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A mais-valia criada pelo trabalho dos operários assalariados no processo de produção é a fonte dos ingressos de todas as classes exploradoras da sociedade capitalista. Examinaremos neste capítulo o modo pelo qual a mais-valia assume a forma de lucro dos capitalistas que invertem seus capitais na produção das mercadorias.
O valor de uma mercadoria produzida numa empresa capitalista divide-se em três partes:
A grandeza do valor da mercadoria é determinada pela quantidade de trabalho socialmente necessário que se exige na sua produção. Entretanto, o capitalista não gasta o seu próprio trabalho na produção da mercadoria, mas desembolsa, para isso, seu próprio capital.
O custo capitalista de produção da mercadoria é composto pelos gastos de capital constante e variável (c + v), isto é, pelos dispêndios com os meios de produção e com os salários aos operários. Portanto, o custo da mercadoria para os capitalistas é medido pelo gasto de capital, enquanto que o custo da mercadoria para a sociedade é medido pelo gasto de trabalho. Por isso, o custo capitalista de produção da mercadoria é menor do que o valor da mercadoria, isto é, do que o custo efetivo de produção (c + v + m). A diferença entre o valor, ou o custo efetivo de produção, e o custo capitalista de produção é igual a mais-valia (m), da qual o capitalista se apropria gratuitamente.
Quando o capitalista vende a mercadoria produzida em sua empresa, a mais-valia aparece como um determinado excedente em relação ao custo capitalista de produção. Para determinar a rentabilidade de sua empresa, o capitalista confronta este excedente com o capital adiantado, isto é, com todo o capital que ele inverteu na produção. A mais-valia confrontada com todo o capital toma a forma de lucro. Além disso, como a mais-valia não é confrontada com o capital variável, mas com todo o capital, em seu conjunto, dissimula-se a diferença entre o capital constante empregado na compra de meios de produção e o capital variável investido na contratação de força de trabalho. Em consequência, surge a enganosa aparência de que o lucro é, supostamente, gerado pelo próprio capital. Na realidade, porém, a fonte do lucro é a mais-valia criada exclusivamente pelo trabalho dos operários no processo de uso da força de trabalho, cujo valor está cristalizado no capital variável. O lucro é a mais-valia tomada em relação a todo o capital invertido na produção e que aparece exteriormente como tendo sido engendrada por este capital. Devido a isto, Marx denomina o lucro de forma metamorfoseada da mais-valia.
Do mesmo modo que a forma salário oculta a exploração do operário assalariado, criando a falsa representação de que, supostamente, todo o trabalho seria remunerado, também exatamente assim a forma lucro, por sua vez, oculta a relação de exploração, criando a ilusória aparência de que o lucro seria engendrado pelo capital. Assim é que as formas das relações de produção capitalistas dissimulam e mascaram sua essência exploradora.
O grau de rentabilidade de uma empresa capitalista, para o seu possuidor, é determinada pela taxa de lucro. A taxa de lucro é a relação entre a mais-valia e todo o capital adiantado, expressa em porcentagem. Por exemplo, se todo o capital adiantado for igual a 200 mil dólares e o lucro num ano for de 40 mil dólares, então a taxa de lucro será de 40000/200000 x 100, ou 20%.
“A taxa de lucro é a força motriz da produção capitalista; produz-se aquilo e só na medida em que seja possível produzir-se com lucro.”(58)
Desde que todo o capital adiantado é maior do que o capital variável, a taxa de lucro (m/c+v) é sempre menor do que a taxa de mais-valia (m/v).
Se, em nosso exemplo, o capital de 200 mil dólares for composto por 160 mil dólares de capital constante e 40 mil dólares de capital variável, nesse caso a taxa de mais-valia será de 40000/40000 x 100 = 100%, enquanto a taxa de lucro será de 20%, ou um quinto da taxa de mais-valia.
A taxa de lucro depende antes de tudo da taxa de mais-valia. Quanto mais elevada for a taxa de mais-valia, tanto maior, mantidas as demais condições, será a taxa de lucro. Todos os fatores que elevam a taxa de mais-valia. isto é, que aumentam o grau de exploração do trabalho pelo capital (prolongação do dia de trabalho, elevação da intensidade e da produtividade do trabalho, etc.), também incrementam a taxa de lucro.
