Um Chamado às Nossas Camaradas

Dora B. Montefiore

9 de janeiro de 1919


Primeira Edição: The Call, 9 de janeiro de 1919, página 03.

Tradução: Talita Guglak da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/montefiore/1919/01/09.htm

HTML: Fernando Araújo.

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A carta da nossa camarada Clara Zetkin em The Call em 26 de dezembro expressa o que tenho certeza que todas as mulheres socialistas estão pensando - a exigência que devemos fazer para estarmos presentes na Conferência de Paz. Junto a essa demanda está o fato de que nossa camarada Zetkin, a Secretária da Internacional das Mulheres, convida comissárias socialistas a um Congresso, que ela está convocando e em que serão debatidas as questões decorrentes da guerra e tem uma influência especial nas condições das mulheres trabalhadoras, das esposas e das mães.

Ninguém pode negar que a guerra capitalista de quatro anos, que mudou política, industrial e socialmente a face da Europa, não afetou profundamente a posição e o ambiente das mulheres trabalhadoras. Para começar, elas foram convocadas de tal forma que nenhuma outra guerra o fez, para assumir uma parte direta e ativa em cada país no andamento desta. Esposas, mães e mulheres divorciadas na França, na Alemanha, na Áustria, no Japão e na Grã-Bretanha fizeram milhões de munições com o objetivo consciente de destruir os filhos de outras mulheres. Isso somado ao terror que o capitalismo mantém reservado para sua expressão final: mulheres, as provedoras e nutrientes da vida, organizadas como assalariadas para destruir a vida. Quais podem ser as consequências à raça dessa perversão funcional, ainda não sabemos.

Outro ponto: as mulheres trabalhadoras durante a guerra tiveram certas liberdades, que se espera que elas preservem como um segredo sagrado. Na Rússia, as mulheres têm, de forma absoluta, direitos iguais para votar e serem eleitas a Sovietes, os conselhos administrativos mais democráticos que existem; nós mulheres socialistas devemos encontrar mulheres tanto dos Sovietes russos quanto dos Sovietes alemães e aprender com elas a verdade sobre a forma como seus países estão evoluindo do imperialismo e a dominação capitalista à administração proletária. A ideia e o escopo dos Sovietes são bastante conhecidos às mulheres socialistas de Gorbals, mas lá elas têm John Maclean como um expoente e um professor; e nossa tarefa, como mulheres do Partido Socialista Britânico (B.S.P.), é popularizar essa ideia do Soviete ou conselho, que deve ser a unidade administrativa do futuro. Nunca houve um encontro Internacional de Mulheres Socialistas que tivessem o interesse intenso e forte desse congresso de fato. Durante quatro anos fomos alimentadas pelas mentiras capitalistas das linhas amarelas da imprensa; durante quatro anos verdades suprimidas e mal representadas foram manufaturadas. Agora sabemos que uma deliberada e sistemática tentativa está sendo feita para esmagar a emergente administração socialista na Rússia; enquanto nossos chefes militares, na Alemanha, se recusam de forma arrogante a consultar ou a tratar com os representantes dos sovietes alemães. Esses fatos nos dão as medidas do ódio e do medo do socialismo, e até certo ponto nos alegra com o conhecimento do sucesso de nossos camaradas. Mas o que desejamos saber é a verdade, e isso só podemos quando encontrarmos nossos camaradas continentais, e uma vez mais renovar as relações e amizades que esses quatro anos de guerra capitalista interromperam. Nós mulheres socialistas éramos antimilitaristas antes da guerra e ainda somos antimilitaristas; reconhecemos que a guerra, como expressão final da competição capitalista, tinha de ser, mas pretendemos com camaradas homens a extrair das condições caóticas criadas pela guerra todas as vantagens que podemos adotar em nossa propaganda, que devemos continuar com a coragem e a esperança crescente até mudarmos o mundo de uma luta competitiva à cooperação humana.


Inclusão: 09/08/2022