sua desatenção em relação a este assunto sério.»(99)
Era assim que Stáline ensinava os seus subordinados — e nomeadamente Khruchov — a mostrarem iniciativa, criatividade e sentido de responsabilidade. Em Julho de 1942, Rokossóvski, que comandava até então um exército com muita competência, foi nomeado por Stáline comandante da Frente de Briánsk. Duvidando se estaria à altura das funções, foi recebido calorosamente por Stáline que lhe precisou os termos da sua missão. Rokossóvski descreve o final do encontro:
«Ia levantar-me para sair, mas Stáline disse-me:
«— Tenha paciência, fique sentado.
«Stáline telefona a Poskrióbichev e pede-lhe que mande chamar um general a quem tinha sido retirado o comando de uma frente. Em seguida tem lugar o seguinte diálogo:
«— Você queixa-se de que foi injustamente punido?
«— Sim. O facto é que fui estorvado no meu comando pelo representante do Centro.
«— Em que é que ele o estorvou?
«— Ele intrometeu-se nas minhas ordens, organizou reuniões num momento em que era preciso agir, e não dar conselhos, deu instruções contraditórias... Em resumo, substituíu-se ao comando da frente.
«— É isso. Portanto ele estorvou-o. Mas era você que comandava a frente?
«— Sim, eu...
«— Foi a você que o Partido e o governo confiaram a frente...Você tinha uma ligação telefónica com o Centro?
«— Tinha uma.
«— Por que nunca informou, nem sequer uma vez, de que estava a ser estorvado no seu comando?
«— Eu não ousei queixar-me do seu representante.
«— Você não ousou telefonar e fez encalhar definitivamente a operação, eis por que nós o punimos...
«Saí do gabinete do comandante supremo com a impressão de que me tinha sido dada uma lição concreta, a mim que vinha de assumir o comando de uma frente. Acreditem que me esforcei por assimilá-la.»(100)
Era assim que Stáline sancionava generais que não ousavam defender a sua opinião dirigindo-se-lhe directamente.
Abordemos uma segunda «verdade» que parece acima de qualquer contestação: Stáline exercia uma ditadura pessoal, comportava-se frequentemente como um histérico e um charlatão e dirigiu a guerra de forma irresponsável, sem conhecer a situação real no terreno. É mais uma vez o homem do «regresso ao grande Lénine», o senhor Khruchov, que nos fez revelações a este respeito.
«Já depois do começo da guerra, o mesmo nervosismo e o mesmo histerismo, que Stáline revelava quando se ingeria no curso das operações militares, causaram sérios danos ao nosso exército. (...)
«Após a guerra, Stáline começou a contar invencionices sobre Júkov, em particular, disse-me:
«- (...) Dizem que Júkov antes de qualquer operação na Frente agia assim: apanhava um punhado de terra, cheirava-a e depois dizia: podemos começar o ataque, ou, ao invés, não se pode começar a operação planeada.»
«(...) Épreciso dizer que Stáline planeava as operações sobre um globo. (Agitação na sala) Sim, camaradas, ele pegava no globo e indicava ali a linha da frente.»