Ademais, dada uma determinada taxa de mais-valia, a taxa de lucro depende da composição orgânica do capital. Como já vimos, a composição orgânica do capital é a relação entre o capital constante e o capital variável. Quanto mais baixa for a composição orgânica do capital, isto é, quanto maior for o peso específico do capital variável em relação ao constante, tanto maior, com uma mesma taxa de mais-valia, será a taxa de lucro. E, inversamente, quanto mais elevada a composição orgânica do capital, com uma taxa igual de mais-valia, tanto menor será a taxa lucro.
Um dos fatores que elevam a taxa de lucro é a economia na aplicação do capital constante.
Por último, influi sobre a taxa de lucro a rapidez da rotação do capital. Quanto mais rápida for a rotação do capital, tanto mais alta será a taxa anual de lucro, que representa a relação entre a mais-valia produzida durante um ano e todo o capital adiantado. E, inversamente, a lentidão na rotação do capital acarreta a redução da taxa anual de lucro.
No capitalismo, a distribuição dos capitais entre os diferentes ramos da produção e o desenvolvimento da técnica processam-se em meio a uma encarniçada luta de concorrência.
É necessário distinguir a concorrência dentro de cada ramo da concorrência entre os diferentes ramos.
A concorrência dentro de cada ramo é a que se estabelece entre as empresas de um mesmo ramo, produtoras de mercadorias do mesmo gênero, buscando maiores vantagens na venda dessas mercadorias e a obtenção de lucros suplementares. As diferentes empresas trabalham em condições diversas e diferenciam-se umas das outras pelas proporções da empresa, pelo nível de dotação técnica e de organização da produção. Devido a isto, não é o mesmo o valor individual das mercadorias produzidas por diferentes empresas. Entretanto, o preço das mercadorias não é determinado pelos seus valores individuais, mas pelo valor social. O processo de formação do valor social opera-se espontaneamente, através da concorrência entre empresas de um mesmo ramo.
A grandeza do valor social das mercadorias depende, como já foi visto, das condições médias de produção num determinado ramo. Tendo em vista o fato de que o preço das mercadorias é determinado por seu valor social, levam a melhor aquelas empresas em que a técnica da produção e a produtividade do trabalho são mais elevadas do que o nível médio no ramo considerado e, em consequência, o valor individual das mercadorias é mais baixo do que o valor social. Estas empresas auferem um lucro suplementar, ou superlucro, que representa uma forma da mais-valia extraordinária, que já estudamos anteriormente (capítulo IV). A concorrência impele o capitalista, na corrida ao lucro mais elevado, a empenhar-se na redução do valor individual das mercadorias elaboradas em sua empresa, relativamente ao valor social. Nem todos os capitalistas, porém, conseguem tal coisa. Ao contrário, para muitos empresários o valor individual das mercadorias permanece mais alto do que o valor social. Assim, em consequência da concorrência dentro de cada ramo, em diferentes empresas de um ramo dado formam-se taxas de lucro diversas. A concorrência entre as empresas de um mesmo ramo acarreta o deslocamento das pequenas e médias empresas pelas grandes empresas.
A fim de resistir na luta de concorrência, os capitalistas — proprietários de empresas atrasadas — esforçam-se por introduzir os aperfeiçoamentos técnicos empregados pelos seus concorrentes — proprietários das empresas tecnicamente mais desenvolvidas. Devido a isto, modificam-se as condições médias de produção no ramo considerado e, consequentemente, reduz-se o valor social das mercadorias. Ao mesmo tempo, a introdução de aperfeiçoamentos técnicos traz implícita a elevação da composição orgânica do capital para todo o ramo, em seu conjunto. Agora, o superlucro, que vinham recebendo os capitalistas donos de empresas tecnicamente mais desenvolvidas, deixa de existir e verifica-se uma baixa da taxa média de lucro para todo o ramo. Isto obriga os capitalistas a novamente introduzir aperfeiçoamentos técnicos. Assim, no processo da concorrência dentro de cada ramo, desenvolve-se a técnica e crescem as forças produtivas.
