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Primeira Edição: Em Marcha, 23 de Outubro de 1980
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
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Com o PS a meter água por muitos rombos e o PCP a baloiçar perigosamente, há quem desespere do futuro da democracia em Portugal. Mas é precisamente por uma crise de fundo nesses partidos que há-de passar o novo impulso democrático do povo que derrotará a direita. Porque o movimento, para se reerguer, precisa de tomar bem consciência da degradação destes 5 anos.
Aqueles que lamentam que uma parte maior do eleitorado se tenha deixado envolver pelas jogadas da AD a tenha feito uma deslocação geral para a direita, deviam prestar contas sobre a forma como o empurraram quase à força para esse caminho.
Quantas vezes vimos Mário Soares (agora subitamente recordado da sua dignidade) a desenrolar, de gatas, o tapete do poder debaixo dos pés da diraita? E Álvaro Cunhal, quantas vezes meteu travões na luta popular para que não fossem ultrapassadas as regras do jogo?
Deslocando-se para a direita, o eleitorado não fez mais afinal do que conformar-se ao caminho que lhe indicaram os chefes do PS e do PCP, sempre a meter-lhe na cabeça qua não havia lugar para uma solução de esquerda porque era preciso respeitar a vontade dos generais de Novembro. Se lhe negam alternativa à esquerda, não será hipócrita estranhar que o povo a procure à direita?
O melhor que pode suceder agora, para o futuro da democracia, é o rebentar impetuoso da desilusão e da humilhação na base dos dois partidos, que se levantem mil vozes a pedir contas aos dirigentes pelo que aconteceu. E essa explosão, não haja ilusões, não vai ser fácil, nem será espontânea. Porque já os culpados se desdobram em manobras para recuperar a indignação e a amargura das bases, transformando-a em força útil para novos regateios e arranjos que deixem tudo como dantes.
O que podem fazer os revolucionários para acelerar o amadurecimento da crise salutar no PS e no PCP contra os seus chefes centristas?
Podem fazer esta coisa simples: lançar com toda a energia, bem fundo entre a massa do povo, a única candidatura democrática, defensora de Abril, que se apresenta contra a meia dúzia de candidaturas de direita. Denunciar, com a campanha de apoio a Otelo Saraiva de Carvalho a baixeza dos grandes partidos que, seis anos depois de Abril, estão a chamar o povo a escolher entre o general da PIDE e o general da NATO. Demonstrar, agora mesmo, com a afirmação poderosa da candidatura de Abril, que o recuo do povo perante a direita não é uma fatalidade, mas foi voluntariamente produzida por políticos indigos da confiança neles depositada.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha
Inclusão | 02/12/2018 |