«(...) Stáline estava muito longe de compreender a situação real que se criava nas frentes. O que era natural uma vez que em toda a Guerra Patriótica ele nunca esteve em nenhuma parte da frente (...).(101)
Elleinstein, que evita comprometer-se com a afirmação demasiado estúpida de Khruchov a propósito do globo terrestre, arma-se em valente crítico dos «métodos de direcção» detestáveis de Stáline:
«Um facto merece ser sublinhado: é a ausência quase total de Stáline tanto junto dos combatentes como da população civil. Nunca se deslocou à frente. Este método de direcção é certamente mais perigoso do que o facto de dirigir a guerra com a ajuda de um globo terrestre.»(102)
Escutemos agora como Júkov nos apresenta Stáline, esse «histérico nervoso» que não suportava a menor contradição:
«O trabalho da Stavka efectuava-se, regra geral, sob o signo da organização e da calma. Cada um podia exprimir a sua opinião. Ióssif Stáline dirigia-se a todos da mesma maneira, num tom severo e oficial. Ele sabia ouvir quando se lhe fazia um relatório com pleno conhecimento de causa. É preciso dizer que me convenci durante os longos anos da guerra de que Ióssif Stáline não era de modo nenhum um homem perante o qual não se ousasse colocar questões difíceis ou mesmo debater com ele e defender energicamente o seu ponto de vista. Se alguns afirmam o contrário, direi simplesmente que suas afirmações são falsas.»(103)
Vejamos agora a cena inesquecível na qual Júkov se dirige ao ditador, este com o seu pequeno globo terrestre debaixo do braço, para indicar, aproximativamente por certo, a linha da frente. Júkov descreve-a:
«Era necessário estar bem preparado para informar o Comandante Supremo. Apresentar-se na Stavka para fazer um relatório com mapas incompletos, comunicar dados aproximativos ou exagerados era algo de inconcebível. Stáline não tolerava respostas evasivas, exigia clareza e exaustividade. (... ) Tinha uma intuição particular dos aspectos fracos num relatório ou documento, descobria-os imediatamente e repreendia aqueles que trouxessem uma informação pouco precisa. Com uma excelente memória, lembrava-se do que tinha sido dito e nunca deixava passar ocasião de repreender com muita severidade o culpado por um esquecimento. Era por isso que preparávamos os documentos do Estado-Maior com o máximo rigor.»(104)
O general de exército Chtemiénko, por sua vez, aborda directamente a acusação de Khruchov segundo a qual Stáline, por não se deslocar à frente, não podia conhecer as realidades da guerra.
«O comandante supremo não podia, a nosso ver, deslocar-se com maior frequência às frentes. Teria sido de uma imprudência imperdoável se abandonasse, por um só momento que fosse, a direcção geral para decidir uma questão parcial numa única frente.»(105)
Deslocações desse género eram inúteis, afirma Vassiliévski, Stáline recebia na Stavka as mais detalhadas e completas informações e «podia, encontrando-se em Moscovo, tomar decisões justas e eficazes.»(106) Stáline tomava as decisões com base «não apenas dos dados conhecidos no Centro, mas também tendo em conta as particularidades da situação no local».(107) Como o conseguia? Stáline recebia todas as informações importantes que chegavam aos serviços do Estado-Maior General, ao Ministério da Defesa e à Direcção Política do Exército Vermelho. As informações sobre as particularidades das diferentes frentes provinham de duas fontes. Primeiro, os comandantes das frentes remetiam-lhe regularmente relatórios. Em seguida, através do testemunho de Júkov.
«Para as questões importantes, as opiniões de Ióssif Stáline eram fundadas em grande parte nas informações dos representantes da Stavka que ele enviava junto das tropas. Era seu dever tomar conhecimento da situação no local e solicitar aos comandantes das unidades a sua opinião sobre as conclusões do Estado-Maior General, sobre os pontos de vista e propostas dos comandantes das frentes e sobre os relatórios especiais.»(108)
Os representantes da Stavka eram obrigados a enviar relatórios diários a Stáline. A 6 de Agosto de 1943, primeiro dia de uma operação importante nos arredores de Khárkov, Vassiliévski atrasou-se a enviar o seu relatório. Stáline faz-lhe chegar imediatamente uma mensagem:
«Em caso de novo esquecimento do seu dever para com o quartel-general, será retirado das suas funções de chefe do Estado-Maior General e chamado da Frente».(109)
Vassiliévski ficou perturbado, mas não se deixou ofuscar com esta «rudeza». Pelo contrário, escreveu:
«Stáline era igualmente categórico com os outros, ele exigia uma disciplina idêntica a cada representante da Stavka. Considero que a ausência de qualquer condescendência para connosco se justificava pelos interesses de uma direcção eficaz da luta armada. O comandante supremo seguia muito de perto a evolução dos acontecimentos nas diferentes frentes, reagia vivamente a todas as modificações e tinha firmemente nas mãos a direcção das tropas.»(110)
Contrariando Khruchov, que alegou ter visto em acção um Stáline irresponsável e charlatão, Vassiliévski, que trabalhou durante 34 meses ao lado do líder, analisa o estilo de trabalho deste último, da seguinte forma:
«Stáline exercia uma grande influência no estilo de trabalho da Stavka. Os seus traços característicos eram o apoio na experiência colectiva para o estabelecimento dos planos operacionais e estratégicos, uma elevada exigência, a diligência, a ligação permanente com as tropas, o exacto conhecimento da situação nas frentes. A sua alta exigência era uma parte intrínseca do estilo de trabalho de Stáline, enquanto comandante supremo. Não era apenas rigoroso, o que se justifica especialmente em tempos de guerra, ele nunca perdoava a falta de rigor no trabalho, a incapacidade de levar as coisas até o fim.»(111)
Um exemplo detalhado mostrará da forma mais convincente o que eram os famosos «métodos de direcção irresponsável» de Stáline.
