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Primeira Edição: The Liberator (Chicago, 10 de setembro de 1905)
Fonte: https://medium.com/@roxoenegro/mulher-e6cac8904ff9
Tradução: Roxo e Negro Publicações
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Nos primórdios da história do mundo, quando o homem estava pouco acima na escala intelectual do que a besta que ele trucidava para se alimentar e cuja pele usava de vestimenta, a força muscular e a resistência física eram os padrões de excelência e o selo de superioridade que prevaleciam. Já que a natureza não concedeu à mulher esses requisitos na mesma proporção que os concedeu ao homem, ele a olhou com desprezo e a viu como um ser inferior a ele. Possivelmente esse foi o início da dominação do homem e da subjugação da mulher. Mas enquanto o homem ascendia na escala social do desenvolvimento, ele começou a adquirir propriedades, que ele desejou transmitir junto com seu nome à sua cria — e então a mulher se tornou sua serviçal doméstica.
Ela foi tida como um tipo de mal necessário; como uma coisa a ser usada e abusada; a ser comprada e vendida — como algo que servia apenas para satisfazer os prazeres e as paixões dele — essa era a posição inferior da mulher. Por incontáveis séculos, a serviçal seguiu seu solitário e desgastante caminho, gestou as crianças — e suportou o abuso do homem — mas o longo passar dos séculos finalmente traria alívio. Quando a máquina a vapor foi arreada e colocada no campo de produção, os músculos foram praticamente eliminados enquanto um fator de produção da riqueza do mundo. Isso possibilitou à mulher que deixasse os estreitos confins da cozinha onde havia sido mantida por tanto tempo.
Ela adentrou a arena das atividades da vida, para trilhar seu caminho nesse mundo apressado, agressivo e atarefado, como um ser humano independente pela primeira vez na história do mundo. Ah, as previsões calamitosas que eram feitas, se a mulher ousasse sair de casa para trabalhar! Porquê? Ela se tornaria grosseira, masculina, assexuada, etc. — mas foi tudo em vão; a mulher veio, viu e conquistou! As mulheres criticaram por muito tempo em alto e bom som e esperaram pacientemente na frente da porta da universidade antes que ela fosse relutantemente aberta para ela.
“O quê,” exclamou o convencionalismo, “Nossas filhas entrando na sala de dissecção junto com homens? Nunca!”
Mas o progresso implacável ignorou todas essas objeções. A experiência mostrou que mulheres podem estudar “a divina forma humana”(1) ao lado de seus irmãos e não perderem nem um décimo de seus charmes e modéstia femininos. Agora os pais ficam tão orgulhosos de suas filhas recebendo diplomas quanto ficam de seus filhos. Eu não sei de nenhuma atividade na qual a mulher é vetada por causa de seu sexo. Quem vai dizer que a mudança não beneficiou a humanidade? Mas a mulher está se permitindo ser usada para reduzir o padrão de vida ao trabalhar por salários mais baixos que os salários reivindicados pelos homens; isso ela terá que retificar, ou seu trabalho se tornará um prejuízo, ao invés de uma benção ou ajuda seja para si mesma ou para seus companheiros trabalhadores.
Notas de rodapé:
(1) Entre aspas no original; Provavelmente uma referência ao poema “The Divine Image”, de William Blake (28 de novembro de 1757–12 de agosto de 1827). (Nota da tradução) (retornar ao texto)