A concorrência entre os diferentes ramos é aquela que se estabelece entre os capitalistas dos diferentes ramos da produção por uma inversão mais lucrativa do capital. Os capitais empregados nos diferentes ramos da produção possuem composições orgânicas diversas. Uma vez que a mais-valia é criada exclusivamente pelo trabalho dos operários assalariados, nas empresas daqueles ramos onde predomina uma baixa composição orgânica do capital, um capital da mesma grandeza e com uma taxa igual de mais-valia produz uma massa relativamente maior de mais-valia. Já nas empresas onde a composição orgânica do capital é mais elevada, produz-se uma massa relativamente menor de mais-valia para um capital da mesma grandeza. Todavia, a luta de concorrência entre os capitalistas dos diferentes ramos faz com que se nivelem as proporções dos lucros sobre os capitais de iguais dimensões.
Suponhamos que existam na sociedade três ramos — de couros, têxtil e de construção de máquinas — com capitais da mesma grandeza, mas com diferentes composições orgânicas. A grandeza do capital adiantado em cada um desses ramos é igual a 100 unidades (digamos milhões de dólares). O capital do ramo de couros é composto por 70 unidades de capital constante e 30 unidades de capital variável; o do ramo têxtil — de 80 unidades de capital constante e 20 de variável e o do ramo de construção de máquinas composto de 90 unidades de capital constante e 10 unidades de capital variável. Suponhamos que a taxa de mais-valia seja a mesma nos três casos e igual a 100%. Dessa maneira, no ramo de couros serão produzidas 30 unidades de mais-valia, no têxtil, 20 e no de construção de máquinas, 10 unidades. O valor das mercadorias, no primeiro ramo, será igual a 130, no segundo, a 120 e no terceiro, a no, e, nos três ramos, em conjunto, a 360 unidades. VER PAG 161
Se as mercadorias forem vendidas pelo seu valor, no ramo de couros a taxa de lucro será de 30% (30/100 x 100), no têxtil, de 20% (20/100 x 100) e no de construção de máquinas será de 10% (10/100 x 100). Essa distribuição dos lucros revela-se bastante vantajosa para os capitalistas do ramo da produção de couros, mas desvantajosas para os capitalistas do ramo da construção de máquinas. Nestas condições, os industriais da construção de máquinas irão procurar uma aplicação mais vantajosa para os seus capitais. E esta aplicação eles a encontrarão no ramo de couros. Verificar-se-á, então, uma transferência dos capitais do ramo da construção de máquinas para o da indústria de couros. Devido a isto, a quantidade de mercadorias produzidas no ramo de couros aumentará, a concorrência inevitavelmente tornar-se-á mais aguda e obrigará os industriais desse ramo a baixar os preços de suas mercadorias, o que acarretará também a redução da taxa de lucro. E no ramo da construção de máquinas, ao contrário, diminuirá a quantidade de mercadorias produzidas e a modificação verificada na relação entre a oferta e a procura oferecerá aos industriais a possibilidade de elevar os preços de suas mercadorias, em razão do que subirá também a taxa de lucro.
A queda dos preços no ramo de couros e o aumento dos preços no de construção de máquinas continuará até o momento em que a taxa de lucro em todos os ramos se tornar aproximadamente a mesma. Isto se produzirá quando as mercadorias de cada um dos três ramos forem vendidas por 120 unidades (130+ 120 + 110/3).
O lucro médio de cada ramo, em tais condições, será igual a 20 unidades. O lucro médio é o lucro igual correspondente a capitais da mesma grandeza, investidos em diferentes ramos da produção.
Assim, a concorrência entre os diferentes ramos da produção faz com que as diversas taxas de lucros, existentes nos diferentes ramos da produção capitalista, nivelem-se numa taxa comum (ou média) de lucro. Este nivelamento opera-se através da transferência do capital (e, consequentemente, do trabalho) de uns ramos da produção para outros, através do mecanismo dos preços.
Com a formação da taxa media de lucro, os capitais de uns ramos (em nosso exemplo, do ramo de couros) privam-se de uma parte da mais-valia criada pelos operários que neles trabalham. Em compensação, os capitalistas de outros ramos (em nosso exemplo, do ramo de construção de máquinas) realizam um excedente de mais-valia. Isto significa que os primeiros vendem suas mercadorias por preços abaixo do seu valor, enquanto que os segundos o fazem por preços que superam o seu valor. O preço da mercadoria de cada ramo compõe-se agora do custo de produção (100 unidades) e do lucro médio (20 unidades).
O preço resultante da soma do custo de produção da mercadoria com o lucro médio é o preço de produção. Para empresas individuais de um mesmo ramo, em consequência das diferenças nas condições de produção, existem diferentes preços de produção individuais, que são determinados pelos custos de produção individuais mais o lucro médio. As mercadorias, porém, realizam-se em média por um preço de produção comum, igual.