Em Abril de 1942, a ofensiva do Exército Vermelho para libertar a Crimeia havia fracassado. A Stavka ordenou a sua suspensão e a organização de uma defesa escalonada. Vinte e uma divisões soviéticas enfrentavam dez divisões nazis. Mas, em 8 de Maio, os nazis atacam e rompem a defesa soviética. O representante da Stavka, Mékhlis, um colaborador próximo de Stáline, enviou o seu relatório, ao qual o comandante supremo respondeu desta forma:
«Você coloca-se numa estranha posição de observador exterior, sem responsabilidade nos assuntos da Frente da Crimeia. É uma posição muito cómoda, mas perfeitamente intolerável. Na Frente da Crimeia, você não é um observador exterior, mas um representante responsável da Stavka que responde por todos os sucessos e reveses da Frente e está obrigado a corrigir no local os erros do comando. Você responde juntamente com o comando pelo facto de o flanco esquerdo da Frente se encontrar totalmente enfraquecido. Se, como disse, “toda a situação indicava que o inimigo iria atacar logo pela manhã” e, no entanto, não tomou todas as medidas para organizar a resistência, limitando-se a uma crítica passiva, então tanto pior para você.»(112)
Stáline criticou a fundo os métodos de direcção burocrática e formal.
«Os camaradas Kozlov (comandante da frente) e Mékhlis consideraram que sua missão principal consistia em dar uma ordem e que, uma vez esta dada, terminava ali a sua obrigação relativamente à condução das tropas. Não compreenderam que dar uma ordem é apenas o começo do trabalho e que a missão principal do comando consiste em assegurar a sua execução, em fazer chegar a ordem ao conhecimento das tropas e em organizar a assistência às tropas para a execução da ordem do comando. Como mostrou a análise do decurso da operação, o comando da Frente emitiu as suas ordens sem ter em conta a situação na frente, sem conhecer a verdadeira posição das tropas. O comando da Frente não assegurou sequer a transmissão das suas ordens aos exércitos. (... ) Nos dias críticos da operação, o comando da Frente da Crimeia e o camarada Mékhlis, em vez de estabelecerem uma comunicação pessoal com os comandantes dos exércitos e em vez de intervirem pessoalmente no decurso da operação, passaram o seu tempo em longas e infrutíferas sessões do conselho militar. (...) O nosso efectivo de comando deve romper resolutamente com os métodos viciosos e burocráticos de direcção das tropas, não pode limitar-se a dar ordens, mas deve estar mais frequentemente junto das tropas, dos exércitos, das divisões e ajudar os seus subordinados a executar as ordens do comando. O nosso efectivo de comando, os comissários e os responsáveis políticos devem extirpar radicalmente a indisciplina entre os chefes, grandes epequenos.»(113)
Ao longo de toda a guerra, Stáline combateu firmemente as atitudes irresponsáveis e burocráticas, exigindo uma intervenção enérgica no terreno.
Terminemos com a terceira «verdade» sobre a personalidade de Stáline: um homem rude e frio, de uma inteligência medíocre, sem consideração pelas pessoas e que tinha desprezo pelos seus colaboradores. Ora os homens que «suportaram» este monstro, dia após dia, durante os quatro terríveis anos de guerra, oferecem-nos um retrato de Stáline que é o extremo oposto deste quadro.
Eis um retrato instantâneo que Júkov nos forneceu do seu «chefe».
