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Fonte: Correio da Cidadania, 26 de março de 2007.
Envio: Lucas Silva.
HTML: Lucas Schweppenstette.
O conceito de socialismo também não é consensual entre os socialistas. Uns recomendam a superação do tipo de socialismo praticado na União Soviética, após os anos 1930, com a adoção, em seu lugar, de um socialismo de modelo aberto, fundado em valores como igualdade, liberdade, democracia participativa e solidariedade. Outros defendem aquele tipo, e pretendem apenas superar os erros que o levaram ao desastre. E todos desconhecem a experiência socialista da União Soviética, entre 1923 e 1928, assim como outros tipos de socialismo aparentados a essa experiência.
É evidente que é importante estudar a experiência soviética pós-anos 1930, que suprimiu o ambiente democrático, implantou um planejamento estatal altamente centralizado, e levou ao engessamento da economia, estabelecendo uma sociedade de escassez, incapaz de desenvolver as forças produtivas e criar uma sociedade materialmente próspera e culturalmente avançada. No entanto, para superar esse tipo de socialismo, não basta propor fórmulas e valores genéricos.
Em tese, todos estamos de acordo com igualdade, liberdade, democracia participativa e solidariedade. Qualquer burguês sensato concorda com esses valores. Mas certamente sua forma de enxergá-los e praticá-los difere radicalmente do modo com que um operário, ou um sem-terra, ou um sem-teto, enxerga e pratica tais valores. Mesmo porque, em tese, todos somos iguais perante a lei, mas, na vida diária, a lei para os pobres é diferente da lei para os ricos. Em tese, vivemos num país de liberdade, embora só os abonados tenham a liberdade de ir e vir para onde queiram. Sabemos que não existe democracia econômica e social no Brasil, que a democracia política é limitada ao voto, e impeditiva da participação popular. E que a solidariedade é uma quimera, ou a dor de consciência dos que estão pensando em seu lugar no paraíso celestial.
Dizendo de outro modo, sem definir com clareza o conteúdo e as bases materiais em que devem se assentar tais valores, corremos o risco de dançar em torno de utopias. E o socialismo pode ser tudo, menos utopia. Apesar de suas experiências desastradas, dos erros cometidos em seus processos de implantação, ele só pode ser fruto real da evolução das contradições do capitalismo. Ou, mais precisamente, de cada capitalismo concreto, em seu processo de desenvolvimento. É no capitalismo real que devemos buscar as possibilidades, as necessidades e as dificuldades do socialismo real. E o socialismo que queremos deve estar, necessariamente, ancorado em tais possibilidades, necessidades e dificuldades.
Nessas condições, o socialismo concreto terá que resolver as questões impostas pelo capitalismo concreto. Ou seja: a questão do poder político; a questão da radicalização da democracia, tanto em termos políticos, quanto econômicos e sociais; a questão das forças produtivas, e das formas de propriedade necessárias para desenvolvê-las; a questão da distribuição das riquezas geradas pelo desenvolvimento econômico; e as demais questões relacionadas ao período de transição necessário para que aqueles valores se tornem comuns a toda a sociedade.