O processo de formação da taxa média de lucro e do preço de produção pode ser representado praticamente sob a forma do seguinte quadro:
Ramos de produção |
Capital constante |
Capital variável |
Mais-valia | Valor das mercadorias |
Taxa média de lucro (em %) |
Preço de produção das mercadorias |
Variação do preço de produção em relação ao valor |
Couros | 70 | 30 | 30 | 130 | 20 | 120 | —10 |
Têxtil | 80 | 20 | 20 | 120 | 20 | 120 | igual |
Construção de máquinas |
90 | 10 | 10 | 110 | 20 | 120 | + 10 |
Total | 240 | 60 | 60 | 360 | 20 | 360 |
As mercadorias produzidas em cada um dos três ramos são vendidas por 120 unidades (digamos, milhões de dólares). Entretanto, o valor da mercadoria do ramo de couros é igual a 130 unidades, do têxtil, a 120 e do de construção de máquinas, a no unidades. Diferentemente da produção mercantil simples, no capitalismo as mercadorias já não são vendidas por preços correspondentes ao seu valor, mas por preços que correspondem aos preços de produção.
A transformação do valor em preço de produção é o resultado do desenvolvimento histórico da produção capitalista. Nas condições da produção mercantil simples, os preços de mercado das mercadorias, em seu conjunto, correspondiam ao seu valor. Nos primeiros estádios de desenvolvimento do capitalismo, ainda se mantinham diferenças consideráveis nas taxas de lucro nos diferentes ramos da produção, devido ao fato de que os diferentes ramos ainda não estavam suficientemente vinculados uns aos outros, a existência das restrições gremiais e outras, que obstaculizavam a livre transferência dos capitais de uns ramos para os outros. O processo de formação da taxa média de lucro e da transformação do valor em preço de produção só se completa com a implantação da indústria mecanizada capitalista.
Os economistas burgueses tentam refutar a teoria de Marx do valor pelo trabalho, alegando o fato de que nos diferentes ramos não há coincidência entre os preços de produção e o valor das mercadorias. Entretanto, na realidade a lei do valor conserva toda a sua força nas condições capitalistas, pois o preço de produção representa apenas uma forma modificada do valor.
Isto é comprovado pelas seguintes circunstâncias:
Em primeiro lugar, alguns industriais vendem suas mercadorias acima do seu valor, enquanto outros vendem-nas abaixo do valor; mas todos os capitalistas, considerados em conjunto, realizam toda a massa do valor de suas mercadorias. Na escala de toda a sociedade, a soma dos preços de produção é igual a soma do valor de todas as mercadorias.
Em segundo lugar, a soma dos lucros de toda a classe dos capitalistas é igual a soma da mais-valia produzida por todo o trabalho não pago do proletariado. A grandeza da taxa média de lucro depende da grandeza da mais-valia produzida em toda a sociedade.
Em terceiro lugar, a redução do valor das mercadorias acarreta a redução dos seus preços de produção, e o aumento do valor das mercadorias conduz a elevação dos preços de produção.
Desse modo, na sociedade capitalista atua a lei da taxa média de lucro, a qual consiste em que as diferentes taxas de lucro, dependentes da diversidade na composição orgânica do capital, nos diferentes ramos da produção, nivelam-se a uma taxa comum (média) de lucro, como resultado da concorrência. A lei da taxa média de lucro, do mesmo modo que todas as leis do modo de produção capitalista, atua espontaneamente, em meio a inumeráveis desvios e oscilações.
Na luta pela aplicação mais lucrativa do capital, desencadeia-se uma encarniçada concorrência entre os capitalistas, os quais aspiram a inverter seus capitais naqueles ramos que lhes proporcionem a obtenção de maiores lucros. Na caça ao alto lucro, processa-se uma transferência de capitais de um ramo para outro, em resultado do que se estabelece uma taxa média de lucro e se realiza a distribuição do trabalho e dos meios de produção entre os diferentes ramos da produção capitalista. O preço de produção é aquela grandeza média em torno da qual, em última análise, oscilam os preços de mercado das mercadorias, isto é, os preços pelos quais as mercadorias são de fato vendidas e compradas no mercado.