«I. V. Stáline não se distinguia por nada de particular, mas produzia uma forte impressão. Desprovido de qualquer pose, seduzia o interlocutor pela simplicidade de relacionamento. O curso livre que dava à conversação, a aptidão em formular com nitidez o seu pensamento, o espírito naturalmente propenso à análise, uma grande erudição e uma memória espantosa obrigavam mesmo as personalidades mais esclarecidas que se encontravam com ele a concentrarem-se e manterem-se de sobreaviso. (...) Stáline possuía uma enorme inteligência natural, mas também conhecimentos espantosamente vastos. Tive ocasião de observar a sua capacidade de pensamento analítico durante as sessões do Bureau Político, do Comité de Estado para a Defesa e no trabalho permanente na Stavka. Ele escutava atentamente aqueles que tomavam a palavra, colocava por vezes questões e fazia objecções. Terminada a discussão, formulava as conclusões com clareza e fazia o balanço. (...) A sua espantosa capacidade de trabalho e a sua aptidão para entender rapidamente um assunto permitiam-lhe estudar e assimilar num dia uma grande quantidade de factos dos mais variados, o que exige capacidades excepcionais.»(114)
Vassiliévski contribui para este retrato com algumas pinceladas sobre as relações de Stáline com as pessoas.
«Stáline era dotado de uma grande capacidade de organização. Ele próprio trabalhava muito e sabia fazer os outros trabalhar, tirar deles tudo o que podiam dar. (...) Stáline tinha uma memória espantosa. Stáline não só conhecia todos os comandantes das frentes e dos exércitos, que eram mais de uma centena, mas também alguns comandantes de corpos e de divisões, assim como os responsáveis do Comissariado do Povo para a Defesa, sem falar do pessoal dirigente do aparelho central e regional do Partido e do Estado.»(115)
Para além disso, Stáline conhecia pessoalmente um grande número de construtores de aviões, de material de artilharia e de tanques, recebia-os com frequência e interrogava-os minuciosamente.(116)
De que forma se pode avaliar finalmente os méritos militares daquele que dirigiu o exército e os povos da União Soviética no decurso da maior e mais horrível guerra que a história já conheceu?
Apresentemos primeiro a opinião de Khruchov.
«(...) Stáline popularizou-se muito intensamente a si próprio como um grande chefe militar (...) Vejam os nossos filmes históricos e de guerra (...) Todos eles se destinaram à propaganda precisamente desta versão para a glorificação de Stáline como um genial chefe militar»(117).
«Não foi Stáline, mas o Partido inteiro, o Governo soviético, o nosso heróico exército, os seus chefes talentosos e os seus gloriosos soldados, todo o povo soviético - eis quem assegurou a vitória na Grande Guerra Patriótica (tempestuosos aplausos prolongados).»(118)
Não foi Stáline! Não foi Stáline, mas o Partido inteiro. E este Partido inteiro obedecia sem dúvida às instruções do Espírito Santo. Khruchov finge glorificar o Partido, esse corpo colectivo de combate, para diminuir o papel de Stáline. Ao organizar o culto da sua personalidade, Stáline teria usurpado a vitória que o Partido «inteiro» tinha arrancado. Como se Stáline não fosse o dirigente mais eminente desse Partido, aquele que no decurso da guerra deu provas da mais espantosa capacidade de trabalho, da maior tenacidade e clarividência. Como se todas as decisões estratégicas não tivessem sido decididas por Stáline, mas pelos seus subordinados contra ele.
Se Stáline não era um génio militar, então teremos de concluir que a maior guerra da história, aquela que a humanidade travou contra o fascismo, foi ganha sem génio militar. Isto porque nesta guerra aterradora, ninguém desempenhou um papel comparável ao de Stáline. Mesmo Averell Harriman, o representante do imperialismo americano, após ter repetido os clichés obrigatórios a propósito do «tirano que era Stáline», sublinha a sua
«grande inteligência, a sua fantástica capacidade de penetrar nos detalhes, a sua perspicácia e a sensibilidade humana surpreendente que revelou, pelo menos, durante os anos da guerra. Acho que ele era mais bem informado que Roosevelt, mais realista do que Churchill e, sob vários aspectos, o mais eficaz dos dirigentes da guerra.»(119)
«Pergunta-se, onde estavam os nossos militares (...) eles não estão no filme, para eles não restou nenhum lugar depois de Stáline»,(120)
exclamou o demagogo Khruchov, que assim bajulava os marechais: não são vocês os verdadeiros génios militares da II Guerra Mundial? Finalmente, Júkov e Vassiliévski, os dois chefes militares mais eminentes, deram a sua opinião, respectivamente, 15 e 20 anos após o relatório infame de Khruchov.
Vejamos inicialmente o juízo de Vassiliévski.
«Stáline formou-se como estratega. (...) Após a batalha de Stalingrado e particularmente a de Kursk, elevou-se aos píncaros da direcção estratégica. Stáline pensa manejando as categorias da guerra moderna, domina perfeitamente todas as questões da preparação e da execução das operações. Exige que as operações militares sejam conduzidas de forma criativa, com utilização plena da ciência militar, que sejam enérgicas e com manobras tendo por objecto a deslocação e o cerco do inimigo. O seu pensamento militar manifesta nitidamente a tendência para concentrar forças e meios, utilizar de forma diversificada todas as variantes possíveis no começo das operações e na sua condução. Stáline começa a compreender bem não apenas a estratégia da guerra, que para ele foi fácil uma vez que dominava maravilhosamente a arte da estratégia política, mas também a arte operacional.»(121)
«Stáline entrou duradouramente na história militar. O seu mérito indubitável esteve em que, sob a sua direcção imediata enquanto comandante supremo, as forças armadas soviéticas mostraram-se firmes nas campanhas defensivas e realizaram brilhantemente todas as operações ofensivas. Mas, tanto quanto pude observar, ele nunca falava dos seus méritos. Em todo caso, nunca o ouvi falar disso. A condecoração de Herói da União Soviética e o título de Generalíssimo foram-lhe conferidos por proposta dos comandantes da frente e do Bureau Político. Quanto aos erros cometidos durante os anos de guerra, ele falava deles honesta e francamente.»(122)
«Estou profundamente convencido de que Stáline, particularmente a partir da segunda metade da Grande Guerra Patriótica, foi a figura mais forte e mais brilhante do comando estratégico. Cumpriu com êxito a direcção das frentes, justificando todos os esforços do país, na base da política do Partido. (...) Stáline permanece na minha memória como um chefe militar rigoroso, de vontade forte, não lhe faltando ao mesmo tempo encanto pessoal.»(123)
Júkov começa por nos dar um perfeito exemplo do método de direcção exposto por Mao Tse Tung: concentrar as ideias justas das massas para as devolver sob a forma de directivas às massas.
«É pessoalmente a I. V. Stáline que se devem soluções de princípio, em particular as relativas aos procedimentos de ataque da artilharia, à conquista do domínio aéreo, aos métodos de cerco do inimigo, à deslocação de agrupamentos inimigos cercados e à sua destruição sucessiva por elementos, etc.. Todas estas questões importantes da arte militar são frutos de uma experiência prática, adquirida no decurso dos combates e das batalhas, fruto de reflexões aprofundadas e conclusões retiradas dessa experiência pelo conjunto dos chefes e pelas próprias tropas. Mas o mérito de I. V. Stáline consiste em ter acolhido adequadamente os conselhos dos nossos especialistas militares eminentes, de os ter completado, explorado e comunicado rapidamente sob a forma de princípios gerais nas instruções e directivas dirigidas às tropas, com vista a assegurar a condução prática das operações.»(124)
«Até à batalha de Stalingrado, I. V. Stáline não dominava senão nas suas grandes linhas os problemas da estratégia, da arte operacional, da construção de operações modernas ao nível de uma frente e, mais ainda, ao nível de um exército. Mais tarde, sobretudo a partir de Stalingrado, I. V. Stáline entra a fundo na arte de montar as operações de uma ou de várias frentes e dirigiu este tipo de operações com competência, resolvendo bem vários problemas sérios de estratégia.