De tal maneira, com a transformação do valor em preço de produção, a mais-valia manifesta-se sob a forma de lucro médio, e, consequentemente, a lei econômica fundamental do capitalismo — a lei da mais-valia — atua por intermédio da lei da taxa média de lucro.
O nivelamento da taxa de lucro e a transformação do valor em preço de produção mascaram ainda mais as relações de exploração, em grau ainda maior encobrem a verdadeira fonte do enriquecimento dos capitalistas. A diferença real de grandeza entre o lucro e a mais-valia
“nas diferentes esferas da produção oculta agora completamente a verdadeira natureza e a origem do lucro, e não apenas aos olhos do capitalista, que, no caso em apreço, tem particular interesse em enganar-se, mas também aos olhos dos operários. Com a transformação do valor em preço de produção, oculta-se aos olhos a base mesma da determinação do valor.”(59)
Na realidade, a formação da taxa média de lucro significa uma redistribuição da mais-valia entre os capitalistas dos diferentes ramos da produção. Parte da mais-valia criada nos ramos onde é baixa a composição orgânica do capital é apropriada pelos capitalistas dos ramos onde a composição orgânica do capital é alta. É evidente, pois, que os operários são explorados não apenas por aqueles capitalistas para os quais eles trabalham, mas por toda a classe dos capitalistas, em conjunto. Toda a classe dos capitalistas está interessada na elevação do grau de exploração dos operários, uma vez que isto tem como consequência a elevação da taxa média de lucro. Como ensinou Marx, a taxa média de lucro depende do grau de exploração de todo o trabalho por todo o capital.
A lei da taxa média de lucro exprime, de um lado, as contradições e a luta d: concorrência entre os industriais capitalistas pela partilha da mais-valia, e, de outro lado, o profundo antagonismo entre as duas classes mutuamente hostis — a burguesia e o proletariado. Esta lei testemunha que na sociedade capitalista a burguesia, como classe, contrapõe-se ao proletariado em seu todo, que a luta por interesses parciais dos operários ou de grupos operários isolados, a luta contra capitalistas isolados não pode conduzir a uma mudança radical da situação da classe operária. A classe operária só poderá sacudir o jugo do capital, liquidando o sistema da exploração capitalista.
À medida que o capitalismo se desenvolve, eleva-se a composição orgânica do capital. Cada capitalista, ao substituir os operários por máquinas, tem como aspiração baratear a produção, ampliar a venda de suas mercadorias e com isso auferir superlucros. Quando as conquistas técnicas de algumas empresas alcançam ampla difusão, produz-se uma elevação da composição orgânica do capital na maioria das empresas. E isto leva a queda da taxa geral de lucro.
Em sentido idêntico atua um mais rápido crescimento do capital fixo em relação ao capital circulante, o que faz com que seja mais lenta a rotação de todo o capital.
Ao aperfeiçoar a técnica, cada capitalista tem em vista obter os maiores lucros possíveis, mas, como resultado da atividade de todos os capitalistas, voltada para este objetivo, sucede aquilo que nenhum deles desejava: a redução da taxa geral de lucro.
Tomemos o exemplo precedente. A soma de todos os capitais, igual a 300 unidades, compõe-se de 240 unidades de capital constante e 60 unidades de capital variável. A uma taxa de mais-valia igual a 100%, produzem-se 60 unidades de mais-valia e a taxa de lucro será de 20%. Suponhamos que, em 20 anos, o total do capital ascende de 300 a 500 unidades. Ao mesmo tempo, devido ao progresso da técnica, deverá ter-se elevado a composição orgânica do capital. Como resultado, as 500 unidades dividir-se-ão, digamos, em 425 unidades de capital constante e 75 unidades de capital variável. Nesse caso, mantida a mesma taxa de mais-valia. serão criadas 75 unidades de mais-valia. Agora, a taxa de lucro será de 75/500 x 100 = 15%. A massa de lucros terá crescido de 60 para 75 unidades, mas a taxa de lucros terá sido reduzida de 20 para 15%.
Assim, a elevação da composição orgânica do capital conduz a baixa da taxa média de lucro. Ao mesmo tempo, uma série de fatores atua em contraposição a baixa da taxa de lucro.
Em primeiro lugar, cresce a exploração da classe operária. O desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo, que se exprime na elevação da composição orgânica do capital, opera-se juntamente com uma elevação da taxa de mais-valia. Devido a isto, a redução da taxa de lucros opera-se mais lentamente do que ocorreria no caso de que a taxa de mais-valia se mantivesse invariável.
Em segundo lugar, o desenvolvimento da técnica nas condições do capitalismo, elevando a composição orgânica do capital, provoca o aumento do desemprego, que pressiona sobre o mercado de trabalho. Tal fato oferece ,aos patrões a possibilidade de diminuir os salários, fixando-os num nível consideravelmente mais baixo do que o valor da força de trabalho.
Em terceiro lugar, a medida que cresce a produtividade de trabalho cai o valor dos meios de produção: máquinas, equipamentos, matérias-primas, etc.. Isto torna mais lento o aumento da composição orgânica do capital e, consequentemente, contrapõe-se a redução da taxa de lucro.
Suponhamos que o patrão obrigue o operário, que antes trabalhava com 5 teares, a trabalhar com 20 teares. Entretanto, devido a elevação da produtividade na indústria produtora de teares, o valor dos teares reduziu-se a metade. Em consequência, 20 teares custam já não 4 vezes mais do que os antigos 5 teares, mas apenas 2 vezes mais. Por isto, a parte do capital constante, que corresponde a cada operário, terá crescido não em 4 vezes, mas em 2 vezes.
Em quarto lugar, contrapõe-se a elevação da taxa média de lucro a economia no capital constante, que o capitalista faz as expensas da saúde e da vida dos operários. Com o objetivo de aumentar os lucros, os industriais obrigam os operários a trabalhar em instalações acanhadas, sem a necessária ventilação, e economizam o quanto podem nos dispositivos reclamados pela segurança do trabalho. O resultado dessa avareza dos capitalistas é a ruína da saúde dos operários, a enorme quantidade de acidentes no trabalho, que acarreta a elevação da mortalidade entre a população operária.
Em quinto lugar, a queda da taxa de lucro é freada devido a troca não equivalente no comércio externo, mediante a qual os empresários dos países capitalistas desenvolvidos, ao exportar suas mercadorias para os países coloniais e dependentes, auferem superlucros.
Todos estes fatores contrapostos a redução da taxa de lucro não suprimem, mas somente debilitam a baixa da taxa de lucro, dando a esta baixa um caráter tendencial. Desse modo, atua no capitalismo a lei da tendência a baixa da taxa geral (ou média) de lucro.
A queda da taxa de lucro não significa a diminuição da massa de lucro, isto é, de todo o volume de mais-valia produzido pela classe operária. Ao contrário, a massa de lucros cresce, tanto em ligação com a elevação da taxa de mais-valia, como em consequência do aumento do número global de operários explorados pelo capital.
A tendência a baixa da taxa de lucro impele os capitalistas a seguir pelo caminho de uma exploração ainda maior dos operários. Isto faz com que se agucem as contradições entre o proletariado e a burguesia.
A lei da tendência a baixa da taxa de lucro intensifica a luta no seio da própria burguesia em torno da distribuição da massa global de lucro.
Na caça a lucros mais altos, os capitalistas lançam-se com os seus capitais aos países atrasados, onde a mão-de-obra é mais barata e a composição orgânica do capital mais baixa do que nos países de indústria altamente desenvolvida. Os capitalistas das metrópoles exploram impiedosamente os povos dos países pouco desenvolvidos. Isto faz com que se agucem as contradições entre os países capitalistas desenvolvidos e os atrasados, entre as metrópoles e as colônias.
Além disso, para manter os preços num nível elevado, os patrões agrupam-se em diferentes tipos de uniões. Por esse meio, conseguem obter altos lucros.
Por fim, para tentar compensar a queda da taxa de lucro através da elevação da massa de lucros, os capitalistas ampliam o volume da produção para muito além dos limites da procura solvente. Devido a isto, nos tempos de crises, manifestam-se de maneira particularmente aguda as contradições decorrentes das tendências a baixa da taxa de lucro.
A lei da tendência a baixa da taxa de lucro é uma das claras evidências da limitação histórica do modo de produção capitalista. Ao aguçar as contradições capitalistas, esta lei mostra a saciedade que, em determinado grau, o regime burguês transforma-se num obstáculo ao posterior desenvolvimento das forças produtivas.
Notas de rodapé:
(58) K. Marx, O Capital, t. III, 1955, p. 269. (retornar ao texto)
(59) K. Marx, O Capital, t. III, 1955, p. 175. (retornar ao texto)
Inclusão | 03/03/2015 |