«Na direcção da luta armada, I. V. Stáline era de modo geral ajudado pela sua inteligência natural e a sua rica intuição. Sabia descobrir o elemento principal numa situação estratégica e, em consequência, sabia responder ao inimigo, desencadear esta ou aquela importante operação ofensiva.
«Não há dúvida: ele era digno do comando supremo.»(125)
Notas:
(1) Citação traduzida do original russo, «Relatório ao XVII Congresso sobre o Trabalho do PCU(b), 26 de Janeiro de 1934», in Stáline, Obras, Gossudárstvenoe Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1951, tomo 13, págs. 302-303 (NT). (retornar ao texto)
(2) Documents et matériaux se rapportant à la veille de la Deuxième Guerre mondiale, Ed. En langues étrangères, Moscovo, 1948, tomo I, p. 282. (retornar ao texto)
(3) Documents et matériaux...; Archives Dirksen, tomo II, Ed. en Langues étrangères, Moscovo, 1948, pp. 112-113. (retornar ao texto)
(4) The Secret Diary of Harold Ickes, vol. II, p. 705, citado em: A la veille de la Seconde Guerre mondiale, Sipols et Kharlamov, Ed. Novosti, Moscovo, 1973, p. 262. (retornar ao texto)
(5) Grigori Déborine, Les secrets de la Seconde Guerre mondiale, Ed. du Progrès, Moscovo, 1972, p. 35. (retornar ao texto)
(6) Churchill, op. cit., tomo 2, pp. 51-52. (retornar ao texto)
(7) Citado em: La grande guerre nacionale de L'Union soviétique, Ed. du Progrès, Moscovo, 1974, p. 20. (retornar ao texto)
(8) Jukov, Mémoires, tome I, Ed. Fayardm Oarusm 1970, pp. 250-251. (retornar ao texto)
(9) Documents sur les relations finno-soviétiques, Ministério dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Ed. Flammarion, 1940, pp. 93-95 e 109.(retornar ao texto)
(10) Hans Adolf Jacobsen, La seconde Guerre mondiale, tomo I, Ed. Casterman, Paris, 1968, p. 118. (retornar ao texto)
(11) Pavel Jiline, Ambitions et méprises du Troisième Reich, Ed. du Progrès, 1972, p. 74. (retornar ao texto)
(12) General Srrigny, L'Allemagne face à la guerre totale, Ed. Grasset, 1940, p. 228. (retornar ao texto)
(13a) Falsificateurs de L'Histoire, Ed. ABS, Bruxelas, 1948, p. 68. (retornar ao texto)
(13) Petite encychlopédie politique du monde, Ed. Chanteclair, Rio de Janeiro 1943, p. 136. (retornar ao texto)
(14) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsKKPSS, N.° 3, Março de 1989, pág.146 (NT). (retornar ao texto)
(15) Ibidem, p. 147 (NT). (retornar ao texto)
(16) Jukov, Mémoires, tome II, Ed. Fayard, Paris, 1970, p. 156. (retornar ao texto)
(17) Ibidem, p. 201. (retornar ao texto)
(18) Ibidem, p. 156. (retornar ao texto)
(19) Ibidem, p. 203. (retornar ao texto)
(20) Jukov, op. cit., p. 204. (retornar ao texto)
(21) Ibidem, pp. 204-205. (retornar ao texto)
(22) La grande guerre nationale, Ed. du Progrès, Moscovo, 1974, p. 33. (retornar ao texto)
(23) Ibidem, p. 279. (retornar ao texto)
(24) Jukov, op. cit., p. 291, e La grande guerre, op. cit., p. 33. (retornar ao texto)
(25) Jukov, op. cit., p. 296, e La grande guerre, op. cit., p. 33. (retornar ao texto)
(26) Jukov, op. cit., p. 289, e La grande guerre, op. cit., p. 33. (retornar ao texto)
(27) Jukov, op. cit., p. 280. (retornar ao texto)
(28) Ibidem, p. 264. (retornar ao texto)
(29) Ibidem, p. 250. (retornar ao texto)
(30) Ibidem, p. 311. (retornar ao texto)
(31) Ibidem, p. 234. (retornar ao texto)
(32) Ibidem, p. 270-271. (retornar ao texto)
(33) Ibidem, p. 272. (retornar ao texto)
(34) Ibidem, p. 312-315. (retornar ao texto)
(35) Jiline, op. cit., p. 212. E Júkov, op. cit., p. 308. (retornar ao texto)
(36) Jukov, op. cit., pp. 287-288. (retornar ao texto)
(37) Ibidem, pp. 321-322. (retornar ao texto)
(38) Ibidem, p. 334. (retornar ao texto)
(39) Ibidem, pp. 335-337. (retornar ao texto)
(40) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsKKPSS, N.° 3, Março de 1989, pág.146 (NT). (retornar ao texto)
(41) Ibidem, pp. 147 e 148 (NT). (retornar ao texto)
(42) Elleistein, Staline, Ed. Marabout, 1986, p. 262. (retornar ao texto)
(43) Vassilievski, La cause de toute une vie, Ed. du Progrès, Moscovo, 1975, p. 26. (retornar ao texto)
(44) Ibidem, p. 25. (retornar ao texto)
(45) Déborine, Les secrets de la Seconde Guerre mondiale, Ed. du Progrès, Moscovo, 1972, pp. 73-74. (retornar ao texto)
(46) Jukov, op. cit., p. 333. (retornar ao texto)
(47) Sefton Delmer, Opération Radio Noire, Ed. Stock, 1962, pp. 81-82. (retornar ao texto)
(48) De Morgen, 23 Janeiro de 1993, p. 21. (retornar ao texto)
(49) Jukov, op. cit., p. 330. (retornar ao texto)
(50) Ibidem, p. 339. (retornar ao texto)
(51) Ibidem, p. 340. (retornar ao texto)
(52) Ibidem, p. 342. (retornar ao texto)
(53) Ibidem, p. 203. (retornar ao texto)
(54) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsKKPSS, N.° 3, Março de 1989, pág.148 (NT). (retornar ao texto)
(55) Ibidem, p. 136 (NT). (retornar ao texto)
(56) Elleinstein, op. cit., p. 269. (retornar ao texto)
(57) Jukov, op. cit., p. 395. (retornar ao texto)
(58) Ibidem, p. 351. (retornar ao texto)
(59) «Relatório de Khruchov», op. cit., p. 148 (NT). (retornar ao texto)
(60) Jukov, op. cit., pp. 395-396. (retornar ao texto)
(61) Jukov, op. cit., p. 354. (retornar ao texto)
(62) Ibidem, p. 359. (retornar ao texto)
(63) Ibidem, p. 379. (retornar ao texto)
(64) Traduzido do original russo, «Intervenção pela rádio, de 3 de Julho de 1941», in I.V. Stáline, Obras, Izdátelstvo Pissátel, Moscovo, 1997, tomo 15, págs. 59, 60 e 61 (NT). (retornar ao texto)
(65) Jukov, op. cit., p. 406. (retornar ao texto)
(66) Vassilievski, op. cit., pp. 38-39. (retornar ao texto)
(67) Alexandre Beck, La chaussée de Volokolamsk, Ed. Bordas, Paris, 1946 (retornar ao texto)
(68) Traduzido do original russo, «Discurso na Praça Vermelha, 7 de Novembro de 1941», in I.V. Stáline, Obras, Izdátelstvo Pissátel, Moscovo, 1997, tomo 15, págs. 84, 85 e 86 (NT). (retornar ao texto)
(69) Rokossovski, Le devoir du Soldat, Ed. du Progrès, Moscovo, 1988, p. 94. (retornar ao texto)
(70) Ibidem. p. 72. (retornar ao texto)
(71) Jacobsen, op. cit., pp. 19-120. (retornar ao texto)
(72) Alan Clarc, La Guerre à l’Est, RobertLaffont, Paris, 1966, p. 250. (retornar ao texto)
(73) Arno J. Mayer, Why did the heavens not darken? Verso, Londres, 1990, p. 349, traduzido em francês sob o título La «solution finale» dans l’histoire, La Découverte, 1990. Todas as referências são da edição inglesa. (retornar ao texto)
(74) Clarc, op. cit. p. 251. (retornar ao texto)
(75) Mayer, op. cit. ,p. 251. (retornar ao texto)
(76) Hitler parle à ses généraux, Albin Michel, Paris, 1964, pp. 39-40. (retornar ao texto)
(77) Mayer, op. cit., p. 281. (retornar ao texto)
(78) Heinrich Himmler, Discours secrets, Gallimard, 1978, p. 191. (retornar ao texto)
(79) Eremenko, pp. 153-154. (retornar ao texto)
(80) Jukov, op. cit., p. 385. (retornar ao texto)
(81) Elleinstein, op. cit., p. 283. (retornar ao texto)
(82) Himmler, op. cit., p. 205. (retornar ao texto)
(83) Ibidem, p. 187. (retornar ao texto)
(84) Mayer, op. cit., p. 234. (retornar ao texto)
(85) Ibidem, p. 244. (retornar ao texto)
(86) Ibidem, p. 106. (retornar ao texto)
(87) Ibidem, p. 101. (retornar ao texto)
(88) Hitler, Mein Kampf, Ed. Ridderhof, 1982, p. 400. (retornar ao texto)
(89) Brzezinski, op. cit., p. 27. (retornar ao texto)
(90) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsKKPSS, N.° 3, Março de 1989, pág.145 (NT) (retornar ao texto)
(91) Ibidem, pág.151 (NT). (retornar ao texto)
(92) Ibidem, p. 131-132 (NT). (retornar ao texto)
(93) Ibidem, p. 144 (NT). (retornar ao texto)
(94) Elleinstein, op. cit., pp. 284, 282. (retornar ao texto)
(95) Vassilievski, op. cit., pp. 34-36. (retornar ao texto)
(96) Chtemienko, L’Etat-Major general soviétique en guerre, tome II, Ed. Du Progrès, Moscovo, 1976. p. 319. (retornar ao texto)
(97) Jukov, op. cit., p. 395. (retornar ao texto)
(98) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsKKPSS, N.° 3, Março de 1989, pág. p. 147 (NT). (retornar ao texto)
(99) Vassilievski, op. cit., p. 235. (retornar ao texto)
(100) Rokossovski, op. cit., p. 128. (retornar ao texto)
(101) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsK KPSS, N.° 3, Março de 1989, pág. p. 149, 150 e 149 (NT). (retornar ao texto)
(102) Elleinstein, op. cit., p. 285. (retornar ao texto)
(103) Jukov, op. cit., p. 415. (retornar ao texto)
(104) Ibidem, p.416. (retornar ao texto)
(105) Chtemienko, op. cit., tomo II, p. 354. (retornar ao texto)
(106) Vassilievski, op. cit., pp. 402-403. (retornar ao texto)
(107) Ibidem, p. 375. (retornar ao texto)
(108) Jukov, op. cit., p. 415. (retornar ao texto)
(109) Vassilievski, op. cit., p. 235. (retornar ao texto)
(110) Ibidem, pp. 235-236. (retornar ao texto)
(111) Ibidem, p. 401. (retornar ao texto)
(112) Ibidem, pp. 108-109. (retornar ao texto)
(113) Vassilievski, op. cit. p. 111. (retornar ao texto)
(114) Jukov, op. cit., pp. 399, 417-418. (retornar ao texto)
(115) falta (retornar ao texto)
(116) falta (retornar ao texto)
(117) falta (retornar ao texto)
(118) falta (retornar ao texto)
(119) Averell Arriman, Special Envoy, Random House, New York, 1975, p. 536. (retornar ao texto)
(120) Traduzido do original russo, op. cit., pág. 151 (NT). (retornar ao texto)
(121) Vassilievski, op. cit., pp. 400-401. (retornar ao texto)
(122) Ibidem, p. 404. (retornar ao texto)
(123) Ibidem, p. 399. (retornar ao texto)
(124) Jukov, pp. cit., p. 420. (retornar ao texto)
(125) Ibidem, pp. 419-420. (retornar ao texto)
Inclusão | 11/02/2016 |
Última atualização | 07/04/